terça-feira, agosto 31, 2010
Festa do Avante! 2010
Festa do Avante! 2010 - 2
"Portugal a produzir"
Tomar partido! (estatísticas, necessidades, pauperismo)
Fechando este parêntese, negar a separação dos dois momentos da relação trabalho/capital é o mesmo que dizer que custos unitários de mão-de-obra se podem confundir, por substituição e apagamento, com o que, na base teórica em que assenta o nosso tomar partido!, é fundamental, o valor da força de trabalho que, enquanto valor de troca, permite o acesso ao salário e aos produtos que satisfazem necessidades.
Por outro lado, insisto na necessidade de colocar no nosso temário as necessidades (não estou a ser tautológico por distracção ou menos cuidado na escrita…). E, para reforçar esta insistência, (ou insistir na insistência...) recorro ao Manifesto (de 1848), em que Marx e Engels, na página final do capítulo I, abrem debate sobre um tema-conceito que pouco tem sido debatido, o do pauperismo ou pauperização.
«… o operário moderno, em vez de se elevar com o progresso da indústria, afunda-se cada vez mais abaixo das condições da sua própria classe. O operário torna-se num indigente [Pauper] e o pauperismo [Pauperismus] desenvolve-se ainda mais depressa do que a população e a riqueza.»
Ora, para esse debate há que ter em conta a evolução das necessidades. Hoje, em 2010, os pobres, os indigentes, mostram o vazio do seu frigorífico e eu, que sendo avançado na idade ainda estou dentro do prazo de validade, lembro que atravessei toda a minha juventude sem ter frigorífico em casa dos meus pais. E nunca fui/fomos indigente/s. A evolução das forças produtivas (e algumas instrumentos e derivas ideológicos, como a publicidade) é que, neste curto espaço de tempo (historicamente falando), tornou hoje necessidade o que ontem não era!
segunda-feira, agosto 30, 2010
Festa do Avante! 2010 - 1
Tomar partido! (momentos da troca trabalho-capital e necessidades)
Momento 1
Os trabalhadores trocam a sua força de trabalho (FT) com os detentores de capital-dinheiro (D). Há uma compra e uma venda – M(FT)-D. Dispondo desse dinheiro, que passou a ser seu!, os trabalhadores trocam-no por aquilo de que precisam para satisfazer as suas necessidades, de recuperação, manutenção, valorização da sua força de trabalho. Há, portanto, no momento 1, dois movimentos - sendo o segundo D-M -, que se desenrolam na esfera da circulação simples de mercadorias, e em que o dinheiro não é mais que um intermediário para facilitar as trocas.
A fórmula geral é M(FT)-D-M(bens de consumo)
Momento 2
Os capitalistas, que compraram força de trabalho, utilizam os valores de uso desta, e o processo de produção arranca quando se incorpora a mercadoria-força de trabalho nas mercadorias de que os capitalistas disponham por terem trocado capital-dinheiro por mercadorias-meios de produção de que se servem como capital constante (C). Neste momento 2, a força de trabalho incorpora-se no capital e torna-o produtivo ao ser “usada” como capital variável (V). Está-se no ciclo de produção, em que o capital passou a ser capital-produtivo: …P…=C+V. Ao terminar o ciclo, os detentores do capital tornam-se proprietários das mercadorias produzidas (M’), produto de C+V acrescido de mais-valia (MV) – C+V+MV -, que procurarão metamorfosear (realizar), o mais rápido possível, em capital-dinheiro (D’).
