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02 julho, 2011

Não sei porquê a luz*




As palavras mais vãs são aquelas que habitam o livre arbítrio dos dias,
Afasto-as do poema com a Alma

por haver um rio entre as muralhas
onde os olhos se misturam com uma pronúncia muda
invoco o oceano íntimo que trago no peito
percorrendo a lucidez das superfícies nuas
amo o princípio evidente das coisas, dos seres
uma pedra, a boca, a baga desigual
na saliva dos homens dissolvendo os dias

Vou encontrando a luz, palavra ou barca
atravessando
o dia até ao lugar do visível
por detrás dos olhos onde todas as águas se diluem

e encontram



Gisela Ramos Rosa, 2-07-2011

13 janeiro, 2011

quem seria Gisela antes de ser Gisela?



A partir de uma palavra perdida


Antes de ti poderia eu lembrar-me de ti?

O que serias tu antes de ti?
Poderia eu ter-te criado
Se não te tivesse encontrado?
de onde partiria o meu canto
se não fosse do teu nome
que é uma estrela e não um emblema
nem uma bandeira
Poderia eu criar-te no meu arco vazio?
Sem a respiração do teu rosto?
Envolvido numa cabeleira intuitiva
Quem seria Gisela antes de ser Gisela?

António Ramos Rosa, 20-08-05 (inédito)

25 julho, 2010

Esta ciência de inocência e água

António Ramos Rosa a escrever, 23-07-2010

Nasceu um novo espaço para a expressão de António Ramos Rosa

O título do Blogue é um verso seu do poema Animal Olhar, Ocupação do Espaço - 1963

estão convidados a visitar

Esta ciência de inocência e água (ver aqui)

26 junho, 2010

a dança do traço, no espaço


































O pensamento é um movimento que pode organizar o espaço elevando um traço, um verso, um poema...


Gisela Rosa
26-06-2010








Desenho de António Ramos Rosa - 2003 - Elogio gráfico de Gisela - caneta tombo em folhas de papel A4.


02 abril, 2010

em leve plenitude*


From the album:
"Gestos" by Marcelo Novaes


Uma cabeça sonha nuvens
para o mundo real.
A mão constrói um barco
de folhas para o espaço.
O corpo perfaz o mundo
em acordes nupciais.
A fragrância derrama-se
em reverências cintilantes.
Sopro a sopro, os tesouros
passam no ar ligeiro.
Que evidentes delícias
de musicais relevos!
Íntimo dentro do espaço,
agora sou quem sou,
(o que respira e recebe),
Tudo culmina aqui
em leve plenitude
(tão fácil que é de todos),
unânime confidência.


António Ramos Rosa, O Não e o Sim, p. 117

20 março, 2010

com o meu nome e o teu

Sunny Morning
© Andre Arment


O que eu fiz de mais puro
como uma estrela do ar
como um pássaro de uma página
como uma flor de um fruto
como uma onda embriagada
que nasce de uma nuvem de cinza
ou de uma solitária nuvem
que voga na solidão do mundo
no esplendor branco de um Verão
como o grito mais límpido
nasce de um peito oprimido

Foi este livro contigo
que nasceu como nasceu
como nasce um poema
como uma estrela no ar
como uma estrela que respira
com o teu nome de Gisela
com o teu nome e o meu
com o meu nome e o teu


António Ramos Rosa, Vasos Comunicantes, Diálogo Poético com Gisela Ramos Rosa (p. 114, 2006)


* dedico esta edição ao meu tio António Ramos Rosa com quem tenho aprendido tudo o que sei sobre a palavra, o real e a relação com o mundo.

20 fevereiro, 2010

quero ser Eva e Ave que esvoaçam

Avian Angel
© Sandy Powers



Porque certas palavras se repetem no
caminho


António Ramos Rosa, O Centro na Distância, p. 43



Sempre que sonho deponho as armas
e o silencioso ofício dos dias

ainda que alguém me detenha
quero ser Eva e Ave que esvoaçam
com as palavras onde encontro o segredo interdito
e desfaço as rotinas com o Sol e as asas
de todos os silêncios

Sempre que sonho atravesso uma porta
que não resiste e me oferece
a pulsação do corpo o lume e a língua
uma espécie de presença e espuma

ainda que o artefacto das pedras rugosas persista
como o anzol que escava presas antigas
acolho-as como flechas de fogo que me nascem
entre as mãos

sempre que sonho lavro os materiais secretos
do Amor deponho as armas o tempo e os dias


