terça-feira, 21 de junho de 2011

STIJN SCHAARS E RICKY VAN WOLFSWINKEL VS RODRIGUEZ, CARRILLO E ARIAS

Stijn Schaars e Ricky Van Wolfswinkel vs Rodriguez, Carrillo e Arias

Factos: 
Nome: Stefanus Johannes "Stijn" Schaars;
Clube: AZ Alkmaar (Holanda);
Idade: 27 anos;
Altura: 1,77;
Peso 70 Kg;

Jogos em 2010/2011:

Liga Holandesa:
·        29 jogos;
·        29 vezes titular e 28 totalista;
·        1 vez substituído;
·        1 golos/ 6 assistências;

Liga Europa (incluindo fase de qualificação):
·        8 jogos;
·        8 vezes titular e totalista;

Internacional "A" holandês por 15 vezes.

Na sequência do já referido relativamente a Ricky van Wolfwinkel, radicando a formação deste jogador na Holanda, estamos perante um selo inequívoco de qualidade. 

Valor de mercado: +/- 5 milhões €;
  
Análise:
  
Previamente a qualquer consideração acerca do valor do jogador importa salientar o seguinte:

  • Uma vez mais a contratação não foi noticiada/fotonovelada antes de concretizada;
  • Adquiriu-se a totalidade do passe do jogador;
  • Trata-se do 2º jogador europeu contratado pela Direcção de Godinho Lopes.

Para quem não saiba, pelo pedigree, trata-se de um dos 5 melhores jogadores a pisar palcos portugueses em 2011-2012 mas, mais que isso, se não for afectado por lesões, Stijn Schaars demonstrará claramente o que é um verdadeiro jogador de alta competição, pela regularidade e elevado rendimento.

Mas Stijn Schaars representa ainda mais, pela postura fora de campo, pelo exemplo que é em termos de profissionalismo e de devoção à camisola que enverga. Será também um exemplo para os jovens da Formação dentro e fora do relvado, tal qual foi Stan Valckx quando chegou a Portugal  pela mão do saudoso Bobby Robson, na altura com 30 anos e apelidado de "ex-internacional holandês suplente no PSV". Carácter, liderança, espírito de sacrifico, competência, competitividade e capacidade de enfrentar os desafios com um sorriso nos lábios, o sorriso de quem acredita no trabalho diário, confia que é honesto todos os dias, todos os treinos, para com o clube que lhe paga, para com a equipa técnica, para com os colegas, para consigo próprio.

Com um plantel formado de jogadores à imagem de Stijn Schaars o Sporting seria o candidato n.º 1 a vencer o campeonato, todos terão oportunidade de perceber porquê.

Enquanto jogador é um box-to-box esquerdino que também pode ser médio defensivo. Inteligente, evita o drible ou o adorno fúteis e prefere o passe seguro e rápido e movimentação constante, com grande pulmão e excelente capacidade de choque. Tem uma leitura de jogo impar e por isso durante o jogo consegue liderar e encontrar soluções para a equipas. Tem um pontapé forte e é um exímio batedor de bolas paradas. A todos os que vão ter o prazer de o ver jogar, só me resta assegurar que fará jus ao preço de cada bilhete pago.

Conforme referi nos pontos prévios Schaars, à semelhança de Wolfswinger, chegou a Portugal no mais completo anonimato. Ora, tomando como pressuposto lógico que a actuação dos dirigentes do Sporting se mantém uniforme no que há preservação do sigilo negocial diz respeito, questiono o porquê dos negócios feitos com jogadores oriundos da América do Sul serem amplamente noticiados e conhecidos do público ainda antes da chegada dos atletas ou da formalização dos negócios? Os casos de Rodriguez, Carrillo, do futuro ex-jogador do Sporting Moreno, de Arias (que hoje aterrou em Lisboa), e de Rinaudo (a confirmar), são demonstração evidente que as opções a tomar no sentido de salvaguardar uma postura negocial sigilosa, sem fugas de informação ou dissuasoras da inflação de última hora do valor de passes ou vencimentos dos atletas pretendidos nos conduz indubitavelmente a inverter este ciclo de contratações com os mercados sul-americanos, em benefício do mercado europeu e de outros nos quais o sigilo e a confidencialidade não sejam palavras vãs.

