Wednesday, December 31, 2014

Esquerda caviar?

Uma passagem de "Um Piano nas Barricadas: Autonomia operária (1973-1979)", de Marcello Tarì:

Em Milão os colectivos autónomos começam a mover-se num terreno mais ofensivo no que toca às auto-reduções e a levar a cabo expropriações nos supermercados.

A história dos exproprios milaneses – a partir do que ocorreu nos supermercados de Quarto Oggiaro e da Via Padova em 1974 – é magistralmente evocada em Insurrezione, o romance auto-biográfico de Paolo Pozzi, à época chefe de redacção de “Rosso”, que, para além da narrativa divertida, permite também apreciar os seus aspectos “técnicos”: enquanto a maioria dos expropriadores roubava as mercadorias, um grupo ocupava-se a cortar a linha telefónica da loja e outro permanecia do lado de fora, armado com cocktails molotov para o caso de se aproximarem viaturas da polícia e de ser necessário cobrir a saída dos companheiros (Paolo Pozzi, Insurrezione, DeriveApprodi, Roma, 2007). Mas a autonomia não roubava apenas massa, carne e azeite, como pretendiam os marxistas-leninistas, mas também whisky, caviar, salmão e todas as mercadorias de luxo que, segundo uma moral partilhada também pelos grupos, não faziam ou não deveriam fazer parte da vida proletária. Os exproprios, a “reapropriação” no sentido praticado pelos autónomos, não eram simplesmente acções de alto significado político-social, aludiam a uma riqueza finalmente partilhada, a uma necessidade que era destruída na satisfação de um desejo, a um tomar pela força parte daquela outra força que o capital te roubava cada dia; e à noite, depois da expropriação, fazia-se a festa partilhando o caviar e o champanhe francês: apropriavam-se as mercadorias para aniquilar o seu maléfico poder simbólico.

Tuesday, December 30, 2014

O que faria uma super-inteligência artificial?

Paul Krugman (em entrevista a Ezra Klein) sobre o alegado perigo de uma super-inteligência artificial vir a dominar os humanos:

"one thing we might find out if we produce something that is vastly analytically superior is it ends up going all solipsistic and spending all its time solving extremely difficult and pointless math problems"

As línguas mais estranhas do mundo

The weirdest languages (Idibom) [2017/02/19 - link provavelmente morto - cópia aqui, no site Hackerfall]

The World Atlas of Language Structures evaluates 2,676 different languages in terms of a bunch of different language features. These features include word order, types of sounds, ways of doing negation, and a lot of other things—192 different language features in total.

So rather than take an English-centric view of the world, WALS allows us take a worldwide view. That is, we evaluate each language in terms of how unusual it is for each feature. For example, English word order is subject-verb-object—there are 1,377 languages that are coded for word order in WALS and 35.5% of them have SVO word order. Meanwhile only 8.7% of languages start with a verb—like Welsh, Hawaiian and Majang—so cross-linguistically, starting with a verb is unusual. For what it’s worth, 41.0% of the world’s languages are actually SOV order. (Aside: I’ve done some work with Hawaiian and Majang and that’s how I learned that verbs are a big commitment for me. I’m just not ready for verbs when I open my mouth.)

The data in WALS is fairly sparse, so we restrict ourselves to the 165 features that have at least 100 languages in them (at this stage we also knock out languages that have fewer than 10 of these—dropping us down to 1,693 languages).

Now, one problem is that if you just stop there you have a huge amount of collinearity. Part of this is just the nature of the features listed in WALS—there’s one for overall subject/object/verb order and then separate ones for object/verb and subject/verb. Ideally, we’d like to judge weirdness based on unrelated features. We can focus in on features that aren’t strongly correlated with each other (between two correlated features, we pick the one that has more languages coded for it). We end up with 21 features in total.

For each value that a language has, we calculate the relative frequency of that value for all the other languages that are coded for it. So if we had included subject-object-verb order then English would’ve gotten a value of 0.355 (we actually normalized these values according to the overal entropy for each feature, so it wasn’t exactly 0.355, but you get the idea). The Weirdness Index is then an average across the 21 unique structural features. But because different features have different numbers of values and we want to reduce skewing, we actually take the harmonic mean (and because we want bigger numbers = more weird, we actually subtract the mean from one). In this blog post, I’ll only report languages that have a value filled in for at least two-thirds of features (239 languages).

The outlier (weirdest) languages

The language that is most different from the majority of all other languages in the world is a verb-initial tonal languages spoken by 6,000 people in Oaxaca, Mexico, known as Chalcatongo Mixtec (aka San Miguel el Grande Mixtec). Number two is spoken in Siberia by 22,000 people: Nenets (that’s where we get the word parka from). Number three is Choctaw, spoken by about 10,000 people, mostly in Oklahoma.

But here’s the rub—some of the weirdest languages in the world are ones you’ve heard of: German, Dutch, Norwegian, Czech, Spanish, and Mandarin. And actually English is #33 in the Language Weirdness Index.

The 25 weirdest languages of the world. In North America: Chalcatongo Mixtec, Choctaw, Mesa Grande Diegueño, Kutenai, and Zoque; in South America: Paumarí and Trumai; in Australia/Oceania: Pitjantjatjara and Lavukaleve; in Africa: Harar Oromo, Iraqw, Kongo, Mumuye, Ju|’hoan, and Khoekhoe; in Asia: Nenets, Eastern Armenian, Abkhaz, Ladakhi, and Mandarin; and in Europe: German, Dutch, Norwegian, Czech, and Spanish.

By the way, how awesome of a name is “Pitjantjatjara“? (Also: can you guess which one of the internal syllables is silent?)

(...)

This is odd. Is this odd? One of the features that distinguishes languages is how they ask yes/no questions.The vast majority of languages have a special question particle that they tack on somewhere (like the ka at the end of a Japanese question). Of 954 languages coded for this in WALS, 584 of them have question particles. The word order switching that we do in English only happens in 1.4% of the languages. That’s 13 languages total and most of them come from Europe: German, Czech, Dutch, Swedish, Norwegian, Frisian, English, Danish, and Spanish.

But there is an even more unusual way to deal with yes/no questions and that’s what Chalcatongo Mixtec does: which is to do nothing at all. It is the only language surveyed that does not have a particle, a change of word order, a change of intonation…There is absolutely no difference between an interrogative yes/no question and a simple statement. I have spent part of the day imagining a game show in this language.

The 5 least weird languages in the world

(...)

At the very very bottom of the Weirdness Index there are two languages you’ve heard of and three you may not have: Hungarian, normally renowned as a linguistic oddball comes out as totally typical on these dimensions. (I got to live in Budapest last summer and I swear that Hungarian does have weirdnesses, it just hides them other places.) Chamorro (a language of Guam spoken by 95,000 people), Ainu (just a handful of speakers left in Japan, it is nearly extinct), and Purépecha (55,000 speakers, mostly in Mexico) are all very normal. But the very most super-typical, non-deviant language of them all, with a Weirdness Index of only 0.087 is Hindi, which has only a single weird feature.

Part of this is to say that some of the languages you take for granted as being normal (like English, Spanish, or German) consistently do things differently than most of the other languages in the world. It reminds me of one of the basic questions in psychology: to what extent can we generalize from research studies based on university students who are, as Joseph Henrich and his colleagues argue, Western Educated Industrialized Rich and Democratic. In other words: sometimes the input is WEIRD and you need to ask yourself how that changes things.

Duas observações:

- é natural que tento em inglês como em frisão, holandês, alemão, dinamarquês, sueco e norueguês se troque a ordem das palavras quando se faz uma pergunta, já que essas linguas mais ou menos derivam umas das outras (o curioso aqui será também se usar isso em espanhol e checo, e já agora, pelos vistos, não se usar em islandês)

- dá-me a ideia que os autores avaliaram a estranheza de uma lingua vendo em quantas línguas no mundo apareciam as características da língua em questão; mas penso que faria sentido ponderar pelo número de falantes (no texto não se diz explicitamente se se fez isso ou não, mas dá-me a ideia que não) - afinal, se uma dada construção gramatical for usada em poucas línguas, mas essas línguas forem muito faladas, será que faz sentido dizer que essa contrução é rara ou "estranha"?

Monday, December 29, 2014

O que pode um governo SYRIZA fazer?

Como já se esperava, vai haver eleições na Grécia. Há fortes hipoteses de uma vitória do SYRIZA; a questão, agora, é o que poderá suceder com um governo da "esquerda radical".

É um dado assente que um governo do SYRIZA vai tentar renegociar a dívida - agora que caminhos tal pode seguir:

1) A hipotese mais otimista é que a UE aceite a renegociação; nesta situação o novo governo poderá sem grandes problemas aumentar os gastos sociais, eliminar alguns impostos extraordinários entretanto lançados, etc; não é claro que se nestas eleições o SYRIZA continua com o seu programa de renacionalizar as empresas privatizadas e de apoiar a re-abertura pelos trabalhadores de empresas entretanto encerradas, mas é possível que sim. A nivel europeu, provavelmente a renogociação da dívida grega abrangerá também a dos outros estados endividados (como Portugal), e poderá criar condições para a Europa sair definitivamente da crise económica, com o fim das políticas de austeridade.

