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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Zédu é tramado

de F. Campos





Num dos mais ricos países de África o desenvolvimento humano é de bradar aos céus, a esperança média de vida é baixa, a mortalidade infantil é alta, tal como a corrupção. Mas as coisas até corriam bem, quer dizer, os investimentos faziam-se, os mercados funcionavam, os capitais circulavam, a “democracia” impunha-se, enfim, era um fartote. Não quer dizer que não continuem…, só que o Zédu vai por a elite portuguesa (governantes e outros indigentes que tais, ou seja, os seus amigos) a fazer o que mais gosta, para que “the show must go on”.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A propósito de bustos e ocupações


Numa ocupação de um país os ocupacionistas, como se sabe, são sempre em maior número do que os resistentes. Por muitas e variadíssimas razões que não caberiam aqui, mas uma delas é, seguramente, a trabalheira que dá em resistir. É muito mais cómodo ficar a ver onde as coisas param.
A actual ocupação de Portugal é, pelo menos de forma declarada, a segunda da sua História. Na primeira, a aceitação, ou resignação, dos portugueses foi total. Calculem que até foi dado o nome de S. Filipe à cidade de Benguela, em homenagem ao rei Filipe. Esse nome perdura ainda hoje, pois o Estádio onde joga o Clube Nacional de Benguela exibe-o.
Com tantas mudanças, algumas violentas e despropositadas, depois da conquista da independência, a manutenção do nome deve ser  para nos lembrarmos que, um dia, já fomos espanhóis. 
Para os adeptos da actual ocupação portuguesa, os mais de 75% de eleitores que irão, segundo as sondagens, votar nos partidos da troika, posso deixar aqui algumas ideias, que farão muito bem aos seus egos.
Que tal, na toponímia das cidades portuguesas, o Largo Fundo Monetário Internacional, a Praça Banco Central Europeu, a Avenida Abebe Seilassié, a Alameda Angela Merkel, a rua Goldman & Sachs, a Travessa Standard & poor’s?
E já agora, um busto ao Fernando Ulrich, um banqueiro português de sucesso, que em 2012 teve um lucro 250 milhões, isto apesar da “crise”, imaginem sem crise.
Portanto aqui ficam umas dicas aos “tugas” que denodadamente com o seu voto vão fazer com que o nível de vida desça ainda mais, o desemprego aumente ainda mais, a degradação da escola pública se acentue ainda mais, a sabotagem à saúde pública se intensifique ainda mais, a água encareça ainda mais, os banqueiros e outros nefandos do género enriqueçam ainda mais.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

4 de Fevereiro

52º aniversário do início da luta armada em Angola. Recordo um dos seus mais destacados nacionalistas, o músico Liceu Vieira Dias, numa homenagem de Ruy Mingas.
"Tio Liceu" é considerado o pai da música popular angolana e foi fundador dos míticos "N'gola Ritmos". Foi também um dos fundadores do MPLA e esteve vários anos preso no Tarrafal.

domingo, 11 de novembro de 2012

Angola: 37º aniversário da independência


Neste 37º aniversário recordo um dos mais destacados intelectuais angolanos. Um dos mais importantes poetas da sua geração, autor do conhecido "Namoro" musicado por Fausto, e deste "Mákèzu".
Viriato da Cruz foi fundador em 1955, juntamente com os poetas António Jacinto e Mário António, do Partido Comunista Angolano, que se viria a diluir na fundação do MPLA, de que foi o seu primeiro secretário-geral..
O poeta viria a ser assassinado pelos filhos da puta dos "comunistas" chineses, os actuais donos da EDP supostamente portuguesa, pela simples razão de o não terem vergado às suas famigeradas teses.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Asponas"


A língua portuguesa tem adquirido, e vai adquirindo através do tempo, uma outra dimensão com o processo evolutivo que sofre, seja no Brasil, em Angola, em Moçambique ou outro qualquer país onde a língua de Camões é falada.
Não só na literatura, onde a prosa de Luandino Vieira ou Guimarães Rosa, entre outros, é emblemática, mas também no chamado português corrente, enriquecendo-se constantemente com vocabulário novo.
Em Angola aparece-nos agora um novíssimo termo para designar a “classe profissional” conhecida pelo anglicismo “boys”. E em português retinto: ASPONA. Ou seja, “assessores de porra nenhuma”. Um contributo angolano, mais um, para a língua portuguesa.
Aqui, Reginaldo Silva explica melhor. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Angola-China, ou as relações “unilaterais”


