Últimas indefectivações

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Vermelhão: Empate, a caminho da qualificação...

Rangers 2 - 2 Benfica


Enredo parecido com a '1.ª parte da Luz, com o Benfica a sacar o empate, na recta final, quando parecia que a derrota era certa... Mas as parecenças ficaram pelo resultado, porque o jogo foi bastante diferente!

Um Rangers, que apesar de estar a jogar em casa, jogou mais recuado, arriscando menos nas saídas para o contra-ataque, com menos jogadores, e com as linhas mais recuadas... uma estratégia nada escocesa, momentos houve que parecia que estávamos a jogar contra uma equipa Italiana! Com o 3-3 da Luz, um empate com menos de 3 golos, servia ao Rangers e com 1-0, provavelmente ainda ficaram mais convencidos que a estratégia estava correcta!

Assim o Benfica, foi 'obrigado' a tomar conta da 'bola'! E a diferença na posse de bola não foi maior, porque o facto da maior parte da posse de bola do Rangers, ter sido em zona defensiva, nas saídas de bola, acaba por não ser reflectida na estatística!

Mas este domínio aparente do Benfica, acabou por não ser traduzido em situações de golo, porque jogámos lentos, e nunca tivemos capacidade de criar desequilíbrios entre-linhas e/ou nas laterais! O 1.º tempo acabou, com um golo para o Rangers, na única oportunidade escocesa, e duas oportunidades para o Benfica desperdiçadas: Everton e Rafa!

O 2.º tempo, até à entrada do Gonçalo (2.º golo do Rangers), foi parecido, com a equipa da casa, a marcar praticamente na 1.º oportunidade (a bola no braço do Gabriel não conta...)! Mas a vontade dos jogadores em dar a volta, e a presença do Gonçalo entre-linhas, acabou por ser determinante... pois, mesmo quando o Gonçalo 'perdeu a bola' o Benfica ganhava os ressaltos, algo que até aí nunca tinha acontecido!!!

Muito sinceramente, apesar do jogo menos conseguido (lento em muitos momentos... e mais uma vez, com muitos passes fáceis, falhados...), o Benfica foi quem mais fez por vencer. O Rangers, defendeu bem, mas pouco ou nada arriscou... e acabou por ter a 'sorte' de uma alta eficácia...

Obviamente que o Benfica quer sempre ganhar, mas nas circunstâncias que rodearam este jogo, com as muitas ausências, principalmente do Darwin e do Taarabt (curiosamente dois jogadores que estiveram no 3.º golo do jogo da Luz), o empate acabou por ser um bom resultado...

Nos momentos finais da partida, além dos golos do Benfica, surgiram também boas notícias da Bélgica, com a vitória do Standard, que assim deixou ao Benfica (e o Rangers) a qualificação para a próxima fase, somente a 1 ponto de distância, nas duas jornadas que faltam realizar!

Uma nota para o Jardel, que foi importante, nem que seja por fazer aquelas faltas úteis, de forma dura, deixando o adversário no mínimo intimidado, algo que no actual plantel do Benfica, quase ninguém faz, e em qualquer equipa é necessário ter... E diga-se, que desta vez, não fomos ultrapassados com bolas nas costas dos centrais uma única vez, algo que tem sido recorrente noutras partidas... e não foi por falta de espaço, porque a linha defensiva do Benfica, jogou quase sempre adiantada!!!

E já agora, ainda bem que ninguém avisou o Gerard, que as substituições são permitidas no futebol!!!

Em nome de D10S


"O mundo do futebol está de luto. Faleceu aquele que mais embelezou o chamado jogo bonito, considerado, por muitos, o melhor jogador de sempre.
Apelido do astro argentino, "Maradona" tornou-se sinónimo de arte, de magia, de encanto, de rebeldia, de feitos inauditos e de capacidade de desafiar o destino. "Maradona" tem a musicalidade do que nos faz sonhar. "Maradona" ascendeu a epíteto de divindade.
Maradona foi dos poucos, em plenitude, a demonstrar o que, de facto, a bola é: um objeto inanimado que obedece às leis da física através da vontade e ação de um indivíduo.
E Maradona, antes de ser o Maradona, foi o Diego Armando, apenas um entre milhões e milhões de apaixonados por futebol, condição que nunca abandonou até morrer e que sempre a exibiu sem quaisquer pruridos na proximidade de uma bola ou aquando da presença nas bancadas de estádios.
Maradona foi um dos símbolos mais expressivos da magia que envolve a paixão pelo futebol, um sentimento que se notabiliza pela transversalidade das suas manifestações, sem constrangimentos de fronteiras, credos ou estratos.
Nunca o esqueceremos!
E a melhor forma de homenagear a sua memória é sabermos que todos os dias, em milhares de campos, esta paixão continua imparável e passa de geração em geração com novos heróis e mitos.
Hoje todos estaremos atentos ao nosso Benfica porque jogará, em Glasgow, frente a um Rangers igualmente apostado em passar à ronda seguinte da Liga Europa. Apesar das várias ausências e reconhecendo a competência do adversário, é com o objetivo de vencer e somar três pontos que os nossos jogadores se apresentarão em campo.

