Mostrar mensagens com a etiqueta NATASHA TRETHEWAY. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta NATASHA TRETHEWAY. Mostrar todas as mensagens

domingo, abril 29, 2007

NATASHA TRETHEWEY

(actualizado)
(este post é para José Miguel Silva)

NATASHA TRETHEWAY nasceu em 1966 em Gulfport, Mississippi, numa época em que o casamento interracial de seus pais era considerado crime naquele estado. No certificado de nascimento, no espaço destinado a ser preenchido com a raça da mãe, surge a expressão "colored", e no do pai, um americano branco nascido na Nova Escócia, surge a expressão "Canadian". O poema "White Lies", de Natasha Trethewey - escritora que pertence à mais jovem geração de poetas norte-americanos, - plasma num tom inocente a atitude adolescente de uma rapariga mestiça, filha de pai branco e mãe negra, portanto, mas suficientemente clara para conseguir "passar por branca" numa sociedade subjugada pelo enorme peso do racismo. Nathasha Tretheway vive em Atalanta, onde é professora associada de Inglês e de Escrita Criativa na Emory University. O seu primeiro livro de poesia "Domestic Work" (Graywolf Press, 2000), recebeu o prémio Cave Canem, em 1999, o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2001 e o prestigiado Lillian Smith Award for Poetry, em 2001. A sua segunda colecção de poemas "Bellocq's Ophelia" (Graywolf Press, 2002), recebeu o prémio do Mississippi Institute of Arts and Letters, em 2003, e foi finalista do prémio da Academy of American Poets' James Laughlin e do prémio Lenore Marshall, tendo sido nomeado em 2003 para Notable Book by the American Library Association. A sua terceira colecção de poemas intitula-se "Native Guard", e saiu em 2006 na editora Houghton Mifflin.



WHITE LIES

The lies I could tell,
when I was growing up
light-bright, near-white,
high-yellow, red-boned
in a black place,
were just white lies.

I could easily tell the white folks
that we lived uptown,
not in that pink and green
shanty-fied shotgun section
along the tracks. I could act
like my homemade dresses
came straight out the window
of Maison Blanch. I could even
keep quiet, quiet as kept,
like the time a white girl said
(squeezing my hand), Now
we have three af us in this class
.

But I paid for it every time
Mama found out.
She laid her hands on me,
then washed out my mouth
with Ivory soap. This
is to purify
, she said,
and cleanse your lying tongue.
Believing her, I swallowed suds
thinking they'd work
from the inside out.



§ (tradução colectiva Poesia Ilimitada)



MENTIRAS BRANCAS

As mentiras que eu contava,
enquanto crescia
luminosa, quase-branca,
muito clara, ossos rubros
num lugar de negros,
eram só piedosas mentiras.

Eu podia facilmente dizer à malta branca
que vivíamos na alta da cidade,
não naquela área cor-de-rosa e verde
de vergonhosas cabanas e tiroteios
ao longo do caminho. Podia agir
como se os meus vestidos caseiros
tivessem saído directamente da vitrine
da Maison Blanche. Podia até
ficar calada, deixar-me estar,
como daquela vez em que uma miúda branca
(apertando-me a mão) disse, Agora
temos três como nós nesta classe
.

Mas paguei por isso de cada vez
que a Mamã descobriu.
Ela punha-me as mãos em cima,
depois lavava-me a boca
com sabão de Marfim. Isto
é para purificar
, dizia ela,
e limpar a tua língua mentirosa.
Acreditando nela, eu engolia espuma
pensando que ela trabalharia
de dentro para fora.



COMENTÁRIO: na tradução da expressão "white lies" perde-se o jogo entre "mentira (acerca da cor da pele) branca" e "mentira piedosa". Alertado por Luis Maia Varela, optei por em diferentes momentos do poema, - título e final da primeira estrofe, - usar as duas possibilidades de tradução para que não se perdesse nenhuma.