Diário de uma Quarentena #Dia 52


Tive de mudar o título destes posts senão teria de acabar o diário aqui! Já estou tão ambientada à coisa que deixou de me fazer sentido relatar o dia-a-dia. Prefiro ir escrevendo as coisas dignas de nota, já que me sinto perfeitamente ajustada à nova rotina. E também já não tenho energia suficiente para ficar acordada até tarde a escrever sobre os dias que passam. Nem acho que haja coisas dignas de registo, já!

Constato agora que estou há quase 2 meses em casa de quarentena e isto já se entranhou, ao ponto de estar a entrar na fase em que já não quero sair e dou por mim todos os dias a evitar os motivos para um pé na rua, a não ser para ir fazer o exercício físico diário. E pior, estou a ficar intolerante à proximidade física das pessoas que não conheço. Ontem fui ao supermercado e a senhora atrás de mim começou a pôr coisas no tapete da caixa ainda eu não tinha acabado de pôr as minhas compras todas, o que fez com que estivesse literalmente ao meu lado a arrastar as compras dela para trás no tapete! Acabei por lhe responder mal e de forma brusca e senti-me péssima com isso, porque era uma senhora mais velha, muito provavelmente a viver sozinha pelas poucas coisas que levava. Sinto-me a desumanizar-me aqui no meio. Continuo com muito medo do que este isolamento nos vai fazer, especialmente no médio prazo..

Quando há umas semanas falava com uma italiana que estava há mais de 2 meses em casa, achei mesmo que não iria aguentar chegar aos 2 meses assim, mas a verdade é que encontrei as minhas estratégias para lidar com a situação da melhor forma possível e neste momento sinto-me absolutamente plena. Falo imenso por escrito e por telefone com uma míriade de pessoas, mas raramente vejo seres humanos, excepto ao Sábado em que inaugurei oficialmente os Jantares da Quarentena. Costumo jantar com uma amiga e um amigo solteiros que também vivem sozinhos, cada um na sua casa é que são os meus anjos da guarda quando preciso de deixar o meu filho com alguém. Não há um jantar em que não acabemos sempre a falar de sexo, relações amorosas, emoções. Não me lembro de rir tanto há meses! E acredito que estas ligações vão mesmo ficar para a vida.

Aqui pelo meio acertei biorritmos. O meu filho e eu já estamos no mesmo horário de despertar: 9h da manhã, e temos uma rotina super coordenada que nos faz viver muito felizes! Temos tido muito mais tempo para brincadeira desde aí e desde que dicidi não permitir a tortura da pré-escola à distância. Temos levado tudo com conta, peso e medida e estou genuinamente a apreciar o privilégio de o ter comigo em casa. Sinto que esta foi uma oportunidade de reescrever a nossa história. Tenho aproveitado para usufruir da ligação que temos. Se quando fiquei sozinha grávida de 8 meses e posteriomente absolutamente sozinha com ele até aos 6 meses em Lisboa até me mudar para o Porto, sempre percepcionei esta mudança como uma prisão, a verdade é que esta pandemia me veio mostrar que está nas nossas mãos ressignificar o que nos acontece e é sempre possível mudar quem somos numa segunda oportunidade. Desde que queiramos fazer o trabalho difícil e estejamos disponíveis para conviver intimamente com os nossos piores demónios, é possível curar as piores mágoas.

Os passeios diários ao fim da tarde mantêm-se e estão numa média de 6kms/dia. Isso significa que ele dorme cerca de 11h-12h por noite. O que tem sido impossível de acontecer é a sesta que todos os dias é pautada por milhares de desculpas para não dormir e que me vai torrando a paciência e consumindo as horas de paz para trabalhar em coisas mais complexas.

Entretanto esta semana decidi voltar ao objetivo de não comer carne durante os tempos para ver se consigo fazer disto um novo estilo de vida mais saudável. Desde que vi o The Game Changers na Netflix que decidi que é mesmo hora de ser vegetariana por diversas razões. E tenho aproveitado o tempo da quarentena para ir experimentado receitas novas mais à base de grão e feijão. Hoje fiz feijão preto estufado com arroz branco. E não resisti a mais um baba ganoush para jantar! 

Aqui pelo meio, deixei o Big Brother de lado e estou viciada na série Love is Blind da Netflix! Aquilo é melhor que qualquer reality show e mostra tão bem como algumas relações são tóxicas desde o início e de como a maior parte dos problemas está sempre na comunicação entre duas pessoas. Também na linha das relações amorosas, ando a ler o (In)Fidelidade: Repensar o Amor e as Relações, da Esther Perel. Já a tinha ouvido numa Ted Talk sobre relações amorosas e depois ela foi Oradora das CreativeMornings em Nova Iorque. E no meu aniversário do ano passado, o Husband Material ofereceu-me o livro. Tenho de o ler aos poucos. Há ali muita coisa para digerir, muita coisa que me faz pensar e reflectir na minha própria vida. Há muitas perspectivas sobre coisas que eu tomava por adquiridas e que estão a ganhar uma nova luz. Não sei bem como é que se encaixa esta nova visão em mim. Mas está a valer todo o trabalho que está a dar... 

Esta pandemia tem sido uma bênção na minha vida. Tem-me permitido rever muitas coisas em mim, tem-me dado tempo para olhar para as minhas sombras, tem-me dado espaço para solificar relações significativas e acima de tudo tem-me ensinado muitas coisas sobre mim mesma. Sinto-me uma privilegiada no meio disto tudo. 

Bens de Primeira Necessidade na Quarentena:

Vinho e gelado de chocolate.

Objectivo da Quarentena:

Encontrar máscaras de criança com dinossauros! 

Reuniões da Quarentena:

Ligar o Zoom sem imagem e sem som, ligar os auscultadores bluetooth e ir lavando a loiça do almoço enquanto a reunião começa e vão sendo tratados assuntos que não precisam da minha intervenção! 

Diário de uma Quarentena #27042020



Tenho estado ausente deste registo porque desde sexta que estou em modo retiro offline. Depois do meu evento online decidi que precisava de um fim-se-semana longe da internet e desliguei as redes até hoje. Vi apenas o Instagram para comentar o novo Big Brother que estreou ontem.

Estar offline durante cerca de 3 dias pode signifcar estar isolada, mas não foi o caso. Houve visitas no Sábado, houve uma caminhada de 2 horas em plena Natureza, e essa ligação é a mais forte de todas, e houve telefonemas que duraram horas. Senti-me mais ligada do que na maior parte dos dias em que estou online.

Hoje voltámos ao ritmo. O meu filho acordou pelas 9h porque ontem andámos imenso a pé os dois e ele caiu na cama e dormiu cerca de 12h. Tive de nos despachar a correr porque havia aulas online para ele às 10h30 e eu tinha imenso trabalho para fazer esta manhã, fruto do dia que estive off na sexta! Assisti a mais um tortura de quase 1h em frente ao tablet. Definitivamente isto não funciona e eu questiono-me porque continuo a insistir numa atividade que nos faz mal aos dois em nome de uma pedagogia que nem sequer acredito. Esta suposta nova normalidade está a revelar-se uma atrocidade na vida do dia-a-dia de nós os dois e estou numa fase muito favorável à pedagogia Montessori!

