Últimas indefectivações
sábado, 8 de fevereiro de 2025
Inferioridade...
Benfica 0 - 1 Feirense
Jogo marcado pela expulsão do Prioste, aos 30m. Num jogo, onde o Benfica, mesmo com 10, foi sempre melhor...
É inacreditável como o Feirense acabou o jogo sem um único Amarelo!
O mercado pobrezinho dos grandes
"Sporting não foi tão cirúrgico, mas voltou a acreditar em Fresneda, enquanto o FC Porto se entregou em definitivo ao 'ano zero'. Já o Benfica confirmou os problemas de sempre
O mercado fechou. Um mercado modesto para os portugueses – e para as principais ligas, tirando uma ou outra exceção (Man. City, PSG, Milan...) –, que, ainda assim, contou com um push final que trouxe algumas surpresas aos três grandes.
O Sporting, devido ao conforto dos seis pontos de vantagem na Liga e à consistência readquirida no pós-João Pereira, era o que menos precisava mexer, mesmo com o departamento médico a abarrotar de clientes. Ainda assim, ficou a sentir-se mais tranquilo na baliza com Rui Silva, trocou um ativo cada vez mais letárgico (Edwards) por uma promessa brasileira a prometer eletricidade (Biel), e falhou dois alvos para o lado direito da defesa, resignando-se com Fresneda, que também não conseguiu colocar, e Quaresma. O potencial do espanhol, de apenas 20 anos, é para lapidar e acredita-se que, assim que adquirir confiança, voltará as exibições que, ainda ao serviço do Valladolid, o colocaram quase a bater à porta dos gigantes Barcelona e Real Madrid.
Os leões não conseguiram resolver o excesso de centrais – 6, se contarmos com Quaresma, Matheus Reis e Muniz –, apesar das insistentes notícias a dar contar do interesse em Inácio e Diomande numa aparente boa altura para abdicar de um deles e fazer um importante encaixe financeiro. Já à esquerda, a adaptação de Maxi Araújo tem sido linear e produtiva.
Por outro lado, foi obviamente importante segurar Gyokeres, com alguns emblemas ingleses a não conseguirem resolver algumas deficiências no setor, casos de Arsenal e Chelsea, pelo menos. Os Blues estiveram, desta vez, bastante tranquilos, confiando em Nicolas Jackson, enquanto Mikel Arteta chegou a protestar com a forma como os Gunners evoluíram no mercado. Fosse ou não sobre o sueco, a verdade é que os leões mantêm todas as espingardas para a luta pelo título. Entretanto, o sucessor já está no plantel desde o verão.
A norte, o FC Porto só agora percebeu que a distância para os rivais tinha aumentado. A falta de gestão de expetativas por parte de Villas-Boas, que teve continuidade em Vítor Bruno, aliado à conquista da Supertaça, expôs em demasia o segundo assim que os maus resultados apareceram. O primeiro abalo sentido a sério foi a goleada na Luz diante do Benfica. Depois, mais uns quantos tropeções, aliados ao discurso e imagem de Bruno, levaram o presidente portista a despedir aquele que várias vezes defendeu com afinco desde o dia 1. Aprenderia a lição, já que na apresentação de Anselmi foi mais contido.
O dirigente chegou entretanto a uma encruzilhada nos últimos dias de mercado: ou mantinha os melhores, sob o risco de desvalorizarem rapidamente, tendo em consideração uma eventual adaptação mais complicada de Anselmi, ou aceitaria dialogar, desde que por valores interessantes. Galeno e Nico foram negócios irrecusáveis, percentagens e mais-valias à parte, e refletem a lição aprendida. Os rivais estão fora de alcance.
William Gomes, 18 anos, e Tomás Pérez, 19, também são expoentes de uma abordagem de futuro. Pelo caminho, Nico ficou sem substituto por respeito à cantera, embora aí também o ex-Newell's possa assumir papel importante na linha de 3, como médio ou até líbero. É um FC Porto em fase de construção, porém com linha bem traçada.
