segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SPORTING x LAZIO E A AULA DE FERRAN SORIANO

No mesmo dia em que O Sporting bateu a Lazio por 2-1 num jogo que foi emocionante, com grande ambiente e, no seu melhor, expressou o crescimento da equipa enquanto grupo unido e motivado para um objectivo, um fazedor de campeões deu uma conferência em Alvalade.

SPORTING x LAZIO

Importa reter que a equipa cresce de jogo para jogo (repete-se o "onze" ainda que com ligeiras alterações e surgem os automatismos), a defesa está mais equilibrada por via da qualidade dos dois laterais e porque Onyewu tem vindo a ganhar ritmo de jogo. O norte-americano é praticamente intransponível no jogo aéreo mas já não é tão rápido como era antes da grave lesão sofrida quando representava do AC Milan. Haverá que valorizar o que de bom tem e tentar mitigar as suas fragilidades que se tornam bem evidentes quando a equipa perde a bola na 1ª fase de construção ofensiva e sofre um contra-ataque rápido.

É no centro da defesa que este Sporting vai provar se tem ou não capacidade para atingir patamares competitivos que não alcançou nas duas últimas épocas. Entre Polga e Rodriguez o ganho ou a perda não é significativo e não pondo em causa o profissionalismo de qualquer deles, parece óbvio que não apresentam condições para os objectivos a que o Clube se propôs no inicio da época. Estivesse no plantel um tal de Nuno Reis e a conversa seria certamente outra. O futuro encarregar-se-á de provar o valia de um jogador que já é, na opinião do signatário, um dos cinco melhores centrais portugueses.

No meio campo "ideal" estão, sólidos, Rinaudo atrás e Schaars e Elias mais adiantados. Não é um meio campo muito forte fisicamente ou forte no jogo aéreo mas representa grande evolução face à época transacta. Se o argentino é forte no processo defensivo pelo chão, terá que evoluir bastante no momento da transição ofensiva pois a demora no passe e a ideia de correr com a bola nos pés no primeiro e segundo terços do campo não é compaginável com a ideia de um futebol actual, inteligente e eficaz. Independentemente de se tratar de um momento de posse ou de aceleração do jogo não pode Rinaudo dar-se ao luxo de dar mais que três/quatro toques na bola nesta fase. Há que pensar rápido e executar ainda com maior celeridade.

Ora, rapidez de pensamento e execução caracterizam Schaars e Elias (ontem Matias demonstrou que dificilmente se adaptará algum dia ao futebol de alta competição, independentemente da sua valia técnica). Na fase defensiva ambos pressionam alto e de forma concertada e na fase ofensiva expressam uma qualidade impar em termos de inteligência e eficácia. Com eles, fazer chegar a bola ao último terço do campo é bem mais fácil, mais artístico e, sobretudo, mais eficaz. Resultado, criam-se mais oportunidades mas também se obtém maior aproveitamento. Relativamente a Schaars, ao contrário do que a maioria pensa, estamos perante o verdadeiro líder da equipa, simplesmente porque é aquele que mais procura a bola quando se trata da fase de construção, melhor bate as bolas paradas, maior capacidade tem de marcar ritmos ao jogo, maior coragem apresenta nas opções de risco como seja a verticalização do jogo. O que não é de estranhar porque este jogador mereceu, ao longo da sua carreira, a confiança do lançamento consistente por Van Gaal num ano em que o AZ Alkmaar foi vice-campeão (2006-2007), a honra de capitanear o AZ Alkmaar quando venceu o titulo em 2009 (ainda com Van Gaal) e assim perdurou (não obstante a grave lesão sofrida) com Co Adriannse. Na selecção, quando Van Basten chegou e quis disciplinar hábitos e quebrar rotinas instituidas e lugares garantidos, Schaars mereceu a confiança do jovem técnico e nunca defraudou, até hoje. Com um curriculum vitae deste nível, difícil seria que Schaars não se impusesse naturalmente pelo profissionalismo, força de carácter e qualidade de jogo. O tempo permitirá a Schaars deixar uma marca ao nível da deixada por Stan Valckx que também começou a sua carreira no Sporting com muitos ilustres "conhecedores" a desdizerem das suas capacidades.

