Cavaco, “magistrado activo” do salto do Coelho, cúmplice de silêncios e indiscrições “activas” para a entrada do FMI, pediu uma campanha eleitoral “passiva” que não inviabilize “o diálogo e os compromissos de governabilidade [a la FMI]”. Resumindo: toda a “actividade” às troikas invasora (FMI e companhia) e nativa (PS-PSD-CDS), toda a “passividade” para a democracia.
O demissionário Sócrates garante a Bruxelas (e às burguesias nativa e europeia) que vai avançar com as medidas do PEC4. À esquerda do Partido [que se demitiu da política] Socialista, as direções do Bloco e do PCP debatem, esta sexta, a crise política e social provocada pela gestão danosa PS/PSD.
Santana Lopes, Alberto João Jardim, Marques Mendes, Passos Coelho. Uns vociferam, outros esperneiam, outros manifestam-se na acalmia da língua de Balzac. E nenhum deles se quer distanciar do governo que tem protagonizado as políticas que o PSD deseja, não querendo, contudo, o ónus e o preço social que elas têm. Nasce daí o apoio ao governo. Porque PS+D andam de mãos dadas nesta crise e nestes atropelos, não terá o PSD a distinta desfaçatez de tentar iludir o eleitorado através da distanciação do governo a não ser que isso lhe traga imediato e insondável (?) proveito político.
A moção de censura que o Bloco apresenta critica as políticas de direita que o PS aprovou e que o PSD apoiou sofregamente. A moção de censura apresenta as políticas de esquerda das quais o Bloco não se distancia – e não nos esqueçamos de que é o Bloco quem não pactua com direitismos – e condena ferozmente as políticas de (des)emprego que têm condenado as vidas das pessoas e assassinado o futuro delas em virtude da facilitação do espraiar do neoliberalismo. Vai se cumprindo o sonho da direita - do PS+D, por certo – e o Bloco recusa-se a pactuar com esta falta de vergonha. A moção do Bloco critica as políticas que arruinaram vidas e futuros. Critica a direita, não só o governo enquanto pretenso órgão imutável e dirigista desprovido de ideologia. E critica a direita porque este governo é de direita. Porque tem assassinado o estado social. Porque tem sido o maior amigo do tradicional PSD, agindo como muleta das suas políticas. Porque tem sido o governo provisório do PSD.
Entrar na ideia de que esta moção de censura é criada para ser rejeitada ou para abrir caminho à direita é uma falácia estrondosa: a direita já nos governa e não é preciso ir muito além das mais recentes tomadas de posição parlamentares. A direita está onde está o PS. Pelo menos, para já. Não tenho qualquer dúvida de que, num presumível governo PSD, o PS terá a falta de vergonha de que sempre careceu e irá bradar aos sete ventos a necessidade incontornável de um estado social. Estado social esse que ele ajudou a destruir.
Começaram a surgir, mal se proclamou a vontade de apresentar esta moção, vozes vindas de todos os lugares num desejo fervoroso de salvar a nação do caos políticos, num desejo fervoroso de manter a estabilidade política. Mas que estabilidade, afinal? A única coisa estável com este governo e com estas políticas é a perpétua instabilidade. Esta moção de censura serve para isso mesmo: para apresentar o caminho pela esquerda, para apresentar políticas que nos conduzam à estabilidade, não tentando afundar o eleitorado em pretensas e hipócritas ideias de inevitabilidade de decisão, para vencer o pacto que as elites têm com o poder político.
O PCP vai por qualquer caminho, mas nós sabemos de que lado estamos e para onde vamos. Esse zénite chama-se esquerda.
Quando o argumentário chega a este ponto e se estende por este caminho , é necessário levar-se uma lanterna para o debate para se-o poder acompanhar, tal é a baixeza da latitude retórica.
Não procuro colocar ninguém neste blogue, num pedestal ou numa torre de marfim, no que toca à sua forma de discussão e como se entende por estas bandas expor ideias.
Grande parte do que ainda se pode ter a dizer sobre este debate, versará sempre em torno do que muitos disseram na caixa de comentários do primeiro post supracitado, pelo que me ficarei por algumas questões.
