Terminado o período de transferências e decorridas 3 jornadas do campeonato nas quais o Sporting se encontra em 12º lugar com possibilidade de descer para 13º (caso o Leiria ganhe ao Porto), pode dizer-se desde já que não há possibilidade do Clube ser candidato ao titulo. Os 2 pontos em 9 possíveis contra adversários nitidamente inferiores e com 2 jogos em Alvalade já seriam suficientemente esclarecedores mas como se tal não bastasse eis que a estrutura que gere o futebol do Sporting agiu, nos últimos dias de "mercado", de forma a passar inexoravelmente e para dentro do grupo a mensagem de "desistência" da corrida, senão vejamos:
1. O avançado mais utilizado em todos os jogos oficiais (Postiga), titular da seleção nacional que se encaminha para o euro 2012 é oferecido ao Saragoça por 1M€;
2. Um dos alas mais utilizados em todos os jogos oficiais (Djalo) é transferido para o Nice por 4,5M€;
3. Contrata-se por quase 9M€ e para uma posição que já fora fortalecida neste defeso, um jogador que fez 15 jogos no campeonato pelo Atl. Madrid, entre Janeiro de 2011 e o fim da época, nunca sendo totalista (foi sempre substituído quando foi titular ou entrou a substituir). Longe de se valorizar neste período, Elias, que custara 7M€ em Janeiro de 2011, foi dispensado pelo actual treinador por excesso de estrangeiros. Mas dispensado com valorização financeira, conforme se verifica.
Em abstracto, a transferência de Djalo afigura-se um bom negócio mas a de Postiga, vista de fora, é incompreensivel no condicionalismo da eminência da sua participação no euro 2012 e, sobretudo, pelo valor ridiculo da alienação do passe. Mas, mais grave são as mensagens que transmitem para o grupo: "o campeonato acabou, vendam-se activos ao desbarato" e "se os que jogavam só entram em clubes de fim de tabela de França e Espanha o valor dos que ficam é...". Estas transferências em nada enobrecem o Sporting pois para lá do "pormaior" do enfraquecimento real do grupo de trabalho que já enfrenta adversidades de monta em função dos resultados até agora alcançados, o clube assume-se como um fornecedor de clubes de fim de tabela de outros campeonatos e, pelas declarações de Postiga, deixa latente a existência de mau ambiente interno.
Em termos internos, conforme referi acima, o balneário fica mais fraco pois saem dois portugueses (o plantel já só tem 6: Patricio, Tiago, J. Pereira, André Santos, André Martins e Pereirinha) que vinham do ano passado e integravam indiscutivelmente o núcleo duro do plantel se atendermos ao cv dos que cá estavam, dos que chegaram e dos jogos efectuados os quais o Sporting aliena, por 5M€ (no total do valor que entra em Alvalade).
Mais, se a saída de Djalo é compreensivel face aos extremos existentes no plantel, enfraquece-se claramente a posição de avançado centro deixando a árdua tarefa (para este grupo é, de facto, uma árdua tarefa) de marcar golos a Ricky van Wolfwinkel, a Rubio e a Bojinov (não sendo este um avançado centro). Ora, comparando com os outros candidatos ao titulo e mesmo com o Braga e o Guimarães, o Sporting não sai em vantagem neste capitulo.
Ora, havendo disponibilidade financeira para efectuar contratações (conforme se comprova pelos 9M€ investidos) e tendo como posições claramente fragilizadas as de defesa central e de avançado centro, o que levou a SAD a contratar, com a aprovação do treinador, um médio box-to-box, canibalizando assim as contratações/regressos de Schaars, Rinaudo, Aguiar e André Martins ou activos que interessa valorizar como são André Santos (com aspirações a integrar o grupo que provavelmente chegará à fase final do Europeu 2012) e Matias (que se afigura cada vez mais como uma aposta falhada)?