P.S.: Parabéns a Rui Bragança, o nosso atleta que conquistou, ontem, a medalha de ouro no Campeonato da Europa de Clubes de Taekwondo."

Outro Olhar - 22/11/20

O Cantinho Benfiquista #9 - Paredes, Glasgow, Funchal...

A arte como inevitabilidade


"A questão de separar o homem da obra, como tão bem sabemos hoje em dia, é uma problemática reservada aos artistas. Reservemos-lhe, portanto, a questão. No fim, no triste rescaldo, amontoam-se contradições: morreu agora o homem, morreu já há muito o artista, é para sempre o melhor de sempre. Nunca antes tinha sentido tristeza ao afirmar que Maradona foi o melhor futebolista de todos os tempos. Hoje, porém, expresso-o não como uma afirmação, mas como um rescaldo. Encurtou-se o tempo para o melhor de todos os tempos. Chegou o dia de recordar o inesquecível.
Há muito que a distinção de “melhor” vinha sendo atribuída a Diego Armando, mas nunca com a consensualidade que agora se verifica. Recataram-se os que preferem Pelé, ajuizaram-se os que arriscam Messi ou Ronaldo. O luto tem destas coisas, destas mesuras. Mas o luto, às vezes, só maquilha - ignoramos os defeitos, e exacerbamos qualidades ao ponto de se descaracterizar o finado, e acabarmos a velar uma entidade que já não é a pessoa que ali jaz. Ontem, caso raro, a etiqueta lutuosa não nos conduziu à mentira, nem à fábula, antes à realidade: Maradona, o melhor futebolista de todos os tempos.
Quando passar o período de nojo, sintam-se à vontade para discordar da minha premissa. Agradeço até que o façam, já que a subjectividade é essencial para apurar o ponto que aqui trouxe. Nada disto é estatístico, nada disto tem que ver com palmarés. É subjectivo, é afectivo, é arrebatador (como as coisas deste domínio têm de ser). El Pibe nasceu artista, e um tratado de estética estará mais próximo de interpretá-lo do que um almanaque desportivo.
Pensar o futebol como Arte, se não chega a ser polémico, é certamente um exercício foleiro. Concordo, e até por isso urge tratar Maradona como excepção. Caracterizá-lo como praticante duma modalidade, ou profissional dum desporto, é uma verdade míope, uma verdade tão impostora quanto qualquer mentira. O que Diego Armando fazia em campo - a afagar a bola, a servir os colegas, ou a acordar as redes - não se cinge a linguajares técnicos ou adjectivos futeboleiros
Ele queria ganhar, é claro que queria ganhar. Queria tanto ganhar que nem sempre se preocupava em fazê-lo com lisura ou justiça. Mas mesmo esse lado utilitário rumo à vitória (o objectivo natural de um desafio de futebol) exacerba o génio. A História tem destes iluminados: gente que almeja a utilidade e, pelo caminho, não consegue evitar a Arte - é uma matéria que tem entusiasmado os filósofos desde a Grécia Antiga. Em campo, Maradona adornava porque era esse o seu pragmatismo; deslumbrava porque desconhecia outra maneira; transcendia o jogo porque lhe era inevitável.
Bem sei que o futebol continua a fazer franzir sobrolhos. É cultura descartável por favorecer incultura, ou um desporto de (e para) canhestros (não forçosamente canhotos). Nem é que eu acredite nisto que acabo de declarar, mas antevejo sempre as portagens sobranceiras - cancelas que nunca quererão deixar passar a excepção artística de Maradona. Para cabeças com monóculo e cartola será sacrilégio imaginar um Mikhail Baryshnikov nascido na lama de Buenos Aires, terceiro de cinco filhos numa família pobre. Negar-se-á a Diego Armando o dom da coreografia imediata, o critério perfeito de cada temps lié, a artisticidade virtuosa de um pé esquerdo.
Este classismo que nos atira, pessoas comuns, mais aos bancos da Bombonera que aos do Bolshoi, não é tópico de somenos. Foi a consciência desse classismo que mais determinou Diego nas suas declarações políticas, mas também vem desse classismo a motivação do seu futebol (que insisto em chamar de outra coisa). Maradona fez do relvado uma galeria de Arte acessível aos desafortunados - àqueles a quem nem sequer se permite a ideia de gostar de Arte, ou de chamar Arte ao que se gosta. Contrabandeou elevação num jogo rasteiro, e permitiu-se ser rasteiro para que não duvidássemos que ali estava só um indigente como nós.
Foi pela noção do classismo, do menosprezo e da opressão, que Diego Armando combateu o preconceito dum país inteiro. Foi com relva e com bola nos pés que El Pibe de Oro, número 10 do Nápoles, deu voz a um Sul de Itália desprezado, e castigou hegemonias e sobrancerias do Norte. A voz de muitos resgatada pelos pés de um só. E pés que faziam apenas coisas de pés, mas com perfeição que entusiasma, Arte que empodera.
Recordo que em 1986 o futebol pouco me dizia. Contudo, nem a indiferença pela modalidade me impermeabilizou para o grande fenómeno de que todos falavam. Durante o Campeonato do Mundo no México, Maradona não me tornou um fã da bola, mas tornou-me fã do espectáculo que só Maradona podia dar. Vi-o vencer em 86 com a naturalidade dum herói que não pode conhecer outro desfecho. Vi-o perder em 1990 com a tragédia que assola só os heróis. Vi-o desabar em 1994 com a queda dos heróis corrompidos.
É notório que escrevo este texto impregnado por memória afectiva. Mas se me limito a considerar apenas o Maradona dentro de campo, é porque comporto outras memórias que não pretendo celebrar. Há demasiada matéria na vida pessoal e pública de Diego Armando que me impede de efectivá-lo como bom exemplo. Nunca lhe chamarei “Deus” – esse epíteto sacrílego que camufla a tremenda humanidade do seu génio. Nunca lhe chamarei “Deus” porque creio residir na idolatria a raiz de todos os seus males. Foi a idolatria que lhe germinou o sentimento de impunidade, lhe acercou o impermissível. Foi a idolatria que facilitou cadência a esta estrela.
O melhor de sempre nem sequer chegou a ser tudo o que podia. Génio ilimitado numa figura que muito se limitou. E será que aquilo que Maradona foi fora do futebol corrompe a memória das maravilhas que fez em campo? A questão de separar o homem da obra, como tão bem sabemos hoje em dia, é uma problemática reservada aos artistas. Reservemos-lhe, portanto, a questão. No fim, no triste rescaldo, amontoam-se contradições: morreu agora o homem, morreu já há muito o artista, é para sempre o melhor de sempre."