Gisela Ramos Rosa, 20-02-2010

17 janeiro, 2010

a palavra, a fábula, o mundo

Escrevo para entrever o que seria o mundo
liberto de si mesmo E sem imaginar
pouso no limite entre a luz e a sombra
para me oferecer à nudez de um começo

Há palavras que esperam na sombra contra o muro
para serem a felicidade de uma folha aberta
sem mais sentido que o perpassar da brisa
mas que abrem o mundo e de doçura tremem

Não é preciso polir a madeira das palavras
ou talhá-las como se fossem seixos
Há um lugar para elas no branco e não numa alfombra de
ouro
e quanto mais frágeis mais frescura exalam
porque elas são a fábula do mundo quando a água o embala


António Ramos Rosa, As palavras, p. 148

16 janeiro, 2010

As raízes não falam. Não estão atrás. Nem no fundo. /As raízes vão à frente. Puxam-nos para a frente* ...

Life
© Christopher Scott


Põe quem és no mínimo que fazes

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.

Sê tudo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa, Odes de Ricardo Reis


* O título desta edição são dois versos de um poema de António Ramos Rosa com o título As Raízes.

07 janeiro, 2010

a visão é o tacto do espírito*

António Ramos Rosa olhando um albúm de pintura de Boticelli, 19 de Dezembro de 2009, o poeta quis mostrar-me o realismo dos rostos deste pintor.


* o título é da autoria de Fernando Pessoa

02 janeiro, 2010

qual é a chama de todas as fontes?



Desenho de António Ramos Rosa, Fevereiro de 2009 - caneta tombo em folha de papel A4



Qual é a chama de todas as fontes?
qual é o pássaro de todos os cantos
ou o pássaro que voa no vento?
diz-me minha filha se puderes responder
e senão, senão inventa a resposta
ou muda a pergunta

Chamo Sol a essa chama
reveladora da minha sede
vejo-a nos seus olhos incandescente
e sinto como um pássaro
a leve saciedade de um voo límpido

Se perguntasse à tua resposta
o que ela não disse
no que disse
perguntar-te-ía
qual é a sombra da tua sede
que há tanto em ti como em mim?
Será um olhar?
Ou uns lábios onde adormece
a mais fresca solidão
de um nome que se calou
no silêncio de uma verdade?


Poema de António Ramos Rosa (1ª e útima estrofes) e de Gisela Ramos Rosa (segunda estrofe)
do livro Vasos Comunicantes, Diálogo poético, p. 13 , 2006

20 dezembro, 2009

un parfum qui fait rever*



António Ramos Rosa lendo um poema de Baudelaire, 19-12-2009. Perdoem-me a qualidade da imagem, a luz não era muita. Imagem de Gisela Ramos Rosa




"É necessário que um dia todos os homens vejam que o desejo de chegar mais longe, a atenção à crítica, a calma ante o que fere, nada têm com a força e a fraqueza: são qualidades da alma."

Agostinho da Silva, in Citações e Pensamentos




* O título é um verso de Baudelaire, do poema dito.

29 novembro, 2009

uma flor um rosto um sol




Outubro de 2009, desenho de António Ramos Rosa


O meu tio António ofereceu-me este desenho e também as palavras que o seu carinho escreveu.

Gisela Rosa

06 novembro, 2009

uma mão, um pão, um beijo,











Este homem que pensou
com uma pedra na mão

tranformá-la num pão
tranformá-la num beijo

Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve
que a sua própria sombra

António Ramos Rosa
















Outubro de 2008

17 outubro, 2009

A tua alma é o mundo inteiro*








Três desenhos de António Ramos Rosa, o primeiro e o último datados de 10-10-2009 e o intermédio de Fevereiro de 2009.

Hoje o meu tio António Ramos Rosa completa 85 anos. Há uma semana atrás, quando o visitei disse-me que gostava de fazer mais uma exposição dos seus desenhos. Retive o seu desejo e vou procurar a melhor maneira de o concretizar. Entretanto edito aqui alguns dos desenhos que ele me deu....todos os seus desenhos me provocam...todos os seus traços me fascinam...neles está contida a destreza pura das mãos do poeta que ele é, a fluência dos seus traços, cuja mão é já mental, a presença tendencial de um olho que fica talvez de um rosto antigo, de um rosto presente, de alguém, de ninguém, de todos nós...



