De todas as festas, uma das minhas favoritas, senão mesmo 'a' minha favorita é a Páscoa. A razão é até bastante simples. Senão vejamos: o Natal, toda a gente concorda, é para a família; a passagem de ano é para os amigos; os aniversários, normalmente, comemoram-se com a família, mas acaba-se sempre por sair com alguns amigos; o Carnaval é para a folia... Mas a Páscoa é diferente! Em nenhuma outra festividade existe uma tão grande proximidade entre família e amigos, ou seja, entre todos aqueles a quem queremos bem.
Sou do Norte, de Viana do Castelo, e embora dizê-lo pareça mais um 'cliché', na verdade quer dizer muito no que diz respeito à tradição da Páscoa. Aqui no Alentejo, a família do meu marido simplesmente não liga à Páscoa, e no máximo a minha sogra convida os filhos e família para um almoço, normalmente de borrego no forno. E é só! Este ano nem isso, pois como o meu cunhado está ainda de cama a recuperar de uma operação, decidiu-se nada fazer. E a Páscoa este ano, será passada assim, cada qual na sua casa. Com a agravante de este ano o meu marido trabalhar no Domingo de Páscoa. Ou seja, vou passá-la entre as minhas quatro paredes e sozinha.
Mas no Norte é diferente! Ainda agora a minha mãe me ligou a perguntar de receitas para doces. O meu pai já fez o pão-de-Ló de manhã, e ontem foi o dia dos pastéis de carne, rissóis e afins. Hoje à tarde está em projecto uma tarte de amêndoa e um bolo de bolacha. À noite será a vez da bola de carne. Amanhã ainda se farão mais coisas bem cedo pela manhã. Depois irá se almoçar a casa de familiares, e mais uma troca de amêndoas entre tantas outras que já se fizeram nestes últimos dias. E depois começa o corre-corre...!
Em Viana do Castelo, em plena cidade, ainda se realiza o beijar da Cruz. E as casas são tantas que certas paróquias têm de alargar a cerimónia para segunda-feira, acto que em algumas delas se continua a realizar no domingo e segunda-feira seguintes, chamados por isso de Pascoela. Normalmente os meus pais põe uma mesa com doces, outra com salgados e abre-se a porta a toda a gente. E vêm os tios, primos e sobrinhos de segunda e terceira geração, os vizinhos, os padrinhos, os casais amigos que trazem os filhos e até o cão. E a casa fica cheia, sempre cheia, apesar de alguns de alguns ficarem e de outros não.
A campainha toca ao princípio da tarde e a porta, depois de aberta só se volta a fechar já bem à noitinha. Na maioria são gentes de Viana e arredores, mas também há de Ponte da Barca, Porto, Lisboa, até de França e por aí fora. Uns anos vêm uns, outros anos vêm outros, mas há quem venha todos os anos, naturalmente. E quando o padre chega, nunca se sabe quem ou não está. O padre entra com a Cruz, mais os escuteiros que andam já há muito a apregoar a sua chegada com o sino, muitas vezes vêm também lavradeiras e tudo entra, nem eu sei muito bem como, na pequena casa dos meus pais. A Cruz é passada para o chefe da casa, ou seja o meu pai, que depois a dá a beijar a todos os presentes.
Depois do padre sair, aproveita-se novamente para se petiscar, e 'Quem quer mais chá? E café?', e fala-se deste, daquele e de toda a gente. E todos os anos a família cresce, os amigos de longa data são já família, e os novos... Bem, os novos, principalmente para quem não conhece e nunca viu, fica atordoado e ao mesmo tempo maravilhado. Toda a gente se fala e se espalha por toda a casa. Os bengaleiros não chegam, e portanto as camas estão cheias de casacos. Apenas uma casa-de-banho para toda essa gente, chega a ser caricato e normalmente há fila!!! Passar pelo corredor é sempre uma aventura. Houve um ano em que cheguei a contar 53 pessoas, todas ao mesmo tempo, lá em casa!!!
E este ano aqui estou! Mas decididamente terei de começar algum tipo de tradição cá para baixo!!! Para o ano faço questão!!!
Resta-me apenas desejar a todos uma Feliz e Santa Páscoa!