É aqui que resulta à evidência a existência de ausência/deficiência/desarticulação no desenvolvimento do projecto(???) para o futebol do Sporting 2011/2012. É que ninguém precisa apontar o que seja à gestão da SAD, basta observar os factos:
- contratação de jogadores lesionados ou em processo de recuperação de lesões graves e com claros défices de competição ou;
- que não correspondem ao plano de jogo definido ou;
- que são pseudoapostas de futuro mas de utilização imediata em momentos de aflição, (vide o caso de Rubio contra o Olhanense) completamente ao arrepio de um processo de integração gradual e sem pressão;
- culminando com a contratação de 15 (!!!) jogadores, todos estrangeiros, alguns dos quais (como o exemplo Elias supra explicado) vêm sobrepor-se a outras supostas grandes contratações, tapando ainda activos que qualquer projecto minimamente estruturado procuraria rentabilizar, dando desde logo tempo aos Homens de se adaptarem ao país, clima, hábitos sociais, métodos diversos, etc.;
E que se prescinde de jogadores da formação:
- Como Nuno Reis, defesa central, a titulo de exemplo, que não tem valor para integrar o plantel do Sporting mas integrou "só" a equipa ideal do Mundial sub-20 realizado na Colombia, tendo o Sporting contratado um jogador (Arias) que integrava uma selecção que participou nesta competição e... integra o plantel (sim, como lateral direito, com João Pereira e Pereirinha como concorrentes e tendo João Gonçalves e... Cedric cedidos);
- O recém transferido Mateus Fonseca (médio ofensivo que, obviamente, não vislumbra lugar no plantel principal atenta a inflação de médios contratados), junior, para o Cluj;
- Pedro Mendes, outro defesa central, emprestado ao Castilla, filial do Real Madrid;
- Diogo Rosado, médio ofensivo, para o Feirense;
- Wilson Eduardo, ala, emprestado ao Olhanense.
Ora, concluindo, o actual projecto da SAD demonstra que:
- não valoriza a Academia (provavelmente uma das poucas vantagens competitivas que o Sporting ainda detém relativamente aos rivais e mesmo com notoriedade externa) com a inerente mensagem para os jovens que lá andam ou aspira(va)m a um dia lá entrar;
- não se coibe de contratar vários jogadores para as mesmas posições tapando por completo a ascensão dos jovens da formação (clara falta de integração/comunicação entre o futebol profissional e a formação) e duplicando o investimento para as mesmas posições.
Finalmente, estas movimentações de mercado têm intervenientes que já são conhecidos de outros tempos em Alvalade, sempre com pobres resultados para o Sporting: Atlético de Madrid, Saragoça e... Jorge Mendes. Reitera-se, esta opção de contratar um médio centro dispensado e desvalorizado pelo Atlético de Madrid, extracomunitário, por 9M€ quando há inflação de jogadores para esta posição, com alguns em fase de adaptação e outros lesionados, quando o plantel tem carências nitidas na zona central da defesa (já está estafada a constatação da defesa deste ano ser a do ano passado e se houver entradas, não há garantia de melhoria de rendimento) e na frente de ataque onde, desde a saída de Liedson, não há um jogador que garanta 15 golos por época (o que piorou com a saída de Postiga, gostando-se ou não dele), com a anuência do treinador (explicita ou implicitamente ainda não se pronunciou no sentido de contrariar estas movimentações e também não apresentou a demissão por actos lesivos para com o grupo com o qual vinha trabalhando) é elucidativa relativamente à ausência de planificação. Já nem me refiro à definição de linhas de actuação a curto prazo ou (miragem) da elaboração de um Programa que integre, numa perspectiva de Projectos de médio/longo prazo, um biotipo do atleta que se pretende ao serviço da equipa de futebol, sua evolução no espaço da equipa, valorização e avaliação de desempenho! Fico-me apenas por uma análise à coerência do que se faz, a qual manifestamente não se vislumbra.
Para o ano é que é? Haverá Sporting para o ano? Até quando resistirá o Clube a tão explicita e duradoura manifestação de incapacidade de gestão desportiva? Já lá vão mais de 10 anos sem liderança, sem politica desportiva delineada, sem visão do ESPAÇO de DIREITO do SPORTING CLUBE de PORTUGAL no DESPORTO (mas essencialmente no FUTEBOL) em PORTUGAL, na EUROPA e no MUNDO.
Luís Rasquete