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domingo, maio 20, 2012

Um congresso partidário que não é como os outros…

… de um partido que não é como os outros.
O PCP vai realizar o seu XIX Congresso. À sua maneira. Democrática. Participada. Procurando envolver, activa e responsavelmente, o maior número dos cidadãos que decidiram, no estimulado e pressuposto conhecimento dos estatutos e do programa, associar-se e respeitar uns (os estatutos) e contribuir para o cumprimento de outro (o programa).
Embora nesse Congresso, que se realizará a 30 de Novembro e 1 e 2 de Dezembro, se vão eleger – não como se desejaria, olhos nos olhos e braços levantados... mas como nos obrigam a fazer – os dirigentes para o novo mandato, o Comité Central, não é essa a mais importante decisão dos congressos. Ou as mais importantes. Estas são a resolução política e, quando tal se entenda necessário pelo colectivo que todos somos, alterações ao programa e aos estatutos.
O Congresso será daqui a meses, e já há meses se prepara. Não em gabinetes de uns tantos dirigentes mas em aberta, e tão larga quanto possível, discussão entre todos nós. Para que seja de todos nós.
O lema proposto pelo Comité Central é Democracia e Socialismo – Os valores de Abril no futuro de Portugal e, na sua preparação, a reunião do CC de 26 e 27 de Fevereiro calendarizou três fases interligadas e complementares para a continuidade da preparação e para a realização do Congresso. Além de ter decidido o local, Almada - Complexo Municipal dos Desportos. E aprovou um documento de questões e tópicos e das linhas de orientação que colocou à discussão de todo o colectivo partidário.

Na primeira fase, por todo o País tem havido muitas sessões, não padronizadas mas de acordo com as características próprias de cada organização, regional ou sectorial, sem prejuízo da luta constante que a situação geral e as situações particulares exigem. E cabe hoje a Ourém – como acontecerá em tantos outros lugares – fazer o plenário de militantes que encerre esta primeira fase.
Não tem sido tarefa fácil! Porque a luta é contínua e absorvente, porque não temos hábitos e menos ainda ambiente e estímulos culturais para ler e estudar e propor alterações. Mas essa é a nossa tarefa. De todos e mais particularmente de alguns que a tomam para si por naturais apetências ou vocações e circunstâncias da vida.
Às 16 horas de hoje, no Centro de Trabalho, iremos, os que vierem – e não será fechado, mas aberto a quem quiser vir, militante ou não –, dedicar-nos ao trabalho final desta primeira fase. A partir do documento aprovado no CC de Fevereiro. Que tem uma parte introdutória, a situação internacional (que tanto se modificou desde Fevereiro), a situação nacional (com realce para o agravamento da dependência externa e a financeirização), as lutas, organizações de massas, iniciativa política e alternativa, o partido.
Neste último capítulo, o partido, está a proposta de redacção e a adopção em Congresso de um projecto de alterações ao programa “Portugal: uma democracia avançada no limiar do século XXI”, adoptado no XIV Congresso, de 1992, adaptando-o ao tempo e situação de hoje, a começar pela designação “Uma Democracia Avançada – Os valores de Abril no futuro de Portugal”.

Será com base nas posições tomadas nesta fase, no plenário da Concelhia de Ourém e em todas as organizações, que se passará à segunda fase.

terça-feira, setembro 07, 2010

Tomar partido! (ajuda em adenda)

Um camarada e amigo, que muito me tem ajudado nestas reflexões, deixou-me dois comentários sobre pauperismo, que só agora, uma semana passada, li. Aproveito-os para, com ligeiríssimas alterações, fazer esta mensagem para lhe responder e agradecer, Obrigado, Ricardo.
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Para além da constatação de que as necessidades evoluem com o próprio desenvolvimento das forças produtivas e das «necessidades» de reprodução do sistema, não deveríamos considerar que a exigência de mais horas de trabalho aos trabalhadores para satisfazer as suas necessidades corresponde a um agravamento do pauperismo?
Ou seja, a contradição entre aquela que é a maior capacidade de produzir (e assim potencialmente satisfazer as necessidades dos trabalhadores), através de uma composição orgânica de capital em que a parte de trabalho vivo vai, necessariamente/tendencialmente, diminuindo, e a menor capacidade do trabalhadores satisfazerem as suas necessidades (observadas em termos relativos pelo maior número de horas ou maior peso de tempo necessário) não é demonstrativa do agravamento do pauperismo? Nas relações de produção que definem o modo de produção capitalista, a riqueza (produção de valores de uso) cresce mais rapidamente do que os trabalhadores são capazes de responder às suas próprias necessidades (afastados quaisquer juízos de valor sobre essas necessidades).
É que analisar o valor de troca da força de trabalho de uma forma estática (em quantidades e tipo de valores de uso constantes) poderá conduzir-nos ao erro de considerar que o bem-estar das populações aumentou ou que os trabalhadores hoje estão mais «ricos» porque adquirem mais valores de uso em relação a tempos passados.
Pode dizer-se que, devido ao desenvolvimento da luta e aos avanços revolucionários em 1975, um operário vivia melhor do que hoje, se bem que poucos tivessem televisão ou frigorífico e, menos ainda, um automóvel e, hoje, possam ter televisão, frigorífico, micro-ondas, computador, telemóveis e, talvez, dois automóveis...

sexta-feira, setembro 03, 2010

Tomar partido! (forças produtivas e relações de produção - 2 e final)

(para acabar...):
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Termino, neste “atrevimento” de resumir o que não é resumível, com uma referência particular relativamente às questões/conceitos-chave de valor e de trabalho produtivo.
  • O desenvolvimento das forças produtivas é processo de transformação de valores de uso (do que a natureza nos “oferece”), e por essa via se cria valor;

  • Enquanto estádio, ou patamar, de relações de produção que o definem, o processo no capitalismo é de criação de mais-valia por utilização como capital variável de força de trabalho trocada, como mercadoria com valor de troca, por capital-dinheiro, i.e., salário, e por essa via, incorporando capital variável no capital constante (meios de produção), se cria valor.

Esta é uma outra e fundamental unidade dialéctica das que (se) fazem (n)a realidade, que resulta das duas ópticas – do ponto de vista das forças produtivas ou do ponto de vista das relações de produção -, que vêm de Adam Smith e que Marx tanto trabalhou, e só vale para o modo de produção capitalista, enquanto…
Chegados (os que eventualmente me leram e eu) ao fim desta caminhada – até porque foi motivada por tarefa para a Festa… e a Festa está aí! – há que começar de novo. Não a partir do zero ou do ponto anterior ao começo do percurso feito, mas a partir deste falso fim a que chegámos, e procurando aproveitar todos os passos que foram (e continuarão a ser) dados.


(...até começar de novo!)

