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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Notícia




o fogo queimou trezentos barracos.
repórteres anunciam
que incandescências de papelão
levaram as caixas de leite
de Cristina das Dores.

alastramentos alaranjados
labaredas fagocitam, lambem, cospem nada de volta
deixam rastro preto de lesma ácida.
fios delgados de água,
fios delgados de lágrima,
gente se arvorando em milagres.

(câmeras sobem ruelas, alardeam
Beatriz mamando no seio anônimo
da mulher quem nem a conhece.
mas o choro de fome foi sem pedir licença
gotejar os peitos
como tal.
foi milagrear.)

há mais leite no mundo, Dores.
ouça: há.
há leite que brota de gentes
feito nascente, manancial
feito flores.
tem gentes brotadinhas de milagres
de tanto mundo que as perpassa.
dizem, quase tudo é chamas, Dores.
quase tudo passa.

(11/10/09)

domingo, 19 de julho de 2009

Mancha




Naquela manhã cinza o dia foi levando Rita pela mão com maus modos: o café havia dormido mais que ela, por isso saiu de casa mastigando a seco mesmo um biscoito de maisena. No ônibus, não havia lugar pra sentar, na bolsa, não havia trocado certinho, no cobrador, não havia paciência, e nem nas pessoas, educação. Rita se agarrava às suas coisas com uma mão, e com a outra se segurava como podia à barra de um assento, tentando ignorar a inconveniência ocasional das pessoas que, de passagem, se espremiam contra ela. No trabalho, teve dor de cabeça, meia hora a menos no almoço, um sem-número de telefonemas infrutíferos, hora extra.

E, além de tudo, aquela chuva que no fim do expediente, e no meio do caminho, veio encontrá-la sem sombrinha. Fechou os olhos sob a água torrencial, mas não buscou abrigo: preferiu seguir para casa em passos lentos, coração resignado, esperando que junto com a água lhe fossem escorrendo pelo corpo todos os litros de frustração.

Mas, quando finalmente abriu a porta de casa, cumprimentou-a o cheiro inconfundível de bolo acabado de sair do forno. A vida era boa novamente. Chegou à cozinha para encontrar a mãe e a irmã mais nova arrumando a mesa do café. De roupa trocada, toalha sobre os ombros e o mundo de volta aos eixos, sentou-se junto às duas. E lá se foram generosas fatias de bolo com leite recém fervido fumegando nas xícaras - eram três graças de sorrisos enlevados.

Rita pensou no cheiro do leite, no gosto do chocolate, na textura da toalha macia, no sagrado. Pousou olho fixo no bolo de chocolate, como nunca havia feito antes. Era um bolo simples de cobertura, comum nos cafés da tarde, mas cujo gosto supostamente conhecido os eventos do dia haviam feito o favor de acentuar. A moça sentia o cheiro de chocolate e salivava com a boca e com os olhos - que marejavam involuntariamente, e ela tinha que se dar ao trabalho de piscar muito para evitar que as lágrimas simplesmente vertessem contínuas por suas bochechas. O bolo parecia crescer diante dela, ganhando contornos cada vez mais nítidos.

Até que o inevitável aconteceu, a irmã sempre com aquela mania. Rita viu tudo em câmera lenta: a faca se aproximando, o ângulo enviesado, uma lasca grande de bolo se desprendendo irregular, com mais cobertura do que lhe cabia.

A pequena menina lambeu os dedos depois da normalidade do ato.

Rita continuou olhando o bolo, a mãe sorvia o leite folheando uma revista qualquer. E o ar ficou inerte como dizem que acontece logo antes de um grande estrondo de desastre. Deslizamento de lama, choque de trens, terremoto, onda gigante:

"Raio de menina egoísta! Por que não corta esse bolo do jeito certo, como todo mundo faz?"

Não houve resposta. A irmã, atônita, estendeu os braços junto ao corpo e baixou a cabeça, acometida por uma vergonha que desconhecia até então. A mãe, por sobre os óculos, repreendeu a filha mais velha com um olhar duro. E por vários segundos os resquícios da catástrofe pairaram no ar, agonizaram tremelicantes sobre o chão, até que Rita tentou um remendo:

"Não ligue pro que digo. Vem, termine seu bolo, tome lá mais um pouco de leite."

Mas não houve jeito. No ímpeto de servir a irmã, a moça deixou a leiteirinha cair, entornando tudo sobre a mesa. Nessa noite custou a dormir, com a culpa atravessada entre as pálpebras: arruinara uma tela de Rubens.