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Inserido nesta série sobre a base teórica em que assenta tomar partido!, faz-se a ligação às necessidades e, além de se comprovar que elas apenas aparecem no momento 1, quando os trabalhadores trocam o preço que lhes foi pago nesse momento pelas mercadorias que lhes satisfaçam as necessidades, mas estas não são (ou deixaram de ser, nas relações de produção do capitalismo) o início e o fim do processo de produção. No momento 1, na operação de compra e venda, para o trabalhador que vende a mercadoria força de trabalho, trata-se de acção vital pois com essa venda passará a dispor do que lhe é indispensável para satisfazer as suas necessidades, e estas são diferentes segundo o tempo e o lugar, segundo a história e a cultura; para o comprador será um custo que é sempre preciso baixar…
Aqui, abro parênteses, e deixo uma pista para mais tarde: nesta formulação detecta-se a dificuldade em encontrar a realidade representada nas estatísticas. Quem quiser fazer a análise da realidade a partir das suas representações, encontrará dados sobre custos unitários de mão-de-obra e só com verdadeiros malabarismos se conseguirá uma aproximação à quantificação das necessidades do “proprietário” da força de trabalho, e da mais-valia que foi criada no processo produtivo e apropriada. Estamos no terreno da luta ideológica!
domingo, agosto 29, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 14 (Aragon)
Fou d'Elsa
(nascer segunda vez no meio-dia da vida!)
para que um livro ou um objecto banal deixe de fazer sangrar a ferida aberta.
É um trabalho de paciência ao inverso do tecer da aranha,
é preciso tempo para desenovelar a teia consigo mesmo e com o mundo.
Custa aceitar a morte quando ela é inesperada,
a morte dos jovens para que nada (mas nada!) estávamos preparados.
Quando são os velhos – os da nossa idade – é tão diferente:
não morrem, partem…
E é como, na estação final da vida, num cais, o lenço que se acena num adeus.
Até breve!
O “Estado Social” e a sua insustentabilidade, como "eles" dizem...
No sistema capitalista (modo de produção/formação social) o que há que mudar, e o mais urgentemente quanto a relação de forças na luta de classes o permitir é o “Estado Social”, as conquistas que, após duras lutas num modo de produção do trabalho/trabalhadores, minoram a exploração ou, aparentemente, a humanizam.
Assim o dizem os “sábios” economistas que por ministros de economia (capitalista) ou das finanças (capitalistas) passaram, em trânsito para outros lugares.
Tomar partido! (necessidades e troca trabalho-capital)
E se terminei o anterior tomar partido! com a promessa (?!…) de vir a citar Marx, aí vai:
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Mas citar Marx é um perigo! Logo outras citações se impõem (e tantas ficarão por fazer!), até porque ele se repete… nunca se repetindo, mas reforçando e completando.
«O valor da força de trabalho, tal como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção – portanto, também reprodução - desse artigo específico. Enquanto valor (…) O tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho resolve-se, pois, no tempo de trabalho necessário para a produção desses meios de vida ou: o valor da força de trabalho é o valor dos meios de vida necessários para a conservação do seu possuidor.»**
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São dois momentos! Inseparáveis mas separados, embora
**- ibidem, p. 197/8
***- idem, tomo V, p. 477
Os herdeiros Feteira
sábado, agosto 28, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 13 (Rafael Alberti)
Enquanto é Agosto, estes três curtos poemas do desterro e da espera, “cucados” dos poemitas 1, 2 e 14 dos 19 de El Otoño otra vez, de Rafael Alberti.
depois de tantos anos a falar sozinho
e tão cansado do linguajar estrangeiro?
Acaso com outros idiomas
poderiam entender-me melhor,
porque este que de mim se escapa
já não me serve para dar mais luz
ao que quero dizer.
Este bosque, esta floresta
é igual aos outros bosques.
E, apesar disso, como eu queria
estar em outros bosques,
estar nos pinhais da minha terra.
É muito triste esperar que chegue o verso,
que apareça o poema
e, em vez disso, morrer um amigo
ou, no lugar do verso, algo acontecer
que para sempre do verso nos afasta.
Telegramas a partir de uma "revista de imprensa"
A.
A prova de rendimentos dos beneficiários que recebem apoios sociais vai passar a ser entregue obrigatoriamente pela Internet.
B.