Tomar partido! (forças produtivas e relações de produção - 1)

Na publicação que se fez da minha tese de doutoramento – que fui buscar, agorinha, à estante – senti-me obrigado a escrever em “nota prévia” (datada de Março de 1987!):
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«(...) Levantadas reservas sobre algumas referências bio-bibliográficas, por não se atribuir autoridade científica aos citados, quisemos afirmar, e aqui se reafirma, que, independentemente do que possa ser norma em teses de doutoramento – e respeitando essas normas -, nenhuma citação foi feita com a pretensão de valer como “argumento de autoridade”, nem nenhum autor foi citado por ser aquele autor. Aproveitámos a oportunidade para afirmar a nossa defesa da ortodoxia. E da oportunidade decorreu a lembrança de Joaquim Namorado que disse que a verdadeira coragem era, em certos momentos e lugares, a de alguém se afirmar ortodoxo.(...)»
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O que disse durante as provas, e a sua reiteração na nota prévia, se não prejudicaram o resultado do doutoramento, pouco terão ajudado para o que a tese poderia ter tido (e ter) de eventual divulgação e possível aproveitamento… Viviam-se (e vivem-se) tempos de alardes de heterodoxia e de afirmações de inconformismo, como acontece ciclicamente. Pelo que, como sempre – mas às vezes mais! – é necessário afirmar o que é axial, o que é a nossa base teórica.

Em relação à definição, por exemplo, de valor e de trabalho produtivo, há que ser muito claros, na perfeita consciência da dificuldade de simplificar conceitos tão complexos – como a vida o é! Mas não é essa complexidade que levará a aceitar que se apode de conformista o que é axial e que se isso seja substituído por conceitos “modernos”, outros de que não se nega o direito a existirem (e até a sua possível respeitabilidade) mas que não podem é ser apresentados como sendo marxistas.
Atrever-me-ia a, no final deste percurso de fixação de reflexões (re)nascidas em (re)leituras, deste quarteirão de notas a tomar partido!, resumir, com o risco de ser redutor, risco que assumo com a afirmação de que há que continuar a estudar e aprofundadamente. Mas, enquanto marxistas e na vertente económica, há linhas de investigação a percorrer (e tanto caminho!) a partir da interpretação da História segundo a qual a relação homem-natureza para satisfação das necessidades que historicamente evoluem, desencadeou i) um processo de criação de forças produtivas – antes de todas a do trabalho e, depois, dos instrumentos e objectos que a acompanham e vão completando e substituindo nas tarefas – e ii) que esse processo se concretiza, ao longo da História, no quadro de relações sociais de produção que passam por estádios, ou patamares, correspondentes ao desenvolvimento das forças produtivas. Forças produtivas e relações de produção que formam unidades dialécticas (por isso prenhes de contradições) como modos de produção.


(já a seguir... e para acabar)

quinta-feira, setembro 02, 2010

Tomar partido! (Ler Marx:!)

A ler Marx, ou a ler sobre Marx, aprende-se sempre muito. Algumas vezes aprende-se melhor o que já se sabia, mesmo aquilo a que a modéstia impede de dizer que se sabia razoavelmente bem… E nunca se sente – ou pode sentir – que se estão a adoptar “argumentos de autoridade”.
Em Marx, sem me contradizer… espero eu, se há aspectos que vou reforçando com as leituras e releituras, um é o do grande respeito que ele tinha pelo trabalho dos outros, dos anteriores e dos coevos. O que coexistia com ausência de frouxidão na argumentação, por vezes quase com violência verbal. Se o ilustra a “conversa” (virtual, ainda que sem gravações-vídeo ou esoterismos) tida e mantida com Adam Smith, grande teórico da/para a burguesia ascendente (e também, agora, para a decadente), até porque o respeito e o aproveitamento de contributos de Adam Smith são evidentes no edifício que Marx ia construindo (e que não está concluído, nem nunca o estará enquanto marxismo), não resisto a transcrever os termos com que se referiu a Bentham (1878-32), um dos pais do “utilitarismo”, a quem chamou “o génio da estupidez burguesa”:

«A esfera da circulação ou da troca de mercadorias, dentro de cujos limites se move a compra e venda da força de trabalho, era de facto um verdadeiro Éden dos direitos humanos inatos. O que aí impera somente é liberdade, igualdade, propriedade e Bentham. Liberdade! Pois o comprador e o vendedor de uma mercadoria – p.ex., da força de trabalho – são apenas determinados pelo seu livre arbítrio. Eles fazem contrato enquanto pessoas livres, juridicamente de igual condição. O contrato é o resultado final pelo qual as suas vontades dão uma à outra a sua expressão jurídica comum. Igualdade! Pois eles apenas se relacionam entre si como possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. Propriedade! Pois cada um dispõe apenas do que é seu. Bentham! Pois cada um apenas se preocupa consigo. O único poder que os junta e põe em relação é o do seu proveito próprio, da sua vantagem particular, dos seus interesses privados. E exactamente porque cada um apenas se volta para si e nenhum para o outro, todos realizam apenas a obra da sua vantagem recíproca, do interesse conjunto, em consequência de uma harmonia preestabelecida das coisas ou sob os auspícios de uma providência toda-manhosa.
Ao separar-se desta esfera da circulação simples ou da troca de mercadorias, ao qual o livre-cambista vulgaris vai buscar concepções, conceitos e padrões para o seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho assalariado, algo se transforma já – ao que parece – a fisionomia da nossa dramatis personae*. O antigo possuidor do dinheiro marcha à frente como capitalista, o possuidor da força de trabalho segue-o como seu operário; um significativamente sorridente e zeloso pelo negócio, o outro tímido, contrariado, como alguém que levou a sua própria pele ao mercado e agora nada mais tem a esperar senão… ser esfolado.» (O Capital, edições avante, Livro 1º, tomo I, p. 204)

É neste quadro (teatral) que se toma partido!
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* - Em latim no texto original: personagem do drama (nota da edição portuguesa)

quarta-feira, setembro 01, 2010

Tomar partido! (antecipando uma apresentação de livro na Festa)

Da preparação para a apresentação de um livro na Festa (e antecipação... ):

«(…) marxismo, e marxismo-leninismo como nossa base teórica, é concepção materialista filosoficamente, histórica e dialéctica, e a procura de abordar – "marxisticamente" – o “momento”, a contemporaneidade do capitalismo, ainda que com o instrumental que a super-estrutura dominada pela ideologia da classe dominante no estádio da relação de forças classista, tem de ser histórica, dialéctica.
Histórica, por não deixar que a estreiteza dos nossos horizontes temporais de existência individual façam apagar a historicidade do que nos é contemporâneo, por não consentir seccionar, separando, a contemporânea idade do que foi e do que será; dialéctica, porque devendo inserir-se na vida total e nas suas contradições dinâmicas, porque utilizando, necessariamente, esse instrumental à disposição – "generosamente" disponibilizado e imposto, excluindo ou escondendo outros –, o devemos fazer com as reservas que decorrem de, mais que instrumentos, serem armas de uma permanente tentativa de total e “exclusivante” dominação ideológica.