Maradona a tocar o céu com as mãos


"Como a música ou a literatura, o futebol consegue esporadicamente escrever alguma poesia.

Um bailarino sublime a dançar nas quatro linhas. Um homem baixinho, com as pernas mais imprevisíveis da história do futebol, a acumular adoradores. Um fenómeno de má vida, boa vida, excessos variados, más companhias e companhia de casa de todos os que se lembram do século XX. Diego Armando Maradona era o maior mito do futebol e agora está morto.
“Posso ser branco ou negro, o que nunca serei é cinzento.” O culto mundial a um homem divino mas não super-homem também se percebe por isto. Mas na base da comoção que a sua morte provocou em lugares tão distantes da Argentina está a tal “mão de Deus” que fez a vitória da Argentina contra a Inglaterra em 1986 (pouco depois da guerra das Malvinas no que foi assumido como a doce vingança possível), e depois tomou Nápoles e Barcelona. Como a música ou a literatura, o futebol consegue esporadicamente escrever alguma poesia.
Em 2005, na televisão argentina, Maradona fez uma brincadeira: entrevistou-se a si próprio. O entrevistador pergunta ao entrevistado o que diria no dia da sua morte. Resposta: “Obrigado por ter jogado futebol, porque é o desporto que me deu mais alegria, mais liberdade, é como tocar o céu com as mãos.” Maradona tocou o céu com as mãos – e quem o viu apaixonadamente também.
Numa noite de 1989 também estive no estádio de Alvalade a ver o Sporting-Nápoles, em trabalho. Eu não percebia nada de futebol mas os meus chefes queriam mesmo isso: ver o efeito que o mito Maradona produzia numa pessoa nova, sem currículo de desporto nem de coisa nenhuma. Foi nessa noite em Alvalade que o clube de fãs planetário de Maradona ganhou mais uma: a electricidade das pernas de Maradona em campo tornaram aquela uma das noites inesquecíveis da minha vida. As pernas de Maradona eram em si uma contradição: não eram atléticas ou fit, eram impressionantemente curtas e artífices do sublime.
Na sua última entrevista, ao jornal argentino Clarín, Diego Armando Maradona disse ser “eternamente grato ao povo”: “O que vivi nessa volta ao futebol argentino jamais esquecerei, excedeu o que eu poderia imaginar. Estive fora muito tempo e às vezes pergunto-me se as pessoas ainda me vão amar, se continuarão a sentir o mesmo.” Maradona tinha medo de perder o amor das massas, uma coisa normal num fenómeno, porque o amor das massas costuma ser breve. Mas com Maradona não foi assim."

