Tuesday, January 28, 2014

Igualdade e natureza humana

No Portugal Contemporâneo, Joaquim Couto e Carlos Guimarães Pinto estão entretidos a discutir se as tendências igualitárias são intrinsecas à natureza humana.

Dois posts de Joaquim Couto:

Analisados os argumentos em debate, subsiste uma dúvida que nem Marx, nem Engels, nem o CGP esclareceram: se o Homo Sapiens viveu numa espécie de comunismo primitivo durante a maior parte da sua existência e se os genes dos que contrariavam o igualitarismo não sobreviveram, porque é que o comunismo não se tornou no sistema político e económico predominante e de maior sucesso?
e

Tem alguma relevância tentar compreender se o Homo Sapiens é geneticamente igualitário ou se, pelo contrário, convive bem com a desigualdade desde que haja sentido de equidade e de justiça?

Para mim tem imensa relevância porque gosto de pensar que a minha visão libertária do mundo corresponde, o melhor possível, à chamada natureza humana. (...)

Se sonharmos com um futuro contrário à natureza humana (utopia), temos de armar a guilhotina, porque só pela força o vamos conseguir impor. Foi isso que aconteceu aos diversos socialismos que varreram o mundo, deixando dezenas de milhares de mortos pelo caminho.

Se o nosso sonho porém for ao encontro da natureza humana, como eu penso que o libertarianismo (e provavelmente o catolicismo) vai, então podemos remeter a guilhotina para um museu de horrores e contemplar um futuro em que cada um seja livre de buscar a sua própria felicidade (reparem como não há igualdade na felicidade...).

Como libertário, eu penso que estou em sintonia com a natureza humana e com o sucesso do Homo Sapiens na Terra. Caso contrário teria de rever toda a minha filosofia de vida.

Parece-me que o Joaquim Couto não se apercebe da contradição em que está a cair - se o facto de o comunismo não ser o sistema social dominante na história humana demonstra que não a natureza humana não é comunista/igualitária, exactamente o mesmo se aplica ao "libertarianismo" - podemos discutir muito sobre como foi a pré-história humana, mas não há duvida que a história (pós-invenção da escrita) foi feita de escravatura, servidão, camponeses a pagaram tributos (às vezes de 2/3 da produção) a imperadores e senhores feudais, guildas profissionais e limitarem o acesso a profissões, etc., etc. O único período na história a haver algo parecido com o liberalismo (imagino que seja isso que que o Joaquim Couto quer dizer com "libertarianismo") foi na Europa Ocidental e na América do Norte no século XIX - antes disso vigorava a redistribuição forçada de baixo para cima, e a partir do século XX passou a vigorar (nessas regiões - no resto do mundo creio que continuou a ser o modelo tradicional) a redistribuição forçada de cima para baixo (o chamado "Estado Social").