Nas releituras refrescantes a que Compreender a economia me obrigou, detive-me longamente num outro também belga e também Jacques mas não Gouverneur, em Jacques Nagels, num seu trabalho que considero notável, dos idos anos 70, em que, à volta do tema-título Trabalho colectivo e trabalho produtivo na evolução do pensamento marxista (e também noutros), ensaiou uma aproximação à utilização do “cálculo marxista” (ou com base em conceitos marxistas), usando equações-relais, com aproveitamento do instalado instrumental estatístico (digamos) burguês, capitalista, trabalho em que, aliás, os anos de União Soviética procuraram fazer avanços, daqueles só possíveis em muitos e muitos anos - para mais tendo sido estes percorridos entre cercos, bloqueios, guerras quentes e frias -, trabalhos e avanços em que, com a sua interrupção, se perdem ou recuam décadas.»

terça-feira, agosto 31, 2010

Tomar partido! (estatísticas, necessidades, pauperismo)

Há que tornar muito claro que, a partir da nossa base teórica, não se podem menosprezar as representações (estatísticas, ou outras como as artísticas) da realidade, bem como os métodos quantitativos e o cálculo. Elas são necessárias, indispensáveis. Só que são representações super-estruturais, reflectindo o estádio da luta de classes.
Com o keynesianismo em socorro do capitalismo, as representações estatísticas, podiam, por exemplo, aproximar um cálculo da repartição do Rendimento Nacional (categoria macroeconómica-chave em Keynes) entre capital e trabalho, no entanto ideologicamente enquanto factores de produção, e não no quadro de uma relação social de exploração.
Essa transposição para conceitos da nossa base teórica de expressões estatísticas da realidade tornou-se mais difícil com o neo-liberalismo económico, com a lenta recuperação do espaço pela economia de mercado ideologicamente antagónica da intervenção do Estado na economia a não ser (e determinantemente) para apoiar os grandes grupos financeiros. Também com o desaparecimento da União Soviética e a perda de, entre tanta coisa, de trabalhos em curso na sua Academia de Ciências Sociais.
Mas não se tornou menos necessária. Até mais indispensável.
Fechando este parêntese, negar a separação dos dois momentos da relação trabalho/capital é o mesmo que dizer que custos unitários de mão-de-obra se podem confundir, por substituição e apagamento, com o que, na base teórica em que assenta o nosso tomar partido!, é fundamental, o valor da força de trabalho que, enquanto valor de troca, permite o acesso ao salário e aos produtos que satisfazem necessidades.
Por outro lado, insisto na necessidade de colocar no nosso temário as necessidades (não estou a ser tautológico por distracção ou menos cuidado na escrita…). E, para reforçar esta insistência, (ou insistir na insistência...) recorro ao Manifesto (de 1848), em que Marx e Engels, na página final do capítulo I, abrem debate sobre um tema-conceito que pouco tem sido debatido, o do pauperismo ou pauperização.
«… o operário moderno, em vez de se elevar com o progresso da indústria, afunda-se cada vez mais abaixo das condições da sua própria classe. O operário torna-se num indigente [Pauper] e o pauperismo [Pauperismus] desenvolve-se ainda mais depressa do que a população e a riqueza.»
Ora, para esse debate há que ter em conta a evolução das necessidades. Hoje, em 2010, os pobres, os indigentes, mostram o vazio do seu frigorífico e eu, que sendo avançado na idade ainda estou dentro do prazo de validade, lembro que atravessei toda a minha juventude sem ter frigorífico em casa dos meus pais. E nunca fui/fomos indigente/s. A evolução das forças produtivas (e algumas instrumentos e derivas ideológicos, como a publicidade) é que, neste curto espaço de tempo (historicamente falando), tornou hoje necessidade o que ontem não era!

segunda-feira, agosto 30, 2010

Tomar partido! (momentos da troca trabalho-capital e necessidades)

Esquematizem-se os dois momentos atrás referidos:
Momento 1
Os trabalhadores trocam a sua força de trabalho (FT) com os detentores de capital-dinheiro (D). Há uma compra e uma venda – M(FT)-D. Dispondo desse dinheiro, que passou a ser seu!, os trabalhadores trocam-no por aquilo de que precisam para satisfazer as suas necessidades, de recuperação, manutenção, valorização da sua força de trabalho. Há, portanto, no momento 1, dois movimentos - sendo o segundo D-M -, que se desenrolam na esfera da circulação simples de mercadorias, e em que o dinheiro não é mais que um intermediário para facilitar as trocas.
A fórmula geral é M(FT)-D-M(bens de consumo)
Momento 2
Os capitalistas, que compraram força de trabalho, utilizam os valores de uso desta, e o processo de produção arranca quando se incorpora a mercadoria-força de trabalho nas mercadorias de que os capitalistas disponham por terem trocado capital-dinheiro por mercadorias-meios de produção de que se servem como capital constante (C). Neste momento 2, a força de trabalho incorpora-se no capital e torna-o produtivo ao ser “usada” como capital variável (V). Está-se no ciclo de produção, em que o capital passou a ser capital-produtivo: …P…=C+V. Ao terminar o ciclo, os detentores do capital tornam-se proprietários das mercadorias produzidas (M’), produto de C+V acrescido de mais-valia (MV) – C+V+MV -, que procurarão metamorfosear (realizar), o mais rápido possível, em capital-dinheiro (D’).
Já não se trata de circulação simples, de trocas entre equivalentes. O dinheiro figura no inicio e no fim do processo, que é de valorização do capital na forma de dinheiro. A fórmula geral é D-M…P…M’-D’ (> D).
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Isto pode ser formulado de muitas maneiras, e todas elas terão algo de novo, algo em que se aprende (assim me aconteceu...). E abrem-se portas para a realidade e a sua compreensão.
Inserido nesta série sobre a base teórica em que assenta tomar partido!, faz-se a ligação às necessidades e, além de se comprovar que elas apenas aparecem no momento 1, quando os trabalhadores trocam o preço que lhes foi pago nesse momento pelas mercadorias que lhes satisfaçam as necessidades, mas estas não são (ou deixaram de ser, nas relações de produção do capitalismo) o início e o fim do processo de produção. No momento 1, na operação de compra e venda, para o trabalhador que vende a mercadoria força de trabalho, trata-se de acção vital pois com essa venda passará a dispor do que lhe é indispensável para satisfazer as suas necessidades, e estas são diferentes segundo o tempo e o lugar, segundo a história e a cultura; para o comprador será um custo que é sempre preciso baixar…
Aqui, abro parênteses, e deixo uma pista para mais tarde: nesta formulação detecta-se a dificuldade em encontrar a realidade representada nas estatísticas. Quem quiser fazer a análise da realidade a partir das suas representações, encontrará dados sobre custos unitários de mão-de-obra e só com verdadeiros malabarismos se conseguirá uma aproximação à quantificação das necessidades do “proprietário” da força de trabalho, e da mais-valia que foi criada no processo produtivo e apropriada. Estamos no terreno da luta ideológica!