Morreu a alegria dos povos


"Estes são aqueles momentos em que não nos apetece escrever nada. Só o entende quem partilha a paixão pelo Futebol, desde menino, que cresceu a ver o “belo jogo” ser jogado ainda com aquela quase inocência e pureza que só não o era porque estava sempre muita coisa em jogo – demasiadas coisas em jogo num mundo de homens em que nem sempre o respeito é o mote. Hoje morreu um dos últimos baluartes desse futebol, o maior dos seus representantes: Diego Armando Maradona.
Confesso, sem vergonha (talvez devesse ter). No auge de Maradona, lutei muito contra o fascínio que, no meu íntimo, sentia ao ver tudo o que de mágico “El Pibe” fazia em campo. Desde cedo formei um gosto por um futebol mais pragmático, objectivo, de eficiência e implacabilidade. Pelos anos 80, admirava a “máquina musculada” de nome Karl-Heinz Rummenigge. Mais tarde deixei-me arrebatar pela frieza e letalidade daquele que considero, ainda hoje, o melhor “9” de sempre, Marco van Basten. 
Mas havia aquele tipo de cabelo encaracolado, que eu teimava em descartar dos meus ídolos, porque era demasiado rebelde e indisciplinado para caber na minha concepção de futebol eficiente. Estava cego. Mas com os anos passou. E com algum alívio posso hoje dizer que, a tempo, me rendi a um génio. Que era mais do que isso. Era uma espécie de “Deus” da bola, colocado no pedestal dos imortais, não pelos “donos da bola”, mas pela sua verdadeira alma: os povos.


O futebol é uma caminhada. Longa de histórias, ídolos e deslumbramento. Não há geração que não tenha um período, um clube, ou jogador de referência. Mas há muitos “futebóis”. Tal como há muitas sociedades, culturas, classes, religiões. O futebol é o espelho do que somos, da nossa tribo, dos nossos interesses, modos de vida. É o “campo de batalha” de sonhos, cores, nações, ideologias, mas também a impressão digital das raízes de cada um de nós e das nossas origens.
Maradona era o representante do povo argentino, mas não só. Era também o representante maior de todos aqueles que, descalços – felizmente hoje menos descalços -, sonhavam com o “Olimpo”, na rua, na terra batida, no chão coberto de pó, com uma bola de trapos ou, com sorte, com uma bola sim, mas em farrapos, pesada… com o peso de todos os sonhos dos miúdos, na rua, que fantasiavam eles próprios em ser ídolos. Muitos deles para fugir à pobreza, à miséria e ao abandono das suas sociedades. Para meter comida na mesa, dar uma vida digna, uma casa, um futuro aos seus pais, irmãos, família.


Diego era isto tudo, e assumiu-o ao longo da sua vida. “El Pibe” era do povo… representava o povo que conseguiu chegar “lá”. Era o reflexo de cada um dos argentinos do povo, que enchiam as bancadas da La Bombonera ou de qualquer estádio do país das Pampas. Ou de qualquer outro da América Latina. Ou até de Portugal.
Em 1982 estalou a guerra das Malvinas – um arquipélago sob domínio britânico, situado ao largo da Argentina, bem lá no Sul do Atlântico. A humilhação suprema para os sul-americanos, que reclamavam a soberania sobre aqueles territórios. A “mão de Deus”, que se seguiu ao “golo do século”, foi um acto de vingança – não gosto da palavra, mas foi isso mesmo. Nesse jogo fundamental do Mundial de 1986, Maradona foi, mais uma vez, o representante de toda a Argentina, o instrumento da desforra de uma guerra perdida e que feriu o orgulho nacional. Ele sabia-o e nesse dia foi tudo o que que podia ser para bater a “nação opressora”. Foi herói.


Hoje morreu grande parte do futebol puro, rebelde que amamos e que definha sob o jugo da mercantilização, a nova “nação” que oprime o Futebol. E o vazio que deixa nunca será preenchido. Hoje choramos todos, porque hoje somos todos argentinos."

