Mais de trinta anos após o desaparecimento do lince em Portugal, o dia 26 de Outubro constitui uma data histórica para a espécie.
Azahar (em árabe flor de laranjeira), uma linda fêmea, deu os seus primeiros passos no Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro para o Lince-Ibérico (CNRCLI), num espaço de 800 m2 para si criados.
Origem da Foto: DN
Este exemplar é proveniente de Espanha, mais concretamente da serra Morena (Andaluzia), onde foi capturada em Janeiro de 2006.
"Estava muito magra e tinha uma vértebra fracturada", conta Iñigo Sanchez, conservador do Zoobotânico. Foi tratada e escolhida para recuperar os linces-ibéricos em Portugal. Espera-se que consiga engravidar, pois até agora estava num meio urbano e stressante que se pensa que impediu a procriação. Azahar percorreu mais de 350 quilómetros desde o Zoobotânico de Jerez de La Frontera (Espanha) até ao centro, localizado junto à barragem de Odelouca (Concelho de Silves). O percurso foi efectuado lentamente para evitar assustar o animal, tendo direito a batedores da polícia.Todos os pormenores foram meticulosamente tidos em conta. Maria José Coca, a sua tratadora, muito dificilmente conseguiu conter as lágrimas no momento da partida.
O CNRCI está localizado em plena serra algarvia, longe dos olhares indiscretos.
Azahar vai ser monitorizada a tempo inteiro por câmaras de vídeo, com o mínimo contacto possível com os seus tratadores. Vai esperar por dez machos e seis fêmeas que chegarão até dia 1 de Dezembro.
O presidente do ICNB esclareceu que trabalham há dez anos a criar habitats e coelhos-bravos, para que estejam reunidas as condições para o regresso da espécie a Portugal.
Em Espanha, conseguiram-se obter cerca de 50 crias em cativeiro, desde que se deu início a um projecto semelhante. Espera-se que em Portugal o sucesso seja idêntico.
"No futuro, a área de introdução vai desde a Beira Alta até ao Algarve", explicou Rodrigo Serra, director do CNRCLI. Dependendo da adaptação e das condições naturais, espera-se que dentro de dois a três anos os linces estejam reintegrados no meio natural. Só nessa altura será possível ver o lince-ibérico, porque até lá não há visitas.
Para o sucesso deste projecto serão vitais as seguintes medidas:
-introdução massiva de coelhos-bravos (alimento preferencial do lince);
-preservação de habitats através de medidas duras e eficazes;
-formação adequada de todos os habitantes do interior, explicando o porquê da necessidade deste felino na natureza;
-monitorização dos exemplares introduzidos posteriormente na natureza;
-implementação de penas pesadíssimas a todos os que de modo voluntário desencadeiem acções que ponham em causa a integridade de exemplares da espécie (é sobejamente conhecida por todos a atitude da maioria dos caçadores portugueses);
- prémios e ou benefícios muito significativos para todos os gestores de coutos/zonas de caça que fomentem a preservação da espécie, nas suas áreas;
-definição de medidas que permitam diminuír ou mesmo eliminar os riscos de morte por atropelamento (principal causa de morte);
-promoção da espécie junto dos mais jovens (nas escolas), pois estes desempenharão um importante papel no futuro.
As ameaças que pairam sobre o sucesso da reabilitação deste felino são muitas e a tarefa do ICNB/CNRCI, é deveras difícil.
O rosto da esperança
Todas as medidas que possam ser decisivas para o regresso do lince a Portugal, contam incondicionalmente com a minha admiração e o meu apoio. A todos os intervenientes, desejo as maiores felicidades e êxito, pois nas suas mãos reside o futuro da espécie em Portugal e no mundo.
Um bem hajam!
S. Ferreira