Choveu por mais dez noites e onze dias.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Bolero



Em nossas caras sãs
O que vejo é isso:
Você segue muito bem
E eu tampouco lhe preciso.
E esse é um ponto pacífico
Em todas as amplas dizências
De comum acordo
De paz mesmo
De oceano de transparências
Nas coisas que se sabem sem esforço.
Daí é um sossego
Uma delícia de desapego
Melhoro da vista e do juízo
Uns bons graus antes perdidos
Vivo espaçosa em mim mesma
Num vai e vem de liberdades
Acendendo idéias
Ordenando fatos
Limpando uns cantos empoeirados
Tomo decisões num átimo
Planejo, ouso, arrisco
Enfim, o máximo.

Mas se acontece de você pousar
Essas órbitas sonsas sobre mim
É o fim.
Fico em evidente perigo
Por dentro reverbera um bolero
Brota-me uma rosa entre os cabelos
Túrgida de uma antítese infantil
Vermelha e sem mistério:

É que eu não preciso
Mas quero.


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(tela de Matisse - Odalisque)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Poema Cético



Não acredito em carma.
Carma, meu bem, só pode ser um nome
Que há muito inventaram
Pra disfarçar obsessão
Coincidência triste
Ou as duas.
Não acredito em gente
Soberba o bastante pra culpar a lua
Por qualquer mau humor
E dizer que planeta tal
Alinhado com aquele outro
É sinal claro de malogro
Dor de cotovelo
Azar no jogo.
Eu, particularmente,
Não ligo pra borra do café:
Prefiro o gosto forte, o cheiro
O susto quente na língua.
O resto, eu dispenso, sabe como é
Que café nenhum vai ler meu futuro.
Baralho eu jogo é de quatro naipes
Em casa de praia, na roda de amigos
E amuleto eu trago de nascença
E levo sempre comigo:
Amor de pai e mãe
Espalhado no avesso da pele.
Daí pode vir olho gordo, magro
E de todas as cores:
Não noto
Não tropeço
Não engordo um quilo.
Os búzios não me dizem nada
Alem da lembrança boa do mar
E mapa, só o político.

Prefiro assim, nada místico:
Que de inferno
Já basta o nosso de cada dia
De gente chata, mesquinharia
De mil contas pra pagar
Da tristeza da criança no sinal.
Inferno bobo,
Aquele do meu signo com outro
Não quero como bode expiatório:
Me cai mal.

E além disso
O que não me sobra é tempo
Pra sofrer de inferno astral.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre Nós

foto por Leandro Carmelini




É sempre a mesma história
Estampada nos rostos
Nas reentrâncias das mãos
Nas pintas dos corpos
E brotando pela aorta
Desde a invenção da roda


E da corda
(assim vai):


Num ponto escuro da corda
Entranhado no complexo de fibras
O hipocentro de um tremor
Atordoa lados opostos
Que de repente se aproximam
Se animam
Se enroscam
E seguem caminho
Pensando continuar cada um dele mesmo
Como sempre, sozinhos
Mas quem entende?
Se no âmago da corda
Ali, onde não se atina
Onde o início de uma ponta se dá
E a outra termina
Há algo explícito perturbando a calmaria
Da antes plana geografia:
Nós.
Mas é que a corda é comprida
Comprida de dar o dia
De atravessar noite, abraçar o mundo
Por isso esse desejo fundo
De tecer amarrinhas
Pra distrair um destino
Assim, tão retilínio
Tão certinho
sem sobressaltos.
Então, daqui até o último planalto
De uma à outra extremidade
São nós pra perder de vista
Nós que nos amamos
Furor no meio da reta
Cheirando a subversão
E nós que perdemos a graça
do apego, da comunhão
E somos somente aperto
Sem sossego, sem voz.


Pra esses últimos
Ainda resta o bálsamo
(mesmo que não venha veloz)
Da certeza universal
Provada e comprovada
Por aqueles que já viveram
Até a solidão mais atroz:
A de que pelo seu
E pelo meu bem
(é sempre a mesma história)
O tempo desata os nós.
O tempo desata-nos.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Sozinhez


Sozinhez é sina
E não vem da sala vazia
Nem da cadeira sem sentante
Nem do bodoque sem menino
Ela não vem de cima
Feito castigo divino
É destino
É por dentro
Nascida e crescida
Banhada em ungüento
De batismo
É cataclismo
Silencioso
Que quase mata
Mas não
(a sádica)
É calo na ponta do coração
Pendendo pro lado esquerdo
E, esporádica,
Causa inquietância
Medo
Sede
Transparência
Ou cor da mais próxima parede.
Sozinhez é amiga de infância
Mal de filho único
Ou de quem tem mais irmãos
Que os dedos podem contar
E, cadela, é mancomunada
Com todo o silêncio que há
Nos telefones que não tocam
Nas cartas que não chegam
Nas pessoas que não sentem saudade
Nem nada.

Sozinhez não é coisa de idade
É marca de nascença na testa
É maldade
Da simples natural seleção
É festa
Em sótão cheio de fantasma
Esse calo pressionando o pulmão
Essa falta de ar que me pasma.