2) A hipotese mais provável é que a UE não aceite renegociar a dívida; nesse caso, o governo grego poderá, ou "conformar-se com a realidade" e manter as políticas anteriores (à François Hollande?), ou responder com uma moratória unilateral aos pagamentos da dívida.

3) Caso o novo governo grego prossiga a mesma política, em breve perderá a sua base de apoio, e o descontentamento popular irá passar a ser representado, ou pelos anarquistas, ou pela Aurora Dourada (talvez seja pessimismo da minha parte, mas imagino mais facilmente que a Grécia vire para o lado dos segundos do que dos primeiros...). A nível europeu, isso representará um fim definitivo dos partidos de "esquerda alternativa", estilo BE, Die Linke, Podemos, etc., já que não conseguirão responder à pergunta "o que fariam diferente do que na Grécia?" (e, também a nível europeu, imagino que o descontantamente será mais capitalizado pela extrema-direita do que pela ideia de criar um novo sistema político em que não haja governantes e governados, e assim os primeiros já não poderão trair os segundos).

4) No caso de uma moratória ao pagamento da dívida (que lançará o caos no sistema financeiro internacional, não só pela Grécia, mas também pela possibilidade de outros países seguirem o caminho), a UE pode reagir de 3 maneiras: finalmente aceitar uma renogociação da dívida (e aí voltamos ao ponto 1); ou o BCE deixa de fornecer liquidez aos bancos gregos; ou a UE simplesmente não faz nada.

5) Não é muito claro se o BCE pode simplesmente decidir deixar de emprestar dinheiro aos bancos gregos (recorde-se que os tratados constituitivos da UE não prevêm a possibilidade de um país ser expulso do euro); poderão argumentar que, com o default, a dívida grega passa a valer zero e portanto os bancos gregos já não cumprem os rácios de capital, mas confesso que não sei se, neste momento, os bancos gregos detêm ainda muita dívida pública grega, ou se está já está quase toda nas mãos do UE e do FMI (além de que, se fosse por esse argumento, teriam que deixar de fornecer liquidez a todos os bancos muito expostos à dívida grega, e não apenas aos gregos); de qualquer forma, se o BCE deixar de fornecer liquidez à banca grega, o governo grego terá duas hipoteses: ficar mesmo assim no euro, ou preparar a saída e o lançamento de uma moeda própria.

6) Permanecer no euro mesmo sem o BCE dar suporte aos bancos gregos não é totalmente impossível: afinal, países que nem sequer é suposto fazerem parte da zona euro, como o Montenegro e o Kosovo, usam o euro como moeda oficial (tal como vários países - incuindo alguns supostamente "anti-EUA" como o Equador - usam o dólar); no entanto levantaria problemas os bancos locais funcionarem sem puderem recorrer ao BCE como prestamista de ultima instância, e no caso grego haveria também o problema adicional de a expetativa seria que talvez deixasse completamente o euro (ao contrário do Montenegro e do Kosovo, em que a expetativa é um dia virem a ser membros da UE e da zona euro) o que poderia desencadear uma corrida aos bancos para levantar os euros antes que fosse tarde demais (ou seja, provavelmente seria necessário, nem que temporariamente, impor limites ao levantamento de dinheiro, tal como foi feito em Chipre)

7) Sobre as consequências da saída do euro já se escreveu tanto que não há muito a dizer; politicamente, poria em grandes dificuldades o governo do SYRIZA, que se tem apresentado como pretendendo manter a Grécia no euro (suspeito que a saída do euro só seria possível com um referendo) - e se a moratória à dívida não dar origem ao caos previsto no ponto 4, a saída da Grécia do euro provocaria-o de certeza (também neste caso, sobretudo pelo efeito de "precedente" - a partir do momento em que se toma consciência real que um país pode sair do euro, a confiança neste seria bastante abalada). Finalmente, recorde-se que, de acordo com os tratados, uma saída do euro obrigaria a uma saída da UE.

8) Finalmente, no caso de a UE não reagir à moratória grega, talvez não houvesse grande problema - a Grécia tem um superavit primário, logo poderia dispensar os mercados financeiros e ainda afrouxar um pouco a austeridade.

Todos os cenários acima descritos foram feitos abstraindo de condicionantes internas à politica do hipotético governo SYRIZA, como coligações de governo (uma coligação com os social-democratas do Potami, com os comunistas eurocéticos do KKE ou com os Gregos Independentes da direita nacionalista com certeza não seria indiferente em termos de percursos a escolher), ameaças de golpes de estado, etc.

De qualquer forma, suspeito que 2015 será um ano decisivo para a Europa, em que vai acabar a fase do "empurrar com a barriga" e, ou se finalmente avança para uma politica coordenada de combate à crise (em vez de uma politica coordenada de deprimir a economia via austeridade), ou a UE se começa a desagregar.

[Esquema do post inspirado neste]

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Capitalismo e Rendimento Básico Incondicional

Basic income vs capitalism, por Chris Dillow:

On the one hand, the merits of a guaranteed income for all seem clear:

- It would be simple to administer, which should appeal to governments wanting to cut "wasteful" public spending.

- In giving an unconditional income to all, workers would be able to take on insecure jobs, training, internships or zero-hours jobs without fear of losing their benefits. In this sense, A BI underpins the flexible labour market.

- A BI could free people to do voluntary work, thus helping to promote the "Big Society."

- In replacing tax credits, A BI could well be associated with lower marginal withdrawal rates (pdf) than at present. This could increase work incentives.

The case for some kind of BI, then, seems strong. And herein lies my paradox. If the case is so strong, why has it for years not been considered by the main political parties, other than the Greens?

It's not obviously because it's unaffordable. I reckon a BI of around £130 per week - £20 more than the basic state pension and almost twice the JSA rate - could be paid for by scrapping current spending on social security and tax credits and by abolishing some of the many tax allowances (pdf), the most important being the £62.5bn cost of the personal allowance.

Instead, it's because A BI breaks with a fundamental principle of the welfare state. This, wrote Beveridge in 1942, is "to make and keep men fit for service.*" One function of the welfare state is to ensure that capital gets a big supply of labour, by making eligibity for unemployment benefit conditional upon seeking work. BI, however, breaks this principle.In its pure form, it allows folk to laze on the beach all day.

For many of us - including Philippe van Parijs who first alerted me to the merits of BI - this is not a bug but a feature. Jobs are scarce, so it's better for workers if some are subsidized not to seek them, leaving more opportunities for those who do want to work.

However, this is certainly not in the interests of capitalists, who want a large labour supply - a desire which is buttressed by the morality of reciprocal altruism and the work ethic. It is the fear that a BI would lead to mass skiving that keeps it off the political agenda.

Is such a fear justified? I don't know. Empirically, it's ambiguous, as a BI would - as I've said - in some ways improve work incentives. For capitalists, though, it is a risky prospect.

My suspicion is that a full BI is, for this reason, incompatible with capitalism. Yes, it might well be efficient in many ways. But capitalism is about maximizing profits, not utility.

Sunday, December 28, 2014

Henrique Raposo e os desenhos animados

Henrique Raposo critica os desenhos animados atuais, argumentando que fogem ao sofrimento, ao sacrifício, ao esforço, etc.

Confesso que não conheço o conteúdo dos desenhos animados atuais - os meus sobrinhos já estão todos nos dois dígitos e já vêm mais prgramas de imagem real do que desenhos animados; e o único habitante da minha casa só com um dígito na idade não liga muito a nenhum tipo de televisão (nem sequer a documentários sobre leões, tigres, leopardos ou chitas, que à partida até lhe poderiam interessar); já o Henrique Raposo creio que tem um filha com poucos anos, pelo que efetivamente seguirá mais os desenhos animados do que eu.

No entanto, não me parece fazer grande sentido esta passagem «Então façam o favor de comparar "Era uma vez a vida" com os filmes que RTP, SIC e TVI transmitem neste período das festas. A cruz faz falta».