"E o Bloco de Esquerda que papel cumpre no actual panorama político? Conseguirá dormir sabendo que apoia o mesmo candidato que uma parte dos coveiros da classe trabalhadora? Dos que lançaram a polícia contra os que lutam?"(1)
Quem apoiou o PCP definitivamente em 1980 e em 1991?
Se aplicarmos o quadro de referência de Bruno Carvalho, este será culpado pela repressão de cada trabalhador em cada país em que um partido "irmão" do PCP esteja no poder. Da África do Sul à China, sem nunca esquecer Angola e o Laos.
E já agora, também pode ser responsabilizado pelos funerais da classe trabalhadora portuguesa, porque o PCP e Francisco Lopes estiveram na primeira volta com Ramalho Eanes e com Jorge Sampaio. E o que dizer dos trabalhadores lisboetas e das coligações PS/PCP para a Câmara. Sem falar nessas imensas coligações pós-eleitorais com o PSD nas autarquias. E o que dizer da carga policial do dia 20 de Outubro de 2004 no Pólo II da Universidade de Coimbra? Curiosamente o Reitor Seabra Santos é militante do PCP, e já agora, o então Vice-Reitor Avelãs Nunes , foi mandatário da CDU nas Europeias de 2009.
E assim é o debate quando ele não salta fora do simplismo.
O jornal "Sol" noticia que o Bloco de Esquerda desistiu da manifestação contra a NATO, que ocorrerá no próximo dia 20 de Novembro (Sábado), o que é por demais mentira.
Esta capa não passa de uma piada de mau gosto que amanhã certamente despertará a atenção de muitos leitores assíduos da imprensa escrita, pelo que o objectivo de vender jornais por os vender, não interessando o que se escreve, será cumprido.
O desmentido a esta contra-informação oportunamente sairá a público. E pode-se desde já prometer que não se processará nenhum jornalista por esta capa.
Já agora deixo aqui um excerto de um documento aprovado na Mesa Nacional do BE, que poderia ter sido útil ao Jornal SOL, se neste caso tivesse tido a mínima preocupação em ser fiel à veracidade dos factos neste caso específico:
3. O Bloco de Esquerda apoia as iniciativas de mobilização que constroem uma resposta à crise social, seja a paralisação da administração pública a 6 de Novembro, a manifestação de estudantes a 17 de Novembro, ou a contra-cimeira e a manifestação contra a guerra e a NATO no dia 20 do mesmo mês.
No entanto, não pode passar em branco, a falta de vontade dos principais organizadores desta manifestação, em tornar esta um momento unitário de negação da NATO e da participação de Portugal nela. Para melhor se perceber este episódio, convido-vos a lerem este artigo da Ana Cansado:
Até dia 13 de Outubro éramos todos livres de participar nos eventos organizados em nome da PAZ. Contudo, no dia 13 de Outubro, a Campanha em defesa da paz e contra a Cimeira da NATO em Portugal, conhecida como Campanha «Paz sim! NATO não!», que convocou, promove e organizará uma manifestação dia 20 de Novembro, para a qual apelou à participação de todos os portugueses amantes da paz, resolveu excluir deste convite outras entidades que não integram a «Campanha Paz sim! NATO não!» apesar de nunca as ter convidado a participar em qualquer actividade da mesma.
O Bureau Político do Partido Comunista Chinês reuniu no passado dia 15 de Outubro, para iniciar a discussão das novas linhas orientadoras do Partido para os próximo cinco anos.
Apesar das teses ainda serem secretas, avizinham-se algumas alterações, que são essenciais para a China se solidificar como superpotência no cenário internacional e reduzir a sua dependência em relação ao exterior.
Após largos anos de crescimento económico essencialmente baseado na exploração intensiva da mão-de-obra barata e exportações a baixo custo, a nomenclatura chinesa parece estar fortemente inclinada em expandir socialmente os frutos desse mesmo crescimento.
O que passará pelo desenvolvimento de políticas de aumento do consumo e da procura interna, de forma a reduzir a sua dependência perante o exterior, e por outro lado aumentar o poder de compra da sociedade chinesa.
