A NOTÍCIA
Não se tratando de
cobranças oriundas da Autoridade
Tributária e demais organismos estatais, por vezes retiramos prazeres
infinitos da leitura.
A
nossa imaginação viaja para além das narrativas imateriais, o nosso cérebro
busca incessantes explicações para o inexplicável.
As crenças, os conceitos e as memórias sensoriais regurgitam-nos fantasias e emoções
dando-nos voltas e reviravoltas na teoria dos conhecimentos, franqueando
metafísicos mundos de surrealismo, cujas mensagens aparentemente lineares nos
convidam à associação de ideias e a outro, e mais outro conceito, qual desmanchar de
coloridas matrioskas num metamorfosear dos elementos da natureza...
Por
vezes, nessas leituras buscamos o sádico prazer em sabermos das desgraças alheias e demais vicissitudes que o mundo e os humanos tecem. Satisfazemos a libido num conjunto
organizado de pigmentações policromáticas impressas nas páginas de papel couchê
impregnado em carbonato de cálcio e forjado em nome do grande
irmão, damo-nos conta dos últimos desenvolvimentos do voyeurismo social!
Por
exemplo, cá o
Cidadão foi dar com o kota da casa lendo em voz alta as páginas de
necrologia e um tio desflorando as entranhas dos anúncios de convívio desse diário que nos oferece meiguice, fogosidade, fantasia e atrevimento
quanto baste...
Se ao dispor da comunidade lhes der ar intelectual, encontramos uns quantos que vão lendo as
notícias viradas do avesso e outros tantos sacerdotes repousando a mão direita sobre elas, assim reivindicando usucapiões, quais saciados cães em guarda aos roídos ossos!
Vem
isto a propósito do folheto informativo que mensalmente é gratuitamente
distribuído pelas bancas, pelos balcões dos templos de consumo, enfim, até quase
que porta a porta, pelas caixas de correio de alguns tubucos, maçanicos, vilarregenses, punhetenses e neo-barquinhenses
mais eruditos, na medida em que o conteúdo desse folheto consistirá na suposta antítese
de tudo quanto até agora aqui foi descrito... talvez tentando relembrar-nos a velhinha noção de que a excepção
confirma a regra.
Na
edição de Março pareceu cá ao Cidadão estar
a ler os passos necessários à execução de um número de ilusionismo...
Finalmente, seria agora que viria a nova ponte para o Tramagal...
O
Primeiro-ministro sugeria à linha de montagem dos automóveis dos três diamantes para que construísse
uma data de pontes sobre o Tejo, que viessem encurtar a distância entre o Tramagal e a Auto-Estrada
23...
Ponte
concessionada e privada, teria de ser portajada...
Mas
não!
Aquilo seria um mero apelo ao imaginário dos presentes, na medida em que para nós
portuguesitos, estes passos há muito se fizeram em desafios...
Pá! O que nos safa é que aquelas pontes estão entre aspas!!!
O
rio galgou as margens!
Esta, e a outra!
Pudera!
Com
tanta água correndo debaixo das pontes, os rios teriam mesmo que encher!...
Constrói-se em zonas de leito e quando os rios se esticam, é sempre a mesma
coisa!
O homem quer sobrepor-se à Natureza e
para gáudio dos jornalistas, de quando em vez os elementos regressam ao seu
habitat...
Vêm
os jornalistas dar notícias que devido à tenra idade, só para si são novidade,
formulando ilações algo estranhas como:
“neste
inverno faz frio,”
-É
natural, estamos no tempo dele.
“como é
que os senhores se vão desenrascar, isolados neste reduto de casario cercado pelas águas do Tejo?”
-Do
mesmo modo que sempre o fizémos quando o rio galga as margens.
“há quanto
tempo não caía neve aqui?”
-Desde
o ano passado...
“este
vento e esta chuva intensa são normais para a época em que estamos?”
-Sim,
é normal. Se isto acontecesse no Verão
é que seria algo estranho.
Situações
caricatas em que os entrevistados só não se escangalham a rir porque recearão
ser alvo de processo judicial por atentado à deontologia do jornalista, sabe-se
lá!
Ora,
ressalvando a foto do mês e a edição de Fevereiro
de 2014, dedicada ao “camião ultramarino”,
no demais o Dica de Abrantes é
pródigo neste género de notícias vazias de conteúdo ou novidade...
Quem
diz ao povo sobre o caos que se faz sentir no Hospital Manuel Constâncio?
Quem
informa o povo sobre a expectativa de supressão da linha de autocarros que
assegura a deslocação dos utentes da saúde pública no perímetro da tríade
hospitalar Tomar-Abrantes-Torres Novas, também
conhecida por Centro Hospitalar do Médio
Tejo, denotando que a implementação dos autocarros hospitalares não passou
de uma estratégia para silenciar o descontentamento popular?
E aquela cena marada de passar a ser o Cidadão a correr atrás da justiça em vez de ser a justiça a vir ter com o Cidadão?
... -Que grande martelada!!!
Quem explica ao povo que a implementação dos transportes municipais a pedido servirá para calar a contestação sobre
a hipotética supressão dos transportes
públicos urbanos?
Quem
conta ao povo sobre o que é feito da tal Comissão Autárquica para a Cidadania?
Ter-se-à extinguido com o vencer das eleições
ou bule algures nas entranhas de uma qualquer loja maçónica instalada em
estabelecimento devoluto do Centro
Histórico de Abrantes?
Quem
noticía ao povo sobre a rápida degradação da Rua António Aleixo, nóvel artéria asfaltada há seis
meses, que acede do Bairro São José
Operário, em Rossio ao Sul do Tejo,
até à extrema do Fojo?
"Não dês esmola a santinhos,
Se queres ser bom cidadão;
Dá antes aos pobrezinhos
Uma fatia de pão..."
Quem
conta ao povo sobre as razões da paralisação do restauro dos frescos da Igreja
de Santa Maria do Castelo?
Quem revela ao povo sobre as razões da inacabável obra no espaço do parque de campismo do Rossio ao Sul do Tejo, onde está prometido um centro de interpretação do Tejo?
Quem
confessa ao povo sobre as razões que induziram a súbita mudança do projecto do centro escolar do Barro Vermelho, para o Convento Nossa Senhora da Esperança?
Quem
dá novas ao povo sobre as sucessivas paragens e substituição da querida BUSA por mini autocarros da
empresa Vale do Ave?