domingo, agosto 29, 2010

Tomar partido! (necessidades e troca trabalho-capital)

As necessidades humanas não se podem desligar do processo histórico. Pelo contrário, e a economia política marxista tem de ser clara: as formas subjectivas que as necessidades humanas revestem neste ou naquele processo social, são determinadas pelas condições objectivas da sua existência. As condições objectivas, que determinam a formação das necessidades, estão ligadas à evolução do ser humano e da sociedade, no plano individual – o que implica uma gama de bens materiais e culturais, históricos –, e ao desenvolvimento da produção social que engendra, sem cessar, novos produtos e novas/outras necessidades.
E se terminei o anterior tomar partido! com a promessa (?!…) de vir a citar Marx, aí vai:
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«As próprias necessidades naturais [naturlichen], como alimentação, vestuário, aquecimento, habitação, etc. são diversas segundo as peculiaridades climáticas e outras peculiaridades naturais de um país.
Por outro lado, o âmbito d{ess}as chamadas necessidades imprescindíveis, assim como a maneira da sua satisfação, são eles mesmos um produto histórico e dependem, portanto, em grande parte do estádio de civilização de um país (…) Por oposição às outras mercadorias, a determinação de valor da força de trabalho contém, pois, um elemento histórico e moral.»*
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Insistindo (no contexto destes textos): até em razão das necessidades resultantes da “primeira natureza” (animal) do ser humano a sua força de trabalho, ao contrário de todas as outras mercadorias, tem valores diferentes de lugar para lugar. Muito mais ainda diferem no que respeita às necessidades de “segunda natureza” (social), que são, por definição e processo, necessidades históricas, culturais, também de lugar para lugar, e ainda dentro do mesmo país, por pequeno que ele seja.
Mas citar Marx é um perigo! Logo outras citações se impõem (e tantas ficarão por fazer!), até porque ele se repete… nunca se repetindo, mas reforçando e completando.
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«O valor da força de trabalho, tal como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário para a produção – portanto, também reprodução - desse artigo específico. Enquanto valor (…) O tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho resolve-se, pois, no tempo de trabalho necessário para a produção desses meios de vida ou: o valor da força de trabalho é o valor dos meios de vida necessários para a conservação do seu possuidor.»**
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Assim se pode chegar à questão crucial da “relação de troca entre o trabalho e o capital”, que tem dois momentos: um, em que o trabalhador troca a sua mercadoria, o valor de uso da força de trabalho, por uma certa quantidade de valores de troca – por uma certa quantidade de capital-dinheiro –, com o possuidor de capital-dinheiro; outro, em que este recebe, em troca, a mercadoria força de trabalho para conservar e valorizar o seu capital, primeiro sob a forma mercadoria que, depois, pretende metamorfosear na forma (mais) capital-dinheiro.
São dois momentos! Inseparáveis mas separados, embora
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“O capitalista - e ainda mais o seu tradutor teórico, o economista político -, porém, só dificilmente pode desistir da imaginação de que o dinheiro pago ao operário continua a ser dinheiro do capitalista." ***.


(isto dá pano para tantas mangas…)
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*- O Capital, edições avante!, Livro primeiro, Tomo I, p. 198 – os parênteses [] são do tradutor (Barata-Moura), os {} são meus.
**- ibidem, p. 197/8
***- idem, tomo V, p. 477

sábado, agosto 28, 2010

Tomar partido! (citações sobre necessidades)



Do livro com que fecho o anterior apontamento - de uma autora húngara, Agnes Heller, de 1974 - por mim comprado em 1981 e lido com grande atenção e intenção, retirei, vejo agora, muitas notas. Não que o livro não me tivesse suscitado algumas dúvidas, particularmente levantadas por aquela outra (e de outros) intenção de cavar uma d ivisão entre o "jovem Marx" e o "Marx adulto" (de O Capital), mas uma das grandes utilidades de alguns livros é a de nos provocarem (por vezes, até por provocação) reflexões mais aprofundadas. Duas citações, para poupar o muito que, por palavras "inventadas" por mim poderia para aqui trazer:
  1. «Para Marx, as antinomias específcas do capitalismo, que derivam da produção de mercadorias, são as que existem entre liberdade e necessidade, necessidade e oportunidade, teleologia e causalidade; destas decorre a especial antinomia entre a riqueza da sociedade e o empobrecimento social.» (pg. 81)
  2. «O mundo da troca de mercadorias é o mundo da universalidade do egoísmo: o do interesse pessoal. Os sujeitos da troca são indiferentes entre si; estão em relação uns com os outros apenas para a realização dos seus interesses pessoais: no que respeita à "necessidade do outro (e dos outros)" - que é, como sabemos, o que Marx considerou a mais elevada e "mais humana" necessidade - a redução é total.» (pg. 64

Num outro livro - editado em 1974 pela Prelo, de autor soviético, Molatchov - encontrei, logo na introdução, esta observação que me parece pertinente:

  1. «A economia socialista destina-se a satisfazer as diversas necessidades do homem, do trabalhador. É por esta razão que o cientista, que estuda as suas leis de desenvolvimento, deve corresponder a elevadas exigências.» (pg. 5)
  2. «À primeira vista, concretizar a necessidade de um acto ou acção parece ser um assunto subjectivo. É precisamente desta forma que a economia política burguesa procura interpretar as necessidades. No seu estudo, substitui a análise económica e social das condições de vida material (no que se refere à formação das necessidades humanas) pela psicologia. Deste ponto de vista, as necessidades encontram-se completamente isoladas do processo de reprodução e intervém no indivíduo como um sentimento negativo que ele procura, ao mesmo tempo, eliminar. (...) Sempre que analisam a natureza das necessidades humanas, os economistas burgueses têm, geralmente, tendência para tornear os problemas sociais agudos do capitalismo e dedicar-se, antes, a especulações mesquinhas sobre os sentimentos do homem.» (pg. 9)

(sobre isto, continuaremos... e com uma citação de Marx)

sexta-feira, agosto 27, 2010

Tomar partido! (necessidades - 1)

