Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore
seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido
dentro da alma.
Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.( Rubens Alves)
Rubem Alves é daqueles que despensam
apresentações! Escritor, teólogo, psicanalista e educador, Rubem é um
grande agente motivador para nós professores, pois seus textos
maravilhosos, são diretos e clamam pelo exercício da profissão com amor,
arte e paixão. E isso fica claro no texto "Pipocas e Piruás", extraído
do livro "O amor que acende a lua", ideal para uma dinâmica com os
próprios professores ou mesmo para uma reflexão sincera.
Por ser um clássico, obviamente
muita gente já conhece, mas sempre é bom repetir aquilo que pode nos
motivar ainda mais no nosso trabalho diário.( Jornal eletrônico)
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Principais ideias
Rubem Alves defende uma educação que perpassa
todo o universo humano. Ensina que o verbo educar deve ser conjugado
com amor e paixão. Para ele, a sensibilidade dos educadores e educandos é
desenvolvida através da literatura: "o conselho que eu daria é ler
literatura. Na minha área de psicanálise é muito importante conhecer a
alma humana, e o conhecimento vem não é da leitura de Freud, ela ajuda,
mas na medida que buscamos a literatura, então se descobre o drama da
existência humana, vivida com todas as suas dores e alegrias."
Ele afirma que é preciso ensinar os
nossos alunos a enxergar o mundo. Acredita que o grande segredo é a
paixão do professor, porque se ele for apaixonado pela educação, ainda
que ele não saiba muita didática, dará um jeito. Logo a preocupação do
educador não pode ser com o programa, deve ser com o aluno, e por isso,
ele deve ter um olho para cada aluno, porque está lidando com ser humano
e não com o número para exame.
A primeira tarefa do educador, portanto, é seduzir o aluno para o
fascínio do seu objeto, porque se ele não for seduzido não terá vontade
de aprender.
"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música
não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".
Rubem Alves
ESCUTATÓRIA
Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de
escutatória.Todo mundo quer aprender a falar, ninguém quer aprender a ouvir.Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai
se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as
árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia
nenhuma".
Filosofia é um monte de ideias, dentro da cabeça, sobre como são as
coisas. Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:
"Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso
também que haja silêncio dentro da alma".
Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro diz sem
logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a
gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de
descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que
a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil
de nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos
estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: reunidos os
participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio.
(Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam
assentados em silêncio, [...]. Abrindo vazios de silêncio.
Expulsando todas as ideias estranhas.).
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de
repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou
os seus pensamentos, pensamentos que ele julgava essenciais.
São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir, são duas as possibilidades.
Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não
ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas
que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se
você não tivesse falado".
Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como
novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto
que nem preciso pensar sobre o que você falou".
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que
uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente
tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência
de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir
coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se
ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa. No
fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos
todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos
saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão
linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a
importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam
num contraponto.
Pipocas e Piruás
Rubem Alves
"Milho de pipoca que não passa
pelo fogo continua a ser milho para sempre."Assim acontece com a
gente.As grandes transformações acontecem quando passamos pelo
fogo.Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São
pessoas de Uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não
percebem e acham que Seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de
repente, vem o fogo.O fogo é quando a vida nos lança numa situação que
nunca imaginamos: a dor.Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder
um filho, o pai, a mãe, perder O emprego ou ficar pobre Pode ser fogo
de dentro: pânico, medo, ansiedade, Depressão ou sofrimento, cujas
causas ignoramos.Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem
fogo o sofrimento Diminui. Com isso, a possibilidade da grande
transformação também.Imagino que a pobre pipoca, fe chada dentro da
panela, lá dentro cada vez Mais quente, pensa que sua hora chegou: vai
morrer. Dentro de sua casca Dura, fechada em si mesma, ela não pode
imaginar um destino diferente para Si.Não pode imaginar a transformação
que está sendo preparada para ela A Pipoca não imagina aquilo de que
ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo Poder do fogo a grande
transformação acontece: BUM!E ela aparece como uma outra coisa
completamente diferente, algo que ela Mesma nunca havia sonhado. Bom,
mas ainda temos o piruá, que é o milho de Pipoca que se recusa a
estourar.São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se
recusam a Mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa
do que o jeito Delas serem. A presunção e o medo são a dura casca do
milho que não Estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que
ficarão duras a vida Inteira. Não vão se transformar na flor branca,
macia e nutritiva. Não vão Dar alegria para ninguém
Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte
do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o
seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm
um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o
vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são
pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar.
Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro
dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
Rubem Alves
A ALMA
A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos, os seus rostos
envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo
moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por
outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz,
ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a
bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que
os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela
sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.
Acontece, entretanto, que não esxiste coisa alguma que seja do tamanho
do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde
descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua
condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da
nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...
Rubens Alves.
A solidão amiga ( Rubem Alves)
A noite chegou, o trabalho acabou, é hora de voltar para casa. Lar, doce
lar? Mas a casa está escura, a televisão apagada e tudo é silêncio.
Ninguém para abrir a porta, ninguém à espera. Você está só. Vem a
tristeza da solidão... O que mais você deseja é não estar em solidão...
Mas deixa que eu lhe diga: sua tristeza não vem da solidão. Vem das
fantasias que surgem na solidão. Lembro-me de um jovem que amava a
solidão: ficar sozinho, ler, ouvir, música... Assim, aos sábados, ele se
preparava para uma noite de solidão feliz. Mas bastava que ele se
assentasse para que as fantasias surgissem. Cenas. De um lado, amigos em
festas felizes, em meio ao falatório, os risos, a cervejinha. Aí a cena
se alterava: ele, sozinho naquela sala. Com certeza ninguém estava se
lembrando dele. Naquela festa feliz, quem se lembraria dele? E aí a
tristeza entrava e ele não mais podia curtir a sua amiga solidão. O
remédio era sair, encontrar-se com a turma para encontrar a alegria da
festa. Vestia-se, saía, ia para a festa... Mas na festa ele percebia que
festas reais não são iguais às festas imaginadas. Era um desencontro,
uma impossibilidade de compartilhar as coisas da sua solidão... A noite
estava perdida.
Faço-lhe uma sugestão: leia o livro A chama de uma vela, de Bachelard. É
um dos livros mais solitários e mais bonitos que jamais li. A chama de
uma vela, por oposição às luzes das lâmpadas elétricas, é sempre
solitária. A chama de uma vela cria, ao seu redor, um círculo de
claridade mansa que se perde nas sombras. Bachelard medita diante da
chama solitária de uma vela. Ao seu redor, as sombras e o silêncio.
Nenhum falatório bobo ou riso fácil para perturbar a verdade da sua
alma. Lendo o livro solitário de Bachelard eu encontrei comunhão. Sempre
encontro comunhão quando o leio. As grandes comunhões não acontecem em
meio aos risos da festa. Elas acontecem, paradoxalmente, na ausência do
outro. Quem ama sabe disso. É precisamente na ausência que a proximidade
é maior. Bachelard, ausente: eu o abracei agradecido por ele assim me
entender tão bem. Como ele observa, "parece que há em nós cantos
sombrios que toleram apenas uma luz bruxoleante. Um coração sensível
gosta de valores frágeis". A vela solitária de Bachelard iluminou meus
cantos sombrios, fez-me ver os objetos que se escondem quando há mais
gente na cena. E ele faz uma pergunta que julgo fundamental e que
proponho a você, como motivo de meditação: "Como se comporta a Sua
Solidão?" Minha solidão? Há uma solidão que é minha, diferente das
solidões dos outros? A solidão se comporta? Se a minha solidão se
comporta, ela não é apenas uma realidade bruta e morta. Ela tem vida.
Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, essa é a que mais
amo: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz
com aquilo que fizeram com você." Pare. Leia de novo. E pense. Você
lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se
Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o
seu jardim.
Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na
pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está
fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que
gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma
inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo
minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível
chamá-la de amiga? Drummond acha que sim: "Por muito tempo achei que a
ausência é falta./ E lastimava, ignorante, a falta./ Hoje não a
lastimo./ Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim./ E
sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,/ que rio e
danço e invento exclamações alegres,/ porque a ausência, essa ausência
assimilada,/ ninguém a rouba mais de mim.!"
Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente,
tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele
tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e
de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras
maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões da
saúde. Incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão
falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque
não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior
alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em comunhão com a
natureza. Elas não vêem as árvores, nem as flores, nem as nuvens e nem
sentem o vento. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo
falatório vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua
solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a
dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos,
frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um artifício para
evitar o contato conosco mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que "o
inferno é o outro." Sobre isso, quem sabe, conversaremos outro dia...
Mas, voltando a Nietzsche, eis o que ele escreveu sobre a sua solidão:
"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz - ela me fala com ternura e felicidade!
Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas.
Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes.
Ali as palavras e os tempos/poemas de todo o ser se abrem diante de mim.
Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para
aprender de mim a falar."
E o Vinícius? Você se lembra do seu poema O operário em construção?
Vivia o operário em meio a muita gente, trabalhando, falando. E enquanto
ele trabalhava e falava ele nada via, nada compreendia. Mas aconteceu
que, "certo dia, à mesa, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma
súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela casa - garrafa,
prato, facão - era ele que os fazia, ele, um humilde operário, um
operário em construção (...) Ah! Homens de pensamento, não sabereis
nunca o quando aquele humilde operário soube naquele momento! Naquela
casa vazia que ele mesmo levantara, um mundo novo nascia de que nem
sequer suspeitava. O operário emocionado olhou sua própria mão, sua rude
mão de operário, e olhando bem para ela teve um segundo a impressão de
que não havia no mundo coisa que fosse mais bela. Foi dentro da
compreensão desse instante solitário que, tal sua construção, cresceu
também o operário. (...) E o operário adquiriu uma nova dimensão: a
dimensão da poesia."
Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço,
disse o seguinte: "As obras de arte são de uma solidão infinita." É na
solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário,
que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta.
E me lembro também de Cecília Meireles, tão lindamente descrita por Drummond:
"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que
aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por
gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela
não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam
no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Sim, lá estava ela delicadamente entre os outros, participando de um
jogo de relações gregárias que a delicadeza a obrigava a jogar. Mas a
verdadeira Cecília estava longe, muito longe, num lugar onde ela estava
irremediavelmente sozinha.
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um
solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da
infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em
minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do
interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a
infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes,
ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre:
entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam
em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca
convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci,
então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem
sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria
inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada
podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho.
Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo
deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a
buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por
exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão...
A sua infelicidade com a solidão: não se deriva ela, em parte, das
comparações? Você compara a cena de você, só, na casa vazia, com a cena
(fantasiada ) dos outros, em celebrações cheias de risos... Essa
comparação é destrutiva porque nasce da inveja. Sofra a dor real da
solidão porque a solidão dói. Dói uma dor da qual pode nascer a beleza.
Mas não sofra a dor da comparação. Ela não é verdadeira.
Mas essa conversa não acabou: vou falar depois sobre os companheiros que fazem minha solidão feliz.
CONTEI MEUS ANOS
“Contei meus anos e descobri
Que terei menos tempo para viver do que já tive até agora....
Tenho muito mais passado do que futuro...
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas...
As primeiras, ele chupou displicentemente..............
Mas, percebendo que faltam poucas, rói o caroço...
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades...
Inquieto-me com os invejosos tentando destruir quem eles admiram.
Cobiçando seus lugares, talento e sorte.....
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas
As pessoas não debatem conteúdo, apenas rótulos...
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos...
Quero a essência.... Minha alma tem pressa....
Sem muitas jabuticabas na bacia
Quero viver ao lado de gente humana...muito humana...
Que não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade....
A OUTRA METADE
Quando você encontrar a outra metade da sua alma, você vai entender
porque todos os outros amores deixaram você ir. Quando você encontrar a
pessoa que REALMENTE merece o seu coração, você vai entender porque as
coisas não funcionaram com todos os outros..
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e
tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse
você”. A gente ama não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta
bonito. A fala só é bonita quando ela nasce de uma longa e silenciosa
escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele
termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.
Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.