Em épocas diferentes da minha
vida li três relatos sobre personagens de uma guerrilha urbana no Brasil e na
América do Sul e todas elas me impactaram de formas diferentes no que diz
respeito aos significados políticos destas lutas contras as ditaduras militares
que se instalaram quase que simultaneamente no Brasil e na maioria dos países
da América do Sul. O primeiro, sobre um outro lado de Che Guevara, foi escrito
por um amigo sobrevivente ao extermínio de Che na Bolívia, nos anos 60 do
século XX. Che, além de um guerrilheiro e feroz combatente contra os regimes
ditatoriais tinha seu lado justiceiro e um outro que, para mim, era o maior
motivador de sua incursão na luta armada: o amor a uma causa, a um ideal e este
pode ser traduzido por amor universal. Impressionaram-me dentre tantas outras
coisas, a sua promessa de construir uma sociedade melhor e mais justa para suas
filhas. No livro MEU AMIGO CHE, de Ricardo Rojo, há alguns excertos de cartas
que ele enviava às suas filhas sempre que estavam acampados em algum lugar
escondido entre as montanhas que abrigaram a clandestinidade naqueles tempos.
Declarava repetidamente seu amor de pai e sua vontade de entregar-lhes um mundo
melhor, mais humano, menos desigual.
Muitos anos depois li COMPANHEIRA
CARMELA, escrito por Maurício Paiva, uma emocionante abordagem sobre uma mãe que abandonou sua pacata e rica vida
de fazendeira no Triângulo Mineiro(Araxá) para acompanhar seus dois filhos que
entraram no combate pela liberdade e pela igualdade, sendo presos e depois exilados
juntamente com ela, que, mesmo não sendo nenhuma guerrilheira nem mesmo
militante de qualquer movimento de libertação fez tudo pelo ideal de conservar
os laços familiares e de alguma forma proteger os filhos idealistas.
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imagem da capa |
Agora, acabo de ter a satisfação
de ler o terceiro livro, DO VENTE DA CORDILHEIRA, uma carta (que para mim nunca
terá fim) de uma mãe e uma mulher apaixonada pelos filhos e pelo companheiro, que
vai ao encontro de seu amor com um filho ainda nos cueiros e outra no ventre (a
quem ela dedica as falas da narrativa, sua filha Yasmine, que veio nascer em pleno furor da repressão ,
torturas, assassinatos e censura dos governos militares que fincaram pé no
Brasil em 1964 e só devolveram o poder ao povo em 1985. O longo episódio
narrado por Isolda Melo Lemos passou-se no Chile entre 71 e 72, onde seu
companheiro estava exilado e para onde foi a maior parte dos Brasileiros
expulsos pelo regime militar ou que conseguiram escapar de suas garras. Era
assim com todos aqueles que ousavam desafiar as verdades plantadas como ameaça de
comunismo no país, vinda através dos ecos da guerra fria que se estabeleceu por
muitas décadas entre os blocos capitalista e comunista, liderados
respectivamente pelos EUA e URSS (hoje Rússia). Uma mãe grávida, a despeito de
todos os riscos, confundida com guerrilheira, terrorista, intimidada e vigiada, mesmo não tendo ligação
alguma com os ideais revolucionários dos que foram à luta, enfrentou com
impávida bravura o que era preciso em nome da manutenção de sua família. Ao
completar 18 anos, sua filha recebeu os manuscritos da mãe como um presente
histórico e mais do que isso, como registro de uma inesquecível saga. Era amor
em estado puro, incontestável sob qualquer olhar que se coloque nos seus
gestos.