A seguir ele foi fazer construções com legos, eu respondi a emails urgentes e fomos os dois fazer o almoço. O meu sonho de o inscrever no Masterchef Júnior está um passo mais perto de se tornar realidade! Almoçámos, ele foi dormir a sesta e eu estive num webinar sobre o futuro das relações amorosas. Algumas das coisas ali faladas já as vejo a acontecer nas pessoas à minha volta. E curiosamente acho-me muito mais resiliente do que alguma vez imaginei. Achei que sofreria muito mais com este distanciamento do que se tem revelado verdade, mas tenho sentido uma paz e uma tranquilidade que nem eu esperaria!

Durante a tarde, acabei de escrever um artigo para o Público que deve sair esta semana e comecei a preparar o evento do próximo mês do meu projecto do coração. Recolhi mais uns dados para a tese, reformulei algumas coisas que serão fruto deste tempo que estamos a viver, tratei uns questionários, enviei mais uns emails e acabei a tarde numa reunião com a Equipa onde saí com mais coisas para pensar.

O jantar já estava despachado desde a hora de almoço e também tenho comida feita para mais 2 dias. Isso liberta-me bastante para trabalhar a sério nos dias que se seguem. Hoje não saí para o passeio habitual porque já acabei o dia de trabalho tarde, mas o meu filho estava a precisar de ter ido espairecer. Amanhã tenho de sair para ir comprar fruta e vegetais e vou ver como corre levar a criança de máscara à rua! 

Pelo meio ando a ler coisas interessantes sobre a psicologia junguiana e estou claramente a ver os pontos do meu mapa mental a unirem-se. Tenho sonhado imenso e acho que é fruto destas escavações à psique que ando a fazer.

Hoje na minha reunião de final de tarde falávamos sobre esta nova normalidade. E eu já estou tão habituada a ela que vai parecer-me imensamente estranho quando voltar a deixar de ter o meu filho em casa, quando tiver de sair para o meu local de trabalho, quando voltar a encontrar amigos num sítio público. Acho que não me apetece muito já sair desta rotina. Não sei bem como é que vai ser este regresso à normalidade...

Por aqui os dias passam tranquilos e rápidos! Sinto falta de alguns momentos de passeio, mais do que de momentos sociais. Esta pandemia veio mudar por completo muitos dos meus planos para este ano de 2020 e isso vai-me "obrigar" a repensar decisões que eu já tinha tomado. Estou a avaliar alguns dados que dava por adquiridos a repensar fazer mais coisas do que tinha inicialmente previsto. E tenho também a sensação de que no final disto vou levar uma reviravolta das grandes. Há pessoas que não se cansam das mesmas batalhas.

Vejo muito este confinamento como treino. O que não nos mata, torna-nos mais fortes e este tem sido um período de fortalecimento.

Assumpção:

Morro de saudades de dizer que estou apaixonada!

Diário de uma Quarentena #23042020


Hoje o dia foi um desafio à paciência, ao multitasking, ao tempo, a tudo! Pelas 8h30 o meu filho acordou mas eu não. Tinha acordado às 7h, mas fiquei na cama e acabei por adormecer. Quando ele despertou eu estava mais para lá do que para cá. Limitei-me a rosnar um sim à pergunta: "Posso ir ver os desenhos animados na televisão?" e voltei aos braços de Morfeu (já que são os únicos onde devo estar este ano!) até próximo das 9h30.

Por essa hora, lá me arrastei para fora da cama, tratei do pequeno-almoço, vesti-nos, já que hoje tinha de ir às compras, e comecei o dia. Mais uma aula da criança, desesperante para ele e consequentemente para mim. Ele quer é brincar, está zero interessado em aprender seja o que for. E nesta fase da vida e do Mundo a última coisa que me apetece é comprar guerras com ele para o obrigar a uma coisa que é manifestamente desadequada à idade dele.

Depois da aula dele acabar, fomos dar um passeio a pé, já que na hora habitual do passeio (18h) eu tinha reuniões marcadas! Chegámos a casa pela hora de almoço e um Frango à Brás e uma taça de morangos depois, ele foi fazer a sesta e o meu Bombeiro veio cá tomar conta dele enquanto eu fui ao supermercado abastecer-me de frescos para a semana.

Cheguei a casa um pouco antes das 16h e o meu filho ainda não tinha pregado olho. Adormeceu pouco depois e só acordou da sesta às 18h. Obviamente que aterrou já próximo das 23h, mesmo depois de já estar na cama há mais de 1h! Eu trabalhei umas horas quando cheguei, lanchei na minha varanda ao sol e retomei as reuniões pelas 18h até à hora de jantar, porque amanhã pelas 8h30 há 125 pessoas para receber como se de um família se tratasse, já que muitas delas pertencem efetivamente à família que fui criando a Norte.

O Bombeiro acabou por estar aqui a brincar com ele, enquanto eu reunia com a minha incrível equipa de 16 seres humanos fantásticos que fazem esta loucura comigo. Quando terminei desenrasquei umas bruschettas para jantar que me souberam pela vida e me levaram de volta aos meus jantares sozinha na minha casa de Campo de Ourique enquanto comia sentada no chão da sala e apreciava a paisagem e fumava um cigarro na minha varanda, um espaço que foi um bálsamo curativo para a minha alma naqueles anos.

Acabei agora de preparar uma brincadeira para o evento de amanhã e estou prestes a fechar a loja, porque amanhã acordo mesmo com despertador que há coisas a afinar sempre em cima da hora e tenho um bom motivo para estrear um vestido novo e pôr a minha maquilhagem básica! Este mês tive zero vontade de fazer este evento, mas sinto-me responsável pela Comunidade que criei neste quase ano e meio aqui no Porto, tenho um imenso respeito por estas pessoas e por isso mantenho-me a fazer isto ainda que com algum esforço. Estou contente de no meio deste caos todo ainda ter esta Comunidade sólida que me vai acompanhando e acredita muito em mim.

Na minha ida às compras hoje escolhi propositadamente o caminho mais longo para chegar ao supermercado. Já não conduzia há semanas e hoje estava um verdadeiro dia de Primavera que me fez andar de vidros abertos e relembrar com tenho saudades da minha liberdade de ir, fazer, concretizar. Estou há quase 7 semanas em casa e já está a ser muito duro aguentar, ainda que com todos os ajustes que fui fazendo. Recebi esta semana um email para preparar o regresso ao trabalho a partir de 4 de Maio, mas não faço a mínima ideia de como é suposto gerir uma criança de 4 anos sem escola e todo um mundo de trabalho pela frente. 

Decidi que nesta fase só se vive um dia de cada vez, pelo que nem vale a pena pensar muito nisso. Esta semana, a malta anda na rua como se nada tivesse acontecido e já não houvesse nenhum perigo, pelo que é uma incógnita saber como é que o país vai reagir a isto e imaginar quando é que acabará o Estado de Emergência. E até lá, a minha opção é não pensar sequer no assunto. Quando chegar logo se resolve. Até porque já provei a mim mesma, várias vezes que há poucas coisas que eu não seja capaz de resolver nesta vida!

De Mim:

Preciso tanto da solidão quanto a temo.

Diário de uma Quarentena #22042020


Como de costume o dia começou pouco depois das 8h. Mas hoje a manhã deu para jogar às escondidas na cama, para uma batalha de cócegas e para pôr dinossauros a escalar as almofadas, antes da alvorada definitiva! As manhãs são sempre a minha parte favorita do dia com o meu filho.

