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quarta-feira, 29 de maio de 2013

O Medo

Vampire hunters - Wojciech Kilar

Talvez tenha sido durante o século XVI, com a instauração da Inquisição, em 1536, que foram nascendo as raízes principais do que viria a ser uma " portuguese way of life ". Para sobreviver no reino da injustiça, os Portugueses passaram a respeitar, num primeiro momento, o jogo das aparências, como defesa contra o Poder que instaurava o método do Medo. Mais tarde, após séculos de assimilação, a aceitação de simulacros e de comportamentos defensivos passaram a padrão comportamental assumidas na rotina diária – mesmo sem necessidade de qualquer tipo de autoprotecção. Por exemplo: a coscuvilhice que o vizinho fazia para delatar e assim salvar-se a ele próprio da fogueira - continua apenas como atitude, bem como culpabilizar os outros sacudindo a “água do capote” quando há tempestade no mar.
Estas características que foram agravadas pelos governos monárquicos que vigoraram após a abolição de 1821 da Inquisição, mantidas na 1ª Republica e aprofundadas durante a ditadura do Estado Novo, recrudescem hoje, com maior sofisticação. A Crise económica como pano de fundo têm vindo a propiciar o crescimento, mais ou menos dissimulado, de manipulações, ameaças, chantagens e da eventual Mentira de quem detém o Poder nos diferentes patamares do tecido social, paralelamente ao aumento do lambebotismo e do medo do desemprego e do dinheiro que não chega e do Futuro hipotecado. Medo finalmente das Crises após a Crise. As pessoas refugiam-se cada vez mais, passiva e mansamente, no silêncio ou na zona de conforto da “vidinha” diária e deixam “o barco passar”. Temos a esperança que o Zé Povinho já não seja tão passivo pois está mais instruído e mais ousado, e que não se deixe enganar, acabando ainda com individualismos, cooperando entre si a caminho de uma consciência colectiva, e consiga mudar o rumo do barco antes que este mergulhe no abismo - logo ali à frente.
Para isso não pode ter Medo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sobre o aparecimento das primeiras "Boites" (década de 1960) - no eixo Lisboa / Cascais

Reach out I ´ll be there - Four Tops

AS PRIMEIRAS "BOITES" NO EIXO LISBOA / CASCAIS
(DÉCADA DE 1960)