Na frente também um holandês, Ricky van Wolswinkel, se vai impondo mas atenção, estamos a falar de um jovem de 22 anos (Schaars já tem outra maturidade com 27 anos e vários campeonatos nas pernas) que vai ter várias oscilações de rendimento, naturalmente. Mas os fundamentos, os princípios elaborados de jogo, a cultura tática está lá e nenhum movimento é feito ao acaso. Daí o surgimento natural dos golos, a razoável eficácia que já demonstra. A companhia de um extremo de raiz, também jovem, também oscilante no seu rendimento, Diego Capel, que se afigura como um excelente municiador dos movimentos de Wolswinkel na área por também ele ser um jogador com toda a escola de formação por Espanha. Finalmente, na direita para já, um também oscilante Carrillo (ainda muito débil em termos tácticos), na ausência de Izmailov (se voltar e quando voltar já a época irá adiantada, no que se traduz em mais um erro de gestão conforme oportunamente aqui se expôs) e de Jeffren, esse sim, o grande ala que muito promete quando voltar em pleno. Este reúne duas qualidades, escola de formação nas selecções de Espanha e, sobretudo, escola do Barcelona. Esta última, como se vê pelo exemplo de Nolito, na luz, vale mais que qualquer outro cartão de visita...

O que permite fazer a transição para a parte mais importante deste artigo: FERRAN SORIANO.

Veio a Lisboa o autor do livro "A bola não entra por acaso" ser entrevistado por dois fracos interlocutores na área da gestão desportiva (João Duque e Nicolau Santos, que todo o respeito merecem nas respectivas áreas de actuação mas podiam e deviam declinar convites para estes temas) o qual expressou as seguintes ideias-chave:
 
1.   A gestão do futebol é gestão de emoções, a fidelização é um pressuposto, pelo que o dificil é racionalizar a gestão, o que o torna em algo muito diferente de um mero "negócio";
2.   Os clubes não existem para lucrar financeiramente com a indústria ao contrário dos restantes intervenientes como jogadores, técnicos, media, empresários, etc;
3.   A hierarquização e segmentação de funções são princípios de gestão dos quais nunca se pode abdicar;
4.   Portugal não está (nem alguma vez estará) na 1ª linha do futebol europeu em termos de poder financeiro e, sobretudo, competitividade, pelo que tem que capitalizar as suas forças e aproveitar as oportunidades que tal proporciona, mitigando as fraquezas e antecipando das ameaças, transformando-as também em forças;
5.   Concretizando o ponto anterior, nomeadamente a formação e a expansão para mercados inexplorados são duas vias abertas ao dispor do Sporting, que até detém história e curriculum nestas áreas (ao contrário, por exemplo, do Chelsea, conforme Soriano mencionou).  

Curiosamente, o Sporting, alguns minutos depois iniciou o jogo com a Lazio utilizando 1 jogador da formação (Rui Patricio) e 2 portugueses (Rui Patricio e João Pereira). O Sporting Clube de Portugal realmente ganhou???

Luís Rasquete

terça-feira, 20 de setembro de 2011

PRIMEIRA ANÁLISE DO RELATÓRIO E CONTAS 2010-2011

O resultado líquido do ano que terminou em 30 de Junho de 2011 foi de -44,0 milhões de euros.

Este resultado incorpora o proveito extraordinário de 18,2 milhões de euros provenientes da venda dos jogadores João Moutinho e Miguel Veloso. Sem estas duas vendas o resultado líquido não seria de -44,0 milhões de euros mas sim de -62,2 milhões de euros.

Segundo a certificação legal das contas e relatório de auditoria (faz parte do R&C), emitida pela KPMG, estas contas do SCP – Futebol SAD incluem ainda um valor a receber de 54,0 milhões de euros de empresas do Grupo Sporting, onde se inclui o próprio SCP.

Assim, e olhando para o balanço a 30 de Junho de 2011, temos uma Activo de 170 milhões de euros, dos quais 54 milhões são valores a receber do universo SCP.

À mesma data devemos 200 milhões de euros, sendo que a diferença é o Capital Próprio no valor de 30 milhões de euros negativos, que poderia ascender a 84 milhões de euros negativos caso as outras empresas do SCP não tivesse forma de pagar os referidos 54 milhões de euros, apontados pela KPMG.

Acresce ainda que dos 30 milhões de euros negativos fazem parte 48 milhões de euros de VMOCS que no futuro teríamos de pagar para não perder o controlo da SAD. A meu ver, será praticamente impossível.