Pequeno-almoço tomado e hoje foi dia de limpezas cá em casa. Enquanto ele falou ininterruptamente durante quase 1h na plataforma da escola com as educadores e os colegas, eu aproveitei para despachar uns telefonemas importantes. Esta semana tenho um evento online para 120 pessoas e é preciso alinhar a Oradora com o tema do mês e trabalhar a história dela para que a coisa seja genuinamente interessante e esta seja uma oportunidade de fazer crescer a comunidade.

Limpezas e telefonemas feitos e salto directo para o almoço que estava meio feito e foi só cozer um arroz porque tenho um filho que parece chinês (o que em tempos de coronavírus é muito irónico!) e por ele comia arroz a todas as refeições! Almoço comido, criança a dormir e mãe a lavar loiça, estender roupa e a assistir a um webinar sobre interpretação de sonhos! Esta quarentena tem sido definitivamente um tempo de exploração de coisas novas. 

A tarde foi passada a trabalhar, criança nas atividades da escola e a apanhar um imensa seca com aquilo, claramente! Eu juro que tenho pena dele que tem 4 anos e é obrigado a estar em frente a um computador à seca a ver vídeos nos quais tem zero interesse e a fazer atividades onde se sente francamente frustrado! Acabámos o dia de trabalho, adiantamos o jantar e saímos para o passeio higiénico de final de dia. Descobrimos um percurso fixe pertíssimo de casa que nos permite andar pela Natureza. Banhos, jantar e deitar a criança. Tenho imenso trabalho para fazer mas estou cansada e num ritmo louco. Descanso menos na quarentena do que antes!

Ontem consegui ver o "7 anos no Tibete", um clássico que nunca tinha visto. Adorei a história, mas apaixonei-me mesmo foi pelas paisagens (o Brad Pitt conta como paisagem, certo?). E relembrei que o Tibete, a par de Cuba (onde estive em 2015) é o meu destino de sonho. Ainda que agora não seja boa altura para pensar muito nisso, a verdade é que tenho de voltar a pôr o sonho em cima da mesa para o começar a planear. 

Aqui pelo meio sugeri um tema para o Hashtag Quarentena, relacionado com a tele escola e os putos em casa. Isto dava uma série sozinha na verdade. Se de comédia ou de terror, ainda não decidi! E acabámos a noite a ouvir músicas brasileiras das boas! Não sei porquê mas toda a minha vida se está a alinhar com o Hemisfério Sul. Outras reflexões para outro dia. 

Hoje desbafava com 2 amigos que já estava mentalizada de que em 2020 não ia haver contacto íntimo com ninguém. E mais do que qualquer coisa, temo genuinamente o que isto nos possa fazer enquanto espécie humana. A ausência de oxitocina no cérebro pode ser genuinamente devastadora. E, quase como magia, o meu filho parece ter percebido isso e decidiu dar-me beijos na barriga. Foi um gesto tão doce e inesperado que me deu uma sensação única. Já não me lembrava de gestos desta doçura. Entretanto institui cá em casa que antes de ele ir dormir vamos ter os minutos do Ataque de Beijos, em que eu me agarro a ele e o beijo até me encher enquanto ele ri desalmadamente e me repete incessantemente "Pára, mãe, pára!".

Não é a vida que gostaria de ter, tenho muitas limitações que me estão a custar, sinto falta das minhas pessoas, sinto falta de ser abraçada e beijada. Mas, a verdade é que é uma vida boa, tranquila, com todas as necessidades satisfeitas e alguns luxos também. E a minha felicidade reside em descobrir essas coisas boas, mesmo em tempos de confinamento. 

Diário de uma Quarentena #21042020



Com o meu filho em casa, os dias começam sempre mais cedo e isso acaba por ser bastante positivo porque parece que os dias rendem mais. Hoje acordei eram 8h, saímos da cama pelas 8h30, vestimo-nos os dois como se fôssemos sair, eu maquilhei-me e tudo porque tinha uma reunião no Skype logo pelas 9h20 e tomámos o pequeno-almoço os dois. 

Sentei-me ao computador pelas 9h15 e comecei a reunir, enquanto ele brincava descontraidamente no chão da sala, perto de mim. Há esta coisa nele, de ser super autónomo nas brincadeiras mas nunca estar muito afastado do local da casa onde eu estou. Pelas 10h30 houve uma aula dele no Teams de bradar aos céus! Terem a ideia brilhante de por crianças de 4 anos a fazer o Suryanamaskar pode ser muito benéfico mas não funciona à distância, porque os miúdos ou vêem o ecrã ou fazem as poses. Mas vou-me abster de criticar a coisa porque vamos no segundo dia e eu já tenho vontade de fechar as aulas virtuais, que claramente nesta idade não funcionam! Tenho uma vida muito mais pacífica e tranquila quando sou apenas eu a decidir o que vamos fazer hoje.   

Passei o pouco tempo útil da manhã a despachar emails, consegui finalmente tratar da secretária dele no quarto, fiz o almoço para ele porque eu continuo com zero fome e deitei-o a dormir a sesta. Comi uns ovos mexidos pelas 14h, vi o Governo Sombra a seguir e andei nas tarefas domésticas. Pelas 17h comecei a adiantar o jantar e eram 18h e pouco quando decidi que preciávamos os dois do passeio higiénico dos 7kms!

Foi bom constatar que começo a ter um parceiro de corrida que aguenta a minha passada mas não durante tanto tempo. Conseguimos correr bastante e acabámos o resto do passeio a andar. É giro ver que ele também gosta de explorar sítios como eu, que se espanta com coisas pequenas, que gosta de observar os locais habituais também! Esta quarentena está a permitir-me conhecer outras facetas do meu filho e deixá-lo explorar outras coisas também!

Depois foi a correria de final do dia: banhos, jantar (que já estava adiantado!), deitá-lo e ainda ir fazer um webinar de podcasts! Ando com ideias de retomar o meu daqui a uns tempos. E ando a ver se escrevo sobre a coisa também, porque ideias não me faltam... Precisava era de mais tempo!

Chorei bastante hoje aqui nos intervalos porque ontem tive uma conversa de 3h com o Husband Material que me fez olhar para coisas muito dolorosas mas que estavam a  precisar de ser desempoeiradas e precisavam de uma nova luz. Fez-me bem ouvi-lo dizer o que eu já sabia mas que ainda não tinha admitido e libertar-me de mágoas e coisas que nunca contei a absolutamente ninguém na minha vida. 

Ontem acabei por não escrever o Diário da Quarentena porque finalmente consegui ver o Live do Bruno Nogueira no Instagram e embora perceba a piada, não percebo o hype! Mas enfim, deitei-me depois da 1h da manhã. 

Cheira a queimado.

Pouca passa das 10h da manhã eu já estou no pesadelo das aulas virtuais!

Diário de Uma Quarentena #19042020


Habemus criança em casa. O que é o mesmo que dizer que a alvorada se faz cedo! Hoje eram 8h e picos. Levantei-me, alimentei-o, deixei a televisão no Disney Júnior e fui dormir até às 10h. Tomei o pequeno-almoço e ataquei a loiça do jantar de ontem, já que tive 2 amigos do coração cá em casa à conversa até à 1h da madrugada. O tema foi quase constante: sexo, o que só prova como estamos carentes, necessitados, despossuídos. E como, numa altura em que há cada vez mais pessoas a viverem sozinhas, isto nos vai fazer repensar estas opções no longo prazo.

