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Eu acredito que ela já tenha tempo para se aposentar, mas quem a vê operando não diz isso. E isso é bonito demais. Ela tem enormes tranças loiras no estilo rastafari a contrastar com a pele marcadamente bronzeada que lhe dão um ar de medusa, de cigana, de mistério, de disfarce. O que dizem é que ela sabe se portar muito bem no teatro operacional, enxerga tudo como uma águia e tem verdadeiro feeling pra coisa. Não fica atrás de homem nenhum nas operações que participa, nem na hora de levar tiro! Logo se vê que ela tem um caso com o perigo de viver e definitivamente se entrega à paixão. "Ela tem sangue no olho", gente (bom, seja lá o que isso quer significar, pelo contexto me pareceu muito irado). E sofro de pensar que ela consegue fazer tudo isso sem estragar aquele esmalte nas unhas luxuosamente vermelhas. E tem mais... Me contaram que aquele capricho todo nas delicadas trancinhas dela é obra de um preso... cabeleireiro... que está na custódia da delegacia dela! Vai ver essa mulher hipnotiza cobras também...
Quanto tive coragem de puxar conversa, ela não fez aquela pose blasé característica de quem se acha. Não. Continuou sentada no meio-fio, como se já me esperasse e disse "Claro que sim, tem alguma coisa específica que você queira saber?" Tem. Eu queria saber até o que ela come no café da manhã! Acho que ela sacou que eu me perdia em tanta dualidade e que eu procurava não ser a chata das perguntas sem-noção. E com a delicadeza de quem sentia ternura por minhas dúvidas ou talvez por meu coração batendo apertado de deslumbramento, não quis reforçar nem anular a mística que rola em torno dela. Ela é dessas que não precisam se afirmar. Tínhamos que encerrar a conversa, pois os veículos da aula já tinham chegado, então ela me disse sutilmente pra relaxar, e acrescentou que tudo acontece naturalmente na vida da gente. Não é de arrepiar? Só falta alguém dizer que ela também lê o futuro das pessoas.