O
ADVENTO
Os Maias enganaram-se redondamente! Afinal ainda cá estamos!
Esperando ansiosamente pela
passagem do 21 de Dezembro sem que as
profecias se tivessem concretizado, como por exemplo uma eventual chuva de
radiações electromagnéticas, um desaforado pico solar, o Armagedon ou um hipotético Apocalipse que também poderia
comprometer a propagação do blogue na Web e para mal dos nossos pecados, nem o tal asteróide chocou com este planeta, largando paletes de nibirurianas de Tétis, ao género do que sucedeu ao Luís Vaz de Camões quando desembarcou na Ilha dos Amores...
Haja
Deus!
Vamos ter que aguardar mais cinco biliões de anos!
Caso se cumprisse tal profecia, jamais valeria a pena queimar neurónios em busca de matéria para elaboração
deste post bastante feminino, na medida em que o fim do mundo anularia toda a gestação do trabalho.
O
apogeu deu-se às 11horas e 11minutos,
estando cá o Cidadão
ciente que este post sairá torto porque mais valendo um desengano na vida do
que andar toda a vida enganado, além da stressante contagem decrescente, também
este rapazola ficou meio desconchavado com a novidade de Joseph Ratozinger que veio a terreiro negar a existência de bicheza em Belém, pervertendo de sobremaneira o imaginário
que cada um de nós possui acerca do Menino
Jesus nas palhinhas deitado, por vezes assumindo ergonomia algo Azteca!
Poder-se-iam
questionar os sábios, os teólogos, os antropólogos e outros estudiosos da matéria se por ventura
o Menino Jesus não seria um
extraterrestre enviado de Nibiru e a sua cabana, uma nave espacial lowcost que não suportasse o peso do asinino e do bovino?...
Para as crentes almas que em todos os natais armaram o presépio e para quantas os coleccionam às centenas, isto foi de deitar a
crença abaixo, e botar o burro e a vaca para o contentor do lixo!
Afirmou
o Sumo Pontífice que naquele dia, Jesus da Galileia não foi bafejado!
O agregado familiar
passou poucas horas no estábulo, mudando-se rápidamente para uma gruta algures
noutro ponto da Judeia, tendo Maria sido assistida em parto ambulatório, surgindo bastantes dúvidas sobre a freguesia da
naturalidade, tanto podendo Maria ter dado à luz em Belém, em Nazareth ou até na Maternidade Alfredo da Costa.
Atendendo
a Ratozinger, poderemos concluir que o estábulo seria inóspito e logo que o arcanjo Gabriel anunciou a boa nova, José e Maria teriam dado às de vila diogo, ausentando-se para parte
incerta antes que de adaga nas unhas, os recenseadores do Rei Herodes a quem os romanos
delegaram a província da Judeia, se
chegassem à manjedoura e em tom jocoso intimidassem o Messias com um...
Avisaram o padastro da criança para que se
acautelasse com as intenções duns reis
que cavalgando dromedários e guiados pela supernova,
levavam presentes aliciantes para o menino, especialmente o astrólogo olheirento
e de tez amarelada que oferendaria incenso bué
da potente, altamente valioso e de ganzar por mais, daí surgindo o Valium!
Este
rei mago confundia retracção
económica com evasão fiscal, ou seja, ele queixava-se que lhe fugiam aos impostos enquanto na realidade o povo vendo-se sem chêta, reduzia nos consumos!
Sei lá se é etíope ou
não, o rei negro oferendaria mirra suficiente
para mumificar, embalsamar, encolher e branquear os capitais e os dentes ao menino...
O terceiro rei carregado de ouro, mais tarde viria cobrar
a oferenda com juros altíssimos.
A deslumbrante supernova referida anteriormente, guiava
a malta não com intenção de anunciar mas denunciar o paradeiro do agregado
familiar mais procurado do planeta e igualzinha a todas as estrelinhas do
firmamento, também esta seduzia, atraía e dava a volta à cabeça de qualquer
pastor!
Sendo tempos bastante perigosos, de borregada às costas os pastores
acabaram por dar com a supernova inacessívelmente altiva, contemplativa e um estábulo às moscas!