Depois disso, passei o dia a estudar precisamente o tema das relações amorosas na era coronavírus. O Porto Canal convidou-me para falar sobre o amor em tempos de COVID-19 na próxima semana e por isso passei grande parte da manhã e da tarde a consumir quase toda a literatura estrangeira de referência sobre o tema já que em Portugal não se fala do assunto, para já. 

Aqui pelo meio houve tempo para ler uma teoria absolutamente contrária à questão da quarentena que me deu que pensar. Não concordo com tudo o que ali está, vejo logo duas ou três falhas à partida, mas não deixa de ser bom ver que não precisamos todos de andar atrás da manada. E acima de tudo fez-me rejubilar por viver numa Democracia onde ainda podemos ter uma voz, mesmo que esta seja crítica do estado atual das coisas. Até porque acredito que é desta troca de pontos de vista que as melhores ideias nascem e que isto nos prepara melhor para a imprevisibilidade da vida. Gostava que houvesse forma de fundir as duas visões numa ainda melhor.

E no meio das minhas leituras descobri também porque NUNCA poderei ser psicóloga. Ponho sempre os princípios à frente das pessoas e das situações. Não conseguiria (con)viver comigo se não o fizesse e a psicologia compadece-se mais com as pessoas do que com os princípios, como bem deve ser. Mas não é claramente para mim.

O dia passou num ápice. Acabei a tarde numa experiência avassaladora sobre a nova narrativa da Humanidade, a conhecer uma distopia nova que vou ter de ler rapidamente;  a ouvir falar da influência do mito de Lilith, a primeira mulher de Adão; a fazer um exercício de escrita conjunta com mais 160 desconhecidos sobre a nova constelação da Humanidade; a discorrer com uma lisboeta conhecida (mas que eu nunca vi na vida real!) sobre as teorias do Thoreau e a pensar no novo paradigma de justiça restaurativa e de como o Alfa Pendular devia aprender sobre o assunto. 

Acabei o dia a inventar uma palavra para o FUTURO, cuja tradução para português ainda não sei qual será: Commumanity = Community + Humanity (sinto-me-me infinitamente mais inteligente por já conseguir inventar palavras noutra língua!), cuja ideia é criar uma nova visão de Humanidade mais voltada para a importância da Comunidade. Qualquer coisa como Comumanidade?!

Por estes dias, a banda sonora cá de casa tem sido os Discos de Ouro da Voyager (a história destes discos inspira-me imenso e ainda torna o Carl Sagan mais fofinho!), assim numa éspecie de homenagem ao que de melhor a Humanidade foi capaz de produzir e ao legado que quisemos entregar a outros, já que a vida como a conhecemos nunca mais será como antes! Não é fatalismo, é assumir que não queremos voltar atrás e não há forma de o fazer por mais que queiramos. Há coisas que vão inevitavelmente mudar.

E talvez de forma tola e pateta eu estou bastante optimista com isso. E sei, com toda a certeza, que estou precisamente onde precisava de estar nesta altura da minha vida. Sinto-me uma esponja a absorver o máximo de conhecimento possível. E a imagem da foto é um protótipo da casa onde quero viver daqui a uns tempos. Há que alinhar o azimute e não perder o Norte.

Resumo da Quarentena:

Dava jeito um adulto cá em casa! 

Diário de Uma Quarentena #17042020


Acordei mais cedo hoje porque ontem apaguei de cansaço. Esta vida online suga-me a energia, já não aguento tanto evento live e tantos Zooms num dia só!

Tive entrega de pão em casa e darei graças aos céus se não engordar mais do 5kgs na Quarentena. Descobri uma padaria biológica que me vem trazer pão fresco e quente a casa e depois é uma perdição por manteiga naquilo e comer pão o dia todo!

Recebi também a minha encomenda da Bertrand onde me chegou esta beleza a casa. Já comecei a ler mas até tenho medo das revelações que aí vêm a caminho na minha vida. E na senda das revelações hoje senti-me nua porque alguém me leu o meu mapa astral e viu mais de mim do que eu própria. 

Passei a manhã a esfalfar-me em trabalho, parei para almoçar e estive na varanda 10 minutos ao sol até voltar a imergir em trabalho que não parou hoje. Eram 18h30 quando achei que tinha de fechar a loja e fui correr. Bati o meu recorde de tempo neste percurso dos 7kms. Provavelmente porque vai ser a última vez que corro nas próximas semanas. 

Jantei frango assado que comprei a caminho de casa e estou aqui morta para o mundo já. Hoje deparei-me com o facto de eu me apaixonar sempre pelo potencial sem ver verdadeiramente o real da outra pessoa. E todos sabemos como é que isso normalmente acaba, não é? 

Estou carente de amigos, de amantes e de abraços. Sinto falta daquilo que nos torna mais humanos: a conexão com outra pessoa. E todos sabemos como esta mistura é explosiva e tem tudo para dar errado... 

Surpresas desta Quarentena!

Nunca imaginei que uma data de aniversário me pudesse deixar despida em frente a um desconhecido...

Diário de Uma Quarentena #15042020


Hoje acordei com um pensamento muito estranho: já não me lembrava da geografia das ruas do Porto... E tinha um telefonema a entrar ainda antes de conseguir sair da cama!

Acabei por me levantar e despachar em 15min para ir às compras e matar saudades do meu Porto. Mas o meu motorista acabou por se atrasar e dei por mim a fazer o calendário dos aniversários que já estava adiado há anos. Acho que não me esqueci de ninguém importante!

Despachei mais uns quantos emails de trabalho, tratei de follow ups de tarefas e pelas 14h saí de casa sem almoçar porque continuo sem saber o que é fome nestes tempos de quarentena. Fui às compras de máscara, pela primeira vez na minha vida e dei por mim a comprar 4 garrafas de vinho porque isto não se vai aguentar de outra maneira.

Depois disto seguimos em direcção à Baixa da cidade e foi assustador ver as ruas desertas e um cenário de apocalipse pelo Porto todo. É muito estranho ver a cidade sem ninguém e tudo fechado. Descemos à Ribeira e seguimos até à Foz por entre a esquizofrenia de chuva e sol e uma discussão sobre o Norte e o Sul. A malta de cá bate-se de peito cheio para defender a soberania nortenha e isso é bom de ver, mas na maior parte das vezes impede a verdadeira discussão e acaba por ser apenas um ouvir para contra-atacar e não para compreender. Mas é bom ver que ainda há espíritos aguerridos na defesa da Nação. 

No regresso fizemos o caminho das 7 pontes e acabámos no Parque Oriental da Cidade  que eu nem sabia que existia. E a ver o que são verdadeiros bairros sociais da pesada, como o Cerco, onde passámos no regresso a casa. 

Cheguei pelas 16h e perdi-me nos emails e em mais trabalho. Pelas 18h30 saí, hoje apenas para um passeio terapêutico porque tinha um sabor amargo na boca que precisava de destilar. Acabei por estar ao telefone com o meu Husband Material que fez de tudo para me animar o espírito e onde acabámos a enumerar aquilo de que NÃO sentimos falta em relações. A saber, no meu caso: almoços de Domingo, homens que ressonam, discussões opinativas, roupa espalhada e atitudes egoístas. 