Na Luz surgiu a maior surpresa: Bruma. Antes de lá irmos, visitemos duas fragilidades que podem ser facilmente identificáveis pelos mais atentos. Uma tem sido a saída sob pressão e outra o ataque posicional. Se analisarmos o mercado dos encarnados nenhuma terá ficado resolvida. E podemos somar-lhes a veterania de um Otamendi em final de contrato e com erros acumulados e um António Silva como ativo transacionável, naquela habitual política de, na Luz, se ter sempre de vender alguém. Na defesa, os encarnados terão garantido ainda assim o possível sucessor de Carreras, mas deixaram novamente Bah sem alguém que o renda, à exceção de Tomás Araújo, o melhor central.
A adição de Manu é, pelo contrário, ponto positivo do raide ao mercado. Acrescenta critério no passe, curto e longo, além de boa leitura. Um ótimo e necessário complemento para Florentino, e a única contratação que melhora a resistência à pressão.
Na frente, a confusão foi bem maior, mas não se estranha face ao que se tem passado noutros defesos. Bruma pode explicar-se pelos problemas físicos de Di María, contudo no plantel estavam Rollheiser – contratado precisamente para ser o sucessor do compatriota, já tendo levado Bruno Lage à contradição de dizer que é um elemento do ataque e a acabar a usá-lo no lugar de Kokçu – e Prestianni, que vive contexto absurdo na equipa B, quando já era titular no Vélez Sarsfield aos 17 anos. Todos sabemos que Lage tem um plano, todavia, não parece lógico à primeira vista.
Quando se contrata alguém de 30 anos, o investimento tem de ser encarado como a fundo perdido. Dificilmente, haverá retorno. Além disso, o internacional português é muito mais forte à esquerda, tal como... Schjelderup e Akturkoglu, o que torna a transferência ainda mais difícil de entender. Será que a estrutura do futebol profissional e o scouting não encontraram extremos direitos interessantes?
Mais estranha parece a movimentação para reforçar o ataque. O plantel já dispunha de um 9 de maior raio de ação em Pavlidis, um segundo avançado em Amdouni e outro de área em Arthur Cabral. O brasileiro nunca convenceu, é verdade, mas a ideia perde validade quando é trocado por um jogador a atravessar os piores momento da carreira, ainda que de inegável qualidade. Belotti atravessa o deserto desde que deixou Turim, há alguns anos e a sua entrada parece apenas um ato de gestão contabilística. Isto se Cabral acabar mesmo por sair em definitivo, o que não é certo. Se correr bem, terá sido resultado de uma fezada qualquer.
As águias voltam a dar sinais no mercado de algo que não é novo e para o qual parecem não ter solução: a falta de rumo."
Dr. Jekyll e Mr. Hyde lutavam dentro do peito de El Hombre
"Waldir Cardeña, herói do Peñarol, derrubou o garoto com uma das patadas que usava em campo
Wilmar Everton Cardeña era um daqueles brutos contumazes de pai e mãe. Ia direito aos adversários e com o pé bem alto acertava em tudo o que ficasse abaixo dos adenoides. Em campo era a prepotência em pessoa; fora dele exibia um candura desarmante. Dr. Jekyll e Mr. Hyde vestindo para a eternidade a camisola n.º 5 de riscas amarelas e negras do Peñarol. Obviamente, era malquisto por todas as hinchadas dos outros clubes. Havia cânticos tão afinados como insultuosos e soezes nos campos onde aparecia como forasteiro. E ele, impávido. Boina preta na cabeça larga de patrão dos meios-campos, atirando-se de corpo e alma sobre todos os seus opositores, talvez mais corpo do que alma, derrubando-os como pinos de bowling e reduzindo-os à pequenez de pobres infelizes que se aterrorizavam perante El Hombre, como ficou conhecido pela imprensa graças à imaginação desse grande jornalista que foi Pablo Aladino Puseya. Áspero, soltava um grito e a sua equipa unia-se, fechava caminhos e abria estradas, defendendo e atacando como os cilindros do motor de um automóvel bem oleado. E, no entanto, Roberto Alfredo Fontanarrosa, um dos mais salientes escritores argentinos desse tempo, El Negro Fontarrosa, que al
imentou durante anos o mito de Wilmar, escreveu assim sobre ele: «Yo entiendo que no es sencillo intuir el gesto amable o la frase cordial en un hombre que hizo del encontronazo cruel, la pierna arriba o el gesto acerbo, una marca personal e indeleble a lo largo de su prolongada campaña». Jekyll ou Hyde. Ou os dois num só.