Um exemplo flagrante da sujeição e subserviência a que estão dispostos os países que caem nas malhas do imperialismo, seja ele americano, europeu ou chinês, é este.
Angola é um país com muitas potencialidades, mas o grau de corrupção dos seus dirigentes faz arrepiar qualquer um. Ultrapassa, em muito, o panorama português, apesar de Portugal estar, também, a ser governado do exterior.
Tudo porque uma clique de governantes, corruptos e defensores de uma pequena classe ociosa, só têm olhos para o seu próprio bem-estar, não passando de indigentes morais e intelectuais a soldo de quem lhes dá mais. E para quem patriotismo ou soberania nacional são pormenores facilmente desprezados em nome desse mesmo próprio bem-estar.
Não é um fatalismo os povos serem governados por traidores.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Savimbi e a ironia da História


Faz hoje 10 anos que Savimbi foi morto, supostamente pelas Forças Armadas Angolanas. Nunca tive qualquer simpatia pelo “galo negro”, que serviu as forças coloniais, as racistas e o imperialismo americano. Aconteceu-lhe o que aconteceu a muitos outros. Quer dizer, foi descartado quando já não era necessário.
Lembro-me que não festejei a sua morte, embora a eliminação dos inimigos seja algo que se festeje, mas, uma coisa é certa, ela traduziu-se na chegada da paz. Que, tenha o preço que tenha, vale sempre a pena, já aqui o disse.
A ironia é que Savimbi representava os valores ocidentais, os princípios democráticos segundo o capitalismo internacional, com o condicional apoio do Ocidente, principalmente dos EUA. Foi muito útil, portanto, enquanto o MPLA teve o apoio da União Soviética e defendia o sistema de partido único.
Foi deixado cair quando já não era útil, porque substituído pelo MPLA, que entretanto se converteu ao imperialismo.
Ao fim e ao cabo, Savimbi é, também ele, um vencedor.
Mas apesar disso, a História, Savimbi, julgar-te-á muito mal. Como o traidor que foste. E olha que os teus compinchas tugas estão todos no poder, bem troikados, uns a exercê-lo e outros a fingirem-se de oposicionistas.
É triste, muito triste, mas a tua vitória, Savimbi, sabe bem a outros. Viveste a trair, morreste traído.
Realço uma dúvida que perdurará, temo mesmo que ficará para sempre no segredo dos deuses: quem fundou a UNITA?

sábado, 4 de fevereiro de 2012

4 de Fevereiro: evocação

Ainda que Angola, actualmente, sofra um desvio no curso da História, hoje celebra-se uma das datas mais importantes da sua existência enquanto país independente: o início da luta armada pela obtenção dessa mesma independência.
Recordo-a com um poema de um dos seus mais ilustres poetas, Mário António. Em que se aborda um dos vários grandes factores económicos do país, o turismo.
Outro poema, “Poema da Farra”, na voz de Ruy Mingas, pode ser ouvido aqui.


Turismo


Jovens muílas dançam
Batem que batem as palmas.
Em breves cantos lançam
Até nós, suas almas.


Vibram ingenuamente
Missangas nos pés delas.
Para trás, para frente:
São todas ágeis, belas.


Brilham nas suas tranças
Ataches de latão.
Belas, negras esperanças
Quem vai dizer que não?


Jovens muílas dançam
estendendo as palmas.
Nelas, turistas lançam
tostões às suas almas.



terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Angola: adeus CAN


Erros defensivos clamorosos estiveram na base da eliminação de Angola, na fase de grupos da Taça de África. Depois de um começo prometedor nada levaria a supor este desfecho. Mais de metade dos golos sofridos são daqueles que "não existem" em alta competição. Mas pronto, é futebol. Enfim, lá fiquei  com um "melão" maior do que o dos portistas no domingo passado.
Mas é uma competição muito especial,  atendendo ao facto da Nigéria, dos Camarões e do vencedor da última edição, o Egipto, não terem sequer lá ido e a Marrocos, o Senegal e Angola terem feito as malas antes dos quartos-de-final.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CAN: Angola,2 - Sudão, 2