Destas intenções podem-se retirar várias ilações, existe a vontade em criar uma classe média forte no país, que é essencial para servir de tampão à crescente luta de classes, e desta forma prolongar a sobrevivência da via chinesa do capitalismo como a conhecemos. Economicamente isto também significa reduzir o ritmo do crescimento, uma vez que o valor do trabalho terá que aumentar e os investimentos em assistência e apoio social também.
A grande questão é, como é que a economia chinesa se vai comportar com esta alteração, caso ela se revele significativa? O mais certo, e o PCC sabe disso, é vir a existir um período de quebra da economia chinesa, enquanto o consumo interno não substitui uma provável perda da competitividade das exportações, fruto do aumento do custo do trabalho, em relação a outros países em vias de desenvolvimento onde a proletarização é superior.
Politicamente também se esperam mudanças. Há duas semanas, 23 ex-dirigentes dos PCC publicaram uma carta aberta onde reivindicaram reformas políticas no regime afirmando "Caso não seja reformado, irá morrer de morte natural”. Também o actual primeiro-ministro Wen Jiabao disse que até 2012 tudo faria para que se executassem reformas de abertura política no país. O mais curioso deste facto, é que estas mesmas declarações foram censuradas e não passaram na televisão estatal chinesa.
No entanto não se espera que estas mudanças sejam mais do que a necessidade do próprio sistema garantir a sua sobrevivência e a sua reprodução futura, de forma a não eclodir com as frinchas e as tensões que as suas contradições criam.
Caro Renato Teixeira hoje lembrei-me de uma música que já não ouvia há muito tempo. Dedico-a a ti e a mais dois ou três camaradas que têm tido a amabilidade de discutir algumas das ideias que tenho expressado neste blog. Um sincero obrigado e espero que continuem a ser Alegres pensadores de Esquerda. Fica o clip e a letra para que possam disfrutar deste "nosso" António Variações.
Diz-me que solidão é essa Que te põe a falar sozinho Diz-me que conversa Estás a ter contigo
Diz-me que desprezo é esse Que não olhas p'ra quem quer que seja Ou pensas que não existe Ninguém que te veja
Que viagem é essa Que te diriges em todos os sentidos Andas em busca dos sonhos perdidos
Lá vai o maluco Lá vai o demente Lá vai ele a passar Assim te chama toda essa gente
Mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar Mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar Mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
Diz-me que loucura é essa Que te veste de fantasia Diz-me que te liberta De vida vazia
Diz-me que distância é essa Que levas no teu olhar Que ânsia e que pressa Que queres alcançar
Que viagem é essa Que te diriges em todos os sentidos Andas em busca dos sonhos perdidos
Lá vai o maluco Lá vai o demente Lá vai ele a passar Assim te chama toda essa gente
Mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar Mas tu estás sempre ausente e não te conseguem alcançar
Mas eu estou sempre ausente e não me conseguem alcançar
Não me conseguem alcançar Não me conseguem alcançar Não me conseguem alcançar
Actualmente, e na continuidade do programa da revolução democrática e nacional aprovado no VI Congresso do PCP e dos ideais, conquistas e realizações históricas da revolução de Abril, o PCP luta por uma democracia avançada no limiar do século XXI, simultaneamente política, económica, social e cultural, com cinco componentes ou objectivos fundamentais:
um regime de liberdade no qual o povo decida do seu destino e um Estado democrático, representativo, participado e moderno;
o desenvolvimento económico assente numa economia mista, moderna e dinâmica, ao serviço do povo e do País
Todos os partidos que se reivindicam do socialismo e ou do comunismo, na Europa e na maior parte do globo, lutam por reformas, seja: por palavras de ordem, no movimento social e laboral e nos parlamentos nacionais e transnacionais (nos casos onde esta representação existe).
Apresentam os seus programas e propostas mediante a situação e a conjuntura política e social. Assim são, o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, tal como os seus parceiros internacionais, que em muitos dos casos, são semelhantes. O caso do Die Linke é apenas um deles, poderia citar dezenas, mas penso que pouco acrescentaria à discussão.
O que não invalida a pretensão e o alcance de uma sociedade socialista. E sim Rafael, na dicotomia Reforma ou Revolução, hei-de-me situar sempre do lado da Revolução.