“Se yo fuera Maradona, vivería como él”


"Foi irresponsável, disparatado, apaixonado, controverso, divertido, foi sobretudo autêntico, e morreu cedo mas viveu muito, e como quis.

Chegam depressa as notícias más, ainda mais depressa agora, diretas no telemóvel, tantas mortes por estes dias, mas o Clarín argentino diz que morreu Maradona, Diego, El D10s, e com esse na Argentina não pode haver confusão, e não surge de um site de boataria, iludo-me que seja mentira mas temo a verdade, em grupos de whatsapp amigos manifestam a mesma incredulidade e receio igual, antes da confirmação, quando as fontes se multiplicam.

Morreu mesmo, é verdade
Maradona foi único e dele até a notícia mais triste me devolve memórias de encantamento, regresso aos 10 anos e às primeiras fotos que vi na revista Onze, no azul e dourado do Boca que foi a sua casa, tenho 16 logo após, vibro com cada exibição no México inesquecível e lembro horas seguidas a treinar o meu pé esquerdo na ilusão de lograr algo vagamente parecido com o que o via fazer, nos relvados de um Mundial como se estivesse ainda no pelado dos Cebolitas onde o filmaram pela primeira vez. Faz a jogada imortal, na vingança das Malvinas frente a Inglaterra, mas tantas outras em jogos injustamente esquecidos, com a Coreia, a Bulgária ou o Uruguai, quando buscava a baliza e evitava a pancada ao mesmo tempo, nada ia impedir que o mundo percebesse que Maradona resgatava no México o trono que Pelé por lá ocupara em 70.

Predestinado, acima de todos
Génio é uma das palavras de gasto exagerado no desporto, classificativo de tanta gente de mérito comum, herói é pior ainda, que um único dia feliz, ou um gesto apenas, parecem autorizar o epiteto em capas de jornais, e há ainda a lenda, quando as há tão poucas de verdade, que dizer então de Maradona, quantos dias, quantos gestos, quantas capas, génio desde o berço, herói definitivo de um país, lenda eterna na Nápoles que torceu por ele contra a própria Itália na meia final de 90, uma cidade que troca o país por um homem só não voltarei a ver decerto, e só mesmo Pelé se lhe compara – descontem os do presente para fugirmos a debates sem sentido nesta hora – mas nem o brasileiro dos mil golos terá emocionado tanto como Diego, o mais predestinado dos que algum dia jogaram futebol. Alguém disse que para se confirmarem como os melhores há futebolistas que precisam de uma equipa, outros de uma baliza, a Maradona bastava a bola.

Nascer Maradona
Maradona é um nome musical, que se enche a boca para dizer, e Diego Armando dá-lhe o balanço certo, morreu aos 60 depois de ter nascido em 60, números redondos numa história feita em ciclos, virtuosos no relvado, viciosos fora dele, excessivo no talento como no comportamento, mas como pedir perfeição fora do relvado a quem só a realizava dentro dele? Por isso o contraste entre o jogador de fábula e o treinador de farsa, que aquela foi sempre a pele errada num homem autêntico, na impossibilidade concreta de ensinar o que só ele conseguiria executar, que o jogo que ele jogou não se ensina nem se aprende, brota, é intuição pura, capacidade de perceber e executar antes acima dos mortais, génio, desta vez sim, génio absoluto indiscutível.

Morrer Maradona
Poucos minutos depois da notícia e ao referir lembranças de Maradona, Valdano, companheiro de uma vida, falou de sorrisos mas não conteve as lágrimas, pois chorar Maradona será sempre sorrir também, tantos os momentos singulares que preenchem as seis décadas de um homem imperfeito que acolheu o futebolista perfeito. Foi irresponsável, disparatado, apaixonado, controverso, divertido, foi sobretudo autêntico, e morreu cedo mas viveu muito, e como quis. Manu Chao cantou “se yo fuera Maradona, vivería como él”. Não consigo dizer o contrário."

Sempre Diego – A Final de 86


"Ontem no Futebol Total do Canal 11 tive a oportunidade de fazer a minha homenagem ao ídolo de toda uma vida. As jogadas infindáveis, os golos absurdos, o gesto técnico impossível todos o viram – Dos mais velhos aos mais novos pelo Youtube. Mas, o que jogava Diego Armando Maradona?
O que jogava El Pibe para lá dos tantos e tantos lances que lhe trouxeram a notoriedade? Fui analisar a sua Final no México em 86, o Mundial que o consagrou."

Fever Pitch - João & David... Inglaterra!

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Finalmente, 3 pontos!!!

