quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Um tributo a Eunice Muñoz

No passado dia 28, Eunice Muñoz subiu ao palco do Auditório Municipal que tem o seu nome, em Oeiras, para estrear a peça "O cerco a Leninegrado", no dia em que se celebraram os 70 anos da sua estreia, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Foi ainda agraciada, nesse mesmo dia, pelo Presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.


Eunice do Carmo Muñoz nasceu em Amareleja, uma freguesia do Baixo Alentejo, a 30 de Julho de 1928.

Com origens numa família de actores, estreou-se em 1941 na peça “Vendaval”, de Virgínia Vitorino, com a Companhia Amélia Rey Colaço/ Robles Monteiro, sediada no Teatro Nacional D. Maria II. O seu talento, de imediato reconhecido e admirado, permite-lhe uma rápida integração na Companhia.

Em 1943 contracena com Palmira Bastos em “Riquezas da sua Avó”, uma comédia espanhola, a que se segue, no ano seguinte,” Labirinto”, de Manuel Pressler. Ainda no Verão desse ano protagoniza a opereta “João Ratão”. Continuou a coleccionar sucessos, ao lado de Maria Lalande e Irene Isidro em “Raparigas Modernas”, sendo ainda dirigida por Maria Matos em “A Portuguesa”, de Carlos Vale.

Já aluna do Conservatório Nacional de Teatro celebriza-se em “A Casta Susana”, de Georg Okonkowikski. Termina o Conservatório com 18 anos e uma média final de 18 valores.

Foi porém, no Teatro Variedades com a peça “Chuva de Filhos”, ao lado de Vasco Santana e Mirita Casimiro, que começou a ganhar grande popularidade.

Em 1946 dá-se a sua estreia no cinema, no filme de Leitão de Barros, “Camões”. Por esta interpretação, Eunice ganha o prémio do SNI - Secretariado Nacional de Informação, para a melhor actriz cinematográfica do ano. Seguem-se “Um Homem do Ribatejo” (1946) e “Os Vizinhos do Rés-do-Chão” (1947).

Em 1947 ingressa na Companhia de Comediantes Rafael de Oliveira e no ano seguinte regressa ao Teatro Nacional para protagonizar “Outono em Flor”, de Júlio Dantas. Com a peça “Espada de Fogo”, de Carlos Selvagem, encenado por Palmira Bastos, atinge um êxito retumbante.

Trabalha de novo no cinema, protagonizando, em 1949, “A Morgadinha dos Canaviais” e “Ribatejo”.

Volta aos palcos em 1950, com a comédia “Ninotchka”, de Melchior Lengyel, contracenando com Igrejas Caeiro, Maria Matos e Vasco Santana.

Do seu ingresso em 1951 na Companhia do Teatro Ginásio, salienta-se a peça, “A Loja da Esquina”, de Edward Percy.

Passa pelo Teatro da Trindade e depois retira-se por quatro anos da actividade teatral. A sua re-apariçao dá-se em 1956 no Teatro Avenida com a peça “Joana D' Arc”, de Jean Anouilh. Multidões perfilam-se pela Avenida da Liberdade, desejosas de obter um bilhete para ver Eunice, aclamada pela crítica como genial.

Em 1957, depois da peça “A Desconhecida”, de Pirandello, ingressa, juntamente com outros autores famosos, no Teatro Nacional Popular onde interpreta Shakespeare “Noite de Reis”, de Shakespeare, “Um Serão nas Laranjeiras”, de Júlio Dantas e “Pássaros das Asas Cortadas”, de Luiz Francisco Rebello.

Nos anos 60, passa para a comédia na Companhia de Teatro Alegre, ao lado de nomes como António Silva ou Henrique Santana. No Teatro Monumental fez “O Milagre de Anna Sullivan”, de William Gibson que lhe grangeou, em 1963, o Prémio de Melhor Actriz do SNI ex-aequo com Laura Alves .

Começa a aparecer com regularidade na televisão em peças repetidas por desejo expresso do público, como “O Pomar das Cerejeiras”, de Anton Tcheckov, “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas Filho, “Recompensa”, de Ramada Curto, “Os Anjos não Dormem”, de Armando Vieira Pinto, ou séries como “Cenas da Vida de uma Actriz”, doze episódios de Costa Ferreira.

Em 1965, quando Raúl Solnado funda a Companhia Portuguesa de Comediantes (CPC), no recém inaugurado Teatro Villaret, Eunice recebe o maior salário até aí pago a uma actriz dramática: 30 contos mensais. A peça de estreia é “O Homem que Fazia Chover”, de Richard Nash, encenado por Alain Oulman. Seguiram-se interpretações de Tenessee Williams e Bernardo Santareno.

