O meu "POST Nº UM" é dedicado a um HOMEM que foi e continua a ser "uma referência na minha vida" ... A primeira figura masculina que me inspirou confiança e respeito e despertou em mim sentimentos de admiração, carinho, ternura, gratidão! Um Homem de Coração Grande e Alma Nobre, de uma simplicidade grandiosa, esquecido por muitos, desconhecido da maioria, com quem tive o privilégio de conviver e a quem chamava de "Padrinho".
Deixou uma OBRA que bem merecia maior reconhecimento e divulgação por quem de direito.
O próprio nome deste "BLOG" é inspirado no trato carinhoso que me dispensou enquanto com Ele privei, constituindo esse período da minha adolescência, os melhores anos da minha existência, não como "serviçal" mas como "protegida".
Dotado dum espírito jovem, elegeu-me como sua aliada e confidente, contagiando-me com a sua permanente alegria de viver e transmitindo-me uma certa irreverência que lhe era peculiar. Um grande exemplo dos valores morais mais nobres pelos quais hoje, mais de 35 anos depois, continuo a pautar a minha vida.
Em breve, precisamente no dia 8 de Julho p.f., fará 21 anos que nos deixou, mas permanecerá para sempre vivo no meu coração.
A sua "pupila Pascoalita"
Original do Pintor
(oferta à Pascoala)
Severo Portela Júnior nasceu em Coimbra, a 10 de Setembro de 1898. Cursou escultura com distinção na Escola de Belas Artes de Lisboa, tendo obtido no seu primeiro trabalho, apresentado ao Mestre Condeixa, a classificação de 20 valores.
Casou, muito novo, com Maria José Carrilho Marreiros, aluna particular de pintura do Mestre Carlos Reis. Por esse motivo, em 1920, veio viver para Almodôvar,onde se tornou pintor, fascinado com a raça das gentes Alentejanas, com os seus costumes e suas indumentárias.
Em 1930 participou, pela primeira vez, na exposição anual da Sociedade de Belas Artes, com um grande quadro intitulado "Músicos de Aldeia", tendo-lhe sido atribuído o prémio Rocha Cabral e a primeira medalha de ouro daquela Sociedade. Em 1931, obteve novamente o mesmo prémio com a apresentação do seu quadro "1860" que o Estado adquiriu para o Museu de Arte Contemporânea. Em 1933, como bolseiro da Junta Nacional de Educação, visitou alguns museus em Espanha, França e Itália. Das impressões recolhidas, escreveu, em 1936, o livro "Arte Antiga, Arte Moderna". Depois, em 1934 pintou "Os Alentejanos" e em 1941 "Os de Almodôvar", telas de grandes proporções igualmente adquiridos pelo Estado para o Museu de Arte Contemporânea. Refira-se também o quadro "O Último Cocheiro" adquirido pela Câmara Municipal de Lisboa, hoje no Museu da Cidade. Pintou ainda centenas de quadros de menores dimensões, que se encontram em galerias particulares. Em colecções particulares encontram-se também tapeçarias e várias esculturas suas.
Em 1954 publicou o livro "Leopoldo de Almeida um artista singular" e em 1955 "Reflexões sobre Columbano", resultado de conferências suas proferidas no Museu de José Malhoa.
Realizou cinco exposições individuais, três em Lisboa e duas no Porto. Os seus motivos predilectos eram aquelas boas gentes da "sua" vila ao sul de Beja Almodôvar - com os seus maiorais, ceifeiros, ganhões, todo o povo humilde que trabalha a terra nas planícies do sul alentejano, onde viveu trinta anos.
Em 1940 foi encarregado de decorar a sala de S. Vicente na Exposição do Mundo Português, pintando quatro grandes telas sobre a morte do Padroeiro de Lisboa, que se encontram no Museu de José Malhoa. A partir desta data foi intensa a sua actividade como decorador de grandes superfícies. Antes de regressar novamente a Itália, agora como bolseiro do Instituto de Alta Cultura, para fazer a aprendizagem da velha técnica de tintas sobre argamassa, pintou ainda um motivo de decoração "a fresco" do novo Tribunal da cidade de Beja. Pouco tempo depois, pintou o grande Tríptico do Salão Nobre da Câmara Municipal de Beja, conhecido pelos "Painéis do Foral", tendo recebido, em resultado da em Belém exposição de alguns dos desenhos desse trabalho, a medalha de honra da Sociedade
Nacional de Belas Artes. Em Beja, pintou ainda o Salão do então Grémio da Lavoura e a entrada da Escola Industrial. Também em Beja, naCâmara Municipal, se encontra o conhecido quadro "Promessa dos Maiorais" e na Sé Catedral a "Ceia de Emaús".
Pelo processo de "a fresco" decorou o Palácio de Justiça de Bragança e a Domus Justitiae de Viseu. Pintou um painel alusivo ao Código Civil no Palácio da Justiça de Lisboa, cinco frescos decorativos na sala de audiências do Tribunal da Covilhã e cinco frescos, com cenas alusivas à história da cidade, no Palácio de Justiça do Porto. Para o Palácio da Justiça da Golegã pintou um tema histórico sobre os frades cistercienses. A óleo pintou uma figura da Justiça no Tribunal de Setúbal. Em tapeçaria foi feita uma peça para o Tribunal de Almada e outra para o Palácio de Belém.
Realizou o enorme painel da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde figuram os grandes vultos da História Pátria, e um fresco de grandes dimensões no átrio da Faculdade de Medicina de Coimbra, com a história do respectivo ensino. Pintou igualmente o painel do átrio da Escola Técnica D. Luísa de Gusmão, em Lisboa e um painel, referente à aprendizagem industrial, na Ex-Escola Industrial e Comercial de Moura.
Executou também "a fresco" a abóbada e o altar-mor da Igreja de Santo Isidro de Pegões, a Capela Baptismal da Igreja de S. João de Brito, em Lisboa e decorou as Capelas Baptismais das Igrejas de Almodôvar e Merceana e, em colaboração com o pintor Costa Rebocho, a Igreja do Santo Contestável.
É também autor do tríptico a óleo "Ceifeiros" que se encontra na Ex-Federação Nacional dos produtores de Trigo, em Lisboa e do "grafitado" executado na Capela do Hospital de S. Brás de Alportel. É igualmente de sua autoria o grande painel da União das Associações dos Comerciantes do Distrito de Lisboa, bem como o painel decorativo "Escola do Infante" no Museu da Marinha.
São numerosos os seus quadros de pintura a óleo espalhados por vários Museus do país, designadamente, o Museu Nacional Soares dos Reis, o Museu Grão Vasco, o Museu Nacional de Arte Contemporânea, o Museu da Cidade de Lisboa, o Museu do Caramulo, o Museu Rainha D. Leonor, em Beja e a Biblioteca-Museu Severo Portela, em Almodôvar. Todavia, é no Museu de José Malhoa que se encontra o maior número das suas obras.
Como escultor fez o Padrão Henriquino destinado ao ex-Ultramar, tendo ganho, em concurso público, o 1º prémio, e executou a estátua do Governador da Índia D. Nuno da Cunha.
Como reconhecimento do valor das suas obras, o Estado concedeu-lhe, em 9 de Março de 1936, o grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública e, em 18 de Janeiro de 1981, o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo. Foi também membro jubilado da Academia Nacional de Belas Artes.
Faleceu em Lisboa, no Hospital de Santa Maria, no dia 8 de Julho de 1985 e encontra-se sepultado em Almodôvar, onde passou os últimos anos da sua vida.