Cova da Piedade 2 - 3 Benfica B
Csoboth, Vukotic, Samu


Contra uma equipa repleta de ex-jogadores do Benfica, a nossa equipa B, venceu com uma grande primeira parte, e com um 2.º tempo de sofrimento... Por culpa própria, tantas foram as oportunidades desperdiçadas que dariam ainda uma vantagem maior...

Vitória importante, despois de tantos desaires consecutivos, parece que a chamada de vários jogadores à equipa A, serviu de motivação para aqueles que ficaram na B...!!!

Jorge Jesus | 3 ex-jogadores que poderiam ajudar o SL Benfica


"Um dos grandes momentos do mercado de transferências de verão foi, sem dúvida, a chegada de Jorge Jesus ao SL Benfica.
Pois bem, o técnico natural da Amadora já havia passado pelo comando técnico dos encarnados (com sucesso, diga-se), até que rumou ao Sporting CP numa transferência que “chocou” o país.
Embora tenha vencido uma Supertaça e uma Taça da Liga, considera-se a passagem de JJ pelos leões um fracasso. Seguiu-se o Al-Hilal Riad e, posteriormente, o Clube Regatas do Flamengo, onde teve os maiores êxitos da sua carreira de treinador. No Brasil, Jorge Jesus venceu o campeonato e a Copa Libertadores no mesmo ano, vencendo a Recopa Sudamericana no início da temporada seguinte.
Era tempo de voltar “a casa” e ao Sport Lisboa e Benfica, equipa que Jorge Jesus prometeu colocar a “jogar o triplo”, o que não tem sido exatamente verdade. Atualmente os encarnados encontram-se na terceira posição do campeonato com os mesmos 15 pontos do SC Braga e a quatro do líder Sporting, foram eliminados pelo PAOK na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, embora tenham sido despromovidos para a Liga Europa, onde têm mostrado um comportamento exemplar.
Ainda assim, uma coisa não é verdade: a equipa não joga o triplo, nem sequer perto disso. Assim, decidi fazer uma lista de três jogadores que já foram treinados por Jorge Jesus em algum momento da sua carreira que poderiam ajudar o SL Benfica nas suas aspirações nesta temporada. De relembrar que têm de ser opções realistas e que ainda estejam no ativo.

1. Rúben DiasCalma, calma. Bem sei que resgatar Rúben Dias do Manchester City neste momento é completamente irrealista, mas e se não tivesse chegado a acontecer essa transferência?
Pois, este é um caso delicado, uma vez que falamos de um dos capitães da equipa, um dos meninos de ouro da academia, de um dos melhores jogadores dos últimos anos dos encarnados.
Uma das grandes lacunas do atual plantel encarnado tem sido, sem dúvida, o centro da defesa, e Rúben Dias seria a opção ideal para colmatar esse problema. Aliás, esta “teoria” é passível de prova: em três jogos que disputou ao serviço do SL Benfica esta temporada, Rúben Dias marcou um golo, venceu dois jogos e a equipa apresentava um saldo de golos positivo (8-3).
A verdade é que a saída de Rúben Dias provocou um decréscimo no rendimento defensivo do Benfica, que Otamendi não consegue, muito por falta de capacidade, recuperar.
É urgente arranjar uma solução para a posição central da defensiva encarnada, ou, pelo menos, que os que lá estão subam o seu rendimento o mais rápido possível, porque sofrer três golos em todos os jogos não é normal.

2. Gerson Sei que o meio campo do Benfica nem é a zona que tem mostrado mais debilidades, mas não há como negar o quanto
Gerson poderia ajudar nesta equipa. Gerson foi um dos pilares do Flamengo de Jorge Jesus e poderia ter uma nova oportunidade de tentar a sua sorte no futebol europeu, onde já esteve para representar a AS Roma e a ACF Fiorentina. Pois bem, a experiência não correu como esperado e voltou ao Brasil para ser feliz no Flamengo de JJ.
O brasileiro de 23 anos é daqueles jogadores que mal toca na bola já se nota que é diferenciado, e era exatamente isso que poderia ajudar no meio campo encarnado. Ainda que Adel Taarabt esteja a jogar bem, não vejo neste a qualidade que mostrou noutros tempos, para além de que Gerson daria mais frescura, fruto da sua idade. Nem vou falar de Pizzi.
Chegou a falar-se do interesse do Benfica no jogador canarinho, no entanto o negócio nunca chegou a acontecer e muitos “culpam” o falhanço na entrada na liga milionária como principal motivo. Esperemos que fique para um futuro próximo.