Anedota com apropósito
Tomar partido! (citações sobre necessidades)
- «Para Marx, as antinomias específcas do capitalismo, que derivam da produção de mercadorias, são as que existem entre liberdade e necessidade, necessidade e oportunidade, teleologia e causalidade; destas decorre a especial antinomia entre a riqueza da sociedade e o empobrecimento social.» (pg. 81)
- «O mundo da troca de mercadorias é o mundo da universalidade do egoísmo: o do interesse pessoal. Os sujeitos da troca são indiferentes entre si; estão em relação uns com os outros apenas para a realização dos seus interesses pessoais: no que respeita à "necessidade do outro (e dos outros)" - que é, como sabemos, o que Marx considerou a mais elevada e "mais humana" necessidade - a redução é total.» (pg. 64
Num outro livro - editado em 1974 pela Prelo, de autor soviético, Molatchov - encontrei, logo na introdução, esta observação que me parece pertinente:
- «A economia socialista destina-se a satisfazer as diversas necessidades do homem, do trabalhador. É por esta razão que o cientista, que estuda as suas leis de desenvolvimento, deve corresponder a elevadas exigências.» (pg. 5)
- «À primeira vista, concretizar a necessidade de um acto ou acção parece ser um assunto subjectivo. É precisamente desta forma que a economia política burguesa procura interpretar as necessidades. No seu estudo, substitui a análise económica e social das condições de vida material (no que se refere à formação das necessidades humanas) pela psicologia. Deste ponto de vista, as necessidades encontram-se completamente isoladas do processo de reprodução e intervém no indivíduo como um sentimento negativo que ele procura, ao mesmo tempo, eliminar. (...) Sempre que analisam a natureza das necessidades humanas, os economistas burgueses têm, geralmente, tendência para tornear os problemas sociais agudos do capitalismo e dedicar-se, antes, a especulações mesquinhas sobre os sentimentos do homem.» (pg. 9)
(sobre isto, continuaremos... e com uma citação de Marx)
sexta-feira, agosto 27, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 12 (Nazim Hikmet)
Por minha fraqueza, mas não só a minha,
separaram-me do meu Partido;
mas não me importei
porque do Partido eu continuei
a ser.
Por nossas fraquezas,
já muitas vezes tentaram acabar com o nosso Partido;
mas nunca conseguiram
porque nós continuámos e continuamos a ser O Partido
Não fiquei esmagado
sob a tortura e o comportamento
Não fomos destruídos
nem pelos de fora e nem pelos de dentro
"Aquela decência fundamental"!
Tomar partido! (necessidades - 1)
É verdade que se pode pegar nele de forma que desvie do essencial, que pode mesmo servir para aquela deriva intencional (mal intencionada) de dividir Marx, de seccionar a juventude da maturidade como se esta (a matura idade) não seja claramente explicada por aquela, como se não houvesse um percurso que, tal como o da História, avança sem cortes mas com saltos (qualitativos) provocados pelos passos (quantitativos) que se vão dando… por vezes “marcando passo”
A nossa base teórica, no que respeita à economia, não pode menos-considerar as necessidades. O ser humano tem a sua “primeira natureza” enquanto matéria organizada em ser vivo, com as necessidades que lhe são… naturais, isto é, as de se manter matéria organizada, viva: alimenta-se, protege-se do meio de que é parte, reproduz-se para se continuar; tem uma “segunda natureza” enquanto animal que se socializa, que comunica, que trabalha, que divide trabalho, que vai criando necessidades que são naturais a essa “natureza social” porque humanas e em constante progresso, embora a escala do tempo possa ser imperceptível para o nosso horizonte individual, tão limitado nos anos de sua duração.
Estou, é evidente, a entrar por áreas que não são as do sapateiro que sou, a tocar rabecão que não é o meu instrumento (nenhum o é…), se calhar a dizer disparates. Mas não a dispara(ta)r! Comedido.
O que quero tornar claro é que, ao tomar partido, assumimo-nos materialistas, históricos e dialécticos. E que as necessidades nossas são as de ser(mos) animal e humano, isto é, social.