Não há uma sequência planeada de temas. Nestas reflexões, as cerejas vão saindo umas atrás das outras ao sabor das leituras e releituras e adia-se a arrumação. Por isso mesmo me parece que estão a faltar umas palavras sobre necessidades. Não abro um parêntese, não saio do rumo, apenas introduzo umas considerações sobre um tema que se me afigura sempre em falta. Talvez por lhe dar tanta importância.
É verdade que se pode pegar nele de forma que desvie do essencial, que pode mesmo servir para aquela deriva intencional (mal intencionada) de dividir Marx, de seccionar a juventude da maturidade como se esta (a matura idade) não seja claramente explicada por aquela, como se não houvesse um percurso que, tal como o da História, avança sem cortes mas com saltos (qualitativos) provocados pelos passos (quantitativos) que se vão dando… por vezes “marcando passo”
A nossa base teórica, no que respeita à economia, não pode menos-considerar as necessidades. O ser humano tem a sua “primeira natureza” enquanto matéria organizada em ser vivo, com as necessidades que lhe são… naturais, isto é, as de se manter matéria organizada, viva: alimenta-se, protege-se do meio de que é parte, reproduz-se para se continuar; tem uma “segunda natureza” enquanto animal que se socializa, que comunica, que trabalha, que divide trabalho, que vai criando necessidades que são naturais a essa “natureza social” porque humanas e em constante progresso, embora a escala do tempo possa ser imperceptível para o nosso horizonte individual, tão limitado nos anos de sua duração.
Estou, é evidente, a entrar por áreas que não são as do sapateiro que sou, a tocar rabecão que não é o meu instrumento (nenhum o é…), se calhar a dizer disparates. Mas não a dispara(ta)r! Comedido.
O que quero tornar claro é que, ao tomar partido, assumimo-nos materialistas, históricos e dialécticos. E que as necessidades nossas são as de ser(mos) animal e humano, isto é, social.
Temos necessidades! A economia estuda (ou deveria estudar) como, pelo trabalho (necessidade nossa, imaterial), servindo-nos e transformando a natureza que nos rodeia e em que somos, as satisfazemos. Criando valor – de uso e de troca – até ao acto de usar o valor de uso, até consumirmos, consumo que já é de outras áreas que não a da economia.
Por isso, a avaliação (digamos moral) das necessidades está fora das nossas fronteiras, embora as várias áreas do pensamento e da compreensão do que somos e como estamos tenham de se integrar numa visão de conjunto. E tomar partido! Não como economista, mas reflectindo-se evidentemente na economia que, como economista, cada um pratica.
Por isso, gosto de citar Marx (pois claro!): "Para a nossa finalidade (…) é totalmente indiferente se um produto real, por exemplo, como o tabaco, é do ponto de vista fisiológico, um meio de consumo necessário ou não; basta que, em conformidade com o hábito, [ele seja] um tal [meio de consumo necessário]."

Repito, modificando: basta que, em conformidade com o hábito (poderia dizer-se: com a cultura própria do tempo-em-que), esse produto real (essa mercadoria saída da esfera produtiva…) seja sentida como uma necessidade, isto é, seja um meio de consumo sentido como necessário, independentemente de considerações fisiológicas ou outras, como morais ou éticas. E aqui entram em campo as relações sociais de produção e a superstrutura da formação social, ou seja a exploração capitalista, a publicidade, a ideologia que se impõe dominantemente, a partir da relação de forças na luta de classes.


(segue já… amanhã)

quinta-feira, agosto 26, 2010

Tomar partido! 17

Estes apontamentos, que servem de apoio de fixação ao que está a ser estudado e preparado para uma intervenção próxima, e também, evidentemente, para comunicação por esta via a que dou muita importância, não podem ser encarados como um curso ou parecido. Já neste blog algo fiz com esta intenção que não é a de agora, numa série sobre materialismo histórico, que foi uma experiência útil (para mim, pelo menos).
Em relação ao que, agora, aqui me traz, ainda há alguns temas, ou aspectos, que se impõem enquanto fixação de reflexões após leituras e releituras. Na sequência da abordagem da base teórica, na vertente económica, há que insistir na questão das esferas do processo total de produção do capital, nas metamorfoses por que passa o capital, nas suas materializações como relação social que é, e na importância relativa que vão tendo essas formas.
Se o capital passa da forma dinheiro à forma mercadoria, nesta se torna produtivo para a ela regressar – sem ter saído... – acrescida de valor, mercadoria que tem de realizar valor de uso e valor de troca, metamorfoseando-se em novo (e mais…) dinheiro, a importância relativa das formas do capital materializado na concretização dos circuitos e as independência e autonomia de algumas dessas formas ou de formas nelas nascidas ou incluídas como dependentes, sem alterarem a natureza essencial das relações de produção. Assim o capitalismo passar por fases diferentes, também – e intrinsecamente – marcadas pela relação de forças na luta de classes sempre viva – enquanto houver classes antagónicas –, embora latente e, ideologicamente, ou escamoteada ou não consciente.
O capital financeiro, se não éforma nova, tem vindo a ganhar preponderância no funcionamento da economia política capitalista, e a tomar dimensões absolutamente desmesuradas, com o reforço de vias especulativas para acumulação e concentração de mais dinheiro e para contrariar a dificuldade de tal ser conseguido na esfera produtiva com a criação e apropriação de mais-valia. O capital-dinheiro simbólico (fiduciário, não-metálico) cresce “assustadoramente” por via do dinheiro fictício, do crédito, das “engenharias financeiras”, das “injecções” com que os Estados “socorrem” as entidades bancárias e para-bancárias, agravando as contradições que o capitalismo engendra e lhe são inerentes.
As 5 dinâmicas que Marx enumera no Livro terceiro de O Capital (acréscimo da exploração do trabalho, descida de salário abaixo do seu valor, depreciação de elementos de capital constante, sobrepopulação relativa, comércio externo) como contrárias à baixa tendencial da taxa de lucro, e que de modo algum a anulam, incluem e acrescem com a demencial financeirização. O que não leva a passarem de dinâmicas que contrariam uma lei que, por si mesma, se define como tendencial, e que tem a sua razão de ser na evolução da composição orgânica do capital, com o trabalho morto ou cristalizado a, inelutavelmente, ganhar espaço e tempo ao trabalho vivo, podendo libertar os portadores deste de actividades que o trabalho cristalizado ou morto pode realizar, mas de que resulta, nas relações sociais que são o capitalismo, o desemprego em vez do tempo livre e humanizado.
(isto tem de continuar…)

quarta-feira, agosto 25, 2010

Tomar partido! (Os transportes)

Quando, ao reflectir sobre a base teórica que fundamentou, ou veio fundamentar, o partido que foi tomado, se confrontam os conceitos nucleares de trabalho, de criação de valor, de trabalho produtivo, espanta o facto desta base teórica ter os seus caboucos lá para a segunda metade do século XIX, quando não havia excel e processadores de texto, estavam para nascer ou eram crianças os avós de Bill Gates e Makintosh (“isto” é um fulano?...), quando davam as primeiras e indecisas voltas os pneus do que viriam a ser os automóveis e não havia aviões (apesar das barcarolas e dos balões).
Não obstante, o sr. Karl Marx, nos seus estudos (teóricos!) sobre o trabalho produtivo já teve a clarividência de considerar que os transportes tinham um papel central nessa tal base teórica. O que é verdadeiramente espantoso!
É verdade que Marx foi sempre testemunha atenta do que se passava à sua volta – como os pneus… - e privilegiava a dinâmica, o que caminhava para o futuro – sobre rodas ou não…
Marx interessou-se muito pelos transportes, e empolgou-se com o seu vertiginoso progresso com a burguesia ascendente (progresso que, hoje, parece lentíssimo!). Decerto porque, nascido ele a 1818, a locomotiva de Stephenson apareceu em 1825, em 1830 foi inaugurada a primeira via férrea Liverpool-Manchester, na década de 40 o mundo passou de 8 mil para 30 mil quilómetros de redes ferroviárias (que coisa impressionante!) De 1863 a 1867, estando Marx entre os 45 e os 50 anos, enquanto escrevia manuscritos (não tinha computador…) para O Capital, nas “suas barbas”, na Áustria, construia-se, através do colo de Brenner, uma via férrea com 22 túneis nos Alpes, sessenta viadutos e pontes, ligando Alemanha, Áustria e Itália.