Vamos lá ver os filmes infantis que a SIC passou nos dias 24 e 25 (aviso - múltiplos spoilers):

- Carros: a história de um carro de alta competição que após ficar empanado numa pequena cidade, descobre os valores da comunidade, amizade, família, etc., etc. É verdade que talvez não tenha grande sofrimento e tragédia propriamente ditos, mas também não é exatamente um filme "facilitista"

- Toy Story 3: provavelmente o mais trágico da série Toy Story, em que os brinquedos são (ou julgam ser abandonados) pelo dono e vão parar a um infantário onde, além de serem maltratados pelas crianças, estão submetidos a uma espécie de brinquedo-ditador

- À procura de Nemo: uma família de peixes-palhaços em que mãe e quase todos os ovos são comidos por alguém, só sobrando o pai e um filho; depois o filho é capturado e levado para um aquário (ficando à mercê de uma rapariga assassina de peixes), tendo o pai que atravessar o oceano para o libertar

- Brave - indomável: uma princesa que, para se livrar de um casamento combinado ou coisa parecida, evoca um feitiço que acidentalmente transforma a sua mãe num urso, que ela terá que salvar de ser morta pelo seu pai, que odeia ursos (aparentemente, um urso - que seria também um príncipe transformado - comeu-lhe uma perna); não tem grande drama, mas tem a ameaça disso (e uma mensagem implícita "cuidado com soluções fáceis")

- Força Ralph: o "mau" de um jogo de vídeo (de uma casa de jogos, não daqueles que se jogam em casa) farta-se do seu papel e tenta mudar para outro jogo, dando origem a uma série de acontecimentos que põem em perigo a existência dos jogos da casa de jogos (e a vida dos seus personagem, que desaparecerão se os jogos desaparecerem); e uma das personagem secundárias está traumatizada porque, no dia do seu casamento, o noivo foi morto por um bug informático

- Arthur Christmas: a distribuição de brinquedos pela família Natal foi transformada numa mega-operação tecnologicamente sofisticada, mas algo corre mal e uma criança não recebe o seu presente; agora é necessário, pelo método antigo (o trenó movido a renas) ir entregar o presente à criança, custe o que custar (e com muitas pressões para desistir)

- Alvin e os Esquilos 3 - naufragados: até vi um bocado, mas não percebi nada

- Toy Story - perdidos no tempo: a dona dos brinquedos vai brincar com uma amiga e leva-os; na casa da outra rapariga, têm que enfrentar brinquedos que se dedicam a algo parecido com lutas de gladiadores (a sério), não sendo destruídos por pouco

(mais uns quantos filmes que deram no principio da manhã, e que provavelmente ninguém viu)

Onde é que eu quero chegar - é que todos ou quase todos destes filmes me parecem ter o tal elemento de sofrimento/esforço/perigo/drama, não têm enredos "facilitistas"

Tuesday, December 23, 2014

Natal cancelado?

Christmas is cancelled’ warning as elves vote to strike (Flip Chart Fairy Tales):

Christmas toy deliveries could be severely disrupted this year after Santa’s elves voted to extend their strike. The elves at Santa’s ‘Wish Realisation Centres’, who have been on strike for a week over pay and conditions, have vowed to continue their struggle until their demands are met.

Elves have complained that working conditions at Santa’s manufacturing and distribution centres have become intolerable. They claim that workers are monitored with tracker devices which force a pace of work sustainable only by the very fittest. If performance is too slow, wages are docked. Toilet breaks are ruthlessly monitored and sickness punished with dismissal. The elves also complain of a 3-tier workforce. Older elves, who have worked for Santa of some years, have full pension and redundancy rights. Younger permanent staff have lower pay but some security. An increasing number, though, are employed on precarious zero-hours contracts with low pay and few benefits. (...)

The roots of this dispute go back to the 1980s when Santa, desperate for investment to upgrade his operation, sold a controlling interest in Santa Inc to a consortium of venture capitalists. Although Santa is still non-executive chairman, most of the decisions are taken by the new owners, who brought in a cadre of MBA-educated gnomes to run the operation.

The gnomes, rewarded with a bonus scheme linked to shareholder value, concentrated on taking cost out of the organisation. New processes were brought in, pay rates held down and the final salary pension scheme closed to new entrants.

As one senior gnome blurted out, after a liquid lunch with Lucy Kellaway:
We have to do the nicey-nicey stuff to keep up the good PR. We wheel out the old boy to do the odd kids’ charity thing but the real value of the company is in licensing the Santa name and image. The brand is worth billions and we intend to squeeze as much value from it as we can.

Not that the elves are likely to see much of that. Pay levels at Santa Inc have been slashed. According to a recent report by the Joseph Rowntree Foundation, the median elf wage has been falling in real-terms for the last ten years and the majority of elves under 30 are in receipt of housing benefit or working tax credits. One newspaper reported that some elves were having to resort to food banks. (...)

Santa Inc has reacted to the strike by threatening to move its operations to lower wage areas. It claims to have armies of dwarves and goblins willing to work harder and for lower pay than the elves. This provoked an angry reaction from union leaders. Elves’ union general secretary, Legolas Crow, condemned “management bully-boy” tactics and accused the company of “flagrant life-threatening health and safety breaches”. (...)

See also:

Daily Mail:
‘Legolas Crow: The vicious Marxist elf who wants to destroy Christmas!’

Society Guardian:
‘With the elves at the food bank.’

Telegraph Comment:
‘There can’t be any ‘poor elves’. I’ve never met one!’

Daily Express:
‘Elves helped MI5 to murder Diana.’

[Para quem não conheça a linha editorial dos jornais ingleses, o Daily Mail, o Daily Telegraph e o Daily Express são de direita e o Guardian é de esquerda]

"Direitos dos animais" ou "bem-estar animal"?

Animal Rights vs. Animal Welfare: Which Side Are You On?, por Abigail Geer.

O texto tem o problema de, a meu ver, tratar a posição dos defensores do "bem-estar animal" como uma versão moderada (ou talvez defeituosa?) da posição dos "direitos dos animais" (como se a oposição entre "bem-estar animal" e "direitos dos animais" fosse uma oposição entre pragmáticos e idealistas), em vez de as ver como duas posições filosóficas por direito próprio (ou seja, dois tipos diferentes de idealistas).

Monday, December 22, 2014

Direitos "negativos" e "positivos"

Qualquer "direito", chamemos-lhe "positivo" ou "negativo" implica sempre restringir a liberdade de fazer alguma coisa (p.ex., o direito de propriedade mais não é que a proibição de se utilizar algo - estilo, atravessar um caminho - sem autorização do proprietário).

Eu diria que, das duas uma - ou as ações que os vários individuos querem empreender não interferem umas com as outras, e aí não precisamos de leis, instituições ou direitos ("positivos" ou "negativos") para nada; ou interferem, e aí quaisquer direitos que sejam definidos (chamemos-lhes "positivos" ou "negativos") para regular esses potenciais conflitos implicam sempre (a ideia é essa) impor limites ao que alguém pode ou não fazer.

Friday, December 19, 2014

O programa do Syriza

What Syriza Says About Greece’s Economy, Its Debt and the Euro (Bloomberg)

Pegando neste artigo de há dois anos de Daniel Davies, parece-me que a estratégia do Syriza é algo como 1-32-41-6-[?], provavelmente mantendo 1-47-23-10 como plano B; mas neste momento a Grécia tem um saldo orçamental primário positivo (isto é, se não fosse os juros da dívida sobrava dinheiro), o que torna quer o ponto 6 (no primeiro caso) como o 10 (no segundo) mais fáceis de gerir.

Se não tens nada a esconder...

What Bad, Shameful, Dirty Behavior is U.S. Judge Richard Posner Hiding?, por Glenn Greenwald:

Richard Posner has been a federal appellate judge for 34 years,(...). At a conference last week in Washington, Posner said the NSA should have the unlimited ability to collect whatever communications and other information it wants (...)

His rationale? “I think privacy is actually overvalued,” the distinguished jurist pronounced. Privacy, he explained, is something people crave in order to prevent others from learning about the shameful and filthy things they do (...)

Unlike you and your need to hide your bad and dirty acts, Judge Posner has no need for privacy – or so he claims: “If someone drained my cell phone, they would find a picture of my cat, some phone numbers, some email addresses, some email text,” he said. “What’s the big deal?” He added: “Other people must have really exciting stuff. Do they narrate their adulteries, or something like that?” (...)

[I]f Judge Posner really believes what he’s saying about privacy, and if it’s really true that he personally has nothing to hide – he just has some cat videos and some pictures of his grandkids – then he should prove that with his actions. Every day, he should publicly post online all of the emails he sends and receives, along with transcripts of his telephone and in-person conversations. Or just put a recording device in his office and on his person, and upload the full audio every day. He should also put video cameras in all the rooms in his home and office, and stream it live on the internet 24 hours a day. If there’s a specific reason for excluding a particular conversation – say, something relating to attorney/client privilege – he can post a log identifying the metadata of the withheld communications. (...)

What possible objections could he have to any of this? After all, the Hon. Richard Posner has nothing to hide. He’s a good person. He does nothing shameful, corrupt, adulterous, or otherwise embarrassing – nothing constituting “the sorts of bad activities that would cause other people not to want to deal with [him].” Perish the thought. So why isn’t he doing this, or why wouldn’t he?

O artigo de Greenwald é escrito por referência a Richard Posner, mas aplica-se em geral ao argumento "se não tens nada a esconder, qual é o problema da vigilância?".

Sunday, December 14, 2014

Em defesa da disciplina voluntariamente aceite

A respeito disto e disto, a discussão parece ser sobretudo sobre se a disciplina de voto é boa ou má. Mas o que me parece o ponto principal é que os deputados do PSD/Madeira aceitaram ser deputados em representação de um partido que, nas suas regras internas, têm a disciplina de voto no que diz respeito ao Orçamento de Estado.

E, mais importante ainda, mesmo que o PSD decida suspendê-los ou demiti-los de deputados, ninguém os obriga a pedirem a suspensão ou a demissão do mandato; ou seja, se eles, na sequência de algum processo disciplinar, pedirem a demissão, é porque aceitaram, voluntariamente, cumprir a decisão do partido de os demitir (recorde-se que isto começou com um comunicado do LIVRE pedindo para a presidente da AR não aceitar pedidos de demissão de deputados apresentados na sequência de processos disciplinares). Assim, se os deputados do PSD Madeira decidirem, repito, voluntariamente, obedecer às decisões do partido, a que propósito é que a presidente da AR deveria impedir isso? Isso parece-me aquela velha ideia de querer obrigar as pessoas a serem livres...