Wednesday, January 22, 2014

anarquistas

O Jeffrey Tucker está a pedir contribuição para uma lista de anarquistas (sim, a maior parte, "property rights anarchists" embora com variantes várias) "proeminentes", se alguém se lembrar de alguém adequado de língua portuguesa... A lista está assim: Prominent Anarchists living or dead (please add them alphabetically!) Edward Paul Abbey Mikhail Bakunin Randy Barnett Tom Bell Bruce Benson Nikolai Berdyaev Alexander Berkman Jeff Berwick Amanda Billyrock Étienne de La Boétie Bob Black Peter Boettke Murray Bookchin Gunther Bornkamm Julie Borowski Greg Boyd Walter Block Antonio Buehler Bryan Caplan Art Carden Kevin Carson Doug Casey Gerard Casey Gary Chartier Charlie Chaplin Roy Childs Frank Chodorov Noam Chomsky Jesus Christ Alexandre Christoyannopoulos Voltairine de Cleyre James Corbett Christopher Coyne Scott Crow Leon Frank Czolgosz Daniel D’Amico Dorothy Day Graham Dugas Frank Van Dun Howard Ehrlich Vernard Eller Jacques Ellul Ralph Waldo Emerson Lorenzo Kom'boa Ervin Paul Feyerabend Jim Fleming Doug French David Friedman Patri Friedman David Galland Luigi Galleani Jerry Garcia William Gillis William Godwin Emma Goldman Paul Goodman David Gordon David Graeber Anthony Gregory Walter Grinder John Hagel David Hart Woody Harrelson John Hasnas Martin Hengel Jeff Herbener Auberon Herbert Karl Hess Ezra Heywood Robert Higgs Thomas Hodgskin Hans-Hermann Hoppe Scott Horton Steven Horwitz Jacob Huebert Michael Huemer Jörg Guido Hülsmann Anne Hutchinson Anthony de Jasay Charles Johnson Peter Joseph Angela Keaton Soren Kierkegaard Daniel Klein Bruce Koerber Adam Kokesh Samuel Edward Konkin III Peter Kropotkin Gustav Landauer Wolfi Landstreicher Donald Lavoie Peter Leeson Robert LeFevre Leonard Liggio Roderick Long John Joseph Lydon John Henry Mackay James J. Martin Emmanuel Charles McCarthy Wendy McElroy Anna Martin Peter Maurin Gustave de Molinari Stefan Molyneux Alan Moore Johann Most Erich Mühsam Robert Murphy Satoshi Nakamoto Jan Narveson Andrew Napolitano Saul Newman Albert Jay Nock Michael Ohanian Franz Oppenheimer David Osterfeld Lucy Parsons Pelagius Ernestine Perkins Fredy Perlman Richard Perkins Catherine Pickstock Pierre-Joseph Proudhon David Prychitko John Pugsley Paul Émile de Puydt Ralph Raico Justin Raimondo Kenneth Rexroth Sheldon Richman Rudolf Rocker Lew Rockwell Larken Rose Murray Rothbard Mary J. Ruwart, PhD Nicola Sacco J Neil Schulman George Selgin Butler Shaffer George H. Smith L Neil Smith Vernon Smith Joseph Sobran Rebecca Solnit Jesus Huerto de Soto Herbert Spencer Lysander Spooner Porter Stansberry Ben Stone Max Stirner Edward Stringham William Graham Sumner Morris and Linda Tannehill Peter Andreas Thiel Mark Thornton Henry David Thoreau J.R.R. Tolkien Leo Tolstoy Jerome Tuccille Benjamin Tucker Jeffrey Tucker Kevin Tucker Ross Ulbricht Laurence Vance Bartolomeo Vanzetti Brett Veinotte James L. Walker Colin Ward Josiah Warren Carl Watner Cody Wilson Robert Anton Wilson Claire Wolfe Jarret B. Wollstein Thomas E. Woods Jr. Robert Paul Wolff John Zerzan Zhuangzi Neil Roberts

Monday, January 20, 2014

Acerca d'«Os Filhos do Rock»

Um dos personagens é um caso claro de Not Even Bothering with the Accent

O Blasfémias e a co-adopção

é curioso como o Blasfémias está cheio de posts sobre a discussão sobre a co-adopção, mas sem, aparentemente, os seus bloggers tomarem partido sobre a co-adopção propriemente dita (no caso específico da Helena Matos, parece-me comprovar a minha tese de que ela parece mais empenhada em criticar as posições da esquerda do que em apresentar as posições dela).

Friday, January 17, 2014

As classes sociais nos EUA face à guerra do Vietname

Hardhats for Peace, College Kids for War, por Jesse Walker (Reason):

The incident itself, in which rampaging New York construction workers beat up hippies and demanded that City Hall raise the American flag, is a piece of historical trivia; most Americans born after it have little inkling that it occurred, and even the people who were around at the time are likely to be hazy on the details. But the image of a pro-war worker in a hardhat punching a privileged protester is enshrined in our cultural memory. It's what the late '60s and early '70s were supposed to look like: college kids who hated the Vietnam War and blue-collar patriots who loved the flag. (...)

In Hardhats, Hippies, and Hawks, her new study of social class and public opinion during the war, the CUNY sociologist Penny Lewis doesn't destroy that image so much as she adds all the missing images that complicate it. (...)