A década de 1960 foi muito importante, para o País, porque se foi “aprendendo” com múltiplas situações sociais que aconteceram e foram fermento para mais tarde na década seguinte surgir o 25 de Abril. A música foi uma das inúmeras peças do “puzzle” social da altura.
No início dos “sixties” os adolescentes agrupavam-se em pequenos “clãs” que frequentavam as festas nas garagens ou em casa de amigos (as) ou nas Casas de Recreio (Algarve, Alentejo, etc.), Clubes (Campolide, Campo de Ourique), Sociedade de Belas Artes, etc. Tudo combinado previamente durante a tarde nos cafés adoptados pela malta nova de casacos de cabedal e camisolas vermelho vivo. Convergíamos para o Londres, o Las Vegas, o Monte Carlo, Café Gelo, Vá-Vá, a Tentadora, a Versailles, o “Bowling” (depois cinema Londres), etc., onde entre jogos de Bowling e uns cafés se aprazava a noite. Ao mesmo tempo assistíamos aos mais velhos partirem para a “guerra de África” ou revoltarem-se na Universidade, e líamos jornais onde se utilizava uma linguagem quase codificada com subentendidos ou de “mensagens” nas entrelinhas - por causa da Censura do regime de então.
“A Lareira” foi a primeira "boite" que conheci em Lisboa. Situada na Praça das Águas Livres, entre Campolide e Campo de Ourique, apresentava-se como uma casa de chá onde se permitia dançar à hora do “lanche”, em 1964, ao som dos discos da época. Muitas das meninas ainda vinham acompanhadas pelas mamãs e o Eusébio era uma presença habitual.
Entretanto, ao mesmo tempo, na linha de Cascais começava a dançar-se em espaços já formatados como “boites”. Em vez das festas nas garagens os grupos de jovens visitam várias “capelinhas” numa mesma noite passando também pelo “Caixote” - junto ao Cinema - forrado com papéis de jornal e onde podíamos assistir à atracção de ver 2 francesas dentro de uma jaula a dançar freneticamente. Depressa se adaptam como "boites" outros espaços que já existiam como a “Ronda” no Monte Estoril (onde actuava desde 1962 o Thilo´s Combo e, mais tarde, o Quinteto Académico) e a “Choupana” na “Marginal” - frequentadas ambas essencialmente por casais já adultos. Os jovens depressa aí se misturam com outras gerações mais velhas penteados com a “banana” à Simone de Oliveira ou risca à Henrique Mendes. Mas o Palm Beach era a preferida pela Juventude e onde se podia conviver com jovens inglesas e francesas ao mesmo tempo que se desfrutava de um eventual romance “com vista para o mar”. Ao mesmo tempo que arde o Teatro D. Maria II e cai a cobertura da Estação do Cais do Sodré, têm lugar no Teatro Monumental, concursos de Rock, Twist e, mais tarde de Yé-Yé ou de mini-saias (em 1967) - fornecidas pela casa Porfírios na baixa alfacinha. Bem perto desta casa de espectáculos havia também o Porão da Nau. Noutro registo: convívio durante a ceia com muitos dos (as) nossos (as) artistas em cena pelos teatros da capital.
Mas, em 1965, ao mesmo tempo que se começam a erguer urbanizações em redor de Lisboa (Reboleira, etc.), os Centos Comerciais (o "Sol a Sol" na Av. da Liberdade foi o 1º. Os jovens passavam por lá a comprar "posters" psicadélicos e o novo aroma: Aqua di Selva.) e os Supermercados (o Modelo no Saldanha foi o 1º) iniciam a sua ascensão nos hábitos dos Portugueses, dá-se uma sucessão de inaugurações de novas "boites" - aumentando o leque de oferta e condicionando definitivamente os novos hábitos dos jovens. Em Fevereiro abre o célebre Caruncho (no Lumiar). Por aqui passam os Sheiks, o Quinteto Académico, os Claves e o consagrado cantor francês Nino Ferrer. Está na moda uma nova água-de-colónia masculina - quase todos cheirávamos a “Tabac” - e eram muito populares músicas como o “Winchester Cathedral” dos John Smith and The New Sound, o “Green green grass of home” do Tom Jones e o “Reach out I´ll be there” dos Four Tops.
Surge ainda o Calhambeque na Avenida de Roma e, finalmente, ainda em 1965, é inaugurado o mítico “Van Gogo”, onde se dança o “Guantanamera” e o som do Barry White. Mais “selecto” (decorado por Pedro Leitão) proporciona a muitos terem garrafa de whisky (sem ser de Sacavém) que lhes assegura o acesso. Só entra quem é conhecido ou faz parte do círculo do dono, o Manecas Mocelek, uma figura marcante no mundo das "boites" da década de 1960. Fica para a história o impedimento da entrada a Gina Lollobrigída vinda da festa milionária dos Patino - porque não pertencia à elite habitual.