Miguel Lopes

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

SPORTING OU A AUSÊNCIA DE PROJECTO NO FUTEBOL

Terminado o período de transferências e decorridas 3 jornadas do campeonato nas quais o Sporting se encontra em 12º lugar com possibilidade de descer para 13º (caso o Leiria ganhe ao Porto), pode dizer-se desde já que não há possibilidade do Clube ser candidato ao titulo. Os 2 pontos em 9 possíveis contra adversários nitidamente inferiores e com 2 jogos em Alvalade já seriam suficientemente esclarecedores mas como se tal não bastasse eis que a estrutura que gere o futebol do Sporting agiu, nos últimos dias de "mercado", de forma a passar inexoravelmente e para dentro do grupo a mensagem de "desistência" da corrida, senão vejamos:
 
1.   O avançado mais utilizado em todos os jogos oficiais (Postiga), titular da seleção nacional que se encaminha para o euro 2012 é oferecido ao Saragoça por 1M€;
2.   Um dos alas mais utilizados em todos os jogos oficiais (Djalo) é transferido para o Nice por 4,5M€;
3.   Contrata-se por quase 9M€ e para uma posição que já fora fortalecida neste defeso, um jogador que fez 15 jogos no campeonato pelo Atl. Madrid, entre Janeiro de 2011 e o fim da época, nunca sendo totalista (foi sempre substituído quando foi titular ou entrou a substituir). Longe de se valorizar neste período, Elias, que custara 7M€ em Janeiro de 2011, foi dispensado pelo actual treinador por excesso de estrangeiros. Mas dispensado com valorização financeira, conforme se verifica.
   
Em abstracto, a transferência de Djalo afigura-se um bom negócio mas a de Postiga, vista de fora, é incompreensivel no condicionalismo da eminência da sua participação no euro 2012 e, sobretudo, pelo valor ridiculo da alienação do passe. Mas, mais grave são as mensagens que transmitem para o grupo: "o campeonato acabou, vendam-se activos ao desbarato" e "se os que jogavam só entram em clubes de fim de tabela de França e Espanha o valor dos que ficam é...".  Estas transferências em nada enobrecem o Sporting pois para lá do "pormaior" do enfraquecimento real do grupo de trabalho que já enfrenta adversidades de monta em função dos resultados até agora alcançados, o clube assume-se como um fornecedor de clubes de fim de tabela de outros campeonatos e, pelas declarações de Postiga, deixa latente a existência de mau ambiente interno.

Em termos internos, conforme referi acima, o balneário fica mais fraco pois saem dois portugueses (o plantel já só tem 6: Patricio, Tiago, J. Pereira, André Santos, André Martins e Pereirinha) que vinham do ano passado e integravam indiscutivelmente o núcleo duro do plantel se atendermos ao cv dos que cá estavam, dos que chegaram e dos jogos efectuados os quais o Sporting aliena, por 5M€ (no total do valor que entra em Alvalade).

Mais, se a saída de Djalo é compreensivel face aos extremos existentes no plantel, enfraquece-se claramente a posição de avançado centro deixando a árdua tarefa (para este grupo é, de facto, uma árdua tarefa) de marcar golos a Ricky van Wolfwinkel, a Rubio e a Bojinov (não sendo este um avançado centro). Ora, comparando com os outros candidatos ao titulo e mesmo com o Braga e o Guimarães, o Sporting não sai em vantagem neste capitulo.

Ora, havendo disponibilidade financeira para efectuar contratações (conforme se comprova pelos 9M€ investidos) e tendo como posições claramente fragilizadas as de defesa central e de avançado centro, o que levou a SAD a contratar, com a aprovação do treinador, um médio box-to-box, canibalizando assim as contratações/regressos de Schaars, Rinaudo, Aguiar e André Martins ou activos que interessa valorizar como são André Santos (com aspirações a integrar o grupo que provavelmente chegará à fase final do Europeu 2012) e Matias (que se afigura cada vez mais como uma aposta falhada)?

