Diário de Uma Quarentena #15042020


Hoje acordei com um pensamento muito estranho: já não me lembrava da geografia das ruas do Porto... E tinha um telefonema a entrar ainda antes de conseguir sair da cama!

Acabei por me levantar e despachar em 15min para ir às compras e matar saudades do meu Porto. Mas o meu motorista acabou por se atrasar e dei por mim a fazer o calendário dos aniversários que já estava adiado há anos. Acho que não me esqueci de ninguém importante!

Despachei mais uns quantos emails de trabalho, tratei de follow ups de tarefas e pelas 14h saí de casa sem almoçar porque continuo sem saber o que é fome nestes tempos de quarentena. Fui às compras de máscara, pela primeira vez na minha vida e dei por mim a comprar 4 garrafas de vinho porque isto não se vai aguentar de outra maneira.

Depois disto seguimos em direcção à Baixa da cidade e foi assustador ver as ruas desertas e um cenário de apocalipse pelo Porto todo. É muito estranho ver a cidade sem ninguém e tudo fechado. Descemos à Ribeira e seguimos até à Foz por entre a esquizofrenia de chuva e sol e uma discussão sobre o Norte e o Sul. A malta de cá bate-se de peito cheio para defender a soberania nortenha e isso é bom de ver, mas na maior parte das vezes impede a verdadeira discussão e acaba por ser apenas um ouvir para contra-atacar e não para compreender. Mas é bom ver que ainda há espíritos aguerridos na defesa da Nação. 

No regresso fizemos o caminho das 7 pontes e acabámos no Parque Oriental da Cidade  que eu nem sabia que existia. E a ver o que são verdadeiros bairros sociais da pesada, como o Cerco, onde passámos no regresso a casa. 

Cheguei pelas 16h e perdi-me nos emails e em mais trabalho. Pelas 18h30 saí, hoje apenas para um passeio terapêutico porque tinha um sabor amargo na boca que precisava de destilar. Acabei por estar ao telefone com o meu Husband Material que fez de tudo para me animar o espírito e onde acabámos a enumerar aquilo de que NÃO sentimos falta em relações. A saber, no meu caso: almoços de Domingo, homens que ressonam, discussões opinativas, roupa espalhada e atitudes egoístas. 

Acabei a jantar às 22h, parte de uma Empada Galega que tinha feito ontem. E continuo com um sentimento estranho aqui latente. Não estou mal mas começo a sentir os efeitos da privação de liberdade e da ausência da minha rotina. Estou a precisar de conversas que me façam crescer e tenho tido poucas dessas... 

Tenho vivido um privilégio estas semanas sozinha e isso tem-me permitido ir mexer em algumas feridas que apesar de curadas ainda não estão cicatrizadas. E gostava de o poder continuar a fazer mas com o meu filho em casa a partir de Sábado vou ter de voltar a por isso em pausa.

E dava tudo para me sentar em frente a alguns amigos a almoçar ou jantar e ter daquelas conversas olhos nos olhos que nos chegam à alma. Morro de saudades disso. E da cumplicidade de partilhar a vida com alguém. 

4 comentários:

Mau-tempo disse...

nã ressono... mas almoços de domingo, como se vive sem almoços de domingo?

Ana A. disse...

Fazendo almoços de Domingo a dois ou com a família do coração. Ou passando as manhãs de Domingo a ter sexo. Ou a dormir.
A sério, Mau-tempo há tantas coisas fixes para fazer ao Domingo ir não seja ir almoçar com os pais de um ou de outro! Não percebo essa cena de ir a casa dos pais todos os Santos Domingos como se isso fosse uma peregrinação a Meca...

Mau-tempo disse...

ok, já percebi, são as peregrinações... tenho saudades de almoços de família

Ana A. disse...

Também tenho saudades de almoços de família. Eu adoro almoços de família. Mas a obrigação de o fazer retirar-me todo o prazer nisso.
Eu odeio obrigatoriedade numa coisa que deve acontecer apenas por vontade. Sem obrigação.

2 Anos 💔:

Que a minha Bastet partiu da minha vida!