Regressa ao Teatro Variedades e ao Teatro Experimental de Cascais e em 1970 funda a Companhia Somos Dois, com a qual faz uma longa tournée por Angola e Moçambique com a peça “Dois num Baloiço”, de William Gibson. Em seguida, estreia-se na encenação com “A Voz Humana”, de Jean Cocteau.

Em 1971 volta ao palco do Teatro Nacional para, ao lado de João Perry, fazer “O Duelo”, de Bernardo Santareno. No mesmo ano integra uma nova formação artística no Teatro São Luiz onde interpreta José Régio. Com a proibição pela censura, a poucas horas da estreia, de “A Mãe”, de Stanislaw Wiktiewicz, em que Eunice era a protagonista, o director da companhia, Luiz Francisco Rebello, demite-se e cessa a actividade desse conjunto que augurava grande êxito.

Dedica-se, então, à divulgação de poetas que ama, quer em disco, quer em recitais, dando voz a Florbela Espanca ou António Nobre.

Volta ao teatro para interpretar “As Criadas”, de Jean Genet. Integrada no Teatro Experimental de Cascais faz uma longa tournée por África, onde se contam espectáculos como “A Maluquinha de Arroios”, de André Brum.

O seu regresso aos palcos portugueses dá-se em 1978, integrada na companhia do reaberto Teatro Nacional D. Maria II, onde viverá êxitos enormes, interpretando peças de Donald Coburn, John Murray, Bertolt Brecht, Hermann Broch, Athol Fuggard, Eurípedes, entre outros.

Aparecerá de novo no cinema, em vários filmes, tendo uma interpretação magnífica em “Manhã Submersa”, de Lauro António (1980) e Tempos Difíceis, de João Botelho (1987).

Após a participação na revista “Passa por mim no Rossio”, de Filipe La Féria (1992), volta à televisão na telenovela “A Banqueira do Povo”, de Walter Avancini (1993).

Em 1991, celebraram-se os seus 50 anos de Teatro, com uma exposição no Museu Nacional do Teatro, sendo Eunice condecorada, em cena aberta, no palco do Teatro Nacional, pelo Presidente da República.

“A Maçon” (1997), escrito pela romancista Lídia Jorge propositadamente para Eunice, e “A Casa do Lago” (2001), de Ernest Thompson, são duas das suas mais recentes participações nos palcos.

Em 2006 representou pela primeira vez na casa a que deu nome, o Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, com a peça “Miss Daisy”, seguindo-se-lhe, em 2007, “Dúvida”, de John Patrick Shanley, no Teatro Maria Matos.

Em Maio de 2008 é agraciada com o Globo de Ouro de Mérito e Excelência.

Em 2009 regressa ao Teatro Nacional D. Maria II com a peça “O Ano do Pensamento Mágico”, de Joan Didion.

Em 2011 volta à cena com "O Comboio da Madrugada", de Tennessee Williams, sob a encenação do mestre Carlos Avilez, no Teatro Experimental de Cascais.


Eunice Muñoz é uma actriz portuguesa de referência do teatro português e considerada em Portugal uma das suas melhores de todos os tempos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Chamas-me louco

Chamas-me louco por eu brincar com as palavras.
Não fico zangado, nem triste.
Sou louco porque encadeio as frases umas nas outras formando um cordão que só eu consigo compreender.
Louco porque te perdeste no emaranhado do extenso cordel!
Para ti as letras formam palavras e as palavras frases e as frases servem para comunicar.
Simples, nasceste com elas, vives com elas, são um dado adquirido e ponto final.
Sou louco por sentir as palavras mais do que as digo.
Eu sou louco porque tu não conheces a textura das letras.
A textura…
Algumas são ásperas como lixa e os seus contornos magoam os dedos que os seguem.
Outras são pesadas e frias, que vontade de as deixar cair.
Há letras leves que quase não se sentem nas palmas das mãos.
Algumas transmitem calor que nos aquece por dentro.
Sei procurar os pares dessas letras, juntar por pólos, formar palavras que são mais que frases…para mim.
Para ti?
Apenas umas frases, difíceis de entender, por vezes sem nexo (para ti).
Chamas-me louco por não compreenderes a minha linguagem.
Não estou zangado.
Não estou triste.
Sorrio!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Acróstico Un mundo mejor



UN MUNDO MEJOR

U nidos y con paz lo podemos hacer,
N unca más guerras.

M archemos en una misma dirección en este
U mbral de un mundo lleno de cambios incesantes en todos los sectores.
N ecesidad de comunicar como elemento clave para solucionar los problemas
D estructivos y sí remodelar para conseguir mejorar.
O jalá todos los seres humanos tuvieran ese modelo de un mundo ideal..

