Não
vou dizer que expulsando o que é natural nos cardeais ele volta a
galope: acredito que o que disse o novo cardeal português, Manuel de
Castro, foi só dele. E não vou retirar ao cardeal a legitimidade de se
pronunciar sobre educação dos filhos lá porque não os faz: admito que um
olhar de fora possa ser mais atento. Portanto, com o tal cardeal não
generalizo, nem o excluo do direito de opinião. Dito isto, engalinhei
por ele ter dito que "a mulher deve poder ficar em casa ou, se trabalhar
fora, num horário reduzido, de maneira que possa aplicar-se naquilo em
que a sua função é essencial, que é a educação dos filhos". Na verdade,
não engalinhei, senti a crista encrespar-se! Senti a minha função
essencial de pai educador diminuída. Que é isso de que cabe mais e
melhor a elas educar?! Parir, de acordo; mas a educar peço meças.
Acordei noites para sussurrar acalmias a choros. Admoestei muito cedo a
falta de dizer bom-dia a vizinhos. Mergulhei junto para acabar com
medos. Forcei-me a decorar poemas só para a acompanhar. Soube fazê-la
sentir que ela estava comigo, mesmo quando estávamos longe um do
outro... É certo que não fiquei em casa nem trabalhei menos para a
educar, não pude, é a vida. Mas apliquei-me na minha função essencial de
pai educador. E a prova é que dei à minha filha ensinamento útil: "És
cidadã a parte inteira, mas, nunca esqueças, nada está garantido para
sempre." Preveni-a contra si, cardeal.
Um ponto de encontro. Um espaço de cultura. Um local onde falamos do concelho de Oeiras, de Portugal e do Mundo.
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domingo, 19 de fevereiro de 2012
terça-feira, 25 de outubro de 2011
Vitalício, hoje, só como alcunha - Opinião - DN
Vitalício, hoje, só como alcunha - Opinião - DN
Ângelo Correia, o último dos ingénuos (e isso, claro, é elogio), interrogado sobre as pensões vitalícias dos ex-políticos e actuais gestores de empresas, quase se engasgou perante a hipótese de ficar sem aquela verba de arredondar o fim do mês (no caso dele, 2200 euros). Aquela pensão é, disse, um "direito adquirido". Adquê?, espanto-me eu. Em Outubro de 2011, direito adquirido pertence à família de ceroula, é termo que nos é muito chegado mas que caiu em desuso. Entre as catástrofes que nos acontecem, incluindo o fim dos direitos adquiridos, acontece-nos também termos de perder a ilusão de que os direitos adquiridos eram direitos e adquiridos. Mesmo os funcionários públicos mais angélicos já sabem que os 13.º e 14.º meses, para o ano e para o ano a seguir, já eram (e até suspeitam o mesmo para os anos seguintes aos a seguir). Os únicos crentes num mundo imutável parecem ser os ex-políticos gestores de topo: acreditam na pensão vitalícia. Homens de demasiada fé! Hoje, para muitos, pode mudar-se do emprego certo para a indigência, e só não se podia, para uns poucos, mudar de pensão vitalícia, é? Pois não é. Seria se aos políticos que mandam lhes interessassem mais os políticos que mandaram do que lhes interessa continuarem a mandar. Ontem, quando havia (ou se julgava haver) margem de manobra, podia ser-se corporativamente generoso. Infelizmente para Ângelo Correia, hoje os que mandam têm, mesmo, de parecer justos.
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sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Um bom exemplo por dia não sabe o bem que lhe fazia!
Oferecendo-me a Passos Coelho - Opinião - DN
um ponto é tudo
um ponto é tudo
Frase terrível e magnífica aquela de abertura da comunicação ao País, ontem: "Não preciso de vos dizer..." Ui, aquilo anunciava o fim do subsídio de férias para o ano... Enganei-me: foi o subsídio de férias e o de Natal. E mais, e mais... Passos Coelho permitiu-se aquela frase porque logo que tomou posse disse que viajaria de avião em turística e de carro próprio para Massamá. Isto é, que está como nós, no mesmo barco da crise. Como bom português esqueci-me, depois, de lhes controlar a aplicação, mas como bom português gostei das medidas humildes. Sempre gostei de políticos que valorizam os exemplos pequeninos. Sobre as grandes catástrofes ontem anunciadas não me pronuncio - é tão fácil acreditar que elas são boas (porque inevitáveis) ou más (porque reproduzem a recessão), que não convenço ninguém. Eu gostava, mesmo, era de convencer Passos Coelho a não abandonar aquela ideia de nos convencer de que os governantes estão no nosso barco. Por exemplo, ele tem dois colegas no Governo, Miguel Macedo e José Cesário, com casa própria em Lisboa, mas que, por serem da província, recebem subsídio (1150 euros/mês) de alojamento. Tudo legal, eu sei, mas também os subsídios de férias e Natal de outros portugueses eram legais e acabaram. Coisinha pouca (poupavam-se 2300 euros/mês), eu sei, mas seria exemplar. Se Passos Coelho me ouvisse, eu comprometia-me, cada semana, a custo zero por causa da crise, a dar-lhe um bom exemplo.
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quarta-feira, 13 de abril de 2011
Primeiro contacto técnico do FMI - Opinião - DN
Primeiro contacto técnico do FMI - Opinião - DN
por Ferreira Fernandes
Hotel Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe? E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares. Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel. Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum. Se fosse comigo era tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro... Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho.