For one thing, the picture changes radically if you stop focusing on public movements and instead look at public sentiments. Throughout the Vietnam era, Lewis demonstrates, studies of public opinion showed that "working-class people were never more likely than their middle-class counterparts to support the war, and in many instances, they were more likely to oppose it." Americans with just a grade school education were more likely to favor withdrawal than Americans who had gone to college; only at the very high end of the education ladder, among people with advanced degrees, did dovishness begin to creep up in popularity again.

The movement also changed over time. Antiwar activists broadened their base. The "prairie power" wing of the New Left brought more working- and lower-middle-class students to the marches and teach-ins. Black and Mexican protest groups, which tended not to be as middle-class as their white counterparts, called for withdrawal. Some unions turned against the war, though the majority stood by the Pentagon. Antiwar action even took hold in parts of the military itself, sometimes in the form of traditional activism and sometimes just in the form of skin-saving disobedience. (That last item may seem unimportant, but it arguably did much more to influence the actual conduct of the war than any marches on the homefront.)

(...)

The very figure of the hardhat is itself a stereotype. Lewis doesn't mention it, but by the 1970s several hardhats were hippies—not in the sense of living in country communes or trying to drop out of mainstream society, but in the sense of growing their hair longer, listening to rock music, maybe smoking a little pot, and otherwise behaving in ways that might have gotten them beaten up at the Hard Hat Riot. While Lewis neglects that cultural convergence, she does delve into the complicated, contradictory strands of working-class politics in this period, crediting the historian Jefferson Cowie with the observation that white workers in the '70s were "vigorously left, right, and center." (She misattributes the line—Cowie was quoting Michael Harrington.) This is a favorite topic for scholars of recent American history, who are frequently fascinated by the fact that rank-and-file labor militance was on the rise at the same time that figures like George Wallace were able to find a blue-collar audience.

"Bullying" vs "porrada na escola"

No Estado Sentido, Fernando Melro Santos escreve que "bullying [é] aquela prática de andar à porrada na escola, agora tão obsoleta".

Acho que o FMS está a confundir conceitos - "bullying" não é a velha "prática de andar à porrada na escola"; "bullying" é a (também velha) prática de haver um aluno que é regularmente vitima de gozos e de "partidas" de mau gosto por parte dos outros (seria interessante comparar a incidência relativa do "bullying" e da "porrada" por vários meios sociais e geográficos; quase que apostaria que o "bullying" cresce e a "porrada" decresce com a urbanização); o "bullying" pode degenerar em "andar à porrada", mas normalmente só quando a vítima reage (os casos de "bullying" que passam a "andar a porrada" não devem ser muitos, já que suspeito que uns dos critérios para a "escolha" da vítima de "bullying" é exactamente a aparente baixa probabilidade de esta reagir de uma maneira que faça o "bullying" passar a "porrada").

Escolaridade obrigatória e liberdade

Na Quadratura do Circulo de ontem à noite, toda a gente bateu na proposta da JP de reduzir a escolaridade obrigatória para o 9º ano por esta defender isso com o argumento da "liberdade"; segundo os comentadores, esse argumento serviria para acabar com a escolaridade obrigatória, não para a reduzir.

Se estivermos a falar de "liberdade das famílias", se calhar têm razão; mas se estivermos a falar de "liberdade individual", é perfeitamente possivel, em seu nome, defender a redução da escolaridade obrigatória para o 9º ano sem defender a sua abolição - é só assumir que alguém que já tem o 9º ano tem mais capacidade (seja pela idade, seja por ter mais conhecimentos) para tomar decisões por si do que alguém que ainda nunca foi à escola, e portanto é o primeiro já deve ter acesso a certas liberdades que ainda estejam vedadas ao segundo.

Thursday, January 16, 2014

O paradoxo das eleições europeias

As grandes questões da politica a seguir pela União Europeia são decididas nas eleições nacionais. As eleições para o Parlamento Europeu acabam por ter relevância sobretudo para a politica interna de cada estado-membro.