Acabei a jantar às 22h, parte de uma Empada Galega que tinha feito ontem. E continuo com um sentimento estranho aqui latente. Não estou mal mas começo a sentir os efeitos da privação de liberdade e da ausência da minha rotina. Estou a precisar de conversas que me façam crescer e tenho tido poucas dessas... 

Tenho vivido um privilégio estas semanas sozinha e isso tem-me permitido ir mexer em algumas feridas que apesar de curadas ainda não estão cicatrizadas. E gostava de o poder continuar a fazer mas com o meu filho em casa a partir de Sábado vou ter de voltar a por isso em pausa.

E dava tudo para me sentar em frente a alguns amigos a almoçar ou jantar e ter daquelas conversas olhos nos olhos que nos chegam à alma. Morro de saudades disso. E da cumplicidade de partilhar a vida com alguém. 

Diário de Uma Quarentena #14042020


F***! Acordei às 7h30 porque hoje tinha uma reunião da escola do meu filho online pelas 9h e só penso que esta gente não dorme, não f***, não aproveita a quarentena para aquilo que é genuinamente importante!!! Entretanto consegui a proeza de me vestir, arranjar e tomar o pequeno-almoço antes das 8h30, hora a que liguei o computador e comecei a batalha do dia.

Depois desta maravilha matinal, tentei trabalhar mas acabei a divagar em leituras sobre o anarquismo, Piotr Kropotkin, os Montes Jura, Mikhail Bukanin, Pierre-Joseph Proudhon, o antropocentrismo, o Barão D'Holbach, Michel de Montaigne e a sua ligação à cultura portuguesa e - como já vem sendo hábito na minha vida - acabou na moral e na ética. Estes parecem ser, aliás, os temas centrais da minha vida nos últimos tempos. Há claramente aqui um sinal que ainda não consegui ler da maneira que preciso.

A meio da manhã saí para a rua para ir buscar um tablet para as aulas virtuais do meu filho que começaram hoje. Para a semana ele está cá em casa e eu continuo a ter de trabalhar os mínimos pelo menos, por isso é necessário garantir que ele acede às poucas aulas que tem. Depois disso rumei ao supermercado para a compra dos frescos da semana e pela primeira vez na minha vida usei uma máscara (e não, não havia nada de kinky nisto...). E juro que achei que era um dia absolutamente normal tal a quantidade de pessoas que vi na rua a pé, de carro, nas compras. Ou o estado de emergência já era ou a malta está claramente a dar em maluca em casa. Seja como for, desconfio que isto ainda vai aumentar mais nos próximos tempos...

Almocei salmão no forno com batata doce e recebi a minha encomenda de café mesmo logo a seguir, ou seja, a tempo de ter um café novo para experimentar! Li duas páginas do meu livro e pelas 16h comecei uma reunião no Zoom que me alegrou a alma. Dei por mim a falar com pessoas de Milão, Nova Iorque, Vancouver, Bogotá, Quito, Riad, Austin sobre como cada uma de nós está a viver este processo, o que custa mais, o que custa menos, como nos estamos a adaptar, quais as principais diferenças. Vi muita gente chorar no Zoom hoje e isso fez-me sentir mais humana e deixou-me de lágrimas nos olhos também. Há muitas feridas que este lockdown vai deixar em muitos de nós. É mais um trauma colectivo que nos vai marcar se não o conseguirmos gerir de forma eficiente.

Saí desta reunião directa para outra com 200 pessoas sobre a importância da resiliência em tempos difíceis, onde um Sírio e duas Bósnias nos falaram de como se vive em tempos de conflito armado e o que nos pode ajudar a ultrapassar esta crise. Há uma certa ansiedade pelo futuro transversal a todos nós. Daqui retiro como principal lição o facto de nada durar para sempre, nem o bom, nem o mau; as situações extremas tornarem-nos mais humanos e fazerem-nos voltar ao básico: o Amor; a importância de projectar o futuro contando com o melhor, mas esperando o pior e esquecer a pressão para termos de ser produtivos. O Mundo está a mudar e é bom que percebamos isso e o consigamos absorver.

Acho que escrevo mais ultimamente por causa disto. A minha escrita e os blogs são o sólido numa realidade e Modernidade Líquida (nota-se muito que sou fã de Bauman?). Estou muito curiosa pelo nome que se derá à História depois disto, Antropoceno é um termo demasiado técnico para ser absorvido pela Filosofia ou pela Sociologia.

Voltei a sair para ir correr e hoje finalmente foi uma corrida decente: 40 min para os 7kms de sempre! Ainda assim fraco mas o já habitual em mim. Soube-me bem! E no meio dos meus pensamentos e das minhas fotos imperdíveis do céu ao entardecer dei por mim a pensar no quanto gosto do correio. Esta quarentena tem-me feito perceber que valorizo muito o facto de me chegarem coisas de forma simples a casa, que gosto do factor surpresa quer no dia quer na caixa do correio e que isto é uma ligação mais ou menos estável ao mundo que acontece lá fora. Consigo perceber que o correio tenha tido a importância que teve numa era pré-internet e tenho também a firme crença de voltarei a escrever mais cartas quando esta quarentena terminar. 

Há uma certa solidez que não quero perder. E se já a vou mantendo na escrita e no blog, nos discos de vinil, no copo de vinho à noite (hoje é Guarda Rios Signature que comprei em promoção na semana passada!), nos livros em papel sem os quais não sei viver, quero que esta se estenda a muitas das rotinas que vou criando neste período de isolamento. 

Diário de Uma Quarentena #13042020


Acordei pelas 9h30 depois de uma noite genuinamente bem dormida. Tenho-me deitado por volta da 1h da manhã (culpo estes posts pela hora tardia!) mas a verdade é que durmo como um anjo! E tenho dado comigo a acordar bem no meio da cama! Esta é provavelmente a melhor parte de estar sozinha nesta quarentena: cama toda só para mim! 

Tomei o pequeno-almoço acompanhada da melhor série desta quarentena: Hashatg Quarentena. Podem ver no Youtube o compacto semanal ou os episódios (que deviam ser diários!) no Instagram. Mas a verdade é que é das melhores criações nacionais de que tenho memória, está super bem feita tendo em conta a realidade actual e o guião é sempre muito bom. Estou viciada!!!

Depois disso sentei-me a trabalhar ao pc e acabei por me perder muito cedo. Comecei pelos emails e dei por mim a comprar 2 livros de filosofia nos descontos da Bertrand. A Filosofia tem sido a disciplina que mais gozo me tem dado reaprender nos últimos anos. Acredito veementemente que é preciso um certo estádio de maturidade para se perceber a dita e que o grande risco é por-nos a pensar demais (coisa de que já sofro inerentemente).

Recolhi mais uns dados para a tese, estendi roupa, escrevi mais umas coisas para o meu projecto do coração: as CreativeMornings Porto, editei umas fotografias para alimentar as redes e divaguei a ler sobre o realismo, o hedonismo, o epicurismo, a história do Nikola Tesla, a vida do John Stuart Mill, o monomito e a lenda do Prometeu. De uma maneira muito própria isto tudo faz parte do mapa mental que representa a minha realidade actual. Não me peçam para explicar que seria impossível, mas para mim faz sentido. Gostava de perceber de design gráfico e neste momento estaria a criar um storyboard da coisa para ilustrar este post! É capaz de ser por esta característica que raramente me sinto sozinha mesmo nesta quarentena. Sou filha única, sempre tive de imaginar coisas para ocupar o meu tempo. Sempre gostei de viver sozinha (saí de casa aos 17 para ir estudar para Coimbra!) e já vivi mais anos só do que acompanhada no final das contas, por isso ocupar o tempo é algo que me é natural. É provável que seja por isso que tenho sempre mil projectos e ideias e o problema seja sempre a falta de tempo para os concretizar e posteriormente a falta de compromisso para os alimentar no longo prazo, o que já diz muito sobre o problema das minhas relações amorosas também...

