Não... esta “desolação” não tem nada que ver com o facto de a manifestação do próximo sábado ter mudado de lugar, por a CGTP não se ter deixado enredar na provocação que estava já programada e montada (ninguém me convencerá do contrário!) para transformar a marcha sobre a ponte numa coisa que se viraria contra os trabalhadores... se não fosse mesmo numa tragédia.
Também não é – não pode ser! – desolação para os manifestantes que estão a pensar comparecer nas grandes acções de protesto convocadas pela central sindical.
Primeiro, porque a manifestação continua convocada e, se possível, com ainda mais razões para mobilizar milhares de mulheres e homens, seja pela ilegalidade arrogante e provocatória da proibição, seja pela enormidade do agravamento da austeridade que aí vem.
Segundo, porque a alteração de um elemento do itinerário de uma manifestação de massas, não pode ser só por si desoladora, por mais simbólico que esse itinerário seja... já que uma manifestação desta natureza não é uma festarola nem um divertimento.
Mas há, certamente, muitos que estão desolados. Só para apontar alguns...
1. Aqueles que já estavam “contratados” para infiltrar a manifestação, sobre a ponte, e aí provocar sabe-se lá que acontecimentos... sabe-se lá de que gravidade.
2. O Governo e este ministro que não me custa nada imaginar de comprida gabardine de cabedal preto e botas de cano alto, a sair de um velho “Citroen V12” (mais os restantes adereços). "Vamos ser clarinhos!"... para usar as palavras do ministro. Este Miguel Macedo é uma bela imitação de fascista! Quanto mais não seja pelo desejo de vingança da humilhação que o povo lhes infligiu nas autárquicas. Quanto mais não seja para instalarem o medo, sabendo das grandes lutas, manifestações e greves que terão de suportar nos meses que lhes restam. Quanto mais não seja por estarem sedentos de algum sangue e quererem juntar ao seu currículo autoritário e fascistóide um massacre de pessoas desarmadas, durante uma manifestação. Talvez balear umas tantas. Talvez deixar algumas destroçadas para o resto da vida e em cadeira de rodas, como fez o seu antecessor Dias Loureiro a um jovem de Almada, numa manifestação contra um governo do PSD, há uns anos, exactamente na Ponte 25 de Abril.
3. Os hiper-mega-super-revolucionários do costume, sempre com a “revolução”... na ponta da língua. Sempre com a “revolução à la minute” pronta e para já... levada à cena nos sofás e nas caixas de comentários dos blogues e jornais.