O flagrante, a abordagem, as algemas, a condução, tudo era real demais só que eu não sentia os meus pés no chão. Foi como se eu não estivesse na cena da prisão que fizemos essa semana. Não foi bem o tipo de prisão que se vê na TV, nem na Academia. Acho que o preso sentiu a mesma coisa. Nem ele, que era mais velho, nem eu entendíamos direito o que acontecia. O Parceiro que parecia estar com todos os músculos do corpo contraídos gritou os comandos duas vezes e por causa da muvuca e do barulho eu acho que o sujeito não percebia direito. O terceiro comando já foi com mais energia. Ele assustou feito galo marrento capturado de repente e eu mordia meu lábio inferior, tropeçando nos próprios passos. Acho que o susto foi maior ainda quando sentiu uma mão de mulher conduzindo-o pelo braço algemado. Foi estranho e engraçado. Olhou pra mim como se não acreditasse que a situação pudesse ser ainda mais surreal do que já se apresentava, mas a cada passo a prisão era mais verdade pra mim e pra ele. Depois do susto ele disse: "Até você?!". Era só um preso sem medo do ridículo arranhando uma reação normal. Nunca o vi na vida, mas mergulhei na pergunta dele. Era eu mesma! E ri, deixando solto o cabelo que devia parar atrás da orelha. Porém senti pena, um desconforto mortal e dúvidas. Pelo menos já sei que meu par de algemas funciona. Será que toda prisão é assim? Acho que essa não valeu, quero fazer de novo!