M acular no beneficia a ninguno,
E closión de un mundo mejor con el uso del buen progreso de tecnología, ciencias, etc..., y
J alar que no falte nunca para nadie.
O sea que ya deberíamos haber llegado a obtener ese mundo mejor,
R adiante, brillante y feliz!

domingo, 20 de novembro de 2011

20 de Novembro e a Criança

Em 20 de Novembro de 1959 é adoptada pela Assembleia das Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, com vista a uma infância feliz e ao gozo, para bem da criança e da sociedade, dos direitos e liberdades aqui estabelecidos e com vista a chamar a atenção dos pais, enquanto homens e mulheres, das organizações voluntárias, autoridades locais e Governos nacionais, para o reconhecimento dos direitos e para a necessidade de se empenharem na respectiva aplicação através de medidas legislativas ou outras progressivamente tomadas de acordo com os seguintes princípios:

Princípio I – Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade
Princípio II – Direito à especial protecção para o seu desenvolvimento físico, mental e social
Princípio III – Direito a um nome e a uma nacionalidade
Princípio IV – Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe
Princípio V – Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente
Princípio VI – Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade
Princípio VII – Direito à educação gratuita e ao lazer infantil
Princípio VIII – Direito a ser socorrido em primeito lu gar, em caso de catástrofes
Princípio IX – Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho
Princípio X – Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

Pequenina

És pequenina e ris ... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa ...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!

Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!

O ver o teu olhar faz bem à gente ...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente ...

Pequenina que a Mãe de Deus sonhou,
Que ela afaste de ti aquelas dores
Que fizeram de mim isto que sou!

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Espaço em branco

Uma folha em branco
Uma página de Word incontaminada
À espera de ser infectada de pensamentos falhos
E a página está em branco…
Um olhar as teclas em busca de palavras
O murmúrio dos devaneios em tropel
O mutismo das ideias pisadas
E a página continua em branco…
Existe uma certa melodia neste caos
Que só os meus sentidos escutam e aprovam
Os outros? Que lhes importa um corpúsculo?
E a página teimosamente em branco…
À espera de ser conspurcada com as letras negras da minha incoerência.
É melhor deixar a página em branco
A página ganhou

fica em branco
hoje não há post

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Acróstico de Frenesí


En Este frenesí de la vida moderna, tanto hombres como mujeres van como locos…

F R E N E S I

F renesí , perturbación, agitación, excitación..

R acheado sin racional

E fectista y desarmando al más débil,

N egligencia sin inteligencia con consecuencias dolorosas y

E fectos devastadores para quien lo sufre.

S entimiento de impotencia,

I nadaptado para el ser humano que desea felicidad, prosperidad y paz.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11 de Novembro - Dia de São Martinho

Martinho nasceu entre o ano de 315 e 317 em Sabária, no território da actual Hungria. Era filho de um soldado do exército romano e, de acordo com a tradição, acabou por seguir a profissão do pai, entrando para o exército com apenas 15 anos de idade.

Embora professasse a religião dos seus antepassados, adorando os deuses da mitologia romana, o jovem Martinho não era insensível à religião pregada três séculos antes por um homem bom de Nazaré. Um dia aconteceu um facto que o marcou para toda a sua vida:

Numa noite fria e chuvosa de Inverno, provavelmente no ano de 338, Martinho ia a cavalo e, às portas de Amiens (França), viu um pobre homem, quase sem roupa no corpo, com um ar miserável, que lhe pediu uma esmola. Como Martinho não levava consigo qualquer moeda, num gesto de solidariedade e ternura, cortou a sua capa ao meio e entregou metade ao mendigo para que este se pudesse agasalhar.

Reza a lenda que o mendigo seria o próprio Jesus e que, depois de ter recebido metade da capa de São Martinho, a chuva parou de imediato e os raios de sol começaram a aparecer por entre as nuvens.

A partir do dia desse encontro, Martinho sentiu-se um homem novo, tendo sido baptizado provavelmente na Páscoa do ano de 339. Entende que não pode mais perseguir os seus irmãos de fé porque eles não são seus inimigos. Como oficialmente só podia abandonar o exército com a idade de 40 anos, Martinho, para se afastar da vida militar, opta pelo exílio. Numa sociedade estratificada em que os grandes senhores e a classe militar não se misturavam com a plebe e os escravos não eram considerados “pessoas”, todos os que praticavam a solidariedade e o amor entre todos, eram vistos como marginais e muitas vezes perseguidos.

Martinho, ainda militar, mas com uma dispensa, funda primeiro o mosteiro de Ligugé e depois o mosteiro de Marmoutier, perto de Tour. Entretanto a sua fama espalha-se e as suas pregações e o seu exemplo de despojamento e simplicidade fazem dele um homem considerado Santo e muitos homens seguem o seu exemplo, optando pela vida monástica.