Na segunda jornada da Taça das Nações Africanas Angola não conseguiu mais do que um empate com a selecção sudanesa. Resultado aquém do esperado, muito por culpa da defesa, que é mesmo "uma dó".
Faz lembrar a do meu desalmado Sporting. Penso até que os dois melhores treinadores do mundo estudaram pela mesma cartilha.
Ai estudaram estudaram.
Agora só nos resta torcer pela Costa do Marfim, já daqui a minutos,  para a "coisa" ainda ter emenda.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Taça de África: Angola consegue vitória inédita


Ao vencer o Burkina-Faso (treinado pelo português Paulo Duarte) por 2-1, os "palancas negras" obtiveram um resultado histórico. Foi a primeira vez que lograram vencer na primeira jornada, nas suas 5 presenças na prova.
Em caso de vitória, na próxima 5ª feira frente ao Sudão, os comandados de Lito Vidigal conseguirão o apuramento para os quartos-de-final. Não será tarefa muito fácil, os sudaneses, considerados a equipa mais fraca do grupo, na primeira ronda perderam com a favorita Costa do Marfim por apenas 1-0.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Angola, 8 de Janeiro, Dia da Cultura Nacional


Uma abordagem de Agostinho Neto sobre a cultura nacional, em 1979, na tomada de posse dos corpos gerentes da União de Escritores Angolanos, transformou-se numa referência fundamental em qualquer discussão sobre a problemática da cultura angolana.
Foi devido a esse discurso que em 1986 foi instituído o Dia da Cultura Nacional.
Este ano é no Bié o acto central da comemoração. Aqui a notícia.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Adriano Moreira na Literatura


Manuel dos Santos Lima foi fundador e primeiro comandante em chefe do Exército Popular de Libertação de Angola. Serviu antes, e como oficial, o Exército Português, de onde desertou para servir a causa da libertação do seu país.
Poeta e romancista, licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, este professor universitário tornou-se, ainda antes do 25 de Abril, dissidente do MPLA. Autor de notáveis romances como "Sementes de Liberdade" ou  "Os Anões e os Mendigos", assinou o primeiro grande romance sobre a guerra de libertação em Angola. Com grande conhecimento de causa, diga-se. Conheceu os dois lados.
Desse romance, autobiográfico, "As lágrimas e o vento", extraímos uma passagem em que soldados portugueses, no mato, dialogam.

(...)
- Na Argélia já andam em negociações para a independência...
- Se os angolanos também limpassem isto! Deve ser a única maneira deste governo ir ao ar, porque já não acredito na oposição. Desde 58 que a oiço prometer acção e nada. A verdade é que o fascismo mantém-se e está a renovar os seus quadros. E com a geração do Adriano Moreira entrámos mesmo no Neofascismo.
- Eu penso que de qualquer maneira a guerra em Angola é um rude golpe para os fascistas e toda a sua propaganda. Acredito mesmo que esta seja a vigésima quinta hora do salazarismo.
- Talvez...
(...)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

No 36º aniversário da independência de Angola


O Pensador
A mais famosa e uma das mais belas estatuetas angolanas. De origem chokwe (povo do leste do país), é uma referência e um símbolo da cultura angolana. Representa um idoso, homem ou mulher, que personifica a sabedoria e o conhecimento da vida.
Esculpida geralmente em madeira, é agora uma popular peça de artesanato. Como o Zé Povinho em Portugal ou John Bull na Inglaterra.
Sobre ela aqui fica um poema de Henrique Abranches:


ao artista desconhecido, autor da 
mais conhecida escultura angolana



Ela está sentada, 
a Mãe-Pensador.
Está cuidadosamente sentada
entre a vida e a morte
para lá de toda a gente.
Ela está sentada, 
a Mãe-Genitor,
sobre o seu andor.
Mas não como a Senhora dos ausentes.
Nem como a virgem dos doentes,
Nem como a Nossa Senhora das Dores.
Ela não tem nada
a Mãe-Pensador.
Não tem morte
nem vida
nem Sul
nem Norte
nem cima 
nem baixo,
nem cor...
nem dó.

A Mãe-Pensador é nós,
na nossa mente.
Ela é nossa longa consciência.
Ea não tem senão um velho pó
como palavras justas em roda duma oval.
Ela não tem senão a força
e toda a ciência
da sua oval talhada
num pedaço de ideia universal.

Sem contrair nenhum nervo,
sem pronunciar uma palavra
sem alargar o nó do seu dorso
ela é cereal na nossa lavra,
ela é uma luz no nosso acervo.
Ela é nós, sem qualquer esforço.