Temos necessidades! A economia estuda (ou deveria estudar) como, pelo trabalho (necessidade nossa, imaterial), servindo-nos e transformando a natureza que nos rodeia e em que somos, as satisfazemos. Criando valor – de uso e de troca – até ao acto de usar o valor de uso, até consumirmos, consumo que já é de outras áreas que não a da economia.
Por isso, a avaliação (digamos moral) das necessidades está fora das nossas fronteiras, embora as várias áreas do pensamento e da compreensão do que somos e como estamos tenham de se integrar numa visão de conjunto. E tomar partido! Não como economista, mas reflectindo-se evidentemente na economia que, como economista, cada um pratica.
Por isso, gosto de citar Marx (pois claro!): "Para a nossa finalidade (…) é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco, é do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele seja] um tal [meio de consumo necessário]."
quinta-feira, agosto 26, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 11 (José Gomes Ferreira)
Obrigado, camarada Zé Gomes!
Agora nada.
Mais poemas.
Para não morrer à míngua de ser.
Parece que só sei viver através das palavras!
Os incêndios e as ZIF
O Comité Central reclama medidas de apoio imediato para repor os bens e produções perdidas e reafirma a inadiável necessidade de uma nova política agro-florestal que invista na prevenção estrutural, no ordenamento e gestão activa da floresta que defenda e apoie os baldios que reforce os meios e serviços do Estado e o apoio às Zonas de Intervenção Florestal, garantindo os fundos do PRODER perdidos pelo corte das contrapartidas nacionais e intervindo na política de preços em defesa dos pequenos produtores. Uma política que defenda e apoie a produção nacional e combata o abandono da agricultura familiar e a desertificação humana e económica em vastas regiões do país.»
Tomar partido! 17
Em relação ao que, agora, aqui me traz, ainda há alguns temas, ou aspectos, que se impõem enquanto fixação de reflexões após leituras e releituras. Na sequência da abordagem da base teórica, na vertente económica, há que insistir na questão das esferas do processo total de produção do capital, nas metamorfoses por que passa o capital, nas suas materializações como relação social que é, e na importância relativa que vão tendo essas formas.
Se o capital passa da forma dinheiro à forma mercadoria, nesta se torna produtivo para a ela regressar – sem ter saído... – acrescida de valor, mercadoria que tem de realizar valor de uso e valor de troca, metamorfoseando-se em novo (e mais…) dinheiro, a importância relativa das formas do capital materializado na concretização dos circuitos e as independência e autonomia de algumas dessas formas ou de formas nelas nascidas ou incluídas como dependentes, sem alterarem a natureza essencial das relações de produção. Assim o capitalismo passar por fases diferentes, também – e intrinsecamente – marcadas pela relação de forças na luta de classes sempre viva – enquanto houver classes antagónicas –, embora latente e, ideologicamente, ou escamoteada ou não consciente.
O capital financeiro, se não éforma nova, tem vindo a ganhar preponderância no funcionamento da economia política capitalista, e a tomar dimensões absolutamente desmesuradas, com o reforço de vias especulativas para acumulação e concentração de mais dinheiro e para contrariar a dificuldade de tal ser conseguido na esfera produtiva com a criação e apropriação de mais-valia. O capital-dinheiro simbólico (fiduciário, não-metálico) cresce “assustadoramente” por via do dinheiro fictício, do crédito, das “engenharias financeiras”, das “injecções” com que os Estados “socorrem” as entidades bancárias e para-bancárias, agravando as contradições que o capitalismo engendra e lhe são inerentes.
As 5 dinâmicas que Marx enumera no Livro terceiro de O Capital (acréscimo da exploração do trabalho, descida de salário abaixo do seu valor, depreciação de elementos de capital constante, sobrepopulação relativa, comércio externo) como contrárias à baixa tendencial da taxa de lucro, e que de modo algum a anulam, incluem e acrescem com a demencial financeirização. O que não leva a passarem de dinâmicas que contrariam uma lei que, por si mesma, se define como tendencial, e que tem a sua razão de ser na evolução da composição orgânica do capital, com o trabalho morto ou cristalizado a, inelutavelmente, ganhar espaço e tempo ao trabalho vivo, podendo libertar os portadores deste de actividades que o trabalho cristalizado ou morto pode realizar, mas de que resulta, nas relações sociais que são o capitalismo, o desemprego em vez do tempo livre e humanizado.