Hotel Tivoli? Daqui, do aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe? E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que é? Tacho, pilim, dólares. Ainda bem que vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel. Mas, como eu tava a dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer nenhum. Se fosse comigo era tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo, passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana, com o namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que sou eu que lhe pago as prestações do carro... Bom, cá estamos. Um tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho.
sábado, 21 de novembro de 2009
Um ponto é tudo
Uma admirável ministra
DN por Ferreira Fernandes
DN por Ferreira Fernandes
Hoje
Diz-se que é a maior fraude de sempre no futebol: 174 desafios traficados em campeonatos europeus. Mas não é a maior fraude de sempre no futebol. São 174 roubos, caso a caso: falseavam-se os resultados para se ganhar apostas. Os clubes dos jogos falsificados eram meros instrumentos, perdiam só o jogo, não estavam inseridos numa estratégia, como a do escândalo recente num campeonato italiano todo ele feito para beneficiar a Juventus. Claro que traficar um só jogo também é feio, mas não tem a dimensão mafiosa de traficar um campeonato. O que eu quero dizer é: num mundo de trapaças há que escalar valores. Por outro lado, estes jogos mal jogados por causa do jogo (apostas) foram revelados na semana em que a França vai ao Mundial injustamente. É a mão de Henry igual aos jogos falseados pelas apostas? Não. A mão de Henry foi uma trapaça momentânea (apesar das enormes consequências). Repito, é preciso escalar valores: ele há grandes crimes e ele há menores. Dito isto, ouçamos a ministra francesa Christine Lagarde (da Economia, e, portanto, pouco interessada em arranjar problemas suplementares) sobre esse França-Irlanda: "É necessário repetir o jogo. É triste ganhar com esta batota." Perceberam? As trapaças podem ser pequenas e maiores. Mas com qualquer delas, só isto: não.
Diz-se que é a maior fraude de sempre no futebol: 174 desafios traficados em campeonatos europeus. Mas não é a maior fraude de sempre no futebol. São 174 roubos, caso a caso: falseavam-se os resultados para se ganhar apostas. Os clubes dos jogos falsificados eram meros instrumentos, perdiam só o jogo, não estavam inseridos numa estratégia, como a do escândalo recente num campeonato italiano todo ele feito para beneficiar a Juventus. Claro que traficar um só jogo também é feio, mas não tem a dimensão mafiosa de traficar um campeonato. O que eu quero dizer é: num mundo de trapaças há que escalar valores. Por outro lado, estes jogos mal jogados por causa do jogo (apostas) foram revelados na semana em que a França vai ao Mundial injustamente. É a mão de Henry igual aos jogos falseados pelas apostas? Não. A mão de Henry foi uma trapaça momentânea (apesar das enormes consequências). Repito, é preciso escalar valores: ele há grandes crimes e ele há menores. Dito isto, ouçamos a ministra francesa Christine Lagarde (da Economia, e, portanto, pouco interessada em arranjar problemas suplementares) sobre esse França-Irlanda: "É necessário repetir o jogo. É triste ganhar com esta batota." Perceberam? As trapaças podem ser pequenas e maiores. Mas com qualquer delas, só isto: não.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
INSTITUIÇÕES
Ferreira Fernandes
Um casal irlandês, com apart-hotel alugado em Vilamoura, foi levado em coma alcoólico para o hospital. Os três filhos pequenos foram levados para o Refúgio Aboim Ascensão, que cuidou deles até os pais recuperarem. Sabe bem ouvir que há instituições que funcionam. Isso lembra-me outra história. Mas, atenção, só a vou contar porque estive a ver na minha agenda que não vou concorrer a nenhum cargo público nos próximos tempos. Vamos à história. Há uns anos, e também no Algarve - em Loulé, se bem me lembro -, um jovem casal saiu para uma noite de Carnaval. Deixou no apartamento um bebé e a filha de cinco anos para dar lhe dar o biberão. A meio da noite, a catraia atrapalhou-se com o choro do irmãozito e foi bater à porta dos vizinhos. Estes resolveram o problema do momento. E ajudaram a resolver a causa do problema: de manhã, quando os pais foliões regressaram, os vizinhos deram-lhes uma tareia. É bom saber quando as instituições, como a boa vizinhança, funcionam.
Um casal irlandês, com apart-hotel alugado em Vilamoura, foi levado em coma alcoólico para o hospital. Os três filhos pequenos foram levados para o Refúgio Aboim Ascensão, que cuidou deles até os pais recuperarem. Sabe bem ouvir que há instituições que funcionam. Isso lembra-me outra história. Mas, atenção, só a vou contar porque estive a ver na minha agenda que não vou concorrer a nenhum cargo público nos próximos tempos. Vamos à história. Há uns anos, e também no Algarve - em Loulé, se bem me lembro -, um jovem casal saiu para uma noite de Carnaval. Deixou no apartamento um bebé e a filha de cinco anos para dar lhe dar o biberão. A meio da noite, a catraia atrapalhou-se com o choro do irmãozito e foi bater à porta dos vizinhos. Estes resolveram o problema do momento. E ajudaram a resolver a causa do problema: de manhã, quando os pais foliões regressaram, os vizinhos deram-lhes uma tareia. É bom saber quando as instituições, como a boa vizinhança, funcionam.
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