imentou durante anos o mito de Wilmar, escreveu assim sobre ele: «Yo entiendo que no es sencillo intuir el gesto amable o la frase cordial en un hombre que hizo del encontronazo cruel, la pierna arriba o el gesto acerbo, una marca personal e indeleble a lo largo de su prolongada campaña». Jekyll ou Hyde. Ou os dois num só.
Havia um ponto escuro em cada irís dessa fera que desprezava as cicatrizes com que o marcavam ao fim de cada batalha. Porque Cardeña parecia nunca se cansar de guerra. Parecia, ouçam bem o que escrevo! Mas a guerra tornava-o denso, estranho, silencioso. Como se estivesse continuamente a preparar-se para a seguinte. E assim, semana após semana, mês após mês, ano após ano. A mágoa mastigada, a revolta amarrada, a ânsia contida. Sofria com as derrotas como se lhe tivesse amputado uma perna. Uma houve que mexeu de vez com a sua invisível suavidade humana.
Conta Fontanarrosa que na véspera de um jogo frente ao Nacional, Wilmar estava particularmente sensível. Nada mais importante para alguém do Peñarol do que vencer o Nacional, vizinho do bairro de La Blanqueada, usando o vermelho da bandeira de José Gervasio Artigas e da Liga de los Pueblos Libres, essa ideia de fazer do Uruguai, da Argentina e do Brasil uma Confederação de Estados. Não era o confronto que o deixava assim, num estado de quase prostração. Recebera uma carta de um menino doente, amarrado à cama do Hospital Maciel, na Ciudad Vieja, com vista para o delta doRio da Prata. «O Director fatal que lhes ordena», escreveria o meu amigo e mestre Fernando Assis Pacheco. Ou a morte sentada aos pés da cama…
El Hombre bem pôde alargar a garganta e rebentar com as cordas vocais incitando os seus para a vitória. Não, nesse dia Deus não estava ao lado de Los Mirasoles. Uma barreira inultrapassável ergueu-se do outro lado de la cancha. Era o orgulho que, com camisolas diferentes, se combatia a si próprio. A raiva contida de El Hacha Cardaña, a Flama do Uruguai que calara cento e cinquenta mil vozes no Pacaembú na final da Copa Roca, fê-lo chorar. E um silêncio, no balneário, respeitou aquele momento sublime de desespero sussurrado.
Como houvera prometido, no dia seguinte Wilmar foi visitar o menino condenado com uma bola assinada por toda a equipa debaixo do braço. Aliás, toda a equipa foi com ele e com a bola. Em redor do quarto havia uma multidão de cavaleiros dos relvados. De bata branca, com a agulha do soro espetada no braço, o garoto olhou para a bola e olhou para todos os seus heróis. E largou o berro: «Hijos de puta! Como pueden perder con eso chotos de Nacional?». Lívido, Cardeña não conseguiu falar. Mas o fedelho continuou: «Como carajo puede ser que esos putos nos hagan cuatro goles?». Vermelho, com as veias do pescoço salientes, era o contraste de Wilmar. «Hijos de mil putas! Troncos de mierda! Metanse la pelota en el culo!». E atirou a bola assinada contra a cara de Everton Cardeña. Mr. Hyde subiu-lhe à cabeça e desferiu uma patada no peito do rapazinho. Até hoje ninguém sabe onde Fontanarrosa foi buscar esta história macabra."
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