Nada de mais errado, seja a minha opinião, seja a do Bloco de Esquerda. E assim aproveito para recuperar, um velho e intemporal debate, sobre o que se passou em Itália há uns anos, que cabe aqui que nem uma luva, para dissipar os preconceitos que sopram sempre do mesmo vector:
"A participação gestionária num governo liberal, de "centro-esquerda", pode até ser justificada para impedir males maiores às classes populares mas comete o crime de roubar a esperança numa alternativa social. Umas migalhas não fazem a dignidade numa luta de opostos. Ao acentuar-se a crise estratégica do reformismo mantinha-se um apelo ao reagrupamento das esquerdas políticas e sociais. O PRC (1) ao fazer parte da crise do reformismo produz desmembramento do espaço transformador, divisões, atraso na consciência social. - Luís Fazenda, Carlos Santos e Vítor Franco in Revista Virús, pag 43 "
(1) Partido da Refundação Comunista (Itália)
Capiche? Faço das palavras supracitadas as minhas, penso que torna todo o assunto bastante claro.
Sobre a diversidade cultural e política, reconheço que ela exista dentro do PCP, e que uma forma ou outra sempre existiu, de Francisco Martins Rodrigues à Renovação Comunista, agora a sua expressividade e espaço de manobra é outra coisa.
E aliás Rafael Fortes reivindica-se parte dela, e facilmente se o reconhece em parte do seu discurso e opinião escrita. E mais exemplos existem:
PS1 - Não sou funcionário, e acho pueril esse tipo de acusação, todos os partidos os têm, são essenciais para a vida e o funcionamento do partido. Quantos do PCP é que não escrevem na blogoesfera? Não acrescenta nada de novo, para além de poeira inconsequente. E digamos só lhe fica mal.
PS2 - As minhas referências ideológicas? Marx, Engels, Lenine, Nazim Hikmet Ran, Gramsci, Zizek, Althusser, e por ai adiante. Tenho as minhas divergências e leituras diferentes, com quase todos, mas vejo-os ,como essenciais para pensar o marxismo hoje.
O post do Rafael Fortes no 5 dias, abre um debate e uma reflexão interessante. Por um lado, dispensou a crítica gratuita e tendencialmente corriqueira - ao qual o 5 dias nos tem habituado, neste tema - por outro, diz-nos muito, sobre o que é o PCP, e como era construtivo para a Esquerda portuguesa, não ser (em muitos aspectos) o que ainda é.
O Bloco de Esquerda, quando nasce há mais de uma década, no cenário político português, foi generalizadamente atacado por diversos agentes e actores políticos, da esquerda à direita, sem excepção. O PCP foi um deles e continua a sê-lo. O mais recorrente, para além das piadas de oportunidade (sempre envoltas de preconceitos, usualmente ligadas aos direitos sociais pelas quais o Bloco se bate desde que existe - falemos de direitos lgbt ou da legalização das drogas leves), era de que iria fraccionar e enfraquecer a Esquerda portuguesa, traduzindo isto para a realidade portuguesa, tirar votos e apoios à CDU/PCP/PEV.
Coisa que não se sucedeu, aliás, basta olhar hoje para o Parlamento português. Quando é que foi a última vez, que forças à esquerda do PS, tiveram, proporcionalmente, tantos deputados?
De qualquer das formas, não posso deixar de assinalar, as afirmações (abaixo citadas) de RF, é bom saber que existem activistas comunistas, organizados no PCP, que viam e vêm com bons olhos a construção de poder sólido à Esquerda, que faça o PCP atrever-se a saltar as suas fronteiras. Não são muitos, mas continuamos à espera que essa opinião se generalize dentro do Partido.
Pegando novamente no que RF escreveu, creio que, para além de estar equivocado, parte de um erro de análise profundo:
Uma social democratização que começa a preparar agora uma relação com um PS pós-Sócrates, um pouquito mais à esquerda. Um PS que aceitará um reformismo do capitalismo, um PS que não se importe em não dar tantos privilégios aos que mais podem. E aí, estarão criadas as condições para um entendimento.
O Bloco de Esquerda, sempre dialogou com todos os sectores de esquerda da sociedade portuguesa que refutam o neoliberalismo, estejam eles em que organizações estiverem. É assim que se constroem maiorias sociais, é assim que se faz frente aos ataques aos direitos dos trabalhadores. Quanto mais alargada a resistência, maior será a sua força. O Partido Socialista, não se insere de todo nesse quadrante, aliás, foi sempre quem mais liberalizou os sectores produtivos do país e quem mais cortou nos direitos, liberdades e garantias, seja na CRP ou em toda a arquitectura jurídica portuguesa.
Por outro lado, o Partido Socialista pós-sócrates, será uma continuidade do mesmo. Não se prevê, nem cresce em lugar nenhum, uma onda de regresso aos princípios da social-democracia, longe disso, o que virá, por mais manicure que tenha, será para continuar a mesma onda galopante de social-liberalismo. Basta olhar para o que é hoje a II Internacional por essa Europa fora ou dar uma vista de olhos ao novo breviário ideológico do Partido Socialista - Os Valores da Esquerda Democrática: Vinte Teses Oferecidas ao Escrutínio Crítico de Augusto Santos Silva (que certamente encontra muitos apoiantes dentro do PSD).
E só para que fique explícito, o espaço do Bloco abriu-se à esquerda da esquerda parlamentar clássica, politica e ideologicamente. E sobre alianças governativas com o PS - o cadastro reformador do PS falo por si. O que é bem diferente de apoiar Manuel Alegre, que ganhou espaço na sociedade portuguesa, opondo-se às principais reformas feitas pelo seu Partido.
E já que se fala em presidências, o PCP apoiou R.Eanes e Jorge Sampaio.
"Aí, o Bloco poderá aparecer como o “aliado temporal da burguesia” ou coisa que o valha."
Nunca encontrei, no seio do Bloco, fãs do Nacional-Desenvolvimentismo, seja da via chinesa ou da via brasileira. E nunca o BE enviou cartas de congratulação ao PT por ter ganho as eleições, ou à ANC, MPLA, etc...
Em suma toda esta discussão sobre o PS e o BE, para além de ter a idade do próprio BE, não passa de neblina retórica e de uma questão académica.
Por fim a parte mais hilariante de todas, na minha opinião, é esta:
"Como se pode esquecer a História, o contributo de praticamente todos os revolucionários do século XX? Como se pode ser socialista no século XXI e ter a pretensão de querer começar a História do zero, apagando da memória o sangue de milhões de revolucionários que deram a vida por uma sociedade livre da exploração, do fascismo, do racismo, da homofobia, do colonialismo e do pós-colonialismo, do intervencionismo e do imperialismo? Como se pode ser socialista no século XXI e ter vergonha dos socialistas do século XX? Como se pode ser socialista no século XXI e não ser revolucionário?"
Ser revolucionário hoje, ou se quisermos, ser comunista hoje, é rejeitar as experiências soviéticas, porquê? Porque não foram socialistas. Evoluir criticamente à esquerda sobre elas, é ser revolucionário. Tapar os olhos às contradições inerentes ao sistema e não fazer uma crítica à burguesia vermelha que se instalou na burocracia do(s) Estado(s) e do Partido(s), é deixar cair o ideal e o horizonte no monolítismo e no acriticismo.
De resto deixo aqui isto, pode ser que tenha escapado ao Rafael:
Chegado da Serra da Estrela, para um fim-de-semana no meu querido Ribatejo, descubro um triste episódio da política local. Folheando os jornais na Marisqueira Campino, em Santarém, descubro que a Assembleia Municipal da Chamusca chumbou o voto de pesar pelo falecimento de José Saramago.
A tristeza do episódio é até maior que o simples chumbo do voto de pesar. O pior foi o sectarismo que levou a este resultado.
O voto foi proposto por Duarte Arsénio, eleito pelo Bloco de Esquerda, e a CDU teve de encontrar uma desculpa esfarrapada para não votar a favor: absteve-se por a moção “não ter sido consensualizada”.
Alguns leitores do Público não terão ficado indiferentes, nos últimos dias, a dois artigos escritos mais à esquerda e que tratam disso mesmo, da esquerda. Um é o artigo de Ana Benavente, militante do PS, Secretária de Estado da Educação do Governo Guterres, contestaria destacada da política de avaliação dos professores nos último dois anos. Outro é o de Domingos Lopes, ex-chefe de gabinete de Álvaro Cunhal e ex-responsável pelas relações internacionais do PCP.
No seu artigo, já assinalado por MSP no Vias de Facto, Benavente diz: "Serei só eu que vejo no Governo pessoas do PS em quem não acredito? Que falam com chavões cansados e usam retóricas como quem repete uma fórmula já gasta? Sem alma? E que será do PS quando deixar de ser Governo? Travessias do deserto são normais, afirmam. Não concordo. Os coveiros do partido são conhecidos.” Já D. Lopes, pese embora a sua saída tardia e amuada do PCP, em 2009, lança a questão: “Pode uma organização política sobreviver ao longo de décadas e décadas sem renovar o seu pensamento e a sua acção? O que aconteceu no mundo do socialismo está à vista de todos. A falência dos partidos comunistas que dirigiam os países chamados socialistas foi por petrificação e não por renovação.” e ainda “O PCP passou a ser o que o Jerónimo discursa, que, em geral, é a repetição, sem dúvida corajosa, do afrontamento da política desastrosa do PS, PSD e CDS, mas, do ponto de vista de alternativa, não traz um único elemento novo, nem propostas para sair da crise. Esta reactivação interna não impediu a ultrapassagem do PCP pelo BE, coisa inimaginável há poucos anos; a perda de influência no poder autárquico e uma crescente tensão no movimento sindical. É assim que está o PCP hoje: a proclamar que está melhor que nunca e a realidade é o que se vê.”
As palavras de Benavente são um protesto, as de D. Lopes um lamento. Chega a ser paradoxal, pois nunca o PS mereceu tantos lamentos como hoje e é certo que a contestação à direcção do PC continua a ser uma urgência. Mas em ambos os casos encontramos a mesma parede, a mesma redoma política: a ausência do programa. É a ausência de programa de uma esquerda militante e combativa por uma saída socialista da crise que nos permite identificar os chavões de que fala Benavente e a auto-proclamação de que nos fala D.Lopes. Que desmascara um PS instrumentalizado e para quem as palavras tem baixo valor, onde tudo o que se diz apenas maquilha um fazer que tem clientela fixa e refinada e levanta a cortina de um PC agonizante, acossado mas onde o encanto narcisista mantém o feitiço.
Ambas as críticas propõe, então, o mesmo caminho? É claro que não, mas ambas erram o alvo. Por mais corajosas que sejam as convicções de Benavente elas assentam na crença, infantil e fatal, de que o PS se convence por dentro, de que ainda é possível transformar esse partido, que docemente se entregou às soluções neoliberais e que assim se transformou na frente política de confiança da burguesia portuguesa, num partido defensor do povo da esquerda, dos serviços públicos e do valor do trabalho. É outro o caminho. Aceitar que a derrota do PS é o passo fundamental para a afirmação de uma esquerda grande e fiel à luta social é colher o que a história já nos disse há muito: que o PS está do outro lado da barricada. E que cabe, portanto, ao nosso lado impor essa derrota.
Já o PCP tem sido o coveiro de si mesmo, incapaz de aceitar a luta social fora da sua supervisão e insistindo em manter os cânones de um revivalismo enclausurador onde a conquista do poder é mais verbo que acção. Está certo que é o resultado de uma derrota interna e D.Lopes assinala-o. Mas um PCP estático e sem programa é a evidência da urgência de mudança na direcção de um partido que conserva em si tanta gente de esquerda. E ou bem que essa mudança vem de dentro do PCP ou não virá de todo.
A direita portuguesa não perde uma oportunidade para demonstrar as contradições do PCP em relação à China. Por um lado defende mais direitos para os trabalhadores portugueses, por outro lado, apoia um regime que os viola e os atropela de uma ponta à outra.
Porém, eu não me recordo quando foi a última vez, que um Primeiro-Ministro (do PS ou do PSD), que um líder ou Presidente de um Partido de centro ou de direita criticou o regime Chinês. O que é certo, é que tudo lá vai fazer vénias. Do CDS até ao PCP.
Afinal de contas: Não importa se o gato é preto ou branco, desde que ele cace os ratos - Deng Xiaoping
Todos por convicção ideológica idolatram a China, uns pelo farol, outros pelo PIB que cresce a dois pontos percentuais ao ano.