Outro ponto - David Crisóstomo refere que no Parlamento Europeu não há disciplina de voto; bem, eu suponho que nem no Parlamento Europeu, nem na Assembleia da República, nem da Assembleia de Freguesia de Portimão há disciplina de voto; entre os eleitos de cada partido é que poderá haver ou não disciplina de voto, conforme as regras que cada partido decidir.

Friday, December 12, 2014

Liderança bicéfala?

Aliança israelita entre Trabalhistas e HaTnua propõe primeiro-ministro rotativo.

Saturday, December 06, 2014

Friday, December 05, 2014

9 anos de Vento Sueste

Hoje este blogue faz nove anos.

Como de costume, uma seleção de artigos publicados no último ano:

O "precedente do Kosovo", sobre a proclamação unilateral de independências

Keynes contra Hayek?

A opinião socialmente correta sobre os jogos de computador

Keynesianismo e Estatismo

Inteligência, personalidade e rendimentos

A saída do "Fórum Manifesto" do BE

Bens supérfluos, essenciais e indivisibilidadeRacionalidade, definições, etc., largamente sobre se certos comportamentos são "racionais" ou não (os comentários são talvez mais interessantes do que os posts propriamente ditos)

O IRS das pessoas sem filhos

Thursday, December 04, 2014

Vantagens de um doutoramento em Economia?

If you get a PhD, get an economics PhD, por Noah Smith:

People often ask me: "Noah, what career path can I take where I'm virtually guaranteed to get a well-paying job in my field of interest, which doesn't force me to work 80 hours a week, and which gives me both autonomy and intellectual excitement?" Well, actually, I lied, no one asks me that. But they should ask me that, because I do know of such a career path, and it's called the economics PhD. (...)

There are PhDs, and there are PhDs, and then there are econ PhDs.

Basically, I think of PhDs as mostly falling into one of three categories:

1. Lifestyle PhDs. These include math, literature and the humanities, theoretical physics, history, many social sciences, and the arts. These are PhDs you do because you really, really, really love just sitting and thinking about stuff. You work on you own interests, at your own pace. If you want to be a poor bohemian scholar who lives a pure "life of the mind," these PhDs are for you. I totally respect people who intentionally choose this lifestyle; I'd be pretty happy doing it myself, I think. Don't expect to get a job in your field when you graduate, though.

2. Lab science PhDs. These include biology, chemistry, neuroscience, electrical engineering, etc. These are PhDs you do because you're either a suicidal fool or an incomprehensible sociopath. They mainly involve utterly brutal hours slaving away in a laboratory on someone else's project for your entire late 20s, followed by years of postdoc hell for your early 30s, with a low percentage chance of a tenure-track faculty position. To find out what these PhD programs are like, read this blog post. If you are considering getting a lab science PhD, please immediately hit yourself in the face with a brick. Now you know what it's like.

(...)

3. PhDs that work. I'm not exactly sure which PhDs fall into this category, but my guess is that it includes marketing, applied math and statistics, finance, computer science, accounting, and management. It definitely, however, includes economics. Economics is the best PhD you can possibly get.

Why get a PhD in economics? Here's why:

Será que o que Smith escreve também se aplicará a Portugal? Dos doutoramentos não sei, mas parece que as licenciaturas em Economia são das com menos desemprego (eu por acaso levei 5 anos até arranjar algo comparável a um emprego, mas reconheço que não sou um caso representativo)

Wednesday, December 03, 2014

O "Rendimento Básico Incondicional" não é um exercício teórico

One State Already Has a Basic Income Plan, por Jesse Walker (no blog da Reason):

I made a brief reference yesterday to the idea of a negative income tax or universal basic income: a single, unconditional cash payment aimed at keeping people out of poverty. (...) One way to sort those ideas is to separate the proposals in which the payments would supplant the existing welfare state from the ones that would just add one more program to the mix. (That's why Milton Friedman ended up opposing Richard Nixon's Family Assistance Plan, even though it had been inspired by Friedman's negative-income-tax proposal: Nixon's version would have been an add-on to the existing welfare state rather than a replacement for it.) Another notable distinction is between the people who would means-test the program and the ones who would just send a check to everyone. (That second division isn't a right/left split, by the way -- Friedman was a means-tester, while Charles Murray is in the checks-for-all camp.)

(...)

But I don't want to get into the weeds of weighing the competing proposals right now. I just want to note a fact that's oddly missing from a lot of these discussions: One state of the union has something similar to a basic income program already. (...)

That seems relevant to the policy discussion about income grants, doesn't it? Yet while the full-time campaigners for a guaranteed income are well aware of Alaska's system, the people who write about the idea elsewhere tend to ignore it. The liberal site Remapping Debate, to give an especially egregious example, did a big story on the push for a basic income in the '60s and '70s that concluded that those old proposals faded because "market devotees drowned out those who continued to believe that government has a vital role to play....By Ronald Reagan's election in 1980, the country in which [a basic income] had seemed mainstream a decade earlier looked considerably different." All of which is hard to square with the fact that such a program was adopted during the Reagan years, in a state with a Republican governor, as part of a political moment that saw the same state eliminate its personal income tax, and with an important assist from the Libertarian Party, which was a substantial political force in Alaska at the time. (There were Libertarian legislators in Juneau in those days, and the party was capable of drawing 15 percent of the vote in a gubernatorial election. The party supported the dividends on the grounds that sending the money to individual citizens was preferable to letting elected officials spend it.)

Three decades later, several states have established sovereign wealth funds like Alaska's, and with the fracking boom their number may soon grow. As of yet, no state has followed Alaska in distributing dividends to its citizens. But you shouldn't be surprised if you see a strong push in some of those jurisdictions for a system like the one adopted in Juneau. And if that happens, you shouldn't be surprised if the conversation about income grants in Washington continues to treat the idea as an esoteric intellectual exercise

Sunday, November 30, 2014

As minhas escolas

De novo, os resultados das "minhas" escolas no ranking do Expresso (o que é que isso interessa?, perguntarão; nada, mas sempre é um pretexto para atualizar o blogue)

Escola Ranking Geral Média 2013 N.º Provas % ASE Exame
Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes 144/628 10.97/20 561 41 11º/12º
Escola Secundária Poeta António Aleixo 408/628 9.82/20 694 31.5
Escola Básica D. Martinho Castelo Branco 541/1168 2.91/5 243 45.1
Escola Básica de Mexilhoeira da Carregação 3800/4465 2.6/5 42 44.4
Escola Básica  Major David Neto 2969/4465 2.88/5 256 45.2

Já agora, a sua posição em percentil (em que 0% seria a com melhores resultados na sua categoria e 100% a com piores):

Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes - 23% (38% em 2013)

Escola Secundária Poeta António Aleixo - 65% (40%)

Escola Básica D. Martinho Castelo Branco - 46% (55%)

Escola Básica de Mexilhoeira da Carregação - 85% (81%)

Escola Básica  Major David Neto - 66% (31%)

Observações:

- A percentagem de alunos carenciados parece ter aumentado (pouco) em todas

- A Escola Básica Major David Neto (vulgo "Escola da Estrada de Alvor") teve uma hecatombe em termos de posição relativa (ainda que em termos absolutos a sua nota média tenha tido uma queda de apenas 9 centésimos de valor)

Esferas de influência

Acerca das eleições moldavas, escreve-se na Al-Jazeera:

 "If the pro-European parties win, Moldova's course towards European integration could become irreversible," Arcadie Barbarosie, executive director of the Institute for Public Policy in Chisinau told the AFP news agency.

"If Moldova turns back towards the customs union [with Russia], however, it risks remaining forever in Russia's sphere of influence."
Sou só eu que acho que isso é a mesma coisa que dizer
 "If the pro-Russian parties win, Moldova's course towards  the customs union [with Russia] could become irreversible,"

"If Moldova turns towards the European Union, however, it risks remaining forever in West's sphere of influence."
Afinal, "tornar-se irreversível" e "permanecer para sempre" são conceitos mais ou menos equivalentes...

Ver também - Politica internacional e verbos irregulares e RE: Politica internacional e verbos irregulares

Thursday, November 27, 2014

O fim da civilização tal como a conhecíamos?

Depois de Anthímio de Azevedo, Sousa Veloso.

Tuesday, November 25, 2014

A liderança em disputa pela primeira vez?

Na altura da última convenção do Bloco de Esquerda, alguma comunicação social referiu que pela primeira vez havia disputa pela liderança.

Isso será correto? Afinal, em todas as convenções do BE excluindo a primeira houve listas de oposição para a Mesa Nacional; é verdade que antes nenhuma dessas listas tinha apresentado um candidato a "líder", mas o BE tem um sistema "parlamentarista" em que não há eleições específicas para líder ou coordenador - a direção é escolhida de acordo com o resultada da votação para a Mesa Nacional; logo, todas as candidaturas oposicionistas à Mesa que houve em quase todas as convenções podem ser consideradas candidaturas à direção (mesmo que sem qualquer hipótese real de vitória).