Acostumamo-nos a interpretar de forma
maniqueísta o que ocorreu no Brasil durante a ditadura. De um lado os
“terroristas”, assim tratados pelo regime e pela maior parte da imprensa. De
outro lado, os “salvadores da pátria” de um espectro de comunistas que comiam
criancinhas e que iriam tomar todo o dinheiro dos ricos. Isso quase desumanizou
os personagens, fez com que suas vidas não passassem de ficção tal como mocinhos
e bandidos de um filme mal feito. Para
mim, o que moveu Isolda, tal como o que moveu Che e moveu Carmela foi aquilo
que nos move a todos, mais ou menos intensamente, mais ou menos ousadamente,
mais ou menos destemidamente: a busca que empreendemos pelo Amor fraterno, filial, conjugal, universal. O amor que torna-nos idealistas a
ponto de arriscar a própria vida por uma causa que, mesmo não sendo a nossa
perspectiva, supera tudo o mais: medo, ideologias, cansaço, pessimismo e
prevalece a crença inabalável (porque acompanhada de atos quase heroicos) de
que ao final, ele, o amor, triunfará. Quem é pai, quem é mãe, quem ama seus
irmãos, seus amigos, enfim, quem coloca como tônica de sua vida o amor sabe do
que falo e há de se emocionar e entender o significado tão profundo do amor, a
importância de um ideal para nossas vidas em qualquer época. A carta é toda
linda, o livro é todo emocionante.
Parabéns a você, Yasmine e a toda esta linda família-amor
DESCULPAS: Amigos, perdoem a minha ausência momentânea em seus blogs. Estou num ritmo frenético de viagens e o tempo anda meio apertado. Assim que me acomodar mais um pouco eu retorno em cada um, com prazer, alegria e gratidão. Abraços. Paz e bem.
DESCULPAS: Amigos, perdoem a minha ausência momentânea em seus blogs. Estou num ritmo frenético de viagens e o tempo anda meio apertado. Assim que me acomodar mais um pouco eu retorno em cada um, com prazer, alegria e gratidão. Abraços. Paz e bem.
23 comentários:
Amanhecendo o dia e lendo emocionada,obrigada ,vou mostrar a mamãe.
grande abraço!
fiquei curiosa em ler esse livro do che. eu vi mais filmes sobre períodos ditatoriais do q li livros. eu creio que teria problemas se fosse jovem na época da ditadura, nunca suportei injustiças. não concordo com usar a violência para se fazer ouvir, acho que não pegaria em armas, mas muito provavelmente teria problemas por não saber me calar. beijos, pedrita
vou ver se consigo compra-los. estou no vietnam, tentando comprar alguns livros sobre a guerra, do ponto de vista vietnamita. :-)
Paz, bem, sucesso e sossego, vc está em nossos blogs e nós aqui e ali, ainda que não nos visitemos :)
Belas causas, belas defesas.
Parabéns, Caccá!
Berzé
Lindo,Cacá, Falas com coração até em resenhas! abração,chica e boas viagens, trabalhos!!
Já estou de caneta em punho anotando o nome destes livros que vc tão claramente resenhou.A cada revelação dos obscuros episódios deste período, nos emocionamos mais e mais com a coragem dos brasileiros envolvidos na busca pela democracia.Sou da chamada"geração perdida", aquela que viveu sob os anos mais duros da ditadura, sendo silenciada e vendada frente aos absurdos cometidos.Na faculdade é que as vendas foram sendo rasgadas e tomei contato com toda esta história de sofrimento e bravura de nossos compatriotas.Senti-me roubada e desprezada em minha trajetória de cidadã.
Paro por aqui, senão ocupo toda a pág com desabafos.
Obrigada Cacá por nos trazer lindamente estas importantes referências.
Tenha dias luminosos.
Bjos,
Calu
Oi Cacá!
Que belas resenhas, bem transmitiu as emoções que seus personagens vivenciaram. Certamente lerei este livro de D. Isolda!
Abração!
Encantada fiquei com esta resenha deste livro que terei que ler,de qualquer maneira.Vivi bem de perto esta realidade,um amigo meu foi preso e torturado,isto doeu muito em mim e em todos os nossos amigos...na época,eu,com filhos ainda pequenos,não podia me manifestar e isto machucava por demais.