Fica aqui um poema que lhe dediquei em 2005:



Tu és a flor de um traço
nas linhas de um olhar em que descubro
a paz com palavras sucessivas
a chuva embriagada de harmonia
o desejo de um oblíquo feitiço
na diagonal da cor dos meus sentidos

Gisela Rosa, Vasos Comunicantes, Diálogo poético com António Ramos Rosa, p. 95




* título extraído de
Upanishades

11 outubro, 2009

Como nasci poeta...


Video da autoria de Gisela Rosa



Ontem, 10-10-2009, iria encontrar-me com Vivian Steinberg uma amiga brasileira que está em Portugal fazendo doutoramento sobre Fiama Hasse Pais Brandão. Levá-la a conhecer os meus tios António e Agripina, seria por certo uma delícia poética para ela, assim fiz. O poeta recebeu-nos lendo um poema de Manuel da Fonseca do livro Líricas Portuguesas - Segundo dos poemas da infância - Eu e Vivian escutámos atentamente o poeta, emocionadas....peço desculpa pela qualidade da imagem, a luz interior não ajudou muito.
Emocionem-se também....

15 agosto, 2009

Desmancha-se o cavalo?

Ride a white horse....
© Petra


Desmancha-se o cavalo? Jamais.
a resposta vem da força dele.
corre por cima dos desastres.
é fogo e pedra alta bem talhada.
(…)
Vive, portanto, mais alto do que o tempo.

António Ramos Rosa, p. 69, em Casimiro de Brito, Vagabundagem na poesia de ARR

19 julho, 2009

a voz do meu corpo e do teu












A VOZ ANÓNIMA

A voz de uma só árvore desconhecida
de um só murmúrio no livro de todos os livros de ninguém
a voz extrema do princípio inacabado
a voz do acaso revelador e do desejo errante e sepultado
a voz que quer fugir de si e da pele viva do mundo
e da noite e da morte e do naufrágio da terra e da obstinação do mar
e de todos os homens num só homem solitário
a voz anónima de sempre e de nunca num só ponto
num grito inaudível num grito puro
com todo o sentido do silêncio e não sentido
a voz da cinza permanente a voz viva do fogo
a voz que quer fugir de todas as definições e conclusões
de todas as máscaras de todas as carapaças e pedregulhos
de todos os nomes
do meu e do teu
a voz nua sem corpo na voz nua do corpo
a voz submersa traída assassinada em todas as referências
a voz da apropriação e da propriedade de todas as coisas
a voz do silêncio e da cinza de todas as pretensões
a voz estranha e obstinante
a voz do género e do único adicionado
a voz inexprimível a voz do deserto
a voz da figura construída e desconstruída
a voz do meu corpo e do teu
a voz que quer viver
a voz impaciente que quer esquecer-se de que espera
e de que não pode esperar
a voz da criança que ascende para o sol num arco
a voz do fogo que quer perder-se no sono de uma chama
fugir sempre fugir partir sempre partir
extrair-me de ser e de querer ser
não ser ninguém nem de ninguém
lá onde me perco e me encontro entre o sol e o mar
lá no centro perdido lá na respiração da água do ar
na surpresa de ser nascente do poema
no encanto do encontro
lá num só ponto num só espaço lá...

António Ramos Rosa, Novembro de 2003

* Poema passado por mim, já publicado neste blog em manuscrito, quando um dia fui visitar o meu tio que estava movido pela força genial deste poema. Pediu-me para que o difundisse por todos os amigos. Assim o fiz. Este poema foi depois publicado na Revista Babilónia da Universidade Lusófona.


O desenho é de Fevereiro de 2009

09 julho, 2009

a face dos signos















Guarda a manhã
Tudo o mais se pode tresmalhar

Porque tu és o meio da manhã
O ponto mais alto da luz
Em explosão

Daniel Faria, Poesia, p. 80










Desenho de António Ramos Rosa, 2005

23 junho, 2009

"Passo a vida fabricando o real"

Desenho de António Ramos Rosa, Junho de 2009



*O título deste post é da autoria de Agostinho da Silva