E não se pode expulsar o juiz Carlos Alexandre?

Xanana "consternado" com a detenção do "amigo" Sócrates

Sunday, November 23, 2014

Um voto nunca fez diferença?

Por vezes diz-se que é praticamente impossível um voto individual decidir uma votação - é verdade que há casos reais de eleições decididas por um voto (ou com margens ainda menores), mas na maior parte dos casos trata-se de eleger representantes para um órgão colectivo, logo um voto só faria mesmo diferença se, além da eleição de um representante ser decidida por um voto, esse representante individual fosse decisivo para decidir quem tinha a maioria na assembleia (uma probabilidade quase nula).

Mas agora temos um exemplo fresquinho - a votação para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda foi empatada (ambos com 259 votos), e, na semana passada, na Assembleia Eleitoral de Olhão a moção E (Pedro Filipe Soares) ficou a um voto de eleger mais um delegado em Olhão; assim, se mais um bloquista olhanense tivesse votado na moção E, hoje essa moção teria sido a mais votada para a Mesa Nacional.

Friday, November 21, 2014

Os vistos gold

Muito se tem criticado os "vistos gold" por estarem a ser dados sobretudo ao investimento em imobiliário em vez de ao investimento a sério (aqui o que me parece ser um exemplo - ver o ponto 1).

Ironicamente, essa criticas vem sobretudo de sectores (nomeadamente da área do PS ou do BE) que seguem uma perspetiva keynesiana, segunda a qual o problema da economia portuguesa é do lado da procura (mais exatamente, procura externa e interna reduzida) e não da oferta (reduzida capacidade produtiva).

A mim parece-me que, para quem acha que a solução para a crise é aumentar a procura, não há grandes razões para achar melhor um investimento numa fábrica do que um investimento (de igual valor) numa casa.

Claro que se pode sempre argumentar que, entre um investimento que aumenta a procura e a oferta (fábrica) e um que apenas aumenta a procura (casa), o primeiro será sempre melhor, mas quanto mais se achar que o problema fundamental da economia é de procura, menos se achará essa "vantagem" significativa (se a lógica não for uma batata).

Diga-se que esse género de inconsistência lógica parece-me frequente no keynesianismo português - afinal, é também desses lados que se costuma ouvir as queixas de que os bancos não estão a fazer o dinheiro chegar à economia real, e por causa disso haverá muitos projetos de investimento que não vão para a frente, por falta de finaciamento (cenário pouco consistente com uma crise económica motivada por baixa procura, em que me parece que o normal será haver um excedente de capital disponível para ser emprestado, e quase ninguém a querer pedir empréstimos, já que, devido à baixa procura, haverá poucos projetos de investimentos rentáveis).

Friday, November 14, 2014

O fim do sionismo moderado nos EUA?

The new American Jewish struggle over Israel: Hawks versus ultra-hawks, por Peter Beinart (Haaretz):

Consider this week’s spat between Sheldon Adelson and Abraham Foxman. At an event last Sunday, Adelson’s fellow oligarch, Chaim Saban, said Israel needed to support a Palestinian state if it wanted to remain a Jewish democracy. To which Adelson replied, “I don’t think the Bible says anything about democracy. I think God didn’t say anything about democracy. God talked about all the good things in life. He didn’t talk about Israel remaining as a democratic state, otherwise Israel isn’t going to be a democratic state — so what?”

So what? With that question, Adelson lobbed a grenade at the American Jewish establishment. When the American Jewish establishment defends Israel, it doesn’t talk much about God. That’s because while theological language plays well among conservative Christians and Orthodox Jews, it tends to alienate secular liberals. Indeed, it alienates some of the secular liberals who populate American Jewish organizations. As a result, America’s mainstream Jewish groups generally justify Israeli policy not via religion but via America’s civil religion—democracy—a creed that enjoys unquestioned reverence across the political spectrum. By claiming democracy doesn’t matter, Adelson was sabotaging the case for Israel that the American Jewish establishment has been making for decades. Which is why one of that establishment’s senior members, the Anti-Defamation League’s Abraham Foxman, called Adelson’s remarks “disturbing on many levels.” Foxman added that, “the founders of Israel got it exactly right when they emphasized the country being both a Jewish and democratic state. Any initiatives that move Israel away from either value would ill-serve the state and people of Israel.”

The problem is that Israel has been pursuing just such an initiative for almost a half-century now. Since 1967, it has established dominion over millions of West Bank Palestinians who lack citizenship or the right to vote in the state that controls their lives. (...)

For years now, the American Jewish establishment has been laundering Israel’s behavior for American consumption: Justifying Israel’s undemocratic settlement policies in the soothing language of democratic values. But right-wingers like Adelson increasingly refuse to play along. Claiming you cherish Israeli democracy, after all, requires claiming that the West Bank Palestinians who Israel currently controls should one day have a state of their own. Since the American Jewish right sees that as both dangerous to Israeli security and an affront to God, it is challenging the American Jewish establishment by bluntly advocating a one-state solution in which millions of Palestinians are permanently disenfranchised, democracy be damned. The Zionist Organization of America (ZOA), which Adelson helps bankroll, has partnered with conservative Christians to pass resolutions in the Florida and South Carolina legislatures declaring that they “consider Judea and Samaria and East Jerusalem to be part of Israel.” The ZOA pushed a similar resolution at the Republican National Convention in 2012 but was stymied by AIPAC, which wanted both parties to go on record as supporting the two state solution.

Behind this growing conflict between the Jewish center and the Jewish right lies a demographic shift. Historically, mainstream American Jewish groups have been dominated by relatively secular Jews who vote Democratic and hold fairly liberal views on domestic issues, even as they passionately defend Israel against external criticism. But the children of these secular American Zionists are more likely to inherit their parents’ secularism than their Zionism. They’re not anti-Zionists. They’re just not as interested in devoting their free time to defending an Israeli government from which they feel distant, if not alienated.

As a result, the younger American Jews most willing to dedicate themselves to the “Pro-Israel” cause come disproportionately from an Orthodox community that is growing in both size and self-confidence. But Orthodox Jews, unlike their more secular counterparts, don’t generally hold liberal views on domestic issues. They mostly vote Republican. They’re more likely to explicitly reject the two state solution, and to justify that rejection by invoking God’s promise to give Jews the land. All of which makes them more willing to embrace the right-wing Christian evangelicals who more secular American Jews fear. (...)

Once upon a time, Jews from across the political spectrum joined groups like AIPAC, the Anti-Defamation League or the American Jewish Committee. Now the liberals are more likely to join J Street or even Jewish Voices for Peace and the conservatives are more likely to join the ZOA, the Republican Jewish Coalition or the Emergency Committee for Israel.

For years, the American Jewish center has tried to uphold the fiction that you can both support the two state solution and support Israel’s right to destroy the two state solution. Now the contradiction between those two imperatives is fracturing American Jewish institutional life. The result is an intra-Jewish debate that is fiercer, more divisive and more honest.

Wednesday, November 12, 2014

Titulos que não consigo perceber

Este da Ana Vidigal no Jugular.

Monday, November 10, 2014

Tunisia vs. Turquia

Why is Tunisian democracy succeeding while the Turkish model is failing?, por

In an influential book in 1991, Samuel Huntington established the “two-turnover” test to distinguish between emerging and consolidated democracies. For a democracy to be consolidated, according to the test, free and fair elections must twice have led to the peaceful handover of office between an incumbent and a successful challenger. As Huntington notes, this is a very difficult test. American democracy was not consolidated until Jacksonian Democrats lost the presidency to the Whigs in 1840.

The secularist Nida Tunis’s defeat of the moderate Islamist Ennahda in Tunisia’s elections last week brought the fledgling democracy a big step closer to passing Huntington’s test. The elections also strengthen the embattled forces for democracy throughout the Middle East and Muslim world. Tunisia’s successful democratic experiment despite rising extremism and a weak economy trumps Turkey’s already bogus claim to being the model for democratizing Muslim countries. In reality, Turkey has never been a viable model for Muslim democracy, since it was never a free or liberal democracy in the first place. (...)

If there is any model of Muslim democracy post-Arab Spring, it is Tunisia, not Turkey. (...)

While Turkey has descended down this authoritarian spiral over the past two years, Tunisia has achieved the most impressive democratic transformation in the history of the region. Tunisia had its first free elections in October 2011 after the fall of the Ben Ali regime. Ennahda won a plurality of seats (41 percent) and soon reached a power-sharing agreement with two secular parties in the Constituent Assembly. One of the things Tunisians got right was the rejection of presidentialism in favor of parliamentary democracy. Tunisians recognized the dangers of presidentialism in a country with a weak democratic tradition and historic lack of checks and balances. Tunisians also chose proportional representation with a zero-percent national threshold, giving the greatest possible representation to different voices in parliament. Turkey headed in the opposition direction. The AKP government tried unsuccessfully to use its majority to change the country’s parliamentary system into a presidential regime and to switch from the current PR-based electoral system to a “first-past-the-post” majoritarian system, which could give the AKP a supermajority while denying smaller parties’ representation. Turkey has one of the highest and most undemocratic electoral thresholds (10 percent) in the world; but the lack of representativeness of the electoral system has never been a real concern for the AKP elite.
 A respeito do sistema eleitoral turco, um artigo de 2007 (é velho, mas penso que não houve grandes mudanças): Is Turkey’s electoral system democratic?, por Matthew Shugart.