Nos dois anos que se
seguiram as taxas de natalidade masculina baixou relativamente aos óbitos na
medida em que o obcecado Herodes via o messias em todos os cachopos
nascidos nesse ano D.C. ficando-lhe com
os escalpos, razão para que o agregado de Jesus fosse nómada, com algum sedentarismo em Nazareth. Outro factor
que incentivou ao ambulatório, foi o pai
adoptivo recear que através do Google
Hearth os romanos lhe reavaliassem o
estábulo, atribuindo um valor descomunal pelo metro quadrado e
confundissem o lago dos cisnes com uma piscina, aplicando-lhes a taxa máxima do IMI, correndo o risco do agregado
vir a ser investigado pelos sinais exteriores de riqueza que ostentava,
especialmente na concepção da manjedoura devido aos materiais nela aplicados, e
como um azar nunca vem só, foram avisados por uma velha da casa pia para que acautelassem o miúdo porque na região rondavam cinco sacerdotes
suspeitos da prática de pedofilia, convindo meterem o Messias a salvo! A velha era fina!
Não havendo mais
prendas e porque sobrava bastante mês ao fim do ordenado, o agregado fugiu para
a Galileia, estabelecendo-se em Nazareth e como o ambiente era de cortar
à faca, mais adiante, para fazerem frente às despesas e poder liquidar os impostos
que sustentavam os romanos, partiram
para o Egipto onde o messias deitou
mão ao ofício do pai que era carpinteiro!
Regressado
a Jerusalém, um dia Jesus danou-se, escaqueirando a
negociata consumista que se desenrolava nas arcadas do templo onde se negociavam velinhas, terra sagrada, púcaros de barro e demais souvenir's, causando
enormes prejuízos aos vendedores e fartos ucros na indústria da olaria, deixando os sacerdotes com essa
atravessada nos paramentos.
Repare
o ciberleitor no seguinte fresco:
Só cá para nós que
ninguém nos ouve, há quem diga que Jesus
manteve um caso com Maria Madalena
sendo quem na Última Ceia estaria
sentada à direita d’Ele, fazendo
concorrência ao Judas que a troco de
trinta dinheiros e a título difamatório, andava deserto por beijar a face do messias em público, para tal abancando
imediatamente à sua esquerda!
Aquilo
acabou mal aos trinta e três anos, frente a Pilatos, um general
romano com o TOC (transtorno obsessivo e compulsivo) da higiene... O oficial tinha ouvido falar da gripá!
Num fim de tarde de
intempérie, Jesus foi crucificado entre
dois criminosos de delito comum, onde na parte superior da cruz os seus carrascos
pregaram uma tabuleta com as iniciais que constam nas matrículas das viaturas da GNR, porque os romanos tinham uma fixação mórbida por géninhos e o Judas, com remorsos, acabou por se enforcar numa oliveira!
O
que mais chateia é durante as últimas cinco décadas este Cidadão ter armado éne presépios
com enorme quantidade de figurinhas de barro onde afinal só por lá constaria a manjedoura desnudada.
Espertos
foram os que optaram pela Árvore de Natal
e... prontes! Ao
desarmar o estaminé ainda se lhe comem as figurinhas que podem constar de bolinhas, anjinhos,
prendinhas, ovelhinhas, sininhos, pais natais
enforcados, estrelinhas, pombinhas, reis magos, botinhas vermelhas e até coelhinhos de
chocolate!
Ná!... Varinhas mágicas, tostadeiras, ferros de engomar, despertadores, telemóveis, rádios, aquecedores, teclados, lâmpadas, secadores, circuitos integrados, cêdês, batedeiras, escotilhas e exaustores são espelhos que reflectem a ressaca desta sociedade de consumo...
A coisa está a ficar preta...
-Mãe,
nem parece Natal... No ano passado isto estava cheio de gente a embrulhar as
prendas...
Reparava
uma rapariguinha de cabelos louros chovendo sobre as costas e mais alta que os
progenitores, enquanto a operadora da caixa registava os códigos de barras, ensacando
as peças de roupa recém escolhidas...
O
pai afastava-se discretamente como que apreciando os artigos expostos e a mãe
rebuscava o dinheiro no fundo da carteira...
Fez-se
silêncio e um compasso de espera...
A
linda rapariguinha de finos lábios e delicada tez, vestindo casacão condizente
aos leves cabelos, espigando corpo de mulher, voltou à carga transbordante de sensualidade...
-Que
estranho... Hoje as pessoas parecem tristes...
O
pai da menina olhou para este Cidadão que observando aquele quadro digno de
registo, pacientemente aguardava a vez de ser atendido pela operadora de
caixa...
Um
olhar evasivo e inquiridor...
Talvez
pensando que este rapaz lhe estivesse a conquistar os olhos negros da linda
filha...
Mas
não... Apenas lhe admirava tal beleza, notando que aquela família vestia no
mesmo tom...
Então,
caro ciberleitor? Ganhe lá calma! O Cidadão bem sabe que as mulheres são a
mais bela obra d'arte concebida à face da terra, mas o amigo não necessita prostrar-se dessa forma!!!
