As telenovelas geralmente são vistas como entretenimento vazio e barato, recebendo o rótulo de ovelhas negras da cultura. Posto isso, a telenovela “Cordel Encantado”, atualmente produzida/exibida pela TV Globo no horário das 18h, é um interessante exemplo de como esse gênero pode ser feito com qualidade.
Bebendo de elementos da cultura popular nordestina, com destaque para o cangaço e o imaginário religioso, “Cordel Encantado” conta a história de Açucena/Aurora (Bianca Bin), uma princesa europeia que foi criada no sertão nordestino por pais adotivos. A trama gira em torno do amor de Açucena e Jesuíno (Cauã Reymond), amor que precisa lutar contra o fato de que a moça, enquanto princesa, está prometida ao Príncipe Felipe (Jayme Matarazzo). Açucena e Jesuíno também precisam lutar contra o Coronel Timóteo Cabral (Bruno Gagliasso), homem cruel e que ama Açucena.
Muito pode ser discutido sobre a correspondência ou não da novela em relação à “verdade” dos fatos históricos. Apesar disso, “Cordel Encantado” possui qualidades que merecem ser valorizadas. Há que se elogiar a fotografia (imagens de cinema), o texto (bastante poético, misturando comédia e drama) e a trilha sonora, que traz o melhor dos ritmos nordestinos marcados por zabumbas e pífanos. Mas o grande trunfo de Cordel Encantado está na qualidade do seu elenco. Os jovens Cauã Reymond, Bianca Bin, Nathalia Dill e Jayme Matarazzo presenteiam o telespectador com atuações convincentes. Também merecem destaque os desempenhos dos veteranos Osmar Prado, no papel do delegado Batoré, e Marcos Caruso, como o prefeito Patácio, responsáveis por muitos momentos cômicos da trama.
Bruno Gagliasso, no melhor papel de sua vida, está impecável como Timóteo, personagem que possui os traços de uma mente louca, má, egocêntrica, vaidosa e mimada. Domingos Montagner, no papel de Capitão Herculano, também merece elogios, uma vez que constrói seu personagem com boas doses de masculinidade e valentia, fazendo do chefe dos cangaceiros um homem que seduz o telespectador.
Bem feita e contando com um elenco que não decepciona em nenhum momento, pois até os atores com mínima participação são bons, Cordel Encantado merece ser vista e apreciada por todos os que gostam de uma teledramaturgia bem realizada.
Texto originalmente publicado na Coluna do Nehac do Jornal Correio de Uberlândia no dia 12 de agosto de 2011.