Sunday, November 09, 2014

O que faria se fosse catalão

- Ia votar
- À questão "Quer que a  Catalunha seja um Estado?", respondia "sim"
- À questão "Quer que esse Estado seja independente?", respondia "não"

Explicando:

- Eu acho que se o povo da Catalunha (ou o povo de Santo António dos Cavaleiros, já agora) tem todo o direito a decidir ser independente, logo em primeiro lugar iria votar, apoiando o processo referendário contra a tentativa das autoridades de Madrid de o impedirem  (e levando à sua transformação em "consulta")
- Achando que uma federação (ou melhor, uma confederação) voluntária é preferível à independência pura, seria a favor de um Estado catalão não-independente.

[Post publicado no Vias de Facto; podem comentar lá]

Friday, November 07, 2014

Relembrando as eleições norte-americanas de 2008

Água na fervura, um post meu de novembro de 2008:

se os Democratas obtiveram uma vitória conjuntural (não houve qualquer mudança significativa nos padrões de votação), a sua principal dificuldade estrutural (o apoio que, nas eleições nacionais, os brancos do Sul dão aos Republicanos, mesmo contra os seus interesses económicos - afinal, o Sul e a Appalachia são as regiões mais pobres dos EUA) parece que se está a reforçar.

Ou seja, parece-me que os Democratas conquistaram votos de eleitores flutuantes (que noutra eleição podem passar facilmente para os Republicanos - nomeadamente os votos que Obama obteve entre a alta burguesia), enquanto os conservadores consolidaram a sua base de apoio.

Wednesday, November 05, 2014

Esquerda, Direita e o Rendimento Básico Incondicional

Basic income: left & right, por Chris Dillow:

He'll not thank me for saying so, but I agree with Sam Bowman's call for a basic income (or, as he calls it, negative income tax). This raises a question: how can a Marxist so warmly agree with a right(ish)-libertarian?

In part, it is because Marxism is a form of libertarianism. But there's two other sources of agreement between us.

One is that I agree with Sam that alternatives to a basic income, such as a living wage, are inferior to the extent that they would price some people out of work. And I also agree that capitalism cannot provide full employment. We differ on how we express this: Sam would emphasize some people having a low marginal product and the effects of automation whilst I'd stress more systemic defects of capitalism. (...)

Secondly, I suspect we agree in rejecting the idea that the welfare state should have a moralistic purpose. From the "less eligibility" principle of the Poor Law, through Beveridge's plan to "make and keep men fit for service", to New Labour's use of tax credits to "make work pay", the Welfare State has always tried to encourage work. Libertarians and Marxists are, or should be, sceptical of this. Libertarians because the state in a free society should be neutral between ways of life. And Marxists because we don't think the state should be capitalism's human resources department. (...)


Where, then, might we differ? The answer, I think, lies in the level of basic income.

Tuesday, November 04, 2014

A "auto-proclamada" Republica de Donetsk

Penso que grande parte dos países são "auto-proclamados"...

Monday, November 03, 2014

Uma abordagem anarco-capitalista às histórias de princesas?

An Anarcho-Capitalist Disney Movie I'd Like to See: Who Paid for The Palace?, por Art Carden (Econlog):

I'd love to see an anarcho-capitalist take on the Disney Princess narratives. Where did the resources come from that paid for the castle? In one of the songs in Frozen, Anna sings "who knew we had a thousand salad plates?"

Who paid for those thousand salad plates?

Perhaps Anna and Elsa's parents were the pictures of wise and benevolent rulers, trading protection of property rights for tax revenue, but who had their dreams deferred in order to pay for a thousand salad plates collecting dust in the palace?

The "benevolent ruler" view comes into question toward the end of the movie when there is a royal proclamation that the kingdom of Arendelle will no longer do business with "Weasel Town." Granted, the Duke of Weselton is a scoundrel, but why should the queen stand between her subjects and willing trading partners in Weselton? How is the edict to be enforced?

I suspect there are much darker histories behind the princes and princesses than Disney (or the original authors of the fairy tales on which Disney movies are based) is willing to admit. What happened before "once upon a time"? How did the royal families get their power? And how, for that matter, would they respond to competing providers of security services in their jurisdictions?

Já agora, também recomendo este comentário «If you like speculation about "the dark stories behind the fairy tales", Disney does have a product for your: ABC's "Once Upon a Time".»

Thursday, October 30, 2014

Testes de stress pouco stressantes?

European Stress Tests: not stressful enough, por Frances Coppola:

But I am much less impressed with the stress tests. The EBA has made exactly the same mistake that it made in previous tests: it has ignored the real risks facing the EU.

•Baseline inflation for the Eurozone is supposed to be 1.0%: currently it is 0.3% and falling. Only one country (Greece) has a baseline of outright deflation: but four countries in the Eurozone and several more in the wider EU are currently experiencing price falls. The “adverse scenario” for inflation in 2014 only has Greece and Sweden experiencing deflation: we are already way beyond that. “Adverse”, it seems, can't admit the possibility of deflation.

•Baseline annual GDP growth for the Eurozone is supposed to be 1.2%: currently it is 0.8% and falling. Amusingly, the “adverse scenario” for 2014 was a fall in annual GDP growth of 0.7%. “Adverse”, it seems, is reality.

•Baseline unemployment figures are shocking. Are we to regard double-digit unemployment in much of the EU as normal? Astonishingly, the “adverse scenario” for Greece and Cyprus actually showed unemployment falling. “Adverse”, it seems, is not as bad as where we have already been.

•Finally, and most worrying of all, the sovereign bond yield rises in the “adverse scenario” are far smaller than the yield spikes seen not only in the Eurozone periphery, but also in emerging Europe in the last decade. Do we believe that the horrors of the past will never return again? I thought this was supposed to be a severe test. “Adverse”, it seems, dare not admit that bond yields might still rise sufficiently to threaten the end of the Euro and the breakup of the EU.

To be fair, the baseline and adverse scenarios for each country were published in April 2014, when the EU was forecasting a recovery that has so far failed to materialise. But surely the baselines, at least, should have been updated when it became clear that they were unrealistic? Eurocrats' magical thinking about inflation and growth (both will return ANY DAY NOW) has invalidated the stress tests.

So my conclusion is that this exercise is, like the proverbial curate's egg, good in parts. It has undoubtedly improved transparency and prudent asset valuation. But it has not proved that the banking system is resilient to even the current downturn, let alone a future one.

Tuesday, October 28, 2014

A única democracia do Norte de África e Médio Oriente?

Tunisian elections bring hope in uncertain times (Monkey Cage, Washington Post).

Antes que alguém pergunte "E o Líbano? E a Turquia? E o Iraque? E Israel?", todos esses países têm peculiaridades (leis eleitorais esquisitissímas no Líbano e na Turquia; uma guerra cívil sectária no Iraque, e sempre a espreitar no Líbano; inconsistência de definição territorial e de direitos de cidadania em Israel) que provavelmente os desqualificariam como "democracias" funcionais se estivessem na Europa.

Monday, October 27, 2014

O IRS das pessoas sem filhos

Há dias, parte do país ia entrando em choque com a revelação de que as alterações do código do IRS para beneficiar as famílias com filhos dependentes, situação a que o governo respondeu com o tal esquema de se poder escolher a mais vantajosa de duas fórmulas.

Entretanto já toda a gente percebeu que "beneficiar famílias com filhos" e "prejudicar famílias sem filhos" são duas maneiras de dizer fundamentalmente a mesma coisa (no fundo, "discriminação positiva" é coisa que não existe: discriminar positivamente a favor de A implica discriminar negativamente contra B); afinal, se se quer obter uma determinada receita fiscal, e se reduz o que se cobra às famílias com filhos, tem que se aumentar o que se cobra às pessoas sem filhos.

Mas, em teoria, seria possível beneficiar as famílias com filhos sem prejudicar as sem filhos? Consigo imaginar duas formas de isso acontecer:

- Ali em cima escrevi "se se quer obter uma determinada receita fiscal", assumindo implicitamente que, no orçamento, a despesa é a variável independente e a receita fiscal a variável dependente, isto é, que se define um determinado nível de despesa e depois vai-se cobrar os impostos necessários para pagar essa despesa. Mas se for ao contrário, ser for a despesa que varia para se ajustar à receita em vez da receita se ajustar à despesa? Nesse caso, podemos perfeitamente reduzir o IRS das famílias com filhos sem aumentar as dos sem filhos, sendo o resultado uma redução da despesa pública (devido à redução da receita) - claro que é possível que essa redução da despesa também acabe por prejudicar alguém.

