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29 setembro, 2009

é morno o gesto com que percorro*

Drifting..
© Ilja Hackman




Aqui, na fenda da rotina onde o outono aquece

vou desenhar a sede, lentamente.
Já não falo de nós, peregrinos

das rotas que inventámos.
Por dentro das metáforas violo,

apenas, os limites do sossego e desfaço
todos os nós do medo no fulgor livre do verbo.
É morno o gesto com que percorro

os momentos inquietantes do quotidiano.
Imagens e sons são, quase sempre,

o fundo falso onde, de forma ambígua,
me escondo para representar todos os rituais,
sagrados e profanos, do dia a dia.
Aquém de mim acendem-se todos os mares

e, na voz dos marinheiros, pergunto ao sol
se pode ser eterna a sombra de um barco.

Graça Pires, De Outono: lugar frágil, 1994




* O título é um verso do poema editado, da autoria de Graça Pires