Há quem diga que se estava na “era do carril”.
Mas não foram apenas os caminhos de ferro. Para dar um outro exemplo, lembre-se que o canal de Suez foi inaugurado no final de 1869. Adiante... avante!

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Evidentemente que esses factos, e o seu encadear, tiveram importância no estudioso da realidade, e seu atento observador, que era Karl Marx. E foi capaz de ver para diante, de avaliar a importância do desenvolvimento impetuoso dos transportes nos meios de produção e de o enquadrar na natureza capitalista do sector.
Antes, muito antes, do automóvel, do avião, das auto-estradas da comunicação.!
Uma base teórica colocada sobre carris, é o que é!

terça-feira, agosto 24, 2010

Tomar partido! (formas materiais do capital)

Neste apontamento de hoje, apenas quero deixar um breve encadeado de observações que procuram sintetizar o resultado de algumas leituras e reflexões próximas (embora continuadamente repetidas e reformuladas que não revistas).
De acordo com a nossa base teórica, sendo o capital uma relação social de produção, ele materializa-se em capital-dinheiro (D), capital-mercadoria (M) e capital-produtivo, (… P …).
Essas formas materiais que toma a relação social passam por metamorfoses, de D a M e de M a D, como fases do processo de circulação do capital e, enquanto capital-produtivo, na esfera do processo produtivo (… P …), divide-se em capital constante, que é mercadorias-meios de produção - pano, linhas, botões, máquinas, energia -, e capital variável, que é mercadoria-força de trabalho - horas de trabalho, de que só algumas são trocadas pelos meios para a sua recomposição e (sobre)vivência do proprietário/trabalhador.
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D – M (…P…) M’ – D’
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Por este caminho, de que não me canso e em que descubro sempre “paisagens” novas, continuaria, mas só quero acrescentar que, ao longo do processo histórico, outras formas materiais do capital (da relação social de produção) foram aparecendo e/ou autonomizando-se, algumas delas vindas de modos de produção anteriores e/ou coexistentes, isto é, de outros estádios de relações sociais de produção, de anteriores fases do desenvolvimento das forças produtivas.
Refiro-me ao capital-comercial e ao capital-financeiro, inseridos nos circuitos de circulação do capital, e que foram tendo crescente autonomia e importação no circuito total de reprodução do capital.

segunda-feira, agosto 23, 2010

Tomar partido! (para quê?)

Suponhamo-nos em tarefa, na Atalaia a construir a Festa (que é nossa na construção e na desmontagem, para que seja de todos enquanto cidade viva e outra durante três dias), ou a colar cartazes, ou a cobrar quotas e entregar cartões, ou a distribuir propaganda na rua … para que nos serve, então, a base teórica?
Sim, para que nos serve saber se este assalariado desta fábrica a encerrar, operário, é trabalhador produtivo e se aqueloutra assalariada da mesma fábrica, empregada da contabilidade, é trabalhadora improdutiva, como aqueloutra “aviadora” numa grande superfície, todos/as sujeitos/as ao mesmo sistema de exploração, vivendo os mesmos problemas em casa … sim, para quê?
Não será perder tempo estudar “essas coisas” quando a luta está aí, na construção de uma “cidade” nossa, nos cartazes que, com frases curtas e incisiva, e motivos gráficos apelativos, passam a mensagem que se quer retida, nas quotas e fundos que se tem de receber senão a organização não funciona, na propaganda que é preciso entregar de mão em mão, nas palavras a dizer aquele operário e aquelas trabalhadoras (talvez…) não-produtivas?
Não! A luta ideológica é uma frente da maior importância, deve dirigir-se às massas, tem de contrariar, com os nossos escassos meios, a tremenda campanha ideológica que nos massacra, que nos divide, que nos alicia, que nos engana permanentemente. E, para isso, a base teórica é indispensável, porque a tomada de consciência (de classe) tem de se somar às condições objectivas que podem levar à luta, mas que dela podem afastar, ou desviar para batalhas que não são as nossas, quem nosso é, objectivamente.
E continuo este tomar partido!, na sua expressão da base teórica, colocando alguns pontos que resultam do exemplo que saltou sobre os trabalhadores/as serem ou não produtivos/as. Tem importância? Tem toda a importância porque é fulcral para a compreensão do funcionamento da economia. Porque está intrinsecamente ligado às noções de trabalho e de criação de valor (que é, em unidade dialéctica, de uso e de troca) e de mais-valia que se metamorfoseia em lucro e outras formas.
Não se pode lutar sem esse conhecimento, ou sem essa discussão que até pode levar a compreensões diferentes? Claro que sim, mas mais frágeis, menos seguros.
Vou deixar apenas um aspecto que, julgo, a todos tocará. Segundo a nossa base teórica, produtivo não é igual a necessário, produtivo não é igual a útil, produtivo não é igual a racional. Alimentar estas confusões, mesmo que com a melhor das intenções, serve para dividir, empresta a um conceito ou categoria económica uma carga moral que não tem. Ora é preciso tornar claro que, como dizia Marx, a economia política não tem uma moral e, tal como a sua prima, a dona religião, serve para a acumulação da riqueza em boa consciência, em virtude e etc.
Para a compreensão do funcionamento da economia política há que estudar as metamorfoses do capital nos seus círculos de distribuição (D-M e M-D) e de produção (…P…), e nas suas extensões e interpenetrações e localizar onde e como se cria valor.
(e logo volto para continuar...)

sábado, agosto 21, 2010

Tomar partido! (pausa)