- Outro cenário em que é possível benefíciar as famílias com filhos sem prejudicar as sem filhos seria se a curva de Laffer tivesse uma forma diferente para as famílias com e sem filhos, de forma que as famílias com filhos estivessem no lado negativo da curva (em que um aumento dos impostos leva a menos receita) e as sem filhos no lado positivo; nesse caso seria possível baixar os impostos às primeira sem os subir (ou talvez até reduzindo um bocadinho) às segundas. Diga-se que quando comecei a pensar neste post, até me ocorreu que bastaria (mesmo estando ambos no intervalo positivo) que a inclinação da curva fosse maior para as famílias sem filhos (ou, dito de outra maneira, que a elasticidade da oferta de trabalho fosse menor para as famílias sem flhos do que para as com filhos) para ser possível benficiar umas sem prejudicar as outras, mas não: tal apenas levaria a que seria possível reduzir os impostos às famílias com filhos sem aumentar no mesmo valor às sem filhos, mas seria à mesma preciso aumentar (claro que se estiverem todas no lado negativo da curva, também é possível beneficiar um conjunto de famílias sem prejudicar as outras, mas aí o mais lógico seria baixar a toda a gente).

O problema prático deste cenário é que suponho que, no mundo real, são as famílias/pessoas sem filhos cuja oferta de trabalho varia mais com o rendimento e portanto com os impostos (ou seja, imagino mais facilmente um solteirão a deixar de fazer horas extraordinárias porque "os impostos levam quase tudo" do que uma família com dois filhos para criar, um deles na universidade), pelo que provavelmente a curva de Laffer até se torna negativa mais depressa para estes. Assim, (unicamente) do ponto de vista da eficiência económica se calhar até faria mais sentido cobrar taxas fiscais mais elevadas às famílias com filhos!

Já agora, convém notar que não é de agora que as famílias com filhos dependentes têm beneficios no IRS - há muito que, por cada dependente, se deduz não sei quanto à matéria coletável.

Thursday, October 23, 2014

Nesta altura, já os outros os devem ter posto em vigilância reforçada

A respeito das declarações de Rui Machete, é alegado que "não põem em risco a segurança nacional"; mas penso que o que algumas pessoas criticaram em Machete não foi ter posto em risco a segurança nacional, mas sim a vida das alegadas "arrependidas".

Por outro lado, talvez ele tenha pensado "isto vai ser um imbróglio jurídico decidir o que fazer depois com aquelas raparigas; o melhor é informar logo o mundo (e o ISIS) antes que elas fujam".

Wednesday, October 22, 2014

Declaração de interesses

Para a próxima Convenção do Bloco de Esquerda sou apoiante da moção E (Pedro Filipe Soares).

Nesta altura, já os outros os devem ter posto em vigilância reforçada

Rui Machete em entrevista - «Estado Islâmico. "Dois ou três" portugueses querem regressar a Portugal»

A revelação adicional que são sobretudo raparigas ainda mais identificadora deve ser.

Saturday, October 18, 2014

A definição

Paulo Pinto, no Jugular, expõe a opinião de que o chamado "Estado Islâmico" deveria ser designado por "Daesch" (creio ser o nome porque o grupo é normalmente designado em árabe) - até é capaz de fazer algum sentido (de qualquer forma, portugueses chamarem ao grupo ISIS ou ISIL não faz sentido nenhum - ou lhe dão um nome português ou um nome árabe: eu às vezes chamo-o EI ou EIIL).

Mas o que me chamou a atenção foi isto "Podemos começar por aqui: em primeiro lugar, aquilo não é um Estado, é um bando armado que controla um território pela força das armas e domina populações pelo terror e por atrocidades cometidas contra quem quer que não se submeta às suas ordens: é que, pensando bem, essa é exatamente a definição académica de "Estado" - sim, o que costuma aparecer nos livros é "entidade que detém o monopólio do exercicio da violência num dado território". Mas "deter o monopólio do exercicio da violência" e "controlar um território pela força das armas" são simplesmente duas formas diferentes de dizer a mesma coisa; e mesmo o "domina populações pelo terror e por atrocidades cometidas contra quem quer que não se submeta às suas ordens" está implicito - deter o "monopólio do exercicio da violência" implica, quase por definição, estar disposto a usar essa violência se tal for necessário para impor a sua vontade.

Monday, October 13, 2014

A estratégia a funcionar

Kerry: Saving Kobane not part of strategy - Syrian town where Kurds face ISIL onslaught is "a tragedy" but focus must first be on Iraq, US secretary of state says. (13/10/2014, 05:33)

Iraqi city falls to ISIL as army withdraws - ISIL "100 percent control" Hit in Anbar, says police colonel, after troops are relocated to reinforce nearby airbase. (13/10/2014, 12:41)

Guia simples sobre a politica externa dos EUA

Quando os EUA intervêm noutro país, isso quer dizer que só lá estão para defender os seus interesses, e também que são parolos provincianos que se julgam o centro do mundo (e portanto se acham incumbidos de resolver os problemas do mundo à sua maneira).

Quando os EUA não intervêm noutro país, isso quer dizer que só intervêm quando é para defender os seus interesses, e também que são parolos provincianos que se julgam o centro do mundo (e que portanto não se interessam pelo problemas do resto do mundo).

[Pode ser observado em ação em muitos comentários no Facebook à politica norte-americana nas guerras no Iraque e Síria]

Saturday, October 11, 2014

Portugal e a Europa, mães e pais

Hoje o Expresso noticia que:

O grau de escolaridade da mãe é o que mais determina o desempenho escolar dos alunos em Portugal, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus, onde as habilitações do pai têm mais peso (...)

As conclusões resultam de dois estudos recentes (...) - um do ISCTE (...) e outro do Instituto Nacional de Estatísticas do Reino Unido, que comparou o peso que cada fator tem no sucesso educativo em vários países europeus, a partir de dados do Eurostat. (...)

"Em Portugal, o filho de uma mulher com baixa instrução - que tenha, no máximo, o 9º ano - tem 7,12 vezes mais probabilidades de não prosseguir o estudos do que o filho de uma mãe com o ensino superior", mesmo estando em igualdade de circunstâncias em todos os outros fatores (...) resume ao Expresso Paulo Serafino, investigadora do INE britânico e co-autora do estudo
No Facebook, alguém perguntava que países seriam a maior parte". Indo ao estudo [pdf], à tabela da página 21 (e usando como referência a questão a linha "low ISCED level 0-2"  - que foi a usada pela investigadora, ao referir as "7,12 vezes mais de probabilidade" - comparando pais e mães) podemos verificar: a maior parte dos países europeus, em que a escolaridade do pai é mais influente, são o Reino Unido, a França e a Espanha (p.ex., em Espanha, a probabilidade - mantendo tudo o resto igual - de o filho de um homem com poucas habilitações não prosseguir os estudos é 5,81 vezes maior do que o filho de um homem com formação superior; para o filho de uma mulher com poucas habilitações a probabilidade é apenas 4,21 vezes maior); já a Áustria, Países Baixos, Itália, Portugal, Estónia, Lituânia, Letónia. Hungria e Polónia são as excepções, em que as habilitações da mãe contam mais.

A respeito disso, os autores do estudo escrevem (página 20) que  "In the UK and France, father’s low educational level has a larger impact on the odds of the respondent having low educational attainment themselves than the mother’s education, whereas in most of the other countries, the mother’s educational attainment is generally slightly more important."

Thursday, October 09, 2014

Racionalidade, definições, etc.

Um artigo que me fez lembrar muito do que se discute aqui - Rational != Self-interested, de Andrew Gelman:

I’ve said it before (along with Aaron Edlin and Noah Kaplan) and I’ll say it again. Rationality and self-interest are two dimensions of behavior. An action can be:
1. Rational and self-interested
2. Irrational and self-interested
3. Rational and altruistic
4. Irrational and altruistic.
It’s easy enough to come up with examples of all of these.

Before going on, let me just quickly deal with three issues that sometimes come up:
– Yes, these are really continuous scales, not binary.
– Sure, you can tautologically define all behavior as “rational” in that everything is done for some reason. But such an all-encompassing definition is not particularly interesting as it it drains all meaning from the term.
– Similarly, if you want you can tautologically define all behavior as self-interested, in the sense that if you do something nice for others that does not benefit yourself (for example, donate a kidney to some stranger), you must be doing it because you want to, so that’s self-interested. But, as I wrote a few years ago, the challenge in all such arguments is to avoid circularity. If selfishness means maximizing utility, and we always maximize utility (by definition, otherwise it isn’t our utility, right?), then we’re always selfish. But then that’s like, if everything in the world is the color red, would we have a word for “red” at all? I’m using self-interested in the more usual sense of giving instrumental benefits.

 To put it another way, if “selfish” means utility-maximization, which by definition is always being done (possibly to the extent of being second-order rational by rationally deciding not to spend the time to exactly optimize our utility function), then everything is selfish. Then let’s define a new term, “selfish2,” to represent behavior that benefits ourselves instrumentally without concern for the happiness of others. Then my point is that rationality is not the same as selfish2. (...)