Sozinhez é asma.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Particularidades de Helena




Atirou o calhamaço de folhas rabiscadas à parede, irritada. Sofria de uma tristeza tão desgraçada, tão mal-feita e rascunhada, e negada, que às vezes se sentia feliz – profundamente. Por isso não padecia com beleza, nem era alegre de verdade. Logo perdeu a visão do vermelho. Quando o inverno chegou e os morangos estavam graúdos e acinzentados, sangrou um filete negro pelo nariz e nunca mais rimou nada.





quinta-feira, 10 de julho de 2008

terça-feira, 17 de junho de 2008

Soneto de Aprisionamento




Eu decidi armar uma arapuca
Não, foram quatro em fila reta assim
Porque queria (e achava ideia astuta)
Um tuim, anum, pardal e um chapim

É claro que a empreitada foi em vão
O canto provocando do passaredo
Não foi, compositor, má intenção
Foi só pra terminar o meu soneto

Mas foi-se o bem-te-vi, que não mais vi
Ligeiros juriti e o trigueiro
Voaram o sanhaço e a viúva

Até quem enfim, vencida, eu percebi:
Não posso por palavras num poleiro
E desisti de vez de ser Neruda

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(soneto frustrado sobre minha incapacidade de fazer sonetos, rs)



segunda-feira, 9 de junho de 2008

Aborto





Boa tarde, doutor
Vim pedir um atestado
Lavrado, carimbado
E assinado pelo senhor.
É que preciso de uma licença
Desse mundo traiçoeiro
Pra limpar minhas paredes
Daquele sangue vermelho
Tirar um sono sem sonhos
Chorar no meu travesseiro
Bem assim um rio inteiro
Pra levar correndo essa dor.
Deixa-me entrar em crepúsculo
Dá permissão de eu me pôr
E ficar de bruços, de luto
Sobre um livro de Rimbaud
Porque algo brigou com o fluxo
E saiu sem dó, traidor
Pela boca, em horror lúcido
E morreu sem nenhum pudor.
Não tinha nome, o pequeno
Mas se tivesse crescido
Pegado corpo, alma, cor
Dentro do meu peito-abrigo
De cada um dos meus poros
Ele teria nascido:
Onda de arrepio
Ou desabrochar de flor.
E o nome dele seria
Um nome simples, doutor
(João, Pedro, José)
O nome seria Amor.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Prece de Maria Cândida



Ó, meu pai
Tira de mim essa candura
Nem precisa tirar tudo, aliás:
Some só com esse can
Troque aí por cã
Cadela
Quero ser dura
Cã dura
Cadela difícil
Tem mais graça, meu pai.
Deixa, ao invés, eu ser coisa que queima
(queimadura)
Ser coisa que ata
(atadura)
Coisa que morde
(mordedura)
E, por favor, coisa que per
(perdura)
Não me largue sozinha
No meio dessa ternura
Jura
Com a mão no peito.
É que eu ando mal
Ando muito enjoadinha
Desse defeito
De fábrica.
Enjoada, nada
Ando puta.
Chega de açúcar
Quero páprica
Vermelha
É muito mel, meu pai, muito mel
Quero a picada da abelha.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Sobre a Raiva



Lista de coisas que dão raiva:

Prender o dedo na janela
Queimar mão na panela
Ter um roxo na canela
Manchar minha saia amarela
Ver você com ela.

Ódio, não.

Ódio paralisa, faz a vida revirar em dor.

Ódio anuvia o juízo.

Já a raiva faz isso:

Recolher o dedo entre os lábios
Usar uma pomadinha
Recorrer à calça jeans
Tentar receita de vó
Virar o rosto e seguir em frente
E só.




(02/08)

terça-feira, 22 de abril de 2008

Primeiro de Abril



Hoje estou brava

Como deveria estar

Esbofeteio o ar

Dou baita bronca

Passo da conta:

Então nem vem

Não me faça de tonta

Não me conte segredos

Que já contou a dez mil.

Não me chame de lua, de tua

Não me ponha num álbum

De mocinhas passadas

Mas que coisa mais vil,

além de brega, abobada

Grande palhaçada

Do seu ego viril.

Em que planeta você vive

Que tem tanta lua,

Onde já se viu?

Você pra mim não existe

Você só pode ser mentira

Tipo paz na Caxemira

Um belo primeiro de abril.


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( O Curinga é arte de uma mocinha americana chamada Jule Marie Smith)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Paisagem Noturna





A noite vem roubando as cores
Roubando sons
Distribuindo solidez às coisas.
A rua sépia lá embaixo
Brilha de tão concreta
Vazia e sem propósito:
Bastando-se.
Às três da madrugada queria sentir
A rua gelada sob meus pés
Um pé em cada faixa amarela.
Fico parte da cena e do silêncio.
Bastando-me.

