No Portugal Contemporâneo, Joaquim Couto e Carlos Guimarães Pinto estão entretidos a discutir se as tendências igualitárias são intrinsecas à natureza humana.
Dois posts de Joaquim Couto:
Analisados os argumentos em debate, subsiste uma dúvida que nem Marx, nem Engels, nem o CGP esclareceram: se o Homo Sapiens viveu numa espécie de comunismo primitivo durante a maior parte da sua existência e se os genes dos que contrariavam o igualitarismo não sobreviveram, porque é que o comunismo não se tornou no sistema político e económico predominante e de maior sucesso?e
Tem alguma relevância tentar compreender se o Homo Sapiens é geneticamente igualitário ou se, pelo contrário, convive bem com a desigualdade desde que haja sentido de equidade e de justiça?
Para mim tem imensa relevância porque gosto de pensar que a minha visão libertária do mundo corresponde, o melhor possível, à chamada natureza humana. (...)
Se sonharmos com um futuro contrário à natureza humana (utopia), temos de armar a guilhotina, porque só pela força o vamos conseguir impor. Foi isso que aconteceu aos diversos socialismos que varreram o mundo, deixando dezenas de milhares de mortos pelo caminho.
Se o nosso sonho porém for ao encontro da natureza humana, como eu penso que o libertarianismo (e provavelmente o catolicismo) vai, então podemos remeter a guilhotina para um museu de horrores e contemplar um futuro em que cada um seja livre de buscar a sua própria felicidade (reparem como não há igualdade na felicidade...).
Como libertário, eu penso que estou em sintonia com a natureza humana e com o sucesso do Homo Sapiens na Terra. Caso contrário teria de rever toda a minha filosofia de vida.
Parece-me que o Joaquim Couto não se apercebe da contradição em que está a cair - se o facto de o comunismo não ser o sistema social dominante na história humana demonstra que não a natureza humana não é comunista/igualitária, exactamente o mesmo se aplica ao "libertarianismo" - podemos discutir muito sobre como foi a pré-história humana, mas não há duvida que a história (pós-invenção da escrita) foi feita de escravatura, servidão, camponeses a pagaram tributos (às vezes de 2/3 da produção) a imperadores e senhores feudais, guildas profissionais e limitarem o acesso a profissões, etc., etc. O único período na história a haver algo parecido com o liberalismo (imagino que seja isso que que o Joaquim Couto quer dizer com "libertarianismo") foi na Europa Ocidental e na América do Norte no século XIX - antes disso vigorava a redistribuição forçada de baixo para cima, e a partir do século XX passou a vigorar (nessas regiões - no resto do mundo creio que continuou a ser o modelo tradicional) a redistribuição forçada de cima para baixo (o chamado "Estado Social").