Self-interest is the end, rationality is the means. You can pursue non-self-interested goals in rational or irrational ways, and you can pursue self-interested goals in rational or irrational ways.
[O ponto principal - e titulo - do post, de que "racional" é diferente de "interesse próprio" não tem nada a ver com a discussão que referi, mas os considerandos colaterais acabam por ter]

Wednesday, October 08, 2014

Proteção ambiental e crescimento económico

Slow Steaming and the Supposed Limits to Growth, por Paul Krugman:

Environmental pessimism makes strange bedfellows. We seem to be having a moment in which three groups with very different agendas — anti-environmentalist conservatives, anti-capitalist people on the left, and hard scientists who think they are smarter than economists — have formed an unholy alliance on behalf of the proposition that reducing greenhouse gas emissions is incompatible with growing real GDP. The right likes this argument because they want to use it to block any action on climate; some on the left like it because they think it can be the basis for an attack on our profit-oriented, materialistic society; the scientists like it because it lets them engage in some intellectual imperialism, invading another field (just to be clear, economists do this all the time, often with equally bad results.) ...

A few days ago Mark Buchanan at Bloomberg published a piece titled “Economists are blind to the limits of growth” making the standard hard-science argument. And I do mean standard; not only does he make the usual blithe claims about what economists never think about; even his title is almost exactly the same as the classic (in the sense of classically foolish) Jay Forrester book that my old mentor, Bill Nordhaus, demolished so effectively forty years ago. Buchanan says that it’s not possible to have something bigger — which is apparently what he thinks economic growth has to mean — without using more energy, and declares that “I have yet to see an economist present a coherent argument as to how humans will somehow break free from such physical constraints.”

Of course, he’s never seen such a thing because he’s never looked. But anyway, let me offer an example that I ran across when working on other issues.

Wednesday, October 01, 2014

A confusão síria

Local struggles in Syria’s northeast (Monkey Cage, Washington Post):

The Islamic State’s spectacular killings of American journalists, persecution of various non-Sunni religious groups and victories against Kurdish forces in Iraq have overshadowed its activities in the lands where it claimed its first victories — northeastern Syria. Yet the struggle continues there, and the manner in which forces on the ground are resisting the Islamic State is laying bare alliances among local forces and the Syrian government. Many of these alliances accord with political science orthodoxy about civil wars, while others raise important questions about how civil war processes should be understood. (...)

Groups organized around regional identities ­– between the national level narrative of sectarian conflict and town or neighborhood level enmities ­– play a central role in the fighting in Syria’s northeast, a role that has not been extensively studied by political scientists. The continued importance of these regional identities during the conflict suggests a degree of structure and continuity to the fight for Syria’s northeast that should surprise observers of the conflict and political scientists studying civil wars alike. (...)

Many actors fighting alongside the Syrian government are doing so only to defend their locality, and the same can be said of groups pledging loyalty to the Islamic State or the Free Syrian Army. This point should give policymakers pause in expecting aid to localized forces allied with a particular side in the conflict to produce desired change on a broader scale. (...)

Also emergent in the conflict are several new actors formed in response to weakened state control over much of the northeast. First, the most powerful Kurdish party, the Democratic Union Party (PYD) has set up its own army, the People’s Protection Units (YPG). The Syrian government withdrew from most of the Kurdish areas of the country in July 2012, which allowed the PYD to control the territory. Members of the other principal non-Arab ethnic group in the northeast, Syriac Christians, have set up a security organization called Sutoro. Far smaller than the Kurdish forces ­– unsurprising given the relatively smaller size of the Syriac population and its lack of a political apparatus equivalent to the PYD ­– Sutoro coordinates its activity closely with the PYD.

In addition, National Defense Forces (NDF) militias operate in areas outside of PYD and Islamic State control. These militia groups defend the locality from which they are recruited, rather than venturing to faraway frontlines, and are organized under the umbrella of the Syrian government. Their emergence has been a gradual response to increasing violence in Syria. When violence first began to threaten their neighborhoods, residents of many Syrian cities set up popular committees (lijan shabiya) to defend their local areas. As fighting deepened, these groups were turned into NDF militias. The militias receive uniforms and arms from the central government. (...)

The “master cleavage” of the Syrian conflict suggests that the Kurds and tribes (both of which, religiously speaking, are nearly all Sunni Muslim) should align against the incumbent, minority-held Syrian government. Syriac Christians, by contrast, should seek the state’s protection. The micro-level theories suggest that, because no group is powerful enough to dominate the others independently, alliances between fighting groups should be fluid and the identity-based justifications for them (e.g. “We are Arabs combating a Kurdish threat,” “We are Sunnis fighting unbelievers”) ephemeral. On the ground in Syria’s northeast is something between these extremes; identities below the level of the Alawite-Sunni division and above the level of local grudges between neighborhoods are a driving force in the current conflict.

The fighting in Hasakah, the epicenter of the Islamic State’s bid to enlarge its area of control, exemplifies this dynamic. Hasakah, the capital of Syria’s far northeastern province of the same name, is the intersection of several social groupings. The majority of the population is of Arab tribal background, and the city has significant Kurdish and Christian populations as well.

Historically, the Baathist Syrian government has ruled Hasakah as a colonial power might: By working through intermediaries and treating the groups the intermediaries represent differentially. The Syrian government never sought a direct relationship with its subjects in the northeast, preferring to deal with local leaders and important tribal figures. (...)

In the present conflict, this intermediate, regional level of social relations between the state and local populations continues to structure the flow of political events, as a recent battle for control of a major military base in Hasakah shows. In late July, the Islamic State began an assault on the headquarters of the Maylabiya Battalion (Fawj al-Maylabiya). Army forces in the base were unable to withstand the assault and withdrew, leaving a number of soldiers stranded in the base. With its nearest reinforcements also under siege, the government turned to the NDF to liberate the remaining soldiers, and the PYD sent its military forces (YPG) to fight the Islamic State there as well. Once the Islamic State took full control of Fawj al-Maylabiya, NDF and YPG forces surrounded the base to cut off supplies to the Islamic State fighters controlling it. In the aftermath of the events, the government set up a shared operations room coordinating the operations of the army, the state’s four security agencies, Sutoro, YPG and NDF forces, and a parallel tribal militia called the Dignity Army.

These surprising constellations of actors fighting the Islamic State are marriages of convenience, not based on ideology or personal ties of elites. There is no natural affinity between the parties. First, the official Baathist, Arabist doctrine denies that Kurds and Syriacs are legitimate residents of the ostensible Arab homeland they are defending alongside the Syrian “Arab” Army. Second, though the PYD is widely accused of collaborating with the Syrian government, there is no direct evidence of any agreement and the organization has all the reason to despise the government. The government had long hosted Abdullah Ocalan, the founder of the Kurdistan Workers’ Party (PKK) out of which the PYD emerged, and expelled him in 1998 when seeking rapprochement with Turkey. He was captured by Turkey soon thereafter, and the Syrian government began arresting and harassing Syrians associated with the PKK. (...)

The various groups cooperating with the Syrian government are not maximizing their control of territory and resources but defending their territory, their region. As soon as Fawj al-Maylabiya fell, several groups rushed to prevent the Islamic State from taking control of the city. NDF and Sutoro forces secured their respective neighborhoods, and the YPG set up checkpoints on the periphery of the city and within many neighborhoods. The controversy over whether the NDF allowed Alawite army officers to be slaughtered by the Islamic State at Fawj al-Maylabiya further suggests the importance of region; NDF fighters rallied to hold a military base protecting their area but made little effort to save officers unconnected to their local area.

O texto é anterior à intervenção ocidental e dos países árabes conservadores simultaneamente contra o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra ter tornado isto ainda mais confuso.

"Status" da ficção literária, cinematográfica e televisiva

Será que podemos dizer que a hierarquia de prestigio dos diferentes géneros de ficção é completamente diferente na televisão do que no cinema e na literatura?

A minha ideia - no cinema, os filmes género "drama" são considerados os filmes "sérios" e normalmente são os maiores vencedores de Óscares, enquanto os "policiais", "acção" e "aventura", "ficção científica", etc. são normalmente vistos como algo "menor" (normalmente a "fantasia" também cai aqui, ainda que as adaptações d'"O Senhor dos Anéis" tenham dado algum estatuto ao género); na literatura verifica-se o mesmo, com a agravante que o género literário correspondente ao género cinematográfico "drama" nem sequer tem nome - enquanto há literatura policial, de ficção cientifica, de fantasia, etc., a literatura-que-adaptada-ao-cinema-dá-um-filme-de-"drama" é simplesmente chamada "literatura", sem nenhum qualificativo, como se fosse o padrão.

Mas nas séries televisivas parece ser diferente - são muitas vezes as séries policiais, de ficção cientifica ou de fantasia que ganham o estatuto de "séries de culto"; já as séries televisivas correspondentes ao género "drama" - as telenovelas latinas e soap operas - é que são vistas como géneros "menores", "para donas-de-casa", etc.; e as séries estilo telenovela/soap opera que ganharam alguma "respeitabilidade" são as que introduziram em grande dose elementos de crime/mistério, como as "Donas de Casa Desesperadas" ou as "Criadas e Malvadas" (possivel contra-argumento: séries policiais que introduziram bastantes elementos de "drama" - como a "Balada de Hill Street" - foram também as que mais ganharam "respeitabilidade").