Só no ano de 357 Martinho foi dispensado oficialmente do exército e, em 371, aclamado bispo de Tours. Preocupado com a família, lá longe, e com todo o entusiasmo de um convertido vai à Hungria visitar a família e converte a mãe.

A sua vida foi dedicada à pregação e, como era prática nesse tempo, mandou destruir templos de deuses considerados pagãos, introduziu festas religiosas cristãs e defendeu a independência da Igreja do poder político. A sua acção, demasiado avançada para a época, nem sempre foi bem aceite e daí ter sido repudiado, e, por vezes, até maltratado.

Martinho faleceu em Candes, no dia 8 de Novembro de 397 e o seu corpo foi acompanhado por mais de dois mil monges e muitos homens e mulheres devotos, tendo chegado à cidade de Tours no dia 11 de Novembro.

O seu culto começou logo após a sua morte. Em 444 foi construída uma capela no local mas o seu culto espalhou-se por todo o Ocidente e parte do Oriente. Na cidade francesa de Tours, foi erguida uma enorme basílica entre 458 e 489 que viria a ser lugar de peregrinação, durante séculos. Em França há perto de 300 cidades e povoações com o nome de São Martinho.

Actualmente, um pouco por toda a Europa, os festejos em honra de São Martinho estão relacionados com os cultos da terra, as previsões do ano agrícola, com festas e canções desejando abundância e, nos países vinícolas do Sul da Europa, com o vinho novo e a água-pé.

O São Martinho é festejado praticamente por todo o território português e em Espanha na Galiza e nas Astúrias. Antigamente, nos tempos dos nossos avós, eram frequentes os "Magustos" em que eram acesas grandes fogueiras ao ar livre, no campo, e aí se reuniam amigos e familiares que cantavam e dançavam enquanto as castanhas estalavam no lume. O vinho novo, jeropiga e água-pé acompanhavam as castanhas assadas e daí os ditados populares "pelo São Martinho vai à adega e prova o vinho" e “castanhas e vinho pelo São Martinho”. Os vendedores de castanhas assadas são ainda um dos símbolos de São Martinho. É nesta época do ano em que, evocando a lenda do Santo, o tempo sempre melhora, período ao qual o povo chama "Verão de São Martinho".


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Hoje, o convidado do Farol é...



teresaeascronicashttp://teresaeascronicas.blogspot.com/
O nosso convidado de hoje é o blog teresaeascronicas, da amiga Teresa, de Lisboa, Portugal.



Teresaeascronicas define-se como um espaço onde há “uma partilha de olhares, posturas, perspectivas, estados de alma”, tudo de uma forma muito familiar e acolhedora onde o agitar de consciências é uma constante.

De facto, neste blog, podemos encontrar temas tão variados como poesia, música, citações, notícias do mundo actual, discussões sobre temas pertinentes e incómodos, assim como textos e fotos da autora e tudo o mais que o estado de alma da Teresa ditar.

Uma chamada de atenção para fotografia (e legenda) que nos saúda, logo abaixo do nome do blog – Não serão precisas muitas mais palavras para definir a autora que tem como interesses “Gente, principalmente gente nas sua maneira de viver e de estar. Literatura: ler e escrever, mais sempre mais…”

Pelas características acima descritas, a equipa do Farol convida todos os que têm uma consciência crítica a visitar este lugar onde a autora se revela através deste parágrafo:
” Prezo a amizade como o maior dos bens. Adoro o mar considerando-o o meu elemento. A escrita, enquanto exercício intelectual, representa o meu maior prazer. E a escrita continua…”

À Teresa atribuímos este Diploma de Mérito pelo importante papel que o seu blog desempenha na blogosfera.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

La música, de Charles Baudelaire

La música, de Charles Baudelaire

La música

¡La música frecuentemente me coge como un mar!
Hacia mi pálida estrella,
Bajo un techado de brumas o en la vastedad etérea,
Yo me hago a la vela;

El pecho saliente y los pulmones hinchados
Como velamen,
Yo trepo al lomo de las olas amontonadas
Que la noche me vela;

Siento vibrar en mí todas las pasiones
De un navío que sufre;
El buen viento, la tempestad y sus convulsiones

Sobre el inmenso abismo
Me mecen. ¡Otras veces, calma chicha, gran espejo
De mi desesperación!

Charles Baudelaire, Las Flores del Mal (1869)

Charles Baudelaire

A música me arrasta às vezes como o mar!
No encalço de um astro,
Sob um teto de bruma ou dissolvido no ar,
Iço a vela ao mastro;

O peito para frente e os pulmões enfunados
Tal qual uma tela,
Escalo o dorso aos vagalhões entrelaçados
Que a noite me vela;

Sinto que em mim ecoam todas as paixões
De um navio aflito;
O vento, a tempestade e suas convulsões

No abismo infinito
Me embalam. Ou então, mar calmo, espelho austero
De meu desespero!