Mãe-Pensador serena e nua
entre a morte eterna
e a vida imoral
tiradas um pouco a toda a gente
como um tributo à flor habitual
que fica entre o Sol e a Lua
eternamente...

Ela está enrodilhada
em volta do seu nó
dentro do qual desfila em parada
toda a nossa miséria militante,
como num outro gueto, onde vive um povo
sem Galileia nem Jericó
entre a paz e a guerra
entre Cassinga e Soweto,
nervoso e hesitante,
mas não só.

Ela está sentada num tronco de pau-preto
num taco de pau-terra
com profundas ra´zes na nossa mente.
E é como o fluxo sincrético
que vem pelo tempo fora
repensando o Povo
ao longo de um milénio,
mestiçando de novo
a consciência de agora,
irredutivelmente.

Ela está sentada no seu génio hieráctico
sentada no seu modo diacrónico,
a porta do seu túmulo transparente.
ela geme imperceptivelmente
o seu gemido rouco e desarmónico
que soa em nós por dentro e por fora
num cântico diatónico.

Ela não tem sombra
a Mãe-Pensador.
Ela não tem bafo
nem sangue nem suor.
Ela é sombra
ela é o bafo
ela é o amor...

A Mãe-Pensador não está de pé.
Cotovelos assentando nos joelhos
olhos serrados em grão de café,
está sentada meticulosamente
escutando tudo
olhando toda a gente,
básica e serena como ela é,
vendo tudo detalhadamente.

Mãe-Pensador
mudamente ambigua...
Tua cabeça pensa adormecida
o Ser e Não ser da nossa vida,
e murmura num gemido ritual
o som de tão perigosa vizinhança,
dessa misteriosa condição contígua
da derrota que precede a vitória da esperança.
E o som gemido, rouco e atonal
como a fórmula básica dum singular perito,
sonoriza a rigorosa oval
onde se debate o nó do conflito
que germina uma formosa ideia.
E as equações da morte e da Vida
vão do princípio ao fim do infinito
abraçadas entre as trevas e a luz
tecendo a nossa teia.

O teu cérebro antiquíssimo regista
essa unidade vagarosa, imemorial
que se cria pela História a perder de vista
e nela serpenteia.

A voz murmurada do cântico expontâneo
que exala da terra e se reproduz
pelas chanas arrasadas do Mussende
como prece pagã que repercute
no céu da catedral dum velho crâneo,
ressoa ainda uma cantata em ut,
rodopia ainda uma dança em redondo,
que foram missa negra em ditirambo
na belicosa véspera de Kalendende,
na aurora sangrenta de Angoleme Akitambo
no raiar da vitória do Kifangondo.

ela olha e vê
do seu toco de pau-tempo
a marcha saturnal de tanta gente
corrompendo a esperança,
activando os medos,
gargalhando as suas risadas soturnas
palavreando os seus discursos loucos.

Os olhos apagados como estrelas diurnas,
ela olha e vê pelos seus longos dedos,
ela olha e vê paulatinamente
toda aquela gente
a morrer aos poucos.

Com seu sorriso de estrela reservada
a Mãe-Pensador olha e vê,
os nomes que sobraram na história da coragem,
que não morrem aos poucos, nem tão pouco
doutra maneira mais sofisticada.

Ela olha e vê do cimo do seu toco
seus antigos companheiros de viagem:
o Príncipe Ilunga - que recusou a guerra - 
e a formosíssima Princesa Lweji,
amarem-se na paz e no calor da terra
de uma outra Chana de Lwameji
onde as begónias se cruzam com os fetos
mestiçando a flora.

Ela olha e vê
pelo tempo fora,
o cortejo de filhos e de netos
dos filhos dos netos dos bisnetos,
habitarem cada campo e cada canto
desta pátria que foi mundo novo.