No "expresso" de hoje à tarde
se Saramago escreveu*,
se Mário Castrim escreveu**.
porque não hei-de escrever eu?
* - No ano da morte de Ricardo Reis
** - A caminho de Fátima
1.
Parecem metralhadoras
as ininterruptas faladoras!
‘Inda por cima em crioulo...
… dão-me cabo do miolo!
2.
Um bebé que chora
toda a hora
(e mais meia...)
3.
A mãe embala,
docemente,
a tia (?) adormeceu,
finalmente.
4.
Um pé grande, grande
(p’raí 44, no mínimo)
vem do banco de trás
e zás!
instala-se no banco vazio
aqui ao lado do meu,
5.
Um pé grande, enorme,
todo mulato menos na sola,
a fazer-me companhia,
um pé enorme,
.
(faço-lhe justiça,
não há que dizer:
bem lavadinho, nenhum cheirinho
8.
Nos lugares à frente
6-orientais-6,
desses, das peregrinações.
São três casais
.
cheios de fé.
têm promessas para pagar!
10.
Vão até Fátima,
faço escala de curta paragem,
estou de obrigatória passagem.
Sou o peregrino acidental
para chegar ao Zambujal.
(Aleluia!)
11.
Há os que,
Boa viagem!
quarta-feira, agosto 25, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 10 (Martinho Marques)
A questão (magna) do desemprego
Tomar partido! (Os transportes)
Não obstante, o sr. Karl Marx, nos seus estudos (teóricos!) sobre o trabalho produtivo já teve a clarividência de considerar que os transportes tinham um papel central nessa tal base teórica. O que é verdadeiramente espantoso!
É verdade que Marx foi sempre testemunha atenta do que se passava à sua volta – como os pneus… - e privilegiava a dinâmica, o que caminhava para o futuro – sobre rodas ou não…
Marx interessou-se muito pelos transportes, e empolgou-se com o seu vertiginoso progresso com a burguesia ascendente (progresso que, hoje, parece lentíssimo!). Decerto porque, nascido ele a 1818, a locomotiva de Stephenson apareceu em 1825, em 1830 foi inaugurada a primeira via férrea Liverpool-Manchester, na década de 40 o mundo passou de 8 mil para 30 mil quilómetros de redes ferroviárias (que coisa impressionante!) De 1863 a 1867, estando Marx entre os 45 e os 50 anos, enquanto escrevia manuscritos (não tinha computador…) para O Capital, nas “suas barbas”, na Áustria, construia-se, através do colo de Brenner, uma via férrea com 22 túneis nos Alpes, sessenta viadutos e pontes, ligando Alemanha, Áustria e Itália.
Mas não foram apenas os caminhos de ferro. Para dar um outro exemplo, lembre-se que o canal de Suez foi inaugurado no final de 1869. Adiante... avante!
Evidentemente que esses factos, e o seu encadear, tiveram importância no estudioso da realidade, e seu atento observador, que era Karl Marx. E foi capaz de ver para diante, de avaliar a importância do desenvolvimento impetuoso dos transportes nos meios de produção e de o enquadrar na natureza capitalista do sector.
Antes, muito antes, do automóvel, do avião, das auto-estradas da comunicação.!
Uma base teórica colocada sobre carris, é o que é!
terça-feira, agosto 24, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 9 (Mário Castrim)
Viagem
através de uma tipografia clandestina*
Gritar Liberdade!, é fácil
… quando se vive com liberdades.
É fácil defender a liberdade de expressão
num off-set sofisticado,
com ar condicionado, telex, telefones
amplas janelas para o sol, quebrado
por estores de alumínio, docemente,
com salário em dia, hora para almoço, crédito bancário,
protecção constitucional e recurso ao tribunal.
