No próximo dia 18 de Março, cabe à Assembleia Federal
(Bundesversammlung) eleger o sucessor (ou sucessora) de
Christian Wulff que renunciou ao cargo de Presidente da República da Alemanha a 17 de Fevereiro. De acordo com as previsões, esta Assembleia, composta dos deputados do
Bundestag e de membros de vários sectores da sociedade civil alemã, por sua vez enviados pelos parlamentos estaduais, votará a favor de
Joachim Gauck, pastor luterano, de 72 anos, dissidente do antigo regime comunista da RDA e responsável pela entidade que abriu os arquivos dos antigos serviços secretos (
STASI) ao público no início dos anos 90.
Gauck que perdera as eleições contra
Wulff em 2009, parece agora poder reunir o consenso dos diversos quadrantes políticos.
Há dois dias, surgiu uma nova candidata ao mais alto cargo político:
Beate Klarsfeld. Não-partidária, concorre pelo partido „
Die Linke“ que, na sua concepção política, agrupa muitas das ideias comunistas do antigo (e único) partido da Alemanha Oriental.
Klarsfeld já foi apresentada nesta plataforma em duas ocasiões: em Outubro de 2010, Luís Barata apresentou-nos o livro
„La traque des Nazis: de 1945 à nos jours“ da autoria de
Beate e
Serge Klarsfeld, um relato de uma vida notável deste casal, dedicada à captura de altos dirigentes nazis que, ou se refugiaram, ou ocuparam posições de destaque na sociedade alemã do pós-guerra.
O outro post sobre
Klarsfeld data de Junho de 2009 e recua ao ano de 1968. Aquando do congresso do partido dos democratas cristãos em Berlim ocidental, o chanceler de então,
Kurt-Georg Kiesinger, foi alvo de uma bofetada em público, dada por
Klarsfeld, na altura, uma jovem estudante de 29 anos desconhecida e pertencente a uma geração nova que repudiava políticos e funcionários com um passado nazi.
Kiesinger, membro da
NSDAP, exercera um cargo importante no Ministério dos Negócios Estrangeiros durante os anos quarenta. Este acto inédito tornou
Klarsfeld imediatamente famosa e dividiu a opinião pública alemã. O escritor
Heinrich Böll ofereceu-lhe um ramo de rosas em sinal de solidariedade. Seu colega,
Günter Grass, criticou o incidente afirmando que “tanto não seria necessário”.
O resultado da eleição de domingo dará pouca margem a surpresas. Quer Gauck, quer Klarsfeld, simbolizam duas épocas da história contemporânea alemã. Com objectivos diferentes um do outro, têm em comum o facto de não pertencer ao establishment político e económico donde provieram os dois últimos Presidentes da República que não concluiram o seu mandato.
Imagens: Joachim Gauck (72 anos); Kurt-Georg Kiesinger após a "bofetada"; Beate Klarsfeld (73 anos)