E a Mãe-Pensador
como quem cisma,
sorri então todo o seu espanto
e goza de olhos postos em si mesma
a formidável linhagem, do seu Povo.



quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"O meu derby"


Não há mesmo como ter duas pátrias.
Na segunda edição da "Taça Independência", incluída nas comemorações do 36º aniversário da independência de Angola,  defrontam-se, nem mais,  a minha selecção e o meu clube. 
Declaração de interesses: estou pelo empate. Decidam nos penalties, se quiserem. Ou à "moedinha", também pode ser.
Mainada.
É hoje, às 18H00, no Estádio 11 de Novembro.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

António Jacinto, ou a poesia necessária

Co-fundador, nos anos 50, com António Cardoso, Mário de Andrade e Viriato da Cruz, entre outros, do “Movimento dos Novos Intelectuais Angolanos”, um movimento que abriu novos rumos à literatura angolana.
Com Mário António, Viriato da Cruz e Ilídio Machado fundou o Partido Comunista Angolano, que teve uma existência efémera, diluindo-se pouco depois na formação do MPLA, do qual António Jacinto viria a ser um destacado dirigente.
Nacionalista, passou quase 12 anos no Tarrafal, em Cabo Verde. Foi lá, como António Cardoso ou Luandino Vieira, que escreveu uma boa parte da sua obra literária.
A sua poesia, grande parte dela, é uma poesia de revolta. Assumidamente marcada por Langston Hughes. Eram tempos exigentes que assim o determinavam. Lutava-se pela independência, contra um regime colonial de matiz fascista.
António Jacinto, numa entrevista a Michel Laban, em 1988:
“Nos anos 50, quando começámos o tal movimento dos Novos Intelectuais, de romper com a tradição – já não vamos dizer portuguesa, mas a tradição da literatura que se fazia -, foi fácil, muito fácil para mim, enveredar por aquele caminho: eram realidades que eu conhecia muito bem… Eu conheci a vida dos contratados, conhecia a situação dos camponeses no interior, de modos que não houve necessidade nem de fazer pesquisa, nem de fantasiar: era a pura realidade que conhecia”.
Após a independência, António Jacinto foi ministro da Cultura entre 1975 e 1978.
Com um lugar destacado nas letras do seu país, aquele, como outros, que se transformou num grande poeta, utilizou, de início, a poesia para passar a mensagem necessária, pois era o meio mais acessível. Como contista usou o pseudónimo de Orlando Távora e foi, também, um nome destacado da geração “Mensagem”.
Ainda o poeta, a Michel Laban:
(…) já eram mais posições políticas do que verdadeiramente literárias. Até porque, na altura, eu e outros nos considerávamos escritores muito medíocres, poetas medíocres, mesmo principiantes… O que era preciso era dar uma mensagem política. Os meios? O que era acessível era a poesia: então, pois, seria a poesia. Se houvesse outra possibilidade seria outra… (…).
Autor de alguns poemas célebres como “Carta de um contratado”, “Bailarina Negra”, “Canto interior de uma noite fantástica” ou “Poema da alienação”, ficou famoso o poema “Monangambé”, interpretado pela inconfundível voz de Rui Mingas, que podemos ouvir já a seguir. 
António Jacinto do Amaral Martins, falecido em 23 de Junho de 1991 em Lisboa está sepultado em Luanda.
Nasceu em 28 de Setembro de 1924. Faria hoje 87 anos.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Angola: prata no Remo

Heráclito Guimarães, ex-remador do Ginásio CF, clube em que foi treinado por Augusto Alberto, conseguiu a medalha de prata no campeonato Africano Sub Sahariano/Regata Internacional de Douala, que se realizou nos Camarões.
O angolano, que competiu em skiff absoluto, ficou a um segundo do atleta da casa, que tem no curriculum a participação nas olimpíadas de 2008 em Pequim.
O remo angolano prova assim que tem grandes possibilidades de desenvolvimento e sonha com uma presença em Londres.

(Na imagem: André Matias e Heráclito Guimarães, na III Taça do Mundo, em Lucerna, Suiça)

sábado, 17 de setembro de 2011

Agostinho Neto, por Mário Viegas

Apesar de tudo, não é mau de todo ter duas pátrias. Portanto, aí estão dois valorosos compatriotas meus. Um a ler um poema de outro.
Um muito obrigado aos dois. Só porque nos fazem sentir grandes.


Não me peças sorrisos

Não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas

Não me exijas glórias
que eu sou o soldado desconhecido
da Humanidade

As honras cabem aos generais

A minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
os meus sorrisos
tudo o que chorei

Nem sorrisos nem glória

Apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
por que há-de caminhar
pedra após pedra
em terrreno difícil

Um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
à tarde
depois do trabalho

Uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas

Não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei-de passar

Mas hei-de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço

Então
num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira

E terei para ti
os sorrisos que me pedes.

                                                   (1949)




Hoje, aniversário do nascimento de António Agostinho Neto, comemora-se, em Angola, o Dia do Herói Nacional.