The real effects of the European elections may be felt in London and Edinburgh rather than in Brussels (The Monkey Cage):

While the role of the European Parliament (EP) has grown significantly in the past decades, and particularly with the 2009 Lisbon Treaty, the European Parliament remains the weakest link in the E.U. power triangle. Although it has now become a co-lawmaker, the political agenda is still mainly set by the European Commission and approved by the European Council. Consequently, as the late Peter Mair already noted in a seminal article (pay wall) in 2000, the paradox of E.U. politics is that if you want to influence the European level, you have to vote in national elections. After all, it is at the national level that the members of the European Council and the European Commission are decided. In that sense, the 2013 German parliamentary elections were probably more important for E.U. politics than the 2014 European elections will be.

In a similar paradox, the importance of the European elections will not so much be at the European level, but at the national level of some E.U. member states. Journalists and politicians use the European elections often as a barometer of public opinion.

Tuesday, January 14, 2014

A propósito da escolaridade

Conversa da minha mãe com o meu melhor amigo da altura, quando tinhamos ambos 11 anos (ele era dos melhores alunos da turma na 4ª classe, mas tornou-se um péssimo aluno - tanto em notas como em comportamento - no 1º ano do ciclo):

Meu amigo - Eu quero ser electricista

Minha mãe - Mas não queres estudar mais?

Meu amigo - Quero, mas quero estudar aquilo que quero

Nesse tempo o ensino obrigatório era até ao 6º ano, mas ele ainda ficou mais uns anos na escola, no ensino noturno; nessa altura, outro dos meus amigos, que também chumbou no 1º ano do ciclo, deixou de estudar e foi procurar emprego na construção civil (acabou por fazer vida como talhante), mas esse já devia ter uns 15 ou 16 anos na altura.

Atenção que eu não estou a defender que crianças de 11 anos possam deixar a escola e/ou escolher o que querem aprender, mas por outro que direito temos nós de forçar jovens como esses meus amigos de infância a estudarem coisas que eles não querem estudar (ainda mais que, nessa altura, as coisas que eu preferia estudar também não eram as que eram dadas na escola)?

Sunday, January 12, 2014

A proposta da JP de redução da escolaridade obrigatória

Pelos blogs que tenho lido, parece haver uma indignação generalizada contra a proposta da "Juventude Popular" de voltar a colocar a escolaridade obrigatória no 9º ano.

É curioso como as coisas mudam - uma ideia (escolaridade obrigatória até ao 9º ano) que até há pouco tempo era a lei vigente, passou em para aí dois anos a ser vista como algo de "monstruoso".

Já agora, relembro alguns posts que escrevi sobre o assunto:

Sobre a escolaridade obrigatória (Agosto de 2006)

Os alunos que não querem tirar o 12º ano (Abril de 2009)

Ainda a escolaridade obrigatória e Continuando com a escolaridade obrigatória (Abril / Maio de 2009)

Há prejuízos sociais na educação? - II (Setembro de 2010)

Saturday, January 11, 2014

Os quadros de Miró e Crivelli

Qualquer quadro, pintando em qualquer lugar por qualquer pintor de qualquer nacionalidade, deve ficar para todo o sempre em Portugal caso, por qualquer motivo, entre em território nacional - findo o Império, é a hora de Portugal abraçar a sua vocação imanente: tornar-se a galeria de arte do mundo inteiro.

Talvez nem fosse má ideia que nos aeroportos houvesse funcionários a revistar as bagagens dos turistas e imigrantes, a fim de descobrir se, quando entram no país, trazem algum quadro com eles (nessas situações, impõe-se que, com a máxima urgência, o quadro em questão seja declarado património de interesse nacional, antes que os visitantes decidam sair de Portugal levando quadro de volta).

Wednesday, January 08, 2014

"Homem caucasiano"

Ontem, no "CSI", um personagem falava (a respeito de um assassinado) em "white male", que nas legendas se transformou em "homem caucasiano".

Pelo que sei, o uso da expressão "caucasiano" ("caucasian") para designar aquilo que vulgarmente se chama "branco" (ambas as expressões não têm grande base científica - nem a população em questão é de cor branca, nem tem especialmente nada a ver com o Cáucaso) era um hábito tipicamente norte-americano (a palavra "caucasóide" foi inventada na Europa mas caiu em desuso, vindo a ressuscitar nos EUA como "caucasiano"). Mas pelos visto a palavra "deu a volta", e agora é em Portugal que "white" é traduzido para "caucasiano"...