Sempre me emociono com o que escreves,Cacá...e me alegro por ter o privilégio de entre teus amigos estar.
Bjssssss,
Leninha
Resenhas que nos despertam para a leitura dos livros. bjs
Resenhas que nos despertam para a leitura dos livros. bjs
OI CACÁ MUITA PAZ PARA VC E FAMILIA , SEMPRE É BOM TE LER, SEJA QUALQUER ASSUNTO ELE FICA BEM NO TEU ESTILO, UM ABRAÇO FRATERNO CELINA
Muito boa sua analise e reflexão da pagina infeliz de nossa historia e da America Latina.Lemos os mesmo livro exceto este da Cordilheira que ainda não adquiri.O pensamento maior que embalou estes bravos foi o de um lugar mais justo e melhor e para isso doaram suas vidas e sacificaram familias.Ainda que se faça reparação à estas familias,jamais cosneguirão reparar a dor.
Belo trabalho amigo.
Minha admiração sempre e fique a vontade.
Um abração terno amigo.
Cada um dá a vida o sentido através daquilo que nela deposita e acredita. Amor é veículo que impulsiona a esperança por um mundo melhor. Da vida de Che sei algumas coisas, mas penso em quantas pessoas anônimas que também lutaram contra o sistema e que se não fosse elas, não haveria de ter qualquer mudança. Bom fim de semana!! Beijus,
Anotados os livros, para serem comprados e lidos.
Abraços!
Oi Cacá viajando coisa e tal, coisa boa, sinto saudades mas espero tranquila tranquila quando meu amigo chega o sol escancara sua alegria e é sempre bom, eu adoro suas resenhas, seus pitacos super bem humorados e seu conhecimento de causa, indicou é lei prá mim ehhee, anotei e estou curiosa para saber mais. abraços, linda semana prá ti.
CACÁ eu que peço desculpas por demorar a vir, posto nos blogs mas me falta coragem para fazer as visitas, nestes dias tenho me esforçado e visitado os amigos, devagar vou pondo em ordem. Adorei esta cronica, um assunto que sempre tenho interesse,vou com o tempo procurar estes livros, agora só um amor puro e universal para realizar tanto com tanta garra, beijos Luconi
Ótima resenha, Cacá. Valeram as indicações! Grande abraço.
Oi poeta,
bom diaaaaaaaaaaaa!
Já estou no teu blog
por FRAGMENTOS MEUS,
e agora por este perfil meu que inclue dois blogs.
Te espero neles também.
Cheiros
Eu! Leilinha
Tudo bem?/Trabalhando muito no livro? Vim te agradecer o carinho lá na Norma!! abração,tudibão,chica
Viu como é a vida de escritor famoso?rsss
Padeço deste mal:viagens,palestras ,livros p/ divulgar e a editora.Resultado:blogs abandonados,amigos n/ visitados ,uma choldra
Abç
prazer em conhecer eminente escritor, aqui cheguei através da Leninha e fico feliz em te seguir.É sempre saudável , quando não se transita usalmente por esta área política, conhecer o lado histórico de fatos relevantes numa linguagem e visão ímpar.Abraços.
Oi Cacá!
Me interessei por esse livro DO VENTRE DA CORDILHEIRA
Interessante você dizer que as consequências da guerra fria não foram sentidas com essa visão mocinho x bandido que foi adotada. Meu pai e meu avô tem pontos de vista bem diferentes sobre a época por exemplo, meu avô sempre foi funcionário público e achava que comunistas e anarquistas eram iguais, todos vagabundos e ruins porque não tinham Deus em suas vidas e que tentavam atrapalhar os trabalhadores de bem. Concepção difundida nos meios de comunicação da época. Quem estuda um pouco o assunto ou esteve de alguma forma envolvido mais profundamente com os acontecimentos sabe que não foi bem assim e analisa o porquê da população geral da época ter pensado dessa forma.
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