Guantanamera - The Sandpipers

Em 1966, ao mesmo tempo que eram celebrados os “magriços” da selecção nacional - que ficou em 3º lugar no Mundial de Futebol, já os Beatles e os Stones reinavam há muito nas pistas de dança, surge (Agosto) uma das “mecas” da juventude noctívaga e dançante: o “Pop Clube” criado por Fenando Jorge Correia (mais tarde “Primorosa de Alvalade” - a partir de 1974) junto à Av. Estados Unidos da América e, em 1967, abre (em Maio), em plena “era psicadélica”, o sofisticado “Relógio”, na Lapa (às Janelas Verdes) decorada pelo dono (o artista plástico Francisco Relógio) - e que mais tarde (1970) seria transformada nos “Stones” (também de Manecas Mocelek). Usava-se a colónia “Sir” e dançava-se “San Francisco” de Scott Mckenzie.
Em 1968, no mesmo ano em que Salazar cai da cadeira, Manecas Mocelek, toma conta do Ad Lib - no 7º andar de um prédio da Rua Barata Salgueiro, decorado por Pedro Leitão (em estilo oriental) e onde eventuais “ meninos e meninas bem” impregnados de “Eau Sauvage” da Dior chegavam de elevador para se aconchegarem no vermelho do ambiente e nas cadeiras em círculo forradas a pele. É uma das "boites" obrigatórias” da noite. Apesar do som de Isaac Hayes começava a surgir outra tendência musical que faria vingar, na década seguinte, o “Disco- Sound” e que seria acentuada pelo supracitado “Stones” (com whisky a 50 escudos), depois de, em 1969, o 1º homem ter pisado a Lua e o País sobreviver a um violento sismo. Manecas Mocelek viria ainda a criar, na década de 1980, o "Bananas"em Alcântara.
É claro que terminada a “festa” e depois de passarmos por diversas “boîtes” acabava-se a noite a comer as célebres bolas de Berlim na padaria das traseiras do Van Gogo, no Cacau da Ribeira ou a cear pelo Cantinho dos Artistas no Parque Mayer - depois de dar um pulo á Galeria 48 na Avenida da Liberdade para ouvir a Maysa Matarazzo, ou de ter mergulhado no “bas-fond” do cabaré Ritz Club, da rua da Glória, onde se assistia ao strip de madonas “Fellinianas”, antes de irmos ver o nascer o dia no miradouro do Jardim de S. Pedro de Alcântara.
E as manhãs eram sempre radiosas… 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O nevoeiro a crise e uma proposta

 
Conquest of Paradise - Vangelis

Desde há séculos que a População Portuguesa espera que um salvador da Pátria surja no horizonte envolto em nevoeiro para resolver a eterna crise. Por vezes confunde esse salvador com alguns políticos que nos vão governando – repetindo incessantemente uma miragem criada pela sua própria imaginação sem perceber que o “Desejado” que resolverá a crise (crónica com agudizações) só pode ser o colectivo que somos todos nós. Para isso seria necessário, todo um conjunto de medidas educacionais e pedagógicas tentando mudar a mentalidade dos portugueses – no sentido de se perder cada vez mais o tradicional individualismo – sedimentado pela Inquisição mais duradoura da História, prolongado com o regímen monárquico que se lhe seguiu e agravado com o Estado Novo de Salazar e Caetano. É fundamental a existência de um sentido forte do colectivo. Só em “equipa” coesa – lá chegaremos. No entanto (e sem prejuízo) poderia adoptar-se uma medida política imediata, motivadora e aglutinadora – aprofundando o tal sentido do colectivo – destinada a alavancar a economia nacional: A criação de um Centro de Investigação sobre Energias Alternativas. Integrando os melhores especialistas (nacionais e estrangeiros) pesquisaria todas formas futuras de energia alternativa (com atenção especial ao mar). Portugal ficaria com privilégios/direitos sobre as eventuais descobertas e a sua comercialização internacional. Considerando que a independência energética evitaria a actual despesa que ainda é enorme - quer na compra a outros países quer nos custos muito elevados com os actuais sistemas energéticos alternativos.
Considerando ainda que seria fulcral ter o que os outros não têm e precisariam de comprar e que as vendas de produtos (essencial para o futuro dos meios de transporte) resultantes daquele Centro de Investigação trariam um aumento decisivo das exportações – invertendo o deficit estrutural crónico, neste campo, do nosso país.
Considerando, finalmente, que este caminho será inexorável, atento tudo que já se sabe, e antes que seja outro país a adoptar a iniciativa.