Um camarada brasileiro, com quem troco mails, mandou-me um artigo sobre a situação em Portugal, saído na revista Valor Económico, de 23 de Julho – Um dia, um império – pedindo-me comentário sobre os dados e o próprio estudo, confessando que este o assustara. E com razão.
Baseado em um estudo de uma ONG e em trabalhos de pesquisa na área da sociologia, o autor do curto artigo, Fernando Moura, traça um retrato realmente assustador da situação portuguesa.
Baseado em um estudo de uma ONG e em trabalhos de pesquisa na área da sociologia, o autor do curto artigo, Fernando Moura, traça um retrato realmente assustador da situação portuguesa.
Quanto aos poucos dados que apresenta, nada a dizer. Na verdade, o desemprego é dito estar, em Junho, a 10,8% da população activa, os níveis estatísticos de pobreza e exclusão, os resultados dos inquéritos e dos “barómetros” são aqueles, a “desfasagem entre a percepção das condições objectivas de vida e a percepção de bem-estar” existe.
O trabalho publicado na revista brasileira baseia-se, no entanto, numa abordagem sociológica que me causa grande incomodidade (intelectual). É tudo muito à volta dos "paradigmas de compreensão dos fenómenos económicos e sociais”, da “lógica da sustentabilidade e crescimento inclusivo”, das “lógicas invertidas”, da "ilusão" que era o modelo neo-liberal (foi ilusão para quem?) e de “a solução é criar condições de igualdade” (como?, por obra e graça de Quem?).
E o artigo tem uma introdução que é completamente desfocada, o que se compreende na leitura do que se lhe segue, e fundamenta que se diga que na Grécia “a população saiu às ruas, protestou, quebrou bancos e queimou bandeiras” enquanto que, “na parte mais ocidental da Europa, em Portugal, isso não se vê nas ruas, mas o país também míngua, como a Grécia”, logo se acrescentando, embora com uma salvadora reserva, “e, ao que parece, em silêncio”.
É verdade que, em Portugal, não se “quebrou bancos”, nem se “queimou bandeiras”, mas a população saíu e continua a sair às ruas (em 29 de Maio, foram mais de 300 mil em Lisboa!), protestou, protesta. E não há silêncio, há muita luta!
Decerto os estudiosos, pesquisadores e inquiridores que apoiam o artigo de Fernando Moura não ouvem os protestos, não vêem as populações na rua. Porque as "populações na rua" não partem montras, porque não queimam bandeiras, porque não respondem a eventuais provocações? Talvez…
A luta, em Portugal, é diferente. Eu diria que é de mais longo prazo e menos imediata, mais de chegar, com o tempo que for preciso, à consciência das massas e menos espectacular ou mediática, mais revolucionária e menos de revolta.
A situação económica e social em Portugal é preocupante? Sem dúvida que sim! Mas de esperança multiplicada. Porque de luta!
O trabalho publicado na revista brasileira baseia-se, no entanto, numa abordagem sociológica que me causa grande incomodidade (intelectual). É tudo muito à volta dos "paradigmas de compreensão dos fenómenos económicos e sociais”, da “lógica da sustentabilidade e crescimento inclusivo”, das “lógicas invertidas”, da "ilusão" que era o modelo neo-liberal (foi ilusão para quem?) e de “a solução é criar condições de igualdade” (como?, por obra e graça de Quem?).
E o artigo tem uma introdução que é completamente desfocada, o que se compreende na leitura do que se lhe segue, e fundamenta que se diga que na Grécia “a população saiu às ruas, protestou, quebrou bancos e queimou bandeiras” enquanto que, “na parte mais ocidental da Europa, em Portugal, isso não se vê nas ruas, mas o país também míngua, como a Grécia”, logo se acrescentando, embora com uma salvadora reserva, “e, ao que parece, em silêncio”.
É verdade que, em Portugal, não se “quebrou bancos”, nem se “queimou bandeiras”, mas a população saíu e continua a sair às ruas (em 29 de Maio, foram mais de 300 mil em Lisboa!), protestou, protesta. E não há silêncio, há muita luta!
Decerto os estudiosos, pesquisadores e inquiridores que apoiam o artigo de Fernando Moura não ouvem os protestos, não vêem as populações na rua. Porque as "populações na rua" não partem montras, porque não queimam bandeiras, porque não respondem a eventuais provocações? Talvez…
A luta, em Portugal, é diferente. Eu diria que é de mais longo prazo e menos imediata, mais de chegar, com o tempo que for preciso, à consciência das massas e menos espectacular ou mediática, mais revolucionária e menos de revolta.
A situação económica e social em Portugal é preocupante? Sem dúvida que sim! Mas de esperança multiplicada. Porque de luta!
2 comentários:
Os jornais dão pouco (ou nenhum) destaque às lutas dos trabalhadores - logo, para os comentadores informados pelos jornais, em Portugal não há lutas...
Um abraço.
É muito vulgar ouvir dizer o povo está acomodado( eu às vezes também o digo, tal a revolta pela aparente passividade de algumas pessoas que conheço e que deviam reagir de outra forma ), mas que há luta, ai isso há, só que completamente suprimida dos meios de comunicação.
Continuemos a luta.
Um abraço.
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