Almocei parte das favas com chouriço que me sobraram, liguei ao meu melhor amigo enquanto bebia café e comecei a ler sobre outras coisas. Poupo-vos aos detalhes, mas envolvia o futuro do trabalho, as falhas de segurança da Zoom e a recuperação económica  pós coronavírus. Não ver notícias tem o reverso da medalha que é "obrigar-me" a ler muito para ter uma visão alargada do que se está a passar. 

Tal como habitualmente saí pelas 19h para a minha corrida/passeio fotográfico e para os meus 7kms que hoje me levaram mais tempo. Estou em baixo de forma na corrida, claramente.  No caminho para casa encontrei o meu Bombeiro na rua e alapei-me a ele num abraço gigante. Tinha saudades de estar no meio de uns braços. Este distanciamento social é coisa que me mata, não fui feita para isto!

Jantei novamente Baba Ganoush e acabei no sofá a escrever um email para um desconhecido enquanto bebia um copo de Soalheiro. Tenho a perfeita noção de que há muitos anos que não escrevia tanto... 

Há muitos anos que deixei de mostrar quem era neste mundo dos blogs. Depois de ter cunhado o meu nome neste tasco, de ter escrito os desejos de Ano Novo de 2015 numa das mais importantes publicações lisboetas de que tenho memória (para mim era um ícone de Lisboa, des-larguem-me!), de me ter despido perante tudo e todos os que me lêem, de ter dado a voz num programa de rádio e podcast que dá pelo nome de Tinderella: O Amor nos Tempos do Tinder e ter aparecido semanalmente no Porto Canal a falar de amor e depois a falar de criatividade (Meu Deus@, eu própria me surpreendo sobre quão eclética sou nisto!), a verdade é que mostrar ao mundo quem sou não fazia sentido, muito pelo contrário. Diria que 90% dos que hoje me lêem já me conheceram em algum ponto da vida. O blog continua a ser um lugar onde faço amigos e onde encontrei alguns amantes. Não é segredo que conheci o pai do meu filho através do blog...

Acho que pelo facto de ter uma vida pública bastante exposta nos últimso tempos, acabei por mostrar menos quem sou nas palavras. Escrevi tanto, para tantos sítios, dei a cara e a voz na rádio e na televisão e aos poucos fui calando quem era. Não porque a voz ou as palavras se tenham esgotado, mas porque já as consubstanciava em tantos sítios que senti que tinha pouco a dizer por aqui. A par disso, o facto do pai do meu filho continuar a ler o meu blog mesmo depois da separação feia que tivemos e da minha mudança para o Porto fez com que eu calasse muito do que tinha para dizer e o fosse escrevendo noutro sítios, sendo o meu caderno de memórias o principal depositário disso. 

O grande motivo que me levou a manter este blog foram os anos. Ter aqui 14 anos de vida escrita é um desperdício se não for sendo alimentado. Ultimamente fui-me mantendo a escrever na perspectiva de um dia dar a conhecer este espaço ao meu filho. Quando ele tiver a idade certa de compreender muito daquilo de que aqui falo. A quarentena obrigou-me a recolher a minha voz na esfera pública e não será, pois, de estranhar que a comece a libertar mais na esfera privada.

Aposto com um All In!

Em como a palavra de 2020 vai ser: coronavírus!

Dia 34:


Dantes costumava querer ser gata quando voltasse a um Universo igual a este, numa qualquer reencarnação, na qual nem acredito. O principal objetivo era estar em casa sem preocupações, sem fazer nada, podendo dormir e ter a segurança necessária. Tenho a sorte de ter tudo isto nesta quarentena em maior ou menor grau.

Contudo, percebi que me falta uma coisa essencial: a liberdade!

Por isso daqui em diante quero apenas ser árvore. Enfrentar as intempéries todas, permanecer muitos anos no mesmo sítio, mas poder desfrutar da paisagem, saber saborear as estações do ano, ver as minhas sementes serem levadas pelo vento e as minhas folhas lavadas pela chuva e acima de tudo usufruir da beleza do céu todos os dias: madrugar com o canto dos pássaros nos primeiros raios de sol e adormecer debaixo das estrelas, enquanto produzo oxigénio, elemento vital a todas as outras formas de vida.

Depois desta Quarentena quererei apenas a simplicidade de ser Árvore.

Não sei lidar...

Em tempos de quarentena perco horas na Wikipédia a seguir hiperlinks como se o meu cérebro estivesse a fazer um mapa mental de todo o conhecimento do mundo!

Diário de Uma Quarentena #12042020



Domingo de Páscoa. É provavelmente o dia mais estranho de que há memória nos meus 36 anos de vida. Não é de todo o mais doloroso, mas é aquele cujas palavras me faltam para o descrever. Nunca me passou pela cabeça a possibilidade de viver um acontecimento que ficasse para a História, aquela que o meu filho um dia irá estudar na escola. Nunca me imaginei a viver uma pandemia e nunca esperei gostar tanto deste período de isolamento social, logo eu que sou um animal de palco!

Acordei tarde hoje. Estou finalmente a voltar ao meu biorritmo normal que é mais tardio. Saí da cama perto das 11h e decidi que Domingo de Páscoa dava direito a brunch com sumo de laranja, ovos mexidos, iogurte com granola, café, abacate, salada de alface e tomate, pão com manteiga, queijo, doce, fiambre. Só não fiz panquecas porque desconfiei que seria demasiado! Brunchei para o dia quase todo e pus-me a fazer um curso online que já devia ter acabado no final de Março. Quando finalmente o acabei, vi mais um episódio da série Freud que está na Netflix e só penso se sempre haverá segunda temporada da Taboo, a melhor série de todos os tempos, com o melhor homem de todos os tempos: Tom Hardy!

Acabei por adormecer no sofá e acordei eram quase 18h. Li mais umas páginas do livro de ontem, falei com o meu filho no Skype e pelas 19h decidi que ia mesmo sair para o meu passeio de higiene mental. Hoje senti-me demasiado cansada para ir correr e estive quase para não ir, mas depois lembrei-me que o amanhã nunca está garantido e mais valia ir hoje aproveitar a oportunidade. Consegui tirar umas quantas fotografias magníficas ao céu (como esta do post!) e acabei por vir para casa já de noite. Confesso que hoje no caminho para casa tive mais medo de ser assaltada ou violada do que de ser infectada por coronavírus. A cidade está realmente deserta e estava quase assustadora à hora que regressei.

Estes meus passeios têm-me dado a sensação de estar a viajar sozinha, a explorar e conhecer um sítio novo. E nada me faz mais feliz do que a descoberta da viagem. Tenho descoberto autênticas pérolas na cidade e já sou capaz de vaguear num raio de 5kms sem me perder e sem precisar de mapa. A ausência de pessoas e a descoberta de caminhos pouco frequentados tem sido um bálsamo para a alma. Sinto que ainda que presa num lockdown mundial, continuo a ser livre cá dentro enquanto puder vaguear à vontade esteja onde estiver. E gosto muito deste ritmo de final de dia, o lusco-fusco será sempre a minha hora preferida do dia.

