Verdade
A porta da verdade estava aberta,/mas só deixava passar/meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,/porque a meia pessoa que entrava/só trazia o perfil de meia verdade./E sua segunda metade/voltava igualmente com meio perfil./E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta./Chegaram ao lugar luminoso/onde a verdade esplendia seus fogos./Era dividida em metades/diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela./Nenhuma das duas era totalmente bela./E carecia optar. Cada um optou conforme/seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
A porta da verdade estava aberta,/mas só deixava passar/meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,/porque a meia pessoa que entrava/só trazia o perfil de meia verdade./E sua segunda metade/voltava igualmente com meio perfil./E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta./Chegaram ao lugar luminoso/onde a verdade esplendia seus fogos./Era dividida em metades/diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela./Nenhuma das duas era totalmente bela./E carecia optar. Cada um optou conforme/seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade
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Cheguei atrasada para a blogagem coletiva Paz na blogosfera materna, divulgada pela Genis. Mas como este assunto tem me inquietado muito nos últimos meses, resolvi escrever um pouquinho para ver se eu exorcizo algumas coisas e volto a escrever com mais freqüência.
Apesar de não ter sido (ainda) alvo de comentários péssimos ou de contendas virtuais, em alguns momentos me senti muito triste por presenciar algumas atitudes grosseiras e mal educadas da parte de algumas pessoas que se acham as donas da verdade.
È um tal de se meter na vida de um daqui, criticar as escolhas do outro dali, falar mal acolá, que até desanima.... Tem ser humano por aí que escreve uma super polêmica, e na hora que você resolve tecer também o seu próprio comentário a respeito do assunto, acaba virando um campo de guerra. A outra parte quer deter o poder da palavra e achar que somente a sua opinião é a verdadeira.
Acontece que a verdade não existe. E isso deveria ser muito simples de entender, mas não é.
Quando afirmamos uma crença, aderimos ao verdadeiro para justificar nossas opções. Quando desistimos de uma opção, então estamos dizendo que ela é falsa, pois se fossem verdadeiras, não mudaríamos de opinião. Esta atitude nos ajuda a viver pois é muito difícil acreditar que nossas escolhas são arbitrárias. Nossas idéias são construídas historicamente. Precisamos dessas certezas para dar credibilidade a nossa existência.
Michel Foucault nos diz que “tudo que observamos, criamos ou entendemos, depende única e exclusivamente de nossa afetação para com aquilo que estamos observando. É como o arrebatamento de uma paixão cujo objeto de desejo, a pessoa amada, somente é importante graças ao ser que está apaixonado.”
Tudo a ver com as verdades maternas, não é mesmo? O que é importante para mim, pode não ser para você.
Então,que tal termos um pouquinho mais de respeito e cuidado com o que falamos a respeito dos outros?