Desde que nasci e até aos 22 anos, ano em que casei, as férias grandes eram passadas em Sintra, onde meus pais tinham casa, na tradição dos meus avós maternos. Nessa altura as férias grandes começavam em 10 de Junho e prolongavam-se até 5 de Outubro.
Como se ia para Sintra, com o seu clima especial, a mudança para lá implicava levar roupa de verão e inverno. Eram malas e malas, para além de vasos de plantas e outros apetrechos, entre os quais uma máquina de tricotar que a maior parte das vezes não era usada pela minha mãe. O tempo era passado em passeios pela Vila e serra, idas às praias - das Maçãs (de eléctrico), Grande, Magoito, Adraga . A minha mãe ia muitas tardes para o Jardim da Preta, dentro do Palácio da Vila (que tinha uma entrada independente) onde pintava ou lia e eu e minha irmã a imitávamos a desenhar ou a ler.
Capela de Santa Eufémia
Outro dos passeios era ao miradouro de Santa Eufémia, perto do Palácio da Pena, com o grupo de amigos e respectivas mães. Santa Eufémia era um vasto terreiro onde tinha lugar um arraial em honra de santa, com uma capela que a minha mãe pintou. Aí jogávamos à bola, brincávamos aos cavaleiros, fazíamos explorações por perto e um lauto piquenique.
Jardim da Correnteza
Outro lugar de brincadeira e lazer era no centro da Vila, na Estefânia, o jardim da Correnteza, onde andava de bicicleta, lia e desenhava, com amigos e outros miúdos frequentadores do jardim, sob o olhar vigilante das mães, que conversavam, faziam tricô ou liam. E Seteais e Monserrate, também eram lugares para passear.
Vista das janelas do Palácio da Vila para a Serra de Sintra
Um dia, acompanhando um amigo, que passava uns dias em minha casa, numa visita ao Palácio da Vila, estava junto a uma janela de onde via a serra, com o Castelo dos Mouros a coroá-la. quando se acercou uma senhora que apontando um palácio na encosta, me perguntou se sabia de quem era: claro que sabia. Tinha sido do Conde de Castelo Melhor, para estar perto do infeliz rei D. Afonso VI, prisioneiro no Palácio Real. Disse-lho e ela, admirada, respondeu que era sua descendente. E depois, olhando o livro de trazia comigo, de aventuras de capa e espada de Ponson du Terrail, deu-me uma descompostura por o estrar a ler, por considerar que era má literatura para minha idade (teria 13 ou 14 anos). Devia era ler Júlio Verne, disse-me ela agastada...