E, mais adiante, fácil é defender direitos humanos
em mails e nets, blogs e facebook
tudo Windows set e new-look.
Assim,
serem pela liberdade de expressão uns,
outros perorarem sobre direitos humanos
é cómodo, é fácil, é barato e dá milhões (a alguns…)
Mas do que eu estou a falar é de outra coisa.
Se entendeste, o poema está cumprido.
Se não entendeste, o poema espera
com a paciência tradicional de todos os poemas
___________________
Correu bem.
Os comentários dos encartados comentadores repetiram as "dúvidas", os preconceitos, os "clichés". As mesmas das perguntas...
Para que fique claro
Tomar partido! (formas materiais do capital)
De acordo com a nossa base teórica, sendo o capital uma relação social de produção, ele materializa-se em capital-dinheiro (D), capital-mercadoria (M) e capital-produtivo, (… P …).
.
Refiro-me ao capital-comercial e ao capital-financeiro, inseridos nos circuitos de circulação do capital, e que foram tendo crescente autonomia e importação no circuito total de reprodução do capital.
segunda-feira, agosto 23, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 8 (Antonio Guerrero)
Neste caso, a situação é mais séria que a simples (e importante!) intenção, estulta..., de melhor dizer o que outros disseram tão bem que me desafiou.
Neste caso, traduzo “à minha maneira” – sendo boa a tradução que conheço – e denuncio! Denuncio a prisão do poeta, desde 12 de Setembro de 1998 (há 12 anos!), e de mais 4 companheiros, acusados de “conspiração por espionagem” e de acção consciente como “agentes não registados de um governo estrangeiro”, quando esse governo estrangeiro é o da sua Cuba, e a acção de conspiração era a de procurar conhecer, informar e impedir actos de sabotagem e terrorismo contra a sua Pátria.
Hasta quando
Muitos Abris passaram sem regresso,
tanto se atarda a primavera nova
que não poderei dizer-te ao certo
até quando será esta espera, esta demora.
Dá-me pena saber as flores em tuas mãos
e não as poder regar todas as manhãs.
Causa-me dor adivinhar os frutos dos teus lábios
e não os misturar com meus doces morangos.
Não sei até quando estará seco este vale,
quando voltarão às árvores as flores e os frutos,
mas neste rego onde hoje morre a rosa
sempre se incendeia de vida o coração.
Tomar partido! (para quê?)
Sim, para que nos serve saber se este assalariado desta fábrica a encerrar, operário, é trabalhador produtivo e se aqueloutra assalariada da mesma fábrica, empregada da contabilidade, é trabalhadora improdutiva, como aqueloutra “aviadora” numa grande superfície, todos/as sujeitos/as ao mesmo sistema de exploração, vivendo os mesmos problemas em casa … sim, para quê?
Não será perder tempo estudar “essas coisas” quando a luta está aí, na construção de uma “cidade” nossa, nos cartazes que, com frases curtas e incisiva, e motivos gráficos apelativos, passam a mensagem que se quer retida, nas quotas e fundos que se tem de receber senão a organização não funciona, na propaganda que é preciso entregar de mão em mão, nas palavras a dizer aquele operário e aquelas trabalhadoras (talvez…) não-produtivas?
Não! A luta ideológica é uma frente da maior importância, deve dirigir-se às massas, tem de contrariar, com os nossos escassos meios, a tremenda campanha ideológica que nos massacra, que nos divide, que nos alicia, que nos engana permanentemente. E, para isso, a base teórica é indispensável, porque a tomada de consciência (de classe) tem de se somar às condições objectivas que podem levar à luta, mas que dela podem afastar, ou desviar para batalhas que não são as nossas, quem nosso é, objectivamente.