Uma pequena nota prévia: o facto de tanto gostar da expressão tomar partido não me leva a reivindicar qualquer originalidade. Considero, até, que muito do gosto que por ela tenho resulta da sua força quase diria universal. Acho, por exemplo, de grande felicidade o uso que lhe foi dado aqui na vizinhança, ao aproveitar-se o nome da cidade e concelho de Tomar para se “jogar” com a expressão tomar partido… por Tomar.
Pelo meu lado, insisto na referência à sua retroversão francesa parti pris que, na minha leitura, ainda lhe dá mais (ou menos…) força, pelo significado ou interpretação que pode ter de preconceito, como por vezes se usa, enquanto francesismo na nossa portuguesíssima linguagem corrente.
Pois sem qualquer parti pris… tomei partido, e estou convencido que, por o ter feito sem ambiguidade (mas tentando não ser ostensivo), nada se me colou de preconceituoso. Tomei partido!, num certo momento já longínquo de décadas, por opção de vida. E, nesse Partido que tomei, cá vou fazendo, feliz da vida, a minha vida.
Daqui resulta a assumpção de tarefas e talvez aquela que é agora prioritária, nesta altura da vida, seja a de me dedicar (mais!) ao estudo, não para “saber mais” mas para mais aprender e melhor transmitir como forma de fortalecer, eu, a consciência do partido que tomei e ajudar, outros, a ganharem consciência de classe. Isto como luta e para a luta.
[O que não me desviará de outras formas de luta e tarefas, evidentemente, embora não me sinta muito vocacionado (este físico já não é o que era…) para participar em tarefas como a da construção da Festa, de que guardo, de há muitos anos, a recordação de uma desajeitada martelada num dedo (de intelectual…) que me deixou marca.]
Neste fim de semana, e dada a decorrente baixa de visitantes e de comentários (que comecei a gerir nesta forma de comunicação), fica esta reflexão muito pessoal sobre… tomar partido. Segunda-feira voltarei (talvez…) a continuar a trazer para aqui o trabalho sobre a base teórica em que estou empenhado.

sexta-feira, agosto 20, 2010

Tomar partido! (alguns aclaramentos - 2)

Tomar partido contra a exploração, que é intrínseca ao funcionamento de um sistema económico que assenta na criação e apropriação de mais-valia, é fácil (é uma maneira de dizer…), sobretudo para quem a sofre no seu viver quotidiano, é instintivo, e pode também ser uma questão… de imperativo moral.
Acontece que, na maior parte dos casos, assim é, e toma-se partido sem um conhecimento mínimo da base teórica em que «repousa toda a compreensão» (usando expressão de carta de Marx a Engels) dos mecanismos de exploração.
No entanto, este conhecimento, ao menos nas suas linhas gerais, é indispensável para a luta consciente. E não é fácil esse trabalho de “saber das coisas”, até pelo ambiente cultural em que se vive, mas sobretudo quando se quer aprofundar, nesta ou naquela área, como na da economia política.
Ora conhecer o funcionamento dos processos i) de produção do capital, ii) de circulação do capital e iii) total da produção capitalista (títulos dos 3 livros de O Capital, que tem o subtítulo geral de Crítica da Economia Política), é essencial para quem se pretenda marxista, e faça da base teórica uma sua arma de luta, na vertente ideológica. E contra esse conhecimento aprofundado levantam-se barreiras objectivas (em português, as edições avante!, ainda só têm publicados os 5 tomos dos 2 primeiros livros, o que já é trabalho notável) e as que concretizam a luta de classes, no plano ideológico.
Na economia política, os apologetas do capitalismo consideram, por exemplo, que os ditos factores de produção – “capital” e “trabalho” na terminologia não-marxista – proporcionam rendimentos aos seus proprietários (capitalistas e trabalhadores) independentemente da esfera de actividade (produtiva ou de circulação) em que são utilizados. E esta perspectiva, ou concepção, é não só imposta em todas as escolas em que se ensina economia – mesmo naquelas em que o marxismo não está totalmente abolido e ocupa uma espécie de reserva arqueológica (nalguns casos como algo respeitável enquanto história passada) do pensamento económico – como tem influência (e perturba, e provoca perturbação) em franjas mais permeáveis dentro do pensamento económico considerado como marxista, pelo que assim favorece a campanha ideológica contra o marxismo.
E não é a discussão, ou o debate, que está em causa. A base teórica do marxismo-leninismo alimenta-se e fortalece-se nessa discussão e nesse debate, mas para isso é indispensável conhecer sobre que repousa a nossa base teórica.
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A partir daí… discutir tudo!

Tomar partido! (alguns aclaramentos - 1)

Ao ler Marx, ou ao ler sobre Marx, não se tem a ideia – isto digo eu… – de que se está a pescar (ou a saber da poda), mas a de que se está a aprender a pescar (ou a aprender a saber da poda), para usar imagens talvez demasiado batidas… mas clarificadoras. Não há fato feito, não há comida pronta para levar ao micro-ondas, não há modelos acabados, nem sequer as peçazinhas todas que (?!) são precisas para formar o puzzle ou construir o lego, até porque peças de ontem não servem hoje, não se ajustam, e Marx sublinhava-o.
Marx estudou quem pensou sobre a realidade antes de ele, com cuidado e muito respeito mas também com acerado sentido crítico (que consigo praticava), observou a realidade que vivia para a conhecer e para contribuir para a modificar, escreveu, escreveu, escreveu, muitas vezes repetindo melhor o que já antes dissera, algumas vezes corrigindo, mas sem apagar o que estaria errado ou incompleto porque isso antes datado representava um passo, e era útil enquanto fixação do estádio do conhecimento a que se chegara quando errara ou fora incompleto ou insuficiente.
Na área da economia política, Marx estudou com os “clássicos”, que um século antes dele foram os economistas da burguesia ascendente, e deles aproveitou o grande salto que provocaram no pensamento económico, particularmente Ricardo e, sobretudo, Adam Smith com quem muito “conversou”. Nada inventou a partir da negação e do desprezo dos outros (mesmo quando era violento e cáustico). Com todo o respeito pelo saber antes adquirido (e datado!), firmando-se no que adquirira no aprofundado estudo do direito, da filosofia, da história, deu o “salto qualitativo” ao encontrar no trabalho o seu carácter duplo, que se exprime em valor de uso e em valor de troca, e ao tratar a mais-valia independentemente das formas particulares que viesse a tomar (lucro, rendas, juros, despesas) nas metamorfoses do capital que, como relação social, se materializa em várias expressões. E, como ele o escreveu em carta de 27 de Abril de 1867 a Engels, aí está «o que há de melhor no meu livro (O Capital) e aí repousa toda a compreensão»; e acrescentava que «o estudo dessas formas particulares da mais-valia, se é confundido com o estudo da forma geral à maneira dos economistas clássicos, dá uma misturada informe».
Este é um aspecto sobre que importa reflectir (e discutir... se houver com quem) quando se fala da base teórica de quem tomou partido.
Tratando-se de base e de teoria, há que ver quais os conceitos que são caboucos dessa base sobre que se constrói a teoria. Também como arma para a tomada de consciência, para a tremenda e tão desigual (nos meios) luta ideológica.
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(o trabalho desta noite - mais para a madrugada... -,
de fixação de leituras ao longo do dia,
saiu-me demasiado longo para mensagem de post
pelo que o subdividi.
Logo, a continuação - esta - vai seguir dentro de pouco tempo)