Menina no Varal




Nunca

Nunquinha na vida

Eu havia pensado coisa tão louca

Quanto um varal,

daqueles mesmo (náilon, pregador)

Servindo pra coisa além de pôr roupa

Tapete, bicho de pelúcia, cobertor.

Pois que acredite quem quiser

Porque não foi engano

E nem tentem me convencer

De que era boneca de pano.

Convencer a mim, leitora de Lobato

Habituada com a Emília

Vai ser ato malfadado:

Sei ver bem as costuras

Cabelo de lã, sorriso de linha

Não é loucura

Teatro, filme

Nem pantomima

Aquilo era – eu juro – uma menina.

Menina bem pequena, é verdade

Mas alguma explicação tem:

Ela deve ter encolhido

Pra não causar alarido

Pra caber certinho nas mãos

Ou no coração de alguém.

Ou se encolheu foi por dor

Que só ela mesmo conhece

Pois vou dizer do que acho

Que essa menina carece:

Carece de esquecer essa mão

Que a pendurou ali na corda

E se sacudir um pouquinho

Que o grampo logo se solta.

Se ralar joelho no chão

Assopra, limpa com a mão

E joga na lata de lixo

Ponto de interrogação.

Vida é certeza, menina.

Não do que vai vir, mas do agora.

Se fica olhando pro lado,

O olho buscando o passado

Ou tá vivendo errado

Ou deixando vid’embora.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Blusa de Frio


Blusa de frio
Em dia de chuva
É feita pra dar abraço
Daqueles de neles se perder
E é só essa a razão de ser.
Blusa de frio em menino
Cor escura, cheiro de amaciante
Invadindo as narinas, bailarino
Abraço rente, autocolante.
Vá embora não, seu tratante
Que ir embora assim é ultrajante
É pedante, desinteressante!
É desodorante
Esse cheiro de brisa?
E esse cheiro seu?
De terra, mas uma terra só sua
De lua
Cheiro de coisa vã
Avelã
Sumo de maçã
Ah, chega mais, minha parede de lã
Que lhe faço uma proposta
Livre comércio
Escambo
Do meu gosto de canela
Pelo seu de hortelã.
Só não troque o caminho
Não me olhe de canto
Que isso não se faz, menino
Que isso não é troca sã:
É só seu jeito cretino
De me deixar nessa chuva fria
Casaco fino, mãos vazias
Tiritando de febre malsã.

Uma Carta






É assim que lhe conto

Que entrego meu coração.

Voz parece que vem arranhando pela garganta,

E acho que nunca me acostumei com ela.

Nasci mal-acostumada.

Devo ter tido preguiça de chorar,

Ou devo ter chorado tanto

Com tão pouco tamanho

Que me cansei cedo.

Me cansei.

Tinta desliza fácil

E letra é desenho tão bonito,

Que me inspira a dizer mais.

Digo e vou dizendo pra sempre

Feito rio sinuoso cortando um país

Continente

O mundo

E paro só por causa do pulso

Esse fraco

Que tem pulso-forte sobre mim

Sobre minhas vontades.

Dentro de mim o que guardo

É um pedido de perdão aos que precisaram da minha voz

E não tiveram.

E inveja de quem diz com tanta eloqüência:


“não”

“te ajudo”

“é o seguinte”

“sim”

“te amo”

“fica mais um pouco”

“mas me explique melhor”


Está tudo dentro de mim.

Mas nem sempre há caneta e papel.

Só queria escrever com os dedos

Sobre a pele de alguém.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A um Passarim



Passarim
Diz o porquê de ser assim
De acreditar no amor, dá-lo a mim
E depois levantar vôo
Sozinho
Arredio
Pra me deixar no meio-fio
Frio
Pra correr longo e amplo
Rio
E desembocar n’outro mar
Dar para outros seu cantar.
Não sei pra quê esses olhinhos
De quem é doido por carinho
De pedir atenção, conversa boa
Se daqui a pouco você entoa
Uma notinha já manjada
E voa
Rouba a beleza do meu dia
Vai cantar em outra freguesia.
Ah, passarim, ai de mim
Eu, que vivo dizendo sim
A esse amor mudo
Amor-minuto
Que nem sei se ainda existe
Se já virou modinha triste
Já faz tempo...
Virei chiste?
Virei gaiola, arapuca?
Que idéia é essa, que machuca?
Eu, que queria ser céu
Nuvem, sol, flor, açúcar
Queria dia de cachoeira
Queria perder eira e beira.
Mas tá certo, passarim
Você bebe, come, arrulha
Cata um galho de alecrim
Canta um cheiro de jasmim
Bate as asas
E fim.