Não obstante esta evidência o Sporting prepara-se para anunciar a contratação de :

Nome: Santiago Arias;
Clube: sem clube após rescisão com o La Equidad (Colômbia);
Idade: 19 anos;
Altura: 1,76;
Peso 68 Kg;

Jogos em 2010/2011:
·        6 jogos;
·        4 vezes titular e 3 totalista;
·        1 vez substituído, 2 vezes suplente utilizado;

Internacional sub-20 colombiano, com perspectiva de ser titular no próximo Mundial sub-20 que se realizará precisamente na Colômbia.
  
Valor de mercado: +/- 500 mil €;

O futebol colombiano, estando competitivamente atrás do Brasil, Argentina e Uruguai, não deixa de ser dos mais assíduos (logo a seguir aos ora referidos)  em presenças nos campeonatos do Mundo de selecções.

Não obstante, trata-se de um país que nunca produziu grandes talentos em termos de rendimento na Europa, sendo os expoentes máximos Faustino Asprilla e Carlos Valderrama. Em ambos os casos falamos de jogadores de rendimento intermitente, com variadíssimos problemas ao nível pessoal, desde logo face à diferença de culturas entre o país de origem e os países onde jogaram (ainda que aqui se incluam países latinos como Itália e Espanha).

Mas há casos de sucesso entre futebolistas colombianos na Europa, sendo disso exemplo Guarin, Falcão e James Rodriguez. Mas todos com uma característica comum: saíram da Colômbia para a Argentina ainda juniores, ou mesmo antes, isto é, em claro processo de formação. Ainda assim, Guarin, depois de passar da Argentina (Boca Juniors)  para França (onde não se impôs no Saint-Étienne) apenas na 2ª temporada no FC Porto começou a apresentar um rendimento justificativo do investimento feito (que foi, por sinal, baixo: cerca de 1 M €).

Ora, Santiago Arias só agora se prepara para sair da Colômbia e viver a 1ª aventura europeia, com todas as cambiantes de adaptação que tal implica em termos de rendimento, para lá do facto de ser um jovem com 19 anos. E o Sporting não propicia a estabilidade de crescimento competitivo a um jovem que propicia, por exemplo, o Porto porque não há uma estrutura base constituída que integre e permita potenciar jovens, sejam da formação, sejam contratados.

Acresce que vem para uma posição onde o Sporting já dispõe de soluções seja como lateral direito ( João Pereira e, até ver, João Gonçalves), seja como médio defensivo (até ver Pedro Mendes, Zapater, André Santos, Rinaudo(???), Maniche). Mas, sobretudo, traz uma mensagem clara para Cedric e outros jogadores da formação: o Sporting tem internacionais nas camadas jovens nestas posições (Cedric vai ao Mundial sub-20) e ainda assim recorre a um mercado internacional secundário para lhes fazer concorrência. Tal já foi observado na contratação de Castillo. Esta postura contraria claramente a pretensa propensão ao aproveitamento da Formação, a rentabilização do trabalho feito na Academia com a agravante de diminuir os índices de competitividade dos jogadores formados em Alvalade porque não têm que concorrer com "produtos" de escolas mais evoluídas, antes pelo contrário.

Santiago Arias é, pelo que vi, um jogador regular, não muito forte a defender pois sobe muitas vezes no flanco e não é célere a recuperar, não é muito rápido e apesar de ter boa propensão ofensiva nunca se constituiu, no recente torneio de Toulon (que a Colômbia venceu) como uma opção privilegiada de saída para o ataque para os seus companheiros. Não tem um jogo aéreo forte devido à estatura média (1,76). Trata-se, em suma, de um jogador que dificilmente se constituirá como uma mais-valia para a época 2011-2012, falando-se inclusive na possibilidade do seu empréstimo. É um negócio de oportunidade porque, alegadamente, vem a custo "0". Aguarde-se o comunicado à CMVM. Mas não deixa, para já, de expressar o reviver de um certo período recente do Sporting sob a égide de Carlos Freitas: um clube que se aproveitou das dificuldades económicas de outros para resgatar jogadores em conflito a baixo (??) custo, vide casos de Rogério, Liedson e Tinga. A fama que o Sporting granjeou na altura no Brasil não enobreceu o nome do Clube por aquelas paragens. E os resultados, com excepção de Liedson, não foram significativos. Na Colômbia, a história repete-se com dirigentes e treinador do La Equidad a criticarem directamente os representantes do jogador e indirectamente o Sporting por se ter "aproveitado" da situação. Mesmo que se tratasse de um predestinado, os fins não justificam os meios, a meu ver. E, como se vê nos exemplos holandeses, é tão fácil ser competente e fazer-se respeitar.

Luís Rasquete