quinta-feira, agosto 19, 2010

Tomar partido! - 10

Duas notas prévias:
1. As frasezinhas de fecho sobre a continuação desta série, são para dizer da intenção de continuar (se...); mas servem, também, para dizer que “isto” está a ser “produzido” como apontamentos de leitura, estudo e reflexão em trabalho contínuo, por vezes, como é o caso, com destino ao cumprimento de uma tarefa fora/além daqui.
2. Parece-me que, nestes tomar partido! (e vão 10), tenho referido várias vezes Marx e nunca terei feito referência a Engels, sempre apagado, humilde e com contributos inestimáveis. É uma injustiça: façam favor de ler, quase sempre…, Marx e Engels.
Entrando na matéria, perguntava-me que poderá interessar "isto" para tomar partido. Pergunta nada inocente porque traz engatilhada a resposta: o partido que tomámos e, por isso, o Partido de que somos, é de massas, é da classe operária e de todos os trabalhadores, da sua vanguarda, dos que o querem ser (sem de tal se vangloriarem…) por opção e obrigação de coerência. E tem uma base teórica!
Ora, tendo uma base teórica, e sendo um Partido de massas, não seria pertinente exigir que as massas – mesmo as suas vanguardas – tivessem um conhecimento teórico aprofundado da base teórica, de grande complexidade e não reduzível a meia dúzia de fórmulas e frases feitas. Para mais, essa base teórica, o marxismo-leninismo, o materialismo histórico e dialéctico, não é manualizável, isto é, não é susceptível de se encaix(ot)ar num volume ou volumes por mais volumosos que eles sejam. Define-se, aliás desde a sua génese (o Manifesto, de 1848), como uma base teórica viva, nunca cristalizada.
O que não quer dizer que seja uma base tipo gelatina para um corpo invertebrado. Não! O marxismo-leninismo é materialista, é dialéctico e é histórico, ou seja, tem uma opção filosófica clara, uma metodologia que lhe é própria, respeita a História e repudia as suas falsificações e perversas interpretações de factos, alguns deles pura e simplesmente inventados, reconhece o presente como História que está a ser feita.
Dito isto, a filosofia, as ciências da natureza, a economia, tudo o que respeita ao ser humano integra, interessa e inter-age com essa base teórica que é global.
Tomar partido, tendo de ser ganhar consciência de que se pertence e luta por uma classe na História que é de luta de classes, não se assemelha a fazer um exame em que há prova escrita e oral avaliadora dos conhecimentos da base teórica. Mas há que a aprender e estudar permanentemente, cada um com a sua formação, com a sua profissão, com a sua especialidade a contribuir para a reforçar por a fazer mais próxima da História que somos e da sociedade que queremos.
Na economia política marxista, elemento enformador da base teórica, se não está tudo em O Capital não concebo que se revise e invente, que destruam alguns caboucos, como o papel do desenvolvimento das forças produtivas e o tipo e estádios das relações de produção, como os conceitos dualistas de valor e de trabalho, de mais-valia e de exploração, algumas leis deles decorrentes.
E há tanto para estudar nos tempos sempre em mudança, tendo por base a nossa base teórica!

(continuará...)

quarta-feira, agosto 18, 2010

Tomar partido! (Ler Marx: "trabalhador colectivo")

Ler Marx, ou ler sobre Marx, é tarefa inesgotável. Não se trata de ler as páginas todas de todos os livros publicados e manuscritos por publicar e ficar a saber o que elas ensinam, não se trata de ter tudo apre(e)ndido, porque elas só (!) ensinam a observar e a aprender com o que foi vivido e com o que está a ser vivido. E não para ficar a conhecer e a interpretar, mas para intervir com um sentido, para transformar. Para tomar partido.
Numa língua como a portuguesa, isso é muito mais evidente (para mim é…) que para quem tenha como sua língua, ou domine, o alemão, o inglês, o russo, o francês, até o italiano (foi nesta língua, que desconhecia e desconheço, que li Il Capitale há mais de 40 anos…). Porque cada página tem de ser reflectida... por vezes confrontando traduções que não coincidem a partir de um mesmo página (ou frase) original.
Toda a obra de Marx é dessacralizadora. Porque inacabada, encadeando-se, em permanente auto-avaliação e auto-correcção. E sempre incompleta apesar de haver quem se atreva a dizer que a leu toda, ou porque julgue que o fez por ter lido um resumo resumidíssimo de um resumo, ou porque seja incapaz de dizer que não leu mais do que algumas citações…
A releitura de Trabalho colectivo e trabalho produtivo…, de Jacques Nagels, suscita-me estas observações. Sobre questões definidoras na obra de Marx, Nagels procura ser exaustivo e estará perto de o ser. Cita e confronta Grundrisse (os Manuscritos de 1857-58), os três livros de O Capital, as Theorien (Théories sur la Plus-Value ou Histoire des doctines économiques), que são manuscritos de 1861-63 e que deveriam vir a ser a base, segundo indicações de Marx, do livro quarto, e ainda outros manuscritos.
O estudo da questão do trabalhador produtivo e do trabalhador colectivo, que nas edições avante!, 1992 – nos trechos que confrontei – se traduz por “operário total” (“operaio complessivo”, na edição Newton Compton Italiana, 1970), terá a maior importância, até porque o fulcro da análise na economia marxista é a produção, e esta, nos ciclos da actividade económica, em sistema de relações sociais que definem o capitalismo, localiza-se na esfera produtiva (…P…) e não nas fases de circulação (D-M e M’-D’), tendo a maior relevância a delimitação do trabalho produtivo, e não por mera questão semântica ou despicienda mas porque se liga à criação de valor e à unidade dialéctica valor de troca-valor de uso.
Nagels é peremptório: “todas as afirmações de Marx que se estendem sobre um período de vinte anos (1858-1878) concordam: nem um único átomo de valor é criado nas fases de circulação de capital” (p. 183). E é-o a partir de citações e sua reiteração reflectida, não como "argumento de autoridade" a que se submeta, e anota, nesse momento do aprofundado tratamento da questão, quatro aspectos que arriscadamente resumo i) a confusão entre as noções vizinhas mas distintas de função economicamente necessária e função produtiva; ii) a autonomia de uma função (comercial ou financeira) não lhe atribui carácter criador de valor; iii) a crescente importância e aumento de dimensão de uma função não torna produtivo o que, em análise marxista, se define como improdutivo; iv) não são as relações de produção que determinam a natureza produtiva ou improdutiva do trabalho (Marx em O Capital: “… (nada) autoriza a que se confunda os agentes da circulação com os da produção como não se confundem as funções de capital-mercadoria com as de capital produtivo”.
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Tanto pano para tantas mangas e... o que interessa isto para a tomada de partido?



(continua… talvez também aqui)