3. João Mário As hipóteses de resgatar João Mário neste momento são praticamente nulas, até porque se encontra emprestado, mas sem dúvida de que seria um jogador encaixaria que nem uma luva neste plantel do Sport Lisboa e Benfica.
Atualmente a defender as cores do Sporting Clube de Portugal, por empréstimo do Inter de Milão, o médio internacional português poderia ser uma boa adição à equipa de Jorge Jesus, que foi seu treinador precisamente no clube de Alvalade, antes deste se transferir para Itália.
João Mário é um médio ágil, e faz do seu passe, principalmente no último terço do terreno, uma das suas principais armas, para além de ter uma enorme capacidade de resistência e de desarme.
Atualmente com 27 anos e com experiência em vários campeonatos (português, inglês, russo e italiano), o médio, irmão do também jogador de Wilson Eduardo, poderia ser uma mais-valia para o SL Benfica. 
Foi falado, na imprensa, que o médio luso-angolano foi sondado pela estrutura do Benfica no mercado de transferências transato, no entanto nenhuma negociação chegou avante, tendo, por isso, sido emprestado ao Sporting CP pelo Inter."

A noite de Libertadores de Lucas Veríssimo


"Na noite passada o Santos defrontou o Quito na fase de eliminatórias da Taça dos Libertadores. Venceu fora de casa, e o jogo ficou marcado pela lição de Lucas Veríssimo sobre como construir, do lateral Parázinho sobre como receber para acelerar o jogo, e por fim a finalização eficaz de Soteldo."

Antevisão...

Bastos...

Bastos - O adeus a uma glória


"Ontem partiu mais uma glória, José Bastos. Tinha 91 anos.
Bastos era o derradeiro sobrevivente entre os campeões latinos, um dos obreiros de um dos maiores feitos da história do Benfica.
Corria o ano de 1950 e acabáramos de nos sagrar campeões nacionais, o que nos valeu o convite da Federação Portuguesa de Futebol para sermos o representante português na segunda edição da Taça Latina, uma prova oficial considerada predecessora da Taça dos Clubes Campeões Europeus e que era realizada no final da temporada e organizada pelas federações portuguesa, espanhola, francesa e italiana.
Na meia-final derrotámos a Lázio, por 3-0. O adversário seguinte foi o Bordéus, naquela que terá sido uma das finais mais longas da história do futebol. Ao empate a três bolas verificado após prolongamento procedeu-se a um jogo de repetição passada uma semana. A 18 de junho teimava o empate, 1-1 era o resultado no final do tempo regulamentar (Arsénio empatou em cima do apito final), o qual se manteve inalterado no prolongamento. O jogo prosseguiu até que se encontrasse um vencedor, que acabou por ser o Benfica, quando Julinho, aos 146 minutos, finalmente desfez a igualdade.
Bastos alinhou nas três partidas, tinha apenas 20 anos e já merecia a confiança do treinador inglês Ted Smith, sendo, ainda hoje, um dos mais jovens guarda-redes de sempre a merecer a titularidade na defesa da baliza benfiquista. Anos mais tarde chamaram-lhe o rei do sono por transmitir uma calma impressionante no desempenho da sua função em campo.
Ao longo de onze temporadas de águia ao peito na equipa de honra do Benfica, Bastos alinhou em 274 jogos (196 em competições oficiais) e contribuiu para a conquista de uma Taça Latina, três Campeonatos Nacionais e cinco Taças de Portugal. Prosseguiu a carreira no Atlético, participando, pelo clube de Alcântara, no jogo que marcou a estreia de Eusébio pelo Benfica, sofrendo, na Luz, três golos do jovem chegado de Moçambique meses antes. Diria depois de Eusébio que nunca vira alguém rematar com tanta potência.
Bastos deixou sempre um lastro de simpatia, humildade e inteligência por onde passou, deixando saudade a todos os que tiveram o privilégio de privar com ele. Foi também um grande benfiquista, fazendo sempre questão de manifestar o seu benfiquismo e de marcar presença no Estádio da Luz, só impedido de o fazer nos seus últimos meses de vida por força da pandemia.
O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, em nota oficial, manifestou "as mais sentidas condolências por alguém que nos deixa uma profunda saudade" e que se trata de um "símbolo histórico" do Benfica. 
Descansa em paz, José Bastos."

Benfica Podcast #386 - Time for Debuts

Treino...

Fever Pitch - João, Miguel & Pedro... Trio!

