Oswaldo Martins. Poeta e professor de literatura. Autor dos livros desestudos, minimalhas do alheio, lucidez do oco, cosmologia do impreciso, língua nua com Elvira Vigna, lapa, manto, paixão e Antiodes, com Alexandre Faria. Editor da TextoTerritório
quinta-feira, 26 de julho de 2018
desimitação para o 19º século
levantada a batina beneditino sua
com esforço esforça a testa imunda
o comprimido verso toma pela tunda
ou pelo medo de enfrentar a turba
disforme e sem emprego pelos becos
beneditino corre como um pobre clérigo
de cuja paróquia rouba não o verso
mas o assalto a um templo grego
ei-lo aí a misturar às datas vênias
a curitibana plateia de asininos filhos
a benzer-se com os diabos da maleita
pobre é a sentença a quem se deita
perdido o andaime do edifício
no etéreo terreno dos artifícios
(oswaldo martins)
quarta-feira, 18 de julho de 2018
desejos (nova versão)
1
ela se sentava
ao colo a manta
e uma xícara de pedinte
+ os olhos
+ os desejos
bem se viam
bem se desejavam
2
a manca – menos que um dos joelhos
as coxas firmes desenhavam vértices
prometedores
3
ela lava a xoxota na bacia das almas
apertava bem para ver se não pinga
quando se mudou levou a bacia mais o jarro
o enfermeiro atalhou ser ali
o cuidado das bruxas
4
só pele e osso
gritavam
enquanto o moço
enquanto a moça
com cada um se agarrava
pelo amor de outros
5
todos escusos amores
vivem para os almanaques
das anotações diárias
dos desejos embaçados
os prontuários da paixão
(oswaldo martins)
segunda-feira, 2 de julho de 2018
bens da perduração
os bens da perduração:
um relógio sem tempo
um cinzeiro estilhaçado
amores que se perdem
as benfazejas noites
um copo de cachaça
e um ombro para as
descargas emocionais
injeção para o tétano
e este pequeno risco
de palavras sustento
diário para o tranco
das desditas
(oswaldo marins)
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