A
mãe ia rebuscando os fundos à carteira até o enfadado pai se chegar junto
das suas mais-que-tudo, sacando terna e silenciosamente o pequeno cartão de
plástico verdejante e introduzindo a combinação numérica no terminal de
multibanco que acederia à conta bancaria...
Outro cruzamento de olhares comprometedores com este Cidadão que aguardava a vez de
ser atendido...
Havia
que disfarçar este ar observador...
Saíram
silenciosos, com a menina de olhar flamejante.
Chegara
a vez do Cidadão
ser atendido...
A
operadora da caixa dobrava as peças de roupa enquanto quebrando o gelo, que se
fazia sentir, este cliente as ia questionando...
-Será
que os cortes mudaram muito desde a última vez? É que não me está a apetecer
perder tempo a experimentar estas peças na cabine de prova.
-Este
senhor é 54 de peito e 50 de cintura...
Interveio
a segunda atenciosa funcionária.
-Talvez
não... de cintura veste o 48... Mas leva aqui o 50... Se não lhe servir, tem
quinze dias para trocar... Guarde o talão...
Enquanto
a primeira scannerizava códigos de
barras, a segunda insistia:
-Olha
que o senhor de certeza que tem 50 de cintura e de ombros é um 56!
-De blazer
por vezes visto o 54 e outras, o 56 Depende do corte!
Indecisos, os profundos olhos femininos exploravam todo o corpo deste freguês...
-Ou XL?
As
unhas decoradas a verniz lilás salpicado em prata percorriam
incessantemente os vincos das vestimentas...
- Por
ventura estão-me a tirar as medidas?
As
duas jovens senhoras coraram, seus rostos descomprimiram e as suas mãozitas pararam
de restolhar os sacos de papel pardo...
Não será tanto assim mas para lá caminha... Um pouco
mais de barriga... talvez...
Apertando
o reflexivamente um dos volumes contra o seu ventre e esboçando contidos sorrisos, a operadora da caixa arriscou:
-O
senhor é bastante convencido!
-Desculpem
ter-vos proporcionado estes momentos de evasão... Foi pura brincadeira.
Desejo-vos um bom Natal e para os vossos entes mais queridos.
-Este
ano o negócio vai muito fraco, senhor... Não se vende nada...
-A
continuar assim... Ainda podemos ir parar ao desemprego!
Aqueles
rostos abriram-se de par em par, soltando tímidas gargalhadas. As funcionárias tinham acabado
de ser apanhadas no dobrar da esquina...
Paga
a despesa, para trás ficaram duas senhoras com espirito mais alegre, trocando
impressões, desconhecendo-se sobre que assunto.
Lá
fora, qual colibri sorvendo a seiva da flor, o pai da menina monologava com o monitor da caixa multibanco...
O
certo é que ao entrarmos nas grandes superfícies encontramos promoções a torto
e a direito e os poucos clientes dão primazia aos cestos de compras em
detrimento dos carrinhos...
Começam
a ser recuperadas as pilecas arrecadadas e o parque automóvel vai envelhecendo.
As
pessoas vão reciclando, vão aproveitando, vão racionalizando, vão-se tratando
de forma mais humanista...
Os
gadjet’s vão deixando de ser considerados bens de primeira necessidade, as marcas
passando para segundo plano da afirmação social, os comportamentos tribais da
juventude vão-se diluindo, cada vez mais introspectivas, as pessoas vão perdendo arrogância, valorizando a interdependência...
Neste Natal muitas famílias dispensarão o
ritual de troca de prendas enquanto tantas outras nem disporão de verba
para enfrentar as despesas com velhoses, couves, bacalhau e peru...
As
máquinas fiscais do Estado resgatam cada
vez mais do que lhes é devido, perseguem, trucidam, devoram... e o Presidente da Republica deixou
expirar o prazo de pedido de fiscalização preventiva do Orçamento de Estado para
2013...
Tratasse de um pequeno
estabelecimento comercial sobrecarregado de impostos e as fiscalizações seriam
implacavelmente incisivas...
O
certo é que actualmente os cidadãos estão a pagar com língua de palmo, os
empréstimos, os investimentos e os desvarios de outrem.
Neste
final de ano somente 4% dos portugueses tiraram férias,
qualquer coisa como aproximadamente duzentas e vinte e três mil almas sufragadas entre
ministros, presidentes, administradores, motoristas de assessores,
especialistas, reformados parlamentares, gestores de parcerias público-privadas e por ai
adiante!
Se
não for Boy do sistema então deixe-se
de ilusões, caro ciberleitor... que
se isto em breve trecho não mudar, as boas
novas não nos voltarão a sorrir tão cedo.
Desejos
que no ano de 2013 a crise lhe seja
leve.