É aqui que resulta à evidência a existência de ausência/deficiência/desarticulação no desenvolvimento do projecto(???) para o futebol do Sporting 2011/2012. É que ninguém precisa apontar o que seja à gestão da SAD, basta observar os factos:
  • contratação de jogadores lesionados ou em processo de recuperação de lesões graves e com claros défices de competição ou;
  • que não correspondem ao plano de jogo definido ou;
  • que são pseudoapostas de futuro mas de utilização imediata em momentos de aflição, (vide o caso de Rubio contra o Olhanense) completamente ao arrepio de um processo de integração gradual e sem pressão;
  • culminando com a contratação de 15 (!!!) jogadores, todos estrangeiros, alguns dos quais (como o exemplo Elias supra explicado) vêm sobrepor-se a outras supostas grandes contratações, tapando ainda activos que qualquer projecto minimamente estruturado procuraria rentabilizar, dando desde logo tempo aos Homens de se adaptarem ao país, clima, hábitos sociais, métodos diversos, etc.;
E que se prescinde de jogadores da formação:
  • Como Nuno Reis, defesa central, a titulo de exemplo, que não tem valor para integrar o plantel do Sporting mas integrou "só" a equipa ideal do Mundial sub-20 realizado na Colombia, tendo o Sporting contratado um jogador (Arias) que integrava uma selecção que participou nesta competição e... integra o plantel (sim, como lateral direito, com João Pereira e Pereirinha como concorrentes e tendo João Gonçalves e... Cedric cedidos);
  • O recém transferido Mateus Fonseca (médio ofensivo que, obviamente, não vislumbra lugar no plantel principal atenta a inflação de médios contratados), junior, para o Cluj;
  • Pedro Mendes, outro defesa central, emprestado ao Castilla, filial do Real Madrid;
  • Diogo Rosado, médio ofensivo, para o Feirense;
  • Wilson Eduardo, ala, emprestado ao Olhanense.

Ora, concluindo, o actual projecto da SAD demonstra que:
  • não valoriza a Academia (provavelmente uma das poucas vantagens competitivas que o Sporting ainda detém relativamente aos rivais e mesmo com notoriedade externa) com a inerente mensagem para os jovens que lá andam ou aspira(va)m a um dia lá entrar;
  • não se coibe de contratar vários jogadores para as mesmas posições tapando por completo a ascensão dos jovens da formação (clara falta de integração/comunicação entre o futebol profissional e a formação) e duplicando o investimento para as mesmas posições.

Finalmente, estas movimentações de mercado têm intervenientes que já são conhecidos de outros tempos em Alvalade, sempre com pobres resultados para o Sporting: Atlético de Madrid, Saragoça e... Jorge Mendes. Reitera-se, esta opção de contratar um médio centro dispensado e desvalorizado pelo Atlético de Madrid, extracomunitário, por 9M€ quando há inflação de jogadores para esta posição, com alguns em fase de adaptação e outros lesionados, quando o plantel tem carências nitidas na zona central da defesa (já está estafada a constatação da defesa deste ano ser a do ano passado e se houver entradas, não há garantia de melhoria de rendimento) e na frente de ataque onde, desde a saída de Liedson, não há um jogador que garanta 15 golos por época (o que piorou com a saída de Postiga, gostando-se ou não dele), com a anuência do treinador (explicita ou implicitamente ainda não se pronunciou no sentido de contrariar estas movimentações e também não apresentou a demissão por actos lesivos para com o grupo com o qual vinha trabalhando) é elucidativa relativamente à ausência de planificação. Já nem me refiro à definição de linhas de actuação a curto prazo ou (miragem) da elaboração de um Programa que integre, numa perspectiva de Projectos de médio/longo prazo, um biotipo do atleta que se pretende ao serviço da equipa de futebol, sua evolução no espaço da equipa, valorização e avaliação de desempenho! Fico-me apenas por uma análise à coerência do que se faz, a qual manifestamente não se vislumbra.

Para o ano é que é? Haverá Sporting para o ano? Até quando resistirá o Clube a tão explicita e duradoura manifestação de incapacidade de gestão desportiva? Já lá vão mais de 10 anos sem liderança, sem politica desportiva delineada, sem visão do ESPAÇO de DIREITO do SPORTING CLUBE de PORTUGAL no DESPORTO (mas essencialmente no FUTEBOL) em PORTUGAL, na EUROPA e no MUNDO. 

Luís Rasquete 
 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O SPORTING E A ARBITRAGEM

Na passada sexta fui ver a conferência de imprensa do Eng. Godinho Lopes.

A ideia era divulgar um documento feito por um escritório de advogados, o qual pretendia contribuir para melhorar a arbitragem.

Depois, nas respostas aos jornalistas, Godinho Lopes teceu algumas críticas ao óbvio (Carlos Xistra), falou em “erro sistemático” no lugar do “sistema” do Dr. Dias da Cunha. E atribuiu os erros a ”incompetência” e falta de preparação, recusando admitir a premeditação. Mais, quando questionado sobre João Ferreira, não o criticou, deu mesmo um quase voto de confiança, dizendo que não o podia criticar antes do jogo.

Foi com espanto que ouvi as notícias da recusa de João Ferreira. Não é a primeira vez que acontece, mas as duas que aconteceram foram sempre ao Sporting. O Porto e o Benfica não criