Palavras para Evitar (ou Usar com Cuidado) Porque São Carregadas de Sentido ou Confusas
Existem várias palavras ou frases que recomendamos evitar completamente ou evitar em alguns contextos e usos. Algumas são ambíguas ou enganosas; outras pressupõe um ponto de vista com o qual discordamos e do qual esperamos que você também discorde.
“Opt out” | “Aberto” | “Acesso” | “Ad-blocker” | “Alternativa” | “Ativos” | “Bens Digitais” | “Cadeados Digitais” | “Comercial” | “Compartilhar (dados pessoais)” | “Compensação” | “Computação Confiável” | “Computação em Nuvem” | “Consumidor” | “Consumo” | “Conteúdo” | “Criador” | “Dar software” | “De graça” | “Disponível livremente” | “Dono do direito autoral” | “Ecossistema” | “FLOSS” | “FOSS” | “Fechado” | “Freeware” | “Gestão Digital de Direitos” | “Google” | “Hacker” | “Indústria do Software” | “Internet das Coisas” | “MP3 player” | “Mercado” | “Modelo da fonte” | “Moderno” | “Monetizar” | “PC” | “Photoshop” | “Pirataria” | “PowerPoint” | “Produto” | “Propriedade intelectual” | “Proteção” | “RAND” | “Roubo” | “SaaS” | “Sharing economy” | “Skype” | “Vendedor” | “Vender software” “do tipo BSD” | “licenciado em Creative Commons” | “sistema LAMP” | “sistema Linux” |
Observe também as Categorias de Software Livre, Por Que Chamá-lo de Swindle?
“Aberto”
Por favor, evite usar o termo “aberto” ou “código aberto” como substitutos para “software livre”. Esses termos referem a pontos de vista diferentes, baseada em valores diferentes. O movimento do software livre é uma campanha pela sua liberdade na computação, por uma questão de justiça. O código aberto, que não é um movimento, não é uma campanha por nada neste caminho.
Ao se referir às visões do código aberto, é correto usar o nome, mas por favor não use este termo ao falar sobre nós, nosso software ou nossas visões—isto leva pessoas a presumir que nossas visões são similares às deles.
Em vez de código aberto, nós dizemos software livre ou software libre.
“Acesso”
É um equívoco comum pensar que software livre significa que o público tem “acesso” a um programa. Isso não é o que software livre significa.
O critério do software livre não é sobre quem tem “acesso” ao programa; as quatro liberdades essenciais dizem respeito ao que um usuário que tem uma cópia do programa é permitido fazer com ela. Por exemplo, a liberdade 2 diz que esse usuário é livre para fazer outra cópia e dar ou vendê-la a você. Mas nenhum usuário é obrigado a fazer isso por você; você não tem o direito de exigir uma cópia desse programa de nenhum usuário.
Em particular, se você mesmo escrever um programa e nunca oferecer uma cópia a qualquer outra pessoa, este programa é um software livre embora em uma forma trivial, pois todo usuário que tenha uma cópia das quatro liberdades essenciais (já que o único usuário é você).
Na prática, quando muitos usuários têm cópias de um programa, certamente alguém o colocará na internet, dando a todos o acesso a ele. Nós achamos que as pessoas deveriam fazer isso, se o programa é útil. Mas este não é um requisito do software livre.
Há um ponto específico em que a questão de ter acesso é diretamente pertinente ao software livre: a GNU GPL permite dar a um usuário específico o acesso para baixar o código fonte de um programa em vez de dar a esse usuário uma cópia física do código fonte. Isso se aplica ao caso especial em que o usuário já possui uma cópia do programa mas não possui o fonte.
Em vez de com software livre, o público tem acesso ao programa, nós dizemos com software livre, os usuários têm as liberdades essenciais e com software livre, os usuários têm controle do que o programa fazer para eles.
“Ad-blocker”
Quando o propósito de alguns programas é bloquear propagandas, “ad-blocker” é um bom termo para ele. Porém, o navegador GNU IceCat bloqueia propagandas que rastreiam o usuário como consequência de um grupo de medidas para prevenir vigilância por sites. Isso não é um “ad-blocker”, isso é uma proteção contra vigilância.
“Alternativa”
Não descrevemos o software livre em geral como uma “alternativa” ao software privativo, pois tal palavra presume que todas as “alternativas” são legítimas e que cada “alternativa” adicional deixa os usuários numa posição melhor. De fato, a palavra presume que o software livre deve coexistir com aquele que não respeita a liberdade dos usuários.
Acreditamos que a única maneira ética de disponibilizar software para outras pessoas é sua distribuição como software livre. Os outros métodos, software não livre e Serviço como Substituto do Software subjugam seus usuários. Não acreditamos que seja bom oferecer aos usuários essas “alternativas” ao software livre.
Circunstâncias especiais podem levar os usuários a executar um programa específico para um determinado trabalho. Por exemplo, quando uma página web envia o código JavaScript cliente para o navegador do usuário, isso leva os usuários a executar aquele programa cliente específico em vez de qualquer outro possível. Nesse caso, há um motivo para descrever qualquer outro código para esse trabalho como alternativa.
“Ativos”
Para se referir a obras publicadas como “ativos”, ou “ativos digitais”, é ainda pior que chamá-los de “conteúdo” — ele presume que eles tenham nenhum volume para a sociedade, exceto para um valor comercial.
“Bens Digitais”
O termo “bens digitais”, quanto aplicado a obras autorais, as identifica com bens físicos — que não podem ser copiados e tem, portanto, de ser manufaturados em grande quantidade e vendidos. Essa metáfora incentiva o julgamento das questões sobre software ou outras obras digitais baseado na visão e intuições que as pessoas têm sobre bens físicos. Ela também enquadra os problemas nos termos da economia, cujos valores superficiais e limitados não incluem a liberdade e a comunidade.
“Cadeados Digitais”
O termo “cadeados digitais” é usado para se referir à Gestão Digital de Restrições (em inglês, comumente DRM) por algumas pessoas que a criticam. O problema desse termo é que ele não faz justiça à maldade do DRM. Quem o adota não pensou direito sobre o assunto.
Cadeados não são necessariamente opressivos ou maus. Você provavelmente possui vários, e suas chaves ou códigos também; você pode achá-los úteis ou problemáticos, mas eles não lhe oprimem, pois você pode abri-los e fechá-los. Da mesma maneira, nós achamos que a criptografia é inestimável para a proteção dos nossos arquivos digitais. Esta também é uma espécie de cadeado digital que você controla.
O DRM é como um cadeado colocado em você por alguém que se recusa a lhe dar a chave — em outras palavras, é como algemas. Assim, a metáfora adequada para o DRM é “algemas digitais” e não “cadeados digitais”.
Várias campanhas de oposição escolheram esse termo imprudente, “cadeados digitais”; para colocar as coisas no trilho, devemos insistir firmemente na correção desse erro. A FSF pode apoiar uma campanha que se opõe aos “cadeados digitais” se concordarmos com sua essência; no entanto, quando afirmarmos nosso apoio, manifestadamente substituiremos a palavra por “algemas digitais” e explicaremos por quê.
“Comercial”
Por favor, não use “comercial” como um sinônimo para “não livre.” Isso confunde dois assuntos totalmente diferentes.
Um programa é comercial se é desenvolvido como uma atividade de negócios. Um programa comercial pode ser livre ou não livre, dependendo de sua maneira de distribuição. Da mesma maneira, um software desenvolvido por uma universidade ou um indivíduo pode ser livre ou não livre, dependendo de como é distribuído. As duas questões — que tipo de entidade desenvolveu o programa e que liberdades seu usuário tem — são independentes.
Na primeira década do movimento do software livre, pacotes de software livre eram quase sempre não comerciais; os componentes do sistema operacional GNU/Linux foram desenvolvidos por individuais ou organizações com fins não lucrativos como a FSF e universidades. Mais tarde, nos anos 90, software livre comercial começou a aparecer.
Software livre comercial é uma contribuição para nossa comunidade, portanto devemos encorajá-lo. Mas pessoas que pensam que “comercial” significa “não livre” tenderão a pensar que a combinação “livre e comercial” é autocontraditória e descartarão a possibilidade. Sejamos cuidadosos para não usar a palavra “comercial” dessa maneira.
“Compartilhar (dados pessoais)”
Quando empresas manipulam ou atraem pessoas para que estas revelem seus dados pessoais e, dessa forma, cedam sua privacidade, por favor não se refira a isso como “compartilhar”. Nós usamos o termo “compartilhar” referindo à cooperação não comercial e dizemos que isso é bom. Por favor, não faça uso daquela palavra para uma prática que é prejudicial e perigosa.
Quando uma empresa redistribui dados pessoais coletados para outra empresa, que é ainda menos merecedor do termo “compartilhar”.
“Compensação”
Falar da “compensação do autor” em conexão com os direitos autorais presume que (1) os direitos autorais existem para o bem dos autores e (2) sempre que lemos algo, estamos em débito com o autor e devemos reembolsá-lo. A primeira suposição é simplesmente falsa e a segunda é ultrajante.
A “compensação do titular dos direitos” adiciona uma outra cilada: você deve acreditar que isso significa pagar os autores, e ocasionalmente isso é verdade, mas na maior parte do tempo significa um subsídio para as mesmas companhias de publicação que estão empurrando leis injustas para cima de nós.
“Computação Confiável”
“Computação Confiável” é o nome que os proponentes deram a um esquema para redesenhar os computadores de maneira que os desenvolvedores de aplicações possam confiar no seu computador para obedecer a eles, e não a você. Do ponto de vista deles, a máquina é “confiável”; mas do seu ponto de vista, ele é “traiçoeiro.”
“Computação em Nuvem”
O termo “computação em nuvem” (ou simplesmente “nuvem”, no contexto da computação) é uma palavra da moda sem qualquer sentido coerente. Ela é usada para designar uma série de atividades diferentes cuja única característica comum é usar a Internet para algo além da transmissão de arquivos. Portanto, o termo promove a confusão. Se você pensar baseando-se nela, seu pensamento será confundido (ou, poderíamos dizer “nebuloso”?).
Quando estiver respondendo a alguém que usou esse termo, o primeiro passo é esclarecer o assunto. Sobre qual cenário ela estava falando? Qual é um termo bom e claro para esse cenário? Uma vez que o tópico esteja claramente formulado, um pensamento coerente sobre isto se torna possível.
Um dos muitos significados de “computação em nuvem” é o armazenamento de seus dados em serviços online. Na maior parte dos casos, isso é insensato, pois te expõe à vigilância.
Outro significado (que se sobrepõe ao anterior, mas não é a mesma coisa) é o Serviço como Substituto do Software (Service as a Software Substitute), que nega seu controle da computação realizada. Você nunca deve utilizar o SaaSS.
Outro significado é a locação de um servidor físico remoto, ou de um servidor virtual. Essas práticas são aceitáveis sob certas circunstâncias.
Ainda outro significado é o acesso ao seu próprio servidor a partir do seu próprio dispositivo móvel. Essa prática também não traz questões éticas em particular.
A definição de “computação em nuvem” do NIST menciona três cenários que trazem diferentes questões éticas: Software como um Serviço, Plataforma como Serviço e Infraestrutura como Serviço. No entanto, essa definição não corresponde ao uso comum de “computação em nuvem”, uma vez que não inclui serviços online de armazenamento de dados. A maneira como o NIST define Software como Serviço se sobrepõe consideravelmente com o Serviço como Substituto do Software, que maltrata o usuário, mas os dois conceitos não são equivalentes.
Essas diferentes práticas de computação nem mesmo pertencem à mesma discussão. A melhor maneira de evitar a confusão que o termo “computação em nuvem” promove é não usar “nuvem” em conexão à computação. Fale sobre o cenário usando um termo específico.
Curiosamente, Larry Ellison, um desenvolvedor de software privativo, também notou a vacuidade do termo “computação em nuvem”. Ele decidiu usar o termo mesmo assim, pois, como um desenvolvedor de software privativo, ele não é motivado pelos mesmos ideais que nós.
“Consumidor”
O termo “consumidor” quando usado para se referir aos usuários de computação, é carregado com os pressupostos que devemos rejeitar. Alguns vêm da ideia de que usar um programa o “consome” (veja a entrada anterior), o que leva as pessoas a impor sobre as obras digitais copiáveis as conclusões econômicas que foram tiradas sobre os produtos materiais não copiáveis.
Além disso, a descrição de usuários de software como “consumidores” se refere a uma mentalidade na qual pessoas são limitadas a escolher entre qualquer “produto” que esteja disponível no “mercado”. Nessa mentalidade não há lugar para a ideia de que os usuários possam exercer controle direto sobre o que o programa faz.
Para descrever pessoas que não estão limitadas ao uso passivo de obras, sugerimos os termos “indivíduos” e “cidadãos”, em vez de “consumidores”.
O problema com a palavra “consumidor” já foi notado anteriormente.
“Consumo”
“Consumo” refere-se ao que fazemos com os alimentos: nós os ingerimos, depois disso a comida, como tal, não existe mais. Por analogia, podemos empregar a mesma palavra para outros produtos cuja utilização os extingue. Empregá-la a bens duráveis, como roupas ou aparelhos, é um exagero. Empregá-la a obras publicadas (programas, gravações em discos ou em um arquivos digitais, livros de papel ou digitais), cuja natureza é durar indefinidamente e que podem ser executadas, reproduzidas ou lidas tanto quanto se queira, é estender a palavra até aquela se encaixe. Reprodução de uma gravação, ou a execução de um programa, não os consome.
Aqueles que usam “consumo” neste contexto vão dizer que eles não querem dizer isso literalmente. Então, o que isso significa? Significa considerar cópias de softwares e outras obras de um ponto de vista estritamente econômico. “Consumo” está associado com as economias de materiais de consumo, tal como o combustível e eletricidade que um carro usa. A gasolina é uma mercadoria, assim como a eletricidade. Os materiais de consumo são fungíveis: não há nada especial em uma gota de gasolina que seu carro queima hoje em comparação com outra gota que foi queimada na semana passada.
O que significa pensar sobre obras de autoria como materiais de consumo, com a suposição de que há nada especial sobre qualquer história, artigo, programa ou música? Este é um ponto de vista distorcido do dono ou o contador de uma empresa de publicidade. Não é surpresa que o software privativo queira que você pense no uso de software como um material de consumo. Seu ponto de vista distorcido aparece claramente neste artigo, que também se refere a publicações como “conteúdo”.
O pensamento limitado associado com a ideia que nós “consumimos conteúdo” abre caminho para leis como o DMCA que proíbe aos usuários de se livrarem dos mecanismos de Gestão Digital de Restrições (DRM1) nos dispositivos digitais. Se os usuários pensarem que o que eles fazem com esses dispositivos é “consumo”, eles podem considerar tais restrições como sendo naturais.
Isso também incentiva a aceitação dos serviços de “streaming”, que utilizam DRM para perversamente criar limites a ouvir músicas, ou assistir vídeos, para apertar aquelas atividades para caber na suposição da palavra “consumo”.
Por que é que este uso perverso do termo vem se espalhando? Alguns podem achar que o termo soa sofisticado, mas rejeitá-lo com razões convincentes pode parecer ainda mais sofisticado. Alguns querem generalizar quase todos os tipos de mídia, mas os verbos (“ler”, “ouvir”, “assistir”) não fazem isso. Outros podem estar agindo sob interesses comerciais (os seus próprios, ou dos seus empregadores). O uso por parte destes em fóruns de prestígio dá a impressão de que o termo é “correto”.
Falar de “consumir” música, ficção ou outras obras artísticas é tratá-las como material de consumo em vez de arte. Queremos pensar sobre obras publicadas desta forma? Queremos encorajar o público a fazê-lo?
Aqueles que respondem não, por favor juntem-se a mim evitando o termo “consumo” para este sentido.
O que usar em vez disso? Você pode usar verbos específicos, tal como “ler”, “ouvir”, “assistir” ou “olhar”, já que eles ajudam a restringir a tendência de excesso de generalização.
Se você insiste em generalizar, você pode usar a expressão “atender a”, que requer menos extensão do que “consumo”. Para uma obra destinada a um uso prático, “usar” é melhor.
Veja também a entrada a seguir.
“Conteúdo”
Se você deseja descrever um sentimento de conforto e satisfação, você pode com certeza dizer que você está “contente”2, mas usar a palavra “conteúdo” como um substantivo para descrever publicações e obras autorais adota uma atitude que você talvez prefira evitar: ela as trata como um material de consumo cujo propósito é encher uma caixa e ganhar dinheiro. Na verdade, ela denigre as próprias obras. Se você não concorda com essa atitude, você pode chamá-las de “obras” ou “publicações”.
Os que usam o termo “conteúdo” geralmente são as editoras que empurram um poder aumentado dos direitos autorais no nome dos autores (“criadores”, como eles dizem) das obras. O termo “conteúdo” revela sua real atitude em relação às obras e seus autores. isso também foi reconhecido por Tom Chatfield no Guardian:
O conteúdo por si só é irrelevante — como o próprio uso das palavras tipo conteúdo sugere. O momento que você começar a rotular cada pedaço de escrita de “conteúdo” do mundo, você concedeu sua intercambialidade: seu propósito primário como mera munição para o moinho métrico.
Em outras palavras, “conteúdo” reduz publicações e escritas a uma espécie de mistura a ser canalizada por meio de “tubos” da internet.
Veja também a carta aberta de Courtney Love para Steve Case e pesquise por “content provider” nesta página. Aliás, Sra. Love não tem ciência de que o termo “intellectual property” (propriedade intelectual) também é um ambíguo e confuso.
No entanto, enquanto outras pessoas usarem o termo “provedor de conteúdo”, dissidentes políticos pode muito bem chamar a si mesmos de “provedores de malconteúdo”3.
O termo “gestão de conteúdo” leva o prêmio de vacuidade. “Conteúdo” significa “algum tipo de informação” e “gestão” nesse contexto significa “fazer alguma coisa com ela.” Então, um “sistema de gestão de conteúdo” é um sistema para fazer algo com algum tipo de informação. Quase todos os programas encaixam nessa descrição.
Na maior parte dos casos, o termo na verdade se refere a um sistema para atualizar páginas em um site. Para tanto, recomendamos o termo “sistema de revisão de web sites” (do inglês “web site revision system” ou WRS).
“Criador”
O termo “criador” quando aplicado à autores, os compara implicitamente a uma deidade (“o criador”). A palavra é usada pelas editoras para elevar a moral dos autores acima daquela das pessoas normais, de maneira a justificar a atribuição de maiores poderes dos direitos autorais, poderes estes que os publicadores podem, então, exercer em nome dos autores. Recomendamos chamá-los de “autores”. No entanto, em muitos casos “detentor dos direitos autorais” é o que você realmente quer dizer. Esse dois termos não são equivalentes: frequentemente, o detentor dos direitos autorais não é o autor.
“De graça”
Se você quer dizer que um programa é software livre, por favor não diga que ele está disponível “de graça”. Software livre é uma questão de liberdade, não de preço5.
Cópias de software livre frequentemente estão disponíveis “gratuitamente” — por exemplo, para download via FTP. Mas cópias de software livre também estão disponíveis por um preço no formato de CD-ROMs, enquanto que cópias de software privativo estão ocasionalmente disponíveis gratuitamente em promoções e alguns pacotes privativos estão normalmente disponíveis sem qualquer custo para certos usuários.
Para evitar confusões, você pode dizer que um programa está disponível “como software livre”.
“Disponível livremente”
Não use o termo “software disponível livremente” como um sinônimo de “software livre”. Eles não são equivalentes. Software está “disponível livremente” se é de fácil acesso. “Software livre” é definido pela liberdade dos usuários de terem uma cópia. Essas são respostas para problemas diferentes.
“Doar software”
É enganoso usar os termos “doar software” ou “dar software de graça” quando queremos dizer “distribuir um programa como software livre”: eles implicam que a questão é o preço, não a liberdade. Uma das maneiras de evitar essa confusão é dizer “publicado como software livre”.
“Dono do direito autoral”
O direito autoral é um privilégio artificial, concedido pelo estado para alcançar um interesse público e durar um período de tempo – não é um direito natural como possuir uma casa ou uma camisa. Os advogados costumavam reconhecer isso referindo-se ao destinatário desse privilégio como “detentor dos direitos autorais”.
Algumas décadas atrás, os detentores de direitos autorais começaram a tentar reduzir a conscientização sobre esse ponto. Além de citar frequentemente o conceito falso de “propriedade intelectual”, eles também começaram a se chamar de “donos de direitos autorais”. Por favor, junte-se a nós para resistir usando o termo tradicional “detentores de direitos autorais”.
“Economia compartilhada”
O termo “economia compartilhada” ou “economia colaborativa”7 não é uma boa maneira de se referir a serviços como Uber e Airbnb que organizam transações comerciais entre pessoas. Nós usamos o termo “compartilhamento” para nos referirmos à cooperação não comercial, incluindo redistribuição não comercial de cópias exatas de obras publicadas. Estender a palavra “compartilhada” para incluir tais transações enfraquece seu significado, portanto não a usamos neste contexto.
Um termo mais adequado para negócios como o da Uber é “economia de serviço por produção” ou “gig economy”.
“Ecossistema”
Não é recomendado descrever a comunidade de software livre, ou qualquer outra comunidade humana, como um “ecossistema”, pois a palavra implica a ausência de julgamento moral.
O termo “ecossistema” sugere, implicitamente, uma atitude de observação livre de julgamento: não pergunte como algo deve acontecer, apenas estude e entenda o que de fato acontece. Em um ecossistema, alguns organismos consomem outros organismos. Na ecologia, não perguntamos se é certo ou errado que uma coruja coma um rato, ou que um rato coma uma semente, apenas observamos que eles o fazem. A população das espécies cresce ou diminui de acordo com as condições; isso não é nem certo nem errado, é meramente um fenômeno ecológico, mesmo que ele leve à extinção de uma espécie.
Por outro lado, seres que adotam uma postura ética perante aquilo que os cerca podem decidir preservar coisas que, sem sua intervenção, poderiam desaparecer — tais como a sociedade civil, a democracia, os direitos humanos, a paz, a saúde pública, um clima estável, ar puro e água, as espécies em perigo, as artes tradicionais… E as liberdades dos usuários de computador.
“FLOSS”
O termo “FLOSS” (do inglês “Free/Libre and Open Source Software” ou “Software Livre/Libre e de Código Aberto”) foi cunhado como uma maneira de ser neutro entre o software livre e o código aberto. Se a neutralidade é seu objetivo, o termo “FLOSS” é a melhor maneira de ser neutro. Mas se você quer mostrar que defende a liberdade, não use um termo neutro.
“FOSS”
O termo “FOSS”, que significa “Free and Open Source Software” (do inglês “Software Livre e de Código Aberto”), foi cunhado como uma maneira de ser neutro entre o software livre e o código aberto, mas na verdade não é. Se seu objetivo é a neutralidade, o termo “FLOSS” é melhor. Mas se você quer mostrar que defende a liberdade, não use um termo neutro.
Em vez de FOSS, nós dizemos software livre ou software libre.
“Fechado”
A descrição do software não livre como “fechado” refere claramente ao termo “código aberto”. No movimento do software livre, não queremos ser confundidos com a turma do código aberto, portanto temos o cuidado de evitar dizer coisas que possam incentivar que sejamos agrupados com eles. Por exemplo, evitamos descrever o software não livre como “fechado”. Nós o chamamos de “não livre” ou “privativo”.
“Freeware”
Por favor, não use o termo “freeware” como sinônimo de “software livre”. O termo “freeware” era frequentemente usado nos anos 80 para programas publicados apenas como executáveis cujo código fonte não estava disponível. Hoje, ele não tem uma definição em particular com a qual todos concordem.
Quando usar uma língua diferente do inglês, por favor, evite emprestar termos do inglês tais como “free software” ou “freeware.” O melhor é traduzir o termo “free software” para sua língua.
Ao usar uma palavra em sua própria língua, você mostra que você está realmente se referindo à liberdade e não apenas repetindo alguns conceitos misteriosos do marketing estrangeiro. A referência à liberdade pode num primeiro momento parecer estranha ou perturbadora aos seus compatriotas, mas uma vez que eles entendam que ela significa exatamente o que diz, vão entender exatamente qual é a questão.
“Gestão Digital de Direitos”
A “Gestão Digital de Direitos”4 (do inglês “Digital Rights Management”, frequentemente abreviada como “DRM”) se refere a mecanismos técnicos projetados para impor restrições à usuários de computador. A palavra “direitos”, usada no termo, é propaganda arquitetada para pegar-lhe desprevenido e direcionar sua visão para o ponto de vista daqueles poucos que impõe tais restrições, ignorando os direitos do público em geral, sobre o qual essas restrições são impostas.
Entre boas alternativas estão as palavras “Gestão Digital de Restrições” e “algemas digitais.”
Por favor, registre-se para apoiar nossa campanha para abolir o DRM.
“Google”
Por favor, evite usar o termo “google” como um verbo, com o significado de procurar algo na internet. “Google” é apenas o nome de um determinado mecanismo de pesquisa dentre outros. Em vez disso, sugerimos usar o termo “pesquisar na web”. Tente usar um motor de busca que respeite sua privacidade; DuckDuckGo alega não rastrear seus usuários. (Não há um meio para que pessoas de fora verifiquem as alegações daquele tipo.)
“Hacker”
Um hacker é alguém que se diverte com a engenhosidade lúdica – não necessariamente com computadores. Os programadores na antiga comunidade de software livre do MIT nos anos 60 e 70 referiam a si mesmos como hackers. Por volta dos anos 80, os jornalistas que descobriram a comunidade hacker entenderam o termo equivocadamente como “transgressor de segurança”.
Por favor, não espalhe esse erro. Pessoas que burlam a segurança são “crackers”.
“Indústria do Software”
O termo “indústria do software” incentiva as pessoas a imaginarem que o software é sempre desenvolvido em uma espécie de fábrica e depois entregue aos “consumidores.” A comunidade de software livre mostra que esse não é o caso. Empresas de software existem, e várias delas desenvolvem software livre e/ou não livre, mas aquelas que desenvolvem software livre não são geridas como fábricas.
O termo “indústria” está sendo usado como propaganda pelos defensores das patentes de software. Eles chamam o desenvolvimento de software de uma “indústria” e então tentam argumentar que isso significa que ele deveria estar sujeito aos monopólios de patentes. O Parlamento Europeu, ao rejeitar as patentes de software em 2003, votou a definição de “indústria” como “produção automatizada de bens materiais.”
“Internet das Coisas”
Quando as empresas decidiram fabricar aparelhos computadorizados que se conectariam pela internet ao servidor do fabricante e, portanto, poderiam facilmente espionar seus usuários, eles perceberam que isso não soaria muito legal. Então, eles criaram um nome atraente e bonito: a “Internet das Coisas” ou, em inglês, “Internet of Things”.
A experiência mostra que esses produtos frequentemente espionam seus usuários. Eles também são feitos sob medida para dar conselhos tendenciosos às pessoas. Além disso, o fabricante pode sabotar o produto desativando o servidor do qual depende.
Nós chamamos de “Internet das Picadas” ou, em inglês, “Internet of Stings”.
“MP3 Player”
No fim dos anos 90, tornou-se possível criar tocadores de áudio digital com memória em estado sólido. A maior parte tinha suporte ao codec patenteado MP3, e esse ainda é o caso. Alguns tinham suporte a codecs livres de patentes, como o Ogg Vorbis e o FLAC, e outros nem mesmo tinham suporte a arquivos codificados em MP3, pois seus desenvolvedores precisavam se proteger das patentes do formato MP3.
Usar o termo “MP3 players” (ou “tocadores de MP3”) para tocadores de áudio tem o efeito de promover o formato MP3 e de desencorajar os outros formatos (alguns dos quais também são tecnicamente superiores). Ainda que as patentes do MP3 tenham expirado, ainda é indesejável fazer isso.
Nós sugerimos o termo “tocador de áudio digital”, ou simplesmente “tocador de áudio” ou “reprodutor de áudio” quando estiver claro o suficiente, em vez de “MP3 player”.
“Mercado”
É enganoso descrever usuários de software livre, ou usuários de software em geral, como um “mercado”.
Isso não quer dizer que não existe lugar para mercados na comunidade de software livre. Se você tiver um negócio de suporte a software livre, por consequência tem clientes e realiza trocas com eles em um mercado. Desde que você respeite a liberdade de seus clientes, desejamos-lhe sucesso em seu mercado.
Mas o movimento do software livre é um movimento social, não um negócio, e o sucesso que ele busca não é um sucesso de mercado. Estamos tentando servir o público dando liberdade a ele — não competindo para tirar negócios de um rival. Equiparar essa campanha pelo software livre com esforços de uma empresa para atingir mero sucesso é negar a importância da liberdade e legitimar o software privativo.
“Modelo da fonte”
A Wikipédia usar o termo “modelo da fonte” de maneira confusa e ambígua. Ostensivamente, ele se refere a como o código-fonte de um programa é distribuído, mas o texto confunde isso com a metodologia de desenvolvimento. Ele distingue “código aberto” e “código compartilhado” como respostas, mas elas se sobrepõe — a Microsoft usa o último como um termo de marketing para revestir uma série de práticas, algumas das quais são “código aberto.” Assim, o termo na verdade não comunica nenhuma informação coerente, mas provê uma oportunidade para dizer “código aberto” em páginas descrevendo programas de software livre.
“Moderno”
O termo “moderno” faz sentido a partir de uma perspectiva descritiva – por exemplo, apenas para distinguir períodos e caminhos mais novos dos mais antigos.
Torna-se um problema quando carrega a presunção de que os modos mais antigos são “antiquados”; isto é, presumivelmente pior. Nos campos tecnológicos em que as empresas fazem as escolhas e as impõem aos usuários, o inverso é frequentemente verdadeiro.
“Monetizar”
A definição correta de “monetizar” é “usar algo como moeda de troca”. Por exemplo, sociedades humanas monetizaram o ouro, a prata, o cobre, o papel impresso, tipos especiais de conchas e pedras grandes. No entanto, estamos vendo uma tendência de usar a palavra de outra maneira, significando “usar algo como uma base para lucro”.
Esse uso coloca o lucro como primário e a coisa que é usada para obtê-lo como secundária. Essa atitude, quando aplicada a um projeto de software, é contestável, pois ela levaria os desenvolvedores a escreverem programas privativos, se concluírem que escrever programas livres não é suficientemente lucrativo.
Um negócio produtivo e ético pode dar dinheiro, mas se ele subordina tudo mais ao lucro, é pouco provável que irá manter-se ético.
“Opt out”
Quando aplicado a qualquer forma de tratamento incorreto computacional, “opt out” implica que a escolha é uma questão menor de conveniência. Recomendamos “rejeitar”, “evitar” ou “escapar de”.
“PC”
É certo usar a abreviação “PC” para se referir a um certo tipo de hardware de computador, mas por favor não a use com implicando que o computador está rondando o Microsoft Windows. Se você instalar o GNU/Linux no mesmo computador, ela ainda é um PC.
O termo “WC” já foi sugerido para um computador rodando Windows6.
“Photoshop”
Por favor, evite o uso do termo “photoshop” como um verbo que significa qualquer tipo de manipulação de fotos ou edição de imagens em geral. O Photoshop é apenas o nome de um programa de edição de imagens específico que deve ser evitado, já que é privativo. Existem muitos outros programas para a edição de imagens, como o GIMP.
“Pirataria”
Editoras de livros, filmes, música etc. frequentemente se referem às reproduções que não aprovam como “pirataria”. Dessa maneira, eles sugerem que esse ato é eticamente equivalente a atacar navios em alto mar e sequestrar e assassinar a tripulação. Baseado nessa propaganda, elas têm tentado passar leis ao redor do mundo para proibir reprodução na maioria (algumas vezes todas) das circunstâncias. (Elas ainda estão fazendo pressão para deixar essas proibições mais completas.)
Se você acredita que a cópia não aprovada pela editora não é a mesma coisa que o sequestro e o assassinato, talvez prefira não usar a palavra “pirataria” para descrevê-la. Termos neutros, como “cópia não autorizada” (ou “cópia proibida”, quando ela é ilegal), estão disponíveis para o uso. Alguns de nós podem até mesmo preferir o uso de um termo positivo, como “compartilhar informações com seu vizinho.”
Um juiz americano, presidindo um julgamento por violação dos direitos autorais, reconheceu que “pirataria” e “roubo” são apenas palavras difamatórias.
“PowerPoint”
Por favor, evite uso o termo “PowerPoint” para indicar qualquer tipo de
apresentação de slides. “PowerPoint” é apenas o nome de um programa
privativo para fazer apresentações específico. Para o bem de sua liberdade,
você deve usar apenas software livre para fazer suas apresentações — o
que significa não PowerPoint. Opções recomendadas incluem a classe
beamer
do LaTeX e o LibreOffice Impress.
“Produto”
Se você está falando sobre um produto, por favor, chame assim. No entanto, ao se referir a um serviço, não o chame de “produto”. Se um prestador de serviços chamar o serviço de um “produto”, insista firmemente em chamá-lo de “serviço”. Se um prestador de serviços chamar um acordo de “produto”, insista firmemente em chamá-lo de “acordo”.
“Propriedade intelectual”
Editoras e advogados gostam de descrever os direitos autorais como “propriedade intelectual” — um termo aplicado para as patentes, as marcas registradas e outras áreas mais obscuras da lei. Essas leis têm tão pouco em comum e são tão diferentes que é imprudente generalizá-las. É melhor falar especificamente do “direitos autorais”, ou das “patentes”, ou sobre as “marcas registradas”.
O termo “propriedade intelectual” carrega um pressuposto escondido — que devemos pensar sobre essas questões díspares baseado numa analogia com objetos físicos e nossa concepção deles como propriedades físicas.
Quanto se trata da cópia, essa analogia ignora a diferença crucial entre objetos materiais e a informação: a informação pode ser copiada e compartilhada quase sem esforços, já objetos materiais não podem.
Para evitar a difusão da confusão e de uma tendência desnecessária, é melhor adotar uma política firme de não se falar ou sequer pensar em termos de “propriedade intelectual”.
A hipocrisia de chamar esses poderes de “direitos” está começando a deixar a Organização Mundial da “Propriedade Intelectual” envergonhada.
“Proteção”
Advogados de editoras adoram usar o termo “proteção” para descrever os direitos autorais. Essa palavra carrega o sentido da prevenção da destruição ou do sofrimento; assim, ela incentiva que as pessoas se identifiquem com o dono e editora que se beneficiam dos direitos autorais, e não com os usuários que são restritos por ele.
É fácil de evitar o termo “proteção” e usar termos neutros. Por exemplo, ao invés de “A proteção dos direitos autorais dura muito tempo” você pode dizer, “Os direitos autorais duram muito tempo”.
Da mesma forma, ao invés de dizer “protegido por copyright”, você pode dizer “abrangido pelo copyright” ou apenas “com copyright”.
Caso deseje criticar os direitos autorais ao invés de ser neutro, você pode usar o termo “restrições dos direitos autorais”. Assim, você pode dizer “As restrições dos direitos autorais duram por muito tempo”.
O termo “proteção” também é usado para descrever recursos maliciosos. Por exemplo, a “proteção contra cópia” é um recurso que interfere na reprodução. Do ponto de vista do usuário, isso é uma obstrução. Portanto podemos chamar esse recurso malicioso de “obstrução de cópia”. Mais frequentemente ele é chamado de Gestão Digital de Restrições (comumente usamos a sigla em inglês, DRM) – veja a campanha Defective by Design (em português, “Deliberadamente Defeituoso”).
“RAND (Razoável e Não Discriminatório)”
Os órgãos de normatização que promulgam normas restritas por patentes que proíbem software livre tipicamente têm uma política de obtenção de licenças de patente que requer uma taxa fixa por cópia de um programa em conformidade. Eles frequentemente se referem a essas licenças pelo termo “RAND”, que significa “razoável e não discriminatório”.
O termo mascara uma classe de licenças de patente que normalmente não são nem razoáveis, nem não discriminatórias. É verdade que essas licenças não discriminam qualquer pessoa específica, mas elas discriminam contra a comunidade de software livre, o que as torna não razoáveis. Portanto, metade do termo “RAND” é enganadora e a outra metade é preconceituosa.
Os órgãos de normatização deveriam reconhecer que essas licenças são descriminatórias e parar de usar o termo “razoável e não discriminatório” ou “RAND” para descrevê-las. Até lá, escritores que não desejam participar desse mascaramento fariam bem em rejeitar o termo. Aceitá-lo e usá-lo meramente porque as companhias que detém as patentes o tornaram generalizado é permitir que essas companhias ditem as opiniões que você expressa.
Como substituto, sugerimos o termo “apenas taxa uniforme” ou “ATUN” (do inglês “uniform fee only” ou “UFO”). Ele é acurado, pois a única condição nessas licenças é uma taxa uniforme de royalty.