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Aquela tarde solheira do Lumiar


"Natural de Vila Real de Santo António, Mário da Rosa chegou ao Benfica em 1938 vindo de Casablanca, para onde os seus pais tinham emigrado. Nunca foi um guarda-redes titular indiscutível, mas merece o seu espaço nestas páginas que procuram que nenhum daqueles que se bateram de águia ao peito caia no poço do olvido

Terça-feira, 20 de Junho de 1945. A revista Stadium, uma publicação verdadeiramente revolucionária para a época sobretudo pelo descaramento com que enchia as primeiras páginas com imagens extraordinárias, ocupando-as de alto a abaixo com as grandes figuras do fim de semana, fosse em que desporto fosse, recusando as grilhetas do futebol, apresentava a fotografia do herói do dérbi entre Sporting e Benfica. A legenda dizia: 'Rosa, keeper do Benfica cuja exibição no domingo passado foi o melhor factor para a vitória do seu clube'.
Rosa: Mário da Rosa Gomes, nascido no dia 25 de Abril de 1917, em Vila Real de Santo António. Não tenho falado muito dele nestas vossas páginas, e a falta é minha. Ao fim de mais de dez anos seguidos a torturar os estimados leitores com episódios soltos da história do Benfica e daqueles que vestiram a camisola rubra de águia ao peito, já era altura de me penitenciar pela ausência de vários deles. Chegou a Lisboa em 1938 para tentar a sua sorte no Benfica e foi ficando. Foram nove épocas de enfiada, e não há muitos que se possam gabar de tanta resiliência.
Não se pode dizer que tenha sido um titular firme. Houve épocas em que foi pouco utilizado. Mesmo muito pouco utilizado.
Nascido lá nesse canto lusitano do sudeste, Espanha quase já, onde existe precisamente um Lusitano, o Lusitano de Vila Real de Santo António, Rosa nunca vestiu a camisola daqueles que muitos, por brincadeira, chamam o Zulitano. Foi cedo para Marrocos, com os pais. Viveu em Casablanca, tentou a sua sorte em clubes sem grande expressão como o Roches Noires e o Union Sportive, foi-se enrijando com os voos temerários em terra batida, rasgou os cotovelos ao ponto de deixar de dar importância às cicatrizes que se acumulavam, apaixonou-se pelo jogo dos ingleses a ponto de desejar mais e mais e mais.

Lisboa!
O seu mais e mais e mais estava em Lisboa. Era o Benfica. Foi lá que se tornou famoso, mesmo que sem ter sido, como deixei registado, um titular daqueles à séria que não havia treinador arrancasse de debaixo dos postes. Mas fez épocas de estalo, isso fez.
Esse jogo frente ao Sporting, a contar para a Taça de Portugal, leva o seu nome registado numa placa de prata, mesmo nestas linhas. A partida teve lugar no dia 17 de Junho. Os jornalistas da Stadium tiveram tempo de sobra para digerir tudo o que se passara. No Stadium do Lumiar, o Benfica impusera-se por 2-1, com golos de Alcobia e Julinho, que chegaram ao 2-0, sendo depois Rosa batido por um pontapé venenoso de Jesus Correia.
Pelo meio, o Mário de Vila Real de Santo António agarrou a oportunidade de ficar para a história, ignorando a violenta ventania que soprava nos céus do Lumiar. 'Bem sabemos que a luta exerce grande atracção no jogador. Mas isso não destrói aquela afirmação de haver uns mais bem preparados para ela do que outros em determinadas situações. Por isso se exige ao praticante disciplina de vida e preparação cuidadosa, não só para ele poder suportar sem prejuízo os grandes esforços, mas ainda para durar o mais possível. E jogos como o que se disputou, no passado domingo, no Lumiar causam desgaste físico evidente. Por isso não é de somenos citar Rosa como aquele que, acima de todos, manteve a frescura e a concentração necessárias para uma exibição sem mácula, servindo de pilar para toda a construção defensiva da equipa do Benfica', escreveu o enorme Tavares da Silva, mestre de mestres.
O jogo foi duro, agressivo. Não estivessem frente a frente os dois grupos portugueses cuja rivalidade se instala por todo este país que é o que o mar não quer, como dizia Ruy Belo, um dos desiludidos da vida-vidinha inventada por Alexandre O'Neill. Rosa foi imperial, a sua tranquilidade espalhou-se pelos companheiros como um contágio. Terá sido a sua melhor exibição com a águia pousada em cima do coração? Muito provavelmente. Não apenas pelos pormenores felinos dos seus gestos, mas também por ser contra quem foi. Já era mais do que tempo de trazer Rosa para este arquivo semanal de grandes momentos e grandes personagens. Tudo fez para merecer que não caia nunca na ingratidão escura do poço do olvido."

Afonso de Melo, in O Benfica