E continuo este tomar partido!, na sua expressão da base teórica, colocando alguns pontos que resultam do exemplo que saltou sobre os trabalhadores/as serem ou não produtivos/as. Tem importância? Tem toda a importância porque é fulcral para a compreensão do funcionamento da economia. Porque está intrinsecamente ligado às noções de trabalho e de criação de valor (que é, em unidade dialéctica, de uso e de troca) e de mais-valia que se metamorfoseia em lucro e outras formas.
Não se pode lutar sem esse conhecimento, ou sem essa discussão que até pode levar a compreensões diferentes? Claro que sim, mas mais frágeis, menos seguros.
Para a compreensão do funcionamento da economia política há que estudar as metamorfoses do capital nos seus círculos de distribuição (D-M e M-D) e de produção (…P…), e nas suas extensões e interpenetrações e localizar onde e como se cria valor.
domingo, agosto 22, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 7 (Jean Gabin)
À maneira de
vou à janela,
Agora sei,
agora sei que não aceitei
a cruel obrigação de ser fiel
Agora sei,
agora aprendi que sempre cumpri
o dever moral de ser leal
(*) - Os cucos são aves conhecidas por chocarem os ovos em ninhos feitos por outros/as; também se aplica o epíteto a algumas “aves” humanas que se aproveitam do trabalho dos outros/as
Por onde vai a economia portuguesa?
Álbum - 11
Mas foi um passo importante, ou uma inversão de caminho de cissiparidade!
sábado, agosto 21, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 6 (Daniel Filipe)
pelos meninos tristes suburbanos, pelas viúvas sós e rurais,
contra o peso da impotência, contra o medo,
contra a mentira e a calúnia e tudo o mais
contra a exploração e a miséria, a fome e a sede
Lutaremos, camaradas!
Na aparência sozinhos, muitos, muitos mil,
por Abril lutaremos, meu amor
Notícia na TSF
O líder comunista, à margem de primeiro encontro de militantes em Avis, comentou desta forma os últimos resultados da execução orçamental que apontam para um aumento do défice público, na ordem dos 347 milhões de euros nos primeiros seis meses do ano, quando comparados com o 1º semestre de 2009.
Para os comunistas, além do combate ao desperdício, o Governo deveria ir buscar dinheiro onde ele está, no grande capital., e não onde ele escasseia cada vez mais.
Tomar partido! (pausa)
Pois sem qualquer parti pris… tomei partido, e estou convencido que, por o ter feito sem ambiguidade (mas tentando não ser ostensivo), nada se me colou de preconceituoso. Tomei partido!, num certo momento já longínquo de décadas, por opção de vida. E, nesse Partido que tomei, cá vou fazendo, feliz da vida, a minha vida.
Daqui resulta a assumpção de tarefas e talvez aquela que é agora prioritária, nesta altura da vida, seja a de me dedicar (mais!) ao estudo, não para “saber mais” mas para mais aprender e melhor transmitir como forma de fortalecer, eu, a consciência do partido que tomei e ajudar, outros, a ganharem consciência de classe. Isto como luta e para a luta.
[O que não me desviará de outras formas de luta e tarefas, evidentemente, embora não me sinta muito vocacionado (este físico já não é o que era…) para participar em tarefas como a da construção da Festa, de que guardo, de há muitos anos, a recordação de uma desajeitada martelada num dedo (de intelectual…) que me deixou marca.]
Neste fim de semana, e dada a decorrente baixa de visitantes e de comentários (que comecei a gerir nesta forma de comunicação), fica esta reflexão muito pessoal sobre… tomar partido. Segunda-feira voltarei (talvez…) a continuar a trazer para aqui o trabalho sobre a base teórica em que estou empenhado.
sexta-feira, agosto 20, 2010
Poemas cucos* (e outras coisas cucas) - 5 (Alda Lara)
Escolhi esta. Porque muito gosto da sua poesia. Porque a terei conhecido, ou dela estive próximo, na Casa dos Estudantes do Império. Porque morreu aos 31 anos. E atrevi-me a “cucar” o seu poema Círculo. Melhorei-o? Decerto que não. Fiz outro, quase com as mesmas palavras, procurando o mesmo sentido e ritmo. Meu, de cuco, sendo dela.