“Roubo”
Os apoiadores de uma forma de copyright demasiadamente restritiva e repressiva geralmente usam palavras como “roubado” e “roubo” para se referir à violação de copyright. Isso é uma manipulação da verdade, mas eles gostariam que você a tomasse como verdade objetiva.
No sistema legal estadunidense, a violação de copyright não é roubo. As leis sobre roubo não são aplicáveis a casos de violação de copyright. Os apoiadores do copyright repressivo estão recorrendo à autoridade — e deturpando o que ela diz.
Para refutá-los, você pode se referir a esse caso real que mostra o que pode ser propriamente descrito como “roubo de copyright”.
A cópia não autorizada é proibida pela lei do copyright em muitas circunstâncias (nem todas!), mas algo não é errado só porque é proibido. Em geral, as leis não definem o que é certo do que é errado. No melhor dos casos, elas tentam implementar a justiça. Se as leis (a implementação) não se encaixam nas nossas ideias de certo e errado (a especificação), elas é que devem mudar.
Um juiz americano, presidindo um julgamento por violação de copyright, reconheceu que “pirataria” e “roubo” são apenas palavras difamatórias.
“SaaS” ou “Software como Serviço”
Costumávamos dizer que o SaaS (abreviação de “Software as a Service,” “Software como Serviço” em português) é uma injustiça, mas então descobrimos que existe uma grande variação no entendimento das pessoas de que atividades contam como SaaS. Assim, passamos a usar um novo termo, “Serviço como Substituto do Software” (do inglês “Service as a Software Substitute” ou “SaaSS”). O termo tem duas vantagens: ele não tinha sido usado anteriormente, então nossa definição é a única, e ele explica no que consiste a injustiça.
Veja A Quem Aquele Servidor Realmente Serve? para uma discussão desse problema.
Em espanhol, continuamos a usar o termo “software como servicio”, porque a piada “software como ser vicio” é boa demais para ser perdida.
“Sistema LAMP”
“LAMP” significa “Linux, Apache, MySQL e PHP” — uma combinação comum de software usada em servidores web, com a exceção de que “Linux” nesse contexto na verdade se refere ao sistema GNU/Linux. Assim, ao invés de “LAMP”, o termo deveria ser “GLAMP”: “GNU, Linux, Apache, MySQL e PHP”.
“Sistema Linux”
Linux é o nome do kernel que Linus Torvalds desenvolveu a partir de 1991. O sistema operacional no qual o Linux é usado é basicamente o GNU com o Linux acrescentado. Chamar o sistema inteiro de “Linux” é tanto injusto quanto confuso. Por favor, chame o sistema completo de GNU/Linux, tanto para dar crédito ao Projeto GNU quanto para distinguir o sistema inteiro de apenas o kernel.
“Skype”
Por favor, evite usa o termo “skype” como um verbo que significa fazer qualquer tipo de chamada telefônica ou de vídeo pela Internet. “Skype” é apenas o nome de um programa privativo em particular, um que espiona seus usuários. Se você quiser fazer chamadas de voz e vídeo através da Internet de uma forma que respeite tanto sua liberdade quanto sua privacidade, experimente um dos inúmeros substitutos livres do Skype.
“Vendedor”
Por favor, não use o termo “vendedor” para se referir de maneira geral a qualquer pessoa que desenvolve ou prepara software para distribuição. Muitos programas são desenvolvidos para vender cópias, e seus desenvolvedores são portanto seus vendedores; isso inclui até mesmo alguns pacotes de software livre. No entanto, muitos programas são desenvolvidos por voluntários ou organizações que não pretendem vender cópias. Esses desenvolvedores não são vendedores. Da mesma maneira, apenas alguns dos empacotadores de distribuições GNU/Linux são vendedores. Ao invés disso, recomendamos o termo geral “fornecedor”.
“Vender software”
O termo “vender software” é ambíguo. Estritamente, trocar a cópia de um programa livre por uma quantia de dinheiro é vender o programa, e não há nada de errado com isso. No entanto, as pessoas geralmente associam o termo “vender software” com restrições privativas no uso subsequente do software. Você pode ser claro e prevenir confusões dizendo tanto “distribuir cópias de um programa por uma taxa” ou “impor restrições privativas no uso de um programa.”
Veja Vendendo Software Livre para uma discussão mais aprofundada sobre o assunto.
“do tipo BSD”
A expressão “do tipo BSD” (do inglês “BSD-style”) leva à confusão, pois ela aglomera licenças que têm diferenças importantes. Por exemplo, a licença BSD original possui uma cláusula advertindo que é incompatível com a Licença Pública Geral GNU, mas a licença BSD revisada é compatível com a GPL.
Para evitar confusões, é melhor nomear especificamente a licença em questão e evitar o termo vago “do tipo BSD”
“licenciado em Creative Commons”
A característica mais importante do licenciamento de uma obra é se ela é livre. A Creative Commons publica sete licenças; três são livres (CC BY, CC BY-SA e CC0) e o resto é não livre. Portanto, a descrição de uma obra como “licenciada em Creative Commons” fracassa em dizer se ela é livre ou não, e sugere que essa questão não é importante. A frase pode ser verdade, mas a omissão é nociva.
Para incentivar que se preste atenção à distinção mais importante, sempre especifique qual licença Creative Commons é usada, por exemplo “licenciado sob CC BY-SA.” Se você não sabe qual licença foi usada, descubra e depois faça sua declaração.
Este ensaio foi publicado em Software Livre, Sociedade Livre: Artigos Selecionados de Richard M. Stallman.