Volto à Ulisseia, trazendo-a ao pelourinho do aplauso pelas obras entretanto publicadas, com especial destaque do viciante deleite que retiro da leitura lenta e cuidada, quase como um meticuloso exercício de degustação, de Break It Down – Demolição da autora norte-americana Lydia Davis – a “ex” do Paul Auster, a sua companheira de viagem em tradução por França no início dos anos 70 do século passado (não sei se, com ele, ficou a conhecer o mestre Beckett), compartilhadora da fome que o judeu de Newark descreve nos suas memórias, e mulher entre 1974 e 1978, mãe do agora atinado (creio eu) Daniel Auster –, com uma tradução, que até chateia pela irrepreensibilidade, pelo nosso guardião do universo borgiano, José Mário Silva. [Frontispício da obra, acima reproduzido.]
De minha parte, enquanto leitor passivo – de nenhuma forma participante na elaboração da política editorial da referida editora –, espero que se continue a traduzir a obra desta autora, até há bem pouco tempo passível de ser conotada (e luso-conjecturada) com a mulher do intangível criador de vestuário desportivo, com lojas abertas ao público. E, como refere José Luís Peixoto no prefácio a este livro de histórias breves quando refere a tradução, também eu sou defensor do primeiro lado [cf. subcapítulo ‘Prefácio’ do “Prefácio”, de Break It Down – Demolição], e apugilista dessa prática (pronto a defender a ideia num ringue de boxe à laia de um Mailer a levar uns ganchos mortíferos de Vidal – e não me enganei, e até faço um apelo à Porto Editora para que na próxima revisão do seu dicionário introduza o vocábulo tão ouvido nas tertúlias erudito-futebolísticas deste país), que afinal é bem mais habitual em Portugal.
Gostaria de ter terminado o texto no parágrafo anterior, mas o título impede-me, apenas por uma questão de pudor (prefiro-o, neste caso, à honra): duzentas e cinco páginas impressas em edição brochada custam dezanove euros e cinquenta cêntimos – dezanove cêntimos a folha impressa. Considero um verdadeiro exagero e abstenho-me de enquadrar a questão na conjuntura socioeconómica do país (pois bem, acabei de o fazer). Aliás, sem ter feito uma exaustiva análise comparada, a generalidade dos livros da Babel merecem que os preços sejam sovados…