No dia 5 de Abril de 2011, Ricardo Salgado foi um dos banqueiros que pediram para ser entrevistados por Judite de Sousa para pressionar Sócrates para solicitar o resgate financeiro. Salgado, assumindo- -se como uma figura tutelar da nação, declarou que a situação do país era preocupante.
Sabemos hoje que, nesse mesmo ano, Salgado se terá “esquecido” de declarar 8,5 milhões de euros ao fisco, valor que 99% dos portugueses não auferirá ao longo de toda a sua vida. Mas não me choca o valor nem o “esquecimento”; choca-me que alguém se esteja a “esquecer” que este “esquecimento” é crime. Choca-me que, no caso da Operação Monte Branco, a maior parte da informação veiculada tenha reproduzido a versão de que o presidente do BES prestou declarações voluntárias ao DCIAP sobre a sua inocência, sem questionar como é que Salgado sabia de um processo em segredo de justiça e sob que figura prestou esta declaração voluntária de inocência.
Em Abril de 2011 não vivíamos tão aflitos. Não tínhamos visto partir tantos amigos e familiares. Não conhecíamos tantos desempregados. Não víamos tantas situações de miséria. Não sabíamos bem o que nos esperava.
Para salvar o negócio de pessoas como Salgado, Sócrates mandou vir a troika. Agora parece que o sector bancário nacional vive uma euforia proteccionista. Sabe que, na dificuldade, vem o Estado e resolve. Para o BPN já foram mais de 7 mil milhões, para o Banif 1,1 mil milhões e no BCP negoceiam-se despedimentos com subvenção estatal. Entretanto os bancos vão ficando com as casas de quem bem entendem, repondo-as à venda com valores 20% a 30% acima do resto do mercado, e fecham 2012 com mais-valias potenciais de 15 mil milhões de euros sobre a dívida pública portuguesa.
Tiago Mota Saraiva, publicado em 19 Jan 2013
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