Minha!, esta culpa
Todo o caminho é belo se andado.
Ficar a meio é perder o sonho.
É deixá-lo apodrecer, por não caminhado,
é fechar o círculo da angústia, do abandono.
É ir de mãos abertas… mas vazias.
De coração repleto… mas chagado.
É ter o sol a arder dentro de nós,
mas por grades infinitas cercado.
Culpa de mim, que fiz o que podia,
na hora dos descantes e das lidas,
no tempo todo das lutas?
Ah! ninguém diga que foi minha a culpa,
Ah! ninguém diga…
Minha?... minha só esta culpa,
esta culpa de ter dentro do peito
tantas vidas!...
Tomar partido! (alguns aclaramentos - 2)
No entanto, este conhecimento, ao menos nas suas linhas gerais, é indispensável para a luta consciente. E não é fácil esse trabalho de “saber das coisas”, até pelo ambiente cultural em que se vive, mas sobretudo quando se quer aprofundar, nesta ou naquela área, como na da economia política.
Ora conhecer o funcionamento dos processos i) de produção do capital, ii) de circulação do capital e iii) total da produção capitalista (títulos dos 3 livros de O Capital, que tem o subtítulo geral de Crítica da Economia Política), é essencial para quem se pretenda marxista, e faça da base teórica uma sua arma de luta, na vertente ideológica. E contra esse conhecimento aprofundado levantam-se barreiras objectivas (em português, as edições avante!, ainda só têm publicados os 5 tomos dos 2 primeiros livros, o que já é trabalho notável) e as que concretizam a luta de classes, no plano ideológico.
Na economia política, os apologetas do capitalismo consideram, por exemplo, que os ditos factores de produção – “capital” e “trabalho” na terminologia não-marxista – proporcionam rendimentos aos seus proprietários (capitalistas e trabalhadores) independentemente da esfera de actividade (produtiva ou de circulação) em que são utilizados. E esta perspectiva, ou concepção, é não só imposta em todas as escolas em que se ensina economia – mesmo naquelas em que o marxismo não está totalmente abolido e ocupa uma espécie de reserva arqueológica (nalguns casos como algo respeitável enquanto história passada) do pensamento económico – como tem influência (e perturba, e provoca perturbação) em franjas mais permeáveis dentro do pensamento económico considerado como marxista, pelo que assim favorece a campanha ideológica contra o marxismo.
E não é a discussão, ou o debate, que está em causa. A base teórica do marxismo-leninismo alimenta-se e fortalece-se nessa discussão e nesse debate, mas para isso é indispensável conhecer sobre que repousa a nossa base teórica.
Tomar partido! (alguns aclaramentos - 1)
Na área da economia política, Marx estudou com os “clássicos”, que um século antes dele foram os economistas da burguesia ascendente, e deles aproveitou o grande salto que provocaram no pensamento económico, particularmente Ricardo e, sobretudo, Adam Smith com quem muito “conversou”. Nada inventou a partir da negação e do desprezo dos outros (mesmo quando era violento e cáustico). Com todo o respeito pelo saber antes adquirido (e datado!), firmando-se no que adquirira no aprofundado estudo do direito, da filosofia, da história, deu o “salto qualitativo” ao encontrar no trabalho o seu carácter duplo, que se exprime em valor de uso e em valor de troca, e ao tratar a mais-valia independentemente das formas particulares que viesse a tomar (lucro, rendas, juros, despesas) nas metamorfoses do capital que, como relação social, se materializa em várias expressões. E, como ele o escreveu em carta de 27 de Abril de 1867 a Engels, aí está «o que há de melhor no meu livro (O Capital) e aí repousa toda a compreensão»; e acrescentava que «o estudo dessas formas particulares da mais-valia, se é confundido com o estudo da forma geral à maneira dos economistas clássicos, dá uma misturada informe».
Este é um aspecto sobre que importa reflectir (e discutir... se houver com quem) quando se fala da base teórica de quem tomou partido.