Depois do banho de final de dia, fiz uma salada César e abri uma garrafa de vinho tinto. Acabei por estar a beber um copo com 2 amigos numa videochamada e a falar de barbas e pilas! Foi um Páscoa memorável, sem dúvida!

Recuperei a verdadeira alegria de estar sozinha e feliz na minha vida, ainda que no meio de uma quarentena louca, mas a verdade é que já não me sentia tão em paz há anos e cada vez mais valorizo esta calma, ao ponto de saber que é cada vez mais difícil abdicar dela seja por quem for. Nenhuma relação pode ter este custo por mais vontade que haja de que dê certo. E na quarentena ou fora dela, a relação comigo mesma é aquela onde quero continuar a investir porque o retorno supera largamento o investimento. 

(E pronto, acabo de parecer que ando a escrever um livro de auto-ajuda! É capaz de ser sinal de que estou isolada há demasiado tempo...)

Lição n.º 92

A paciência está diretamente correlacionada com a compaixão.

Diário de Uma Quarentena #11042020



Acordei pelas 9h30 sem despertador depois de uma noite ainda algo agitada mas muito melhor dormida. Vesti-me de imediato e fui fazer papas de aveia com framboesas e coco para o pequeno-almoço acompanhadas do meu precioso café!

Passei a manhã a pesquisar detalhes para a minha casa open space de design industrial e percebi que não há apenas uma forma de a fazer. Todas as possibilidades estão em aberto e eu vou desenhando diferentes cenários consoante a arquitectura que me calhar. O quarto do meu filho é o mais simples de planear e acho que está fechado. O mesmo para a sala-cozinha enorme e o terraço que quero ter. Já os meus espaços estão a ser mais difíceis de perceber como podem ficar o meu reflexo. Tenho muitas possibilidades que gosto e acho que só conseguirei visualizá-as quando tive realmente a casa.

Hoje cozinhei finalmente favas com chouriço para o almoço e acho que tenho comida para o resto da semana. Nunca fui capaz de cozinhar só uma refeição única. E experimentei uma variante da sobremesa da quarentena para gastar leite que tinha, mas não ficou brilhante. Dá para o gasto! 

Comecei a ler um livro (o da foto!) que já vivia cá em casa há uns tempos e eu ainda nunca tinha pegado nele. Parece-me bastante apropriado ao tempo que estamos a viver e já me ri bastante com a ironia do primeiro capítulo. É incrível como a vida acontece e nos deita por terra tantas certezas, não é? 

Pelo final da tarde, recebi uma mensagem do Homem do Glamour com uma playlist cujo título é: So Good at Being in Trouble, acompanhada das palavras: Isto é tão nós! Está em loop nas colunas cá de casa tal é o reflexo ao ouvir aquilo tudo. 

Durante a tarde recebi também a notícia que uma amiga está grávida. Fiquei genuinamente feliz e admirei a coragem de uma mulher de 42 anos fazer fertilização in vitro para decidir ter um filho sozinha. Haja coragem que tudo se consegue na vida! Mas oq ue genuinamente me comoveu foi receber as palavras de que eu era uma inspiração para ela e para o período que vai ter pela frente. Lembra-me que esta semana outra amiga me disse que eu era uma inspiração também, noutra área completamente distinta da vida. É muito reconofrtante ouvir isso, mas deixa-me com um peso de responsabilidade de corresponder às expectativas grande...

Saí pelas 18h30 para ir fazer a minha corrida com o Bombeiro. Ainda que não seja suposto, por um lado sei que amanhã a solidão me vai doer mais e estou por isso a acumular doses extra de companhia, por outro sinto que este tempo lhe está a custar muito mais a ele do que a mim e é a minha forma de retribuir todo o suporte que ele foi nos últimos anos na minha vida. 

Este ritual de todos os dias escrever este Diário tem-se revelado uma bênção. Não sei bem como nem porquê mas sei que estou lentamente a transformar-me outra vez e vejo alguns reflexos disso nestas palavras que vou escrevendo por aqui. 

Para a semana ainda estarei sozinha, já que o meu filho devia vir hoje mas o Estado de Emergência não o permite. Já decidi que vou fazer um horário bastante mais rígido e com rotinas mais eficazes. Preciso de despachar coisas e preciso dessa estrutura para rentabilizar melhor o tempo. Continuo sem conseguir chegar a tudo o que queria mas já aceitei isso. Agora é encontrar critérios para que chegue onde quero sem grandes desvios nem recuos no caminho. 

Quando isto passar há uma vida nova à minha espera e eu planeio agarrá-la com unhas e dentes. 

Diário de Uma Quarentena #10042020


Ainda que a medo hoje o sol regressou ao Porto. Já disse isto inúmeras vezes mas o que mais me custa aqui em cima é o clima. Os dias cinzentos combinam com o granito da cidade e com a dificuldade que é entrar na vida dos portuenses e fazer amigos por cá.

Estou a sentir definitivamente o cansaço dos dias em casa. Sinto-me com uma falta de concentração imensa em todas as tarefas que tenho de fazer. E por isso hoje foi o primeiro dia em que pus o cronómetro para meditar. Cheguei aos 10 minutos com esforço mas valeu bem a pena porque passei o dia com energia renovada. 

Falei ao telefone com uma amiga de manhã e percebi algumas das coisas que me angustiam e o motivo. E de seguida estive na conversa com um amigo sobre o passado com o qual preciso de fazer as pazes. Sem dúvida, que há uma nova era à espreita na minha vida. E como forma de honrar este sentimento comecei hoje a desenhar a minha próxima casa e a perceber como quero que sejam alguns dos detalhes. Não tenho dúvidas que essa é mais uma das mudanças no ar. 

Almocei a minha alheira com grelos e passei a tarde a trabalhar. Consegui organizar minimamente o meu email e despachar burocracias. Ainda tenho de fazer o IRS entretanto! 

Tal como habitualmente pelas 19h saí para os meus 7kms de corrida, que hoje foram só 6kms. Ainda assim encontrei mais gente na rua do que imaginei. Mas andar no meu mundo, a ouvir a minha música e a fotografar a Natureza foi a regeneração que precisava. Cheguei a casa pelas 20h, tomei banho, fiz wraps para o jantar e comecei um ritual novo: o Copo do Sagrado Feminino, também conhecido pelas Bacantes. Não tenho dúvidas que vou aprender muitas coisas com estas mulheres! 

Hoje foi um dia bastante mais regular. Perceber que estou com o período (e já passou mais um mês, senhores!) pode ter influenciado o meu humor esta semana sem eu perceber que era mesmo TPM. E nesta linha, hoje ao falar com o Macho do Glamour (outra looooooooonga história!) percebi que ainda não tive sexo em 2020. E a coisa ia tão bem encaminhada com o Chef até que o coronavírus veio tramar a minha vida sexual. Amanhã também não devo ter jantar com o Husband Material (o meu anjo da guarda que cuida da criança quando eu preciso de ir fazer alguma coisa) porque ele vive num concelho diferente do meu. 

