Queria receber o último sopro de vida num instante de amor por entre as sensações que já tocaram a minha pele...nas rosas que já nasceram do meu corpo...no ventre que já foi semente...terra quente que deu frutos...vidas que floriram e são o meu chão...o meu altar.
Queria ter a paz de não pensar...a tranquilidade que só o amor nos dá...a felicidade de quem nada espera...a sabedoria que só o tempo nos tráz...os espelhos que que só a memória guarda...os sonhos que apenas a ilusão tece na ternura dos poentes.
Queria o pensamento sereno e leve...ter asas de borboleta e voar no céu infinito...vestir-me de nuvem e vagar na espuma das ondas vestida de cetim e perfumada de maresia e por um efémero momento voltar a ser papoila rubra no ondular das searas...voltar a sentir a carícia do vento como se o tempo não tivesse passado...como se um novo ano não tivesse chegado....como se a vida não fosse tão breve.
Queria por um momento...mesmo que apenas um breve momento regressar a mim como quem volta ao regaço da infância...aos sorrisos dourados...aos meus olhos de madrugada...à minha pele de Maio...ao meu espelho de Agosto...e entrelaçar no meu olhar uma noite de luar...abrir a porta ao tempo...derrubar os muros...soltar as amarras e olhar em frente para não cair no abismo...tatear com passos firmes as pedras do meu caminho e voltar enfim a ser menina vestida de tempo.