E custa-me um bocado passar a Páscoa sozinha. Mas entretanto já comecei a ter ideias para Domingo. Haja vontade e foco e não me falta o que fazer! 

Sonhos por cumprir:

#45 - Ter uma casa open space! 

Diário de Uma Quarentena #09042020



O principal motivo que me leva a manter este diário são na verdade as fotos. Poder parar um momento do meu dia quase sempre igual para encontrar uma imagem bonita, acaba por me relembrar a importância de algo que nos torna mais humanos: a beleza. Não será também à toa que em tempos de isolamento sejam as artes aquilo que mais é consumido pela grande maioria de nós. É aquilo que ainda nos vai lembrando de que somos humanos e há uma natureza interior que nos é intrínseca.

Hoje comecei o dia com 3 polícias fardados à porta na tentativa de salvamento do gato abandonado do meu prédio. Após lhe ter dito que se queriam entrar em minha casa teriam de se descalçar, ao que se recusaram (ahahahahah!) acabaram por chamar os bombeiros e o gato foi salvo pelas 11h50 desta manhã! Acho que fiz a minha boa ação da quarentena. Posso finalmente hibernar até isto passar?

Hoje foi dia de limpezas profundas e de uma renovação cá em casa. Após horas de limpar pó, aspirar, lavar vidros, lavar chão, etc senti a real necessidade de destralhar coisas cá em casa. Tenho planos de mudar de casa quando entrarmos em crise e o mercado imobiliário for finalmente para valores acessíveis ao comum dos mortais ou apenas a uma mãe singular. Always look at the bright side of life, right?

Li muito hoje. Notícias sobre a educação em tempos de COVID-19 que é a minha ára de estudo, artigos sobre isolamento e estratégias de lidar com isto, artigos sobre capitalismo, privacidade e solidão. Entretanto e como ontem percebi que preciso urgentemente de novos objetivos de médio prazo porque os que tinha estão suspensos ou permanentemente cancelados, ando a pensar escrever uma coluna sobre relações amorosas em tempos de quarentena. Retomei hoje um contacto sobre o assunto e escrevi o primeiro rascunho. 

Almocei peixe assado no forno com batatas cozidas e pimentos assados. Posso ser mais portuguesa nestes dias? Houve batido de açaí à tarde e fiz umas bruschettas para o jantar acompanhadas de 2 copos de Soalheiro, o melhor vinho verde que conheço! Pelo meio voltei ao pudim de coco, tapioca e manga (este que está na foto!) e no qual estou viciada. Aquilo é um manjar dos deuses exóticos! 

No final do dia a notícia de que dificilmente volta a haver escola este ano deixou-me de rastos. Não faço a mínima ideia de que como vou trabalhar e cuidar do meu filho até Setembro. Já para não falar de todos os impactos financeiros desta situação, temo que a minha saúde física e mental sofra bastante com esta situação. Tenho tentado ver coisas positivas ultimamente mas confesso que nestes últimos dias está muito difícil dissipar as nuvens negras que estão no horizonte. 

Diário de Uma Quarentena #08042020


Acordei muito cedo hoje e num dia positivo. Estou finalmente a aceitar a realidade que vivo há 29 dias. Não sei quantos mais dias de quarentena me restam, mas mais vale que sejam positivos do que negativos. O reverso desta aceitação é que estou bastante irritada com o optimismo infundado que vejo à minha volta. Soa-me tudo a uma estratégia de fuga da genuína oportunidade de mudança.

Tenho dormido bastante mais nestes dias. Geralmente 9h a 10h por noite e isso tem sido vital na minha sanidade mental. Acabo por me deitar mais tarde do que o faria se o meu filho estivesse em casa, mas sabe-me a vida adulta. 

Hoje trabalhei de manhã mas com fraca produtividade. Almocei no whatsapp com uma amiga que tenho vindo a conhecer melhor e com quem aprecio genuinamente conversar. Identifico-me bastante e só tenho pena que ela viva em Aveiro e não esteja mais perto. Acabei por passar a tarde ao telefone a fazer a ronda de amigos. Estava a precisar disso!

Pelo meio ando numa saga de salvar um gato vadio que teve o azar de cair no terraço do meu prédio e onde parece ser impossível aceder. Já falei com Bombeiros (uh! uh!), com o Canil Municipal (de quem apresentei uma queixa porque a opção que me deram foi deixar o gato morrer), com a PSP e inclusivamente com o PAN. Acho que estou a canalizar a minha frustração toda na tentativa de salvação de um animal indefeso. Ainda estou a aguardar que salvem o gato desde 6a feira! 

O ponto alto do meu dia foi claramente o molho de grelos que tinha encomendado e fui buscar à tarde! Estou a preparar-me para os comer com uma alheira! Se não fosse portuguesa de gema acho que me mudava! Adoro a nossa gastronomia.

Estou cansada do confinamento obrigatório, mas sem dúvida nenhuma que isto me tem permitido perceber de quem quero estar próxima na minha vida. E se há pessoas que se têm revelado anjos da guarda, há outras de quem agradeço a distância. Agradecer pelo afastamento do mau é tão ou mais importante do que agradecer o bom que temos na vida. 

Diário de Uma Quarentena #07042020


Hoje saí de casa para me abastecer de comida para mais de 1 mês quase! Estou a entrar ligeiramente na histeria de fazer compras a correr e trazer coisas para comer durante muito tempo. Infelizmente os frescos não duram tanto tempo e o meu congelador é pequeno, se não dificilmente sairia nas próximas semanas. 

Tomei o pequeno-almoço tarde para não variar, deviam ser 10h, arrumei a casa e saí para as compras que me levaram horas tanto dentro do supermercado como na fila de espera. Almocei o resto das ervilhas com ovos escalfados e trabalhei um pouco durante a tarde. Depois disso decidi cozinhar comida para aproveitar restos e para preparar coisas que me levem menos tempo no dia-a-dia. Preciso de aproveitar a solidão para despachar trabalho que se acumula. 

Reparei que desde que a quarentena começou cá por casa há primazia das receitas do Oriente. No outro dia houve caril de frango, ontem houve um Baba Ganoush delicioso que a minha prezada amiga Calíope partilhou e que me deixou água na boca até agora e um pudim de tapioca, coco e manga. Pelo meio ainda fiz um tahini caseiro!

Nas minhas compras hoje não resisti a trazer para casa este ramo de tulipas que me vão alegrar a vida nos próximos dias. Fez-me  sentir mais humana quando comprei este ramo de flores! É um gesto tão simples mas que me faz sentir especial. Já me tinha esquecido que quando vivia sozinha em Lisboa e era solteira comprava flores todos os sábados para mim mesma. É um gesto de auto-amor!

Para amanhã tenho planeada uma limpeza geral e profunda da minha casa, assim bem ao estilo de limpezas de Primavera que raramente faço! Hoje percebi que sinto falta de objectivos que me animem para quando esta tempestade toda passar e não poder ainda planear aquilo que me faz sentir mais eu: viajar, está a mexer-me com o sistema. Por isso o truque é ir criando objetivos pequenos e curtos para o dia seguinte. Todas as pequenas coisas são importantes e, hoje mais do que nunca, é preciso encontrar um motivo que nos faça sorrir no dia seguinte.  

Antiguidade:

Cheguei à idade em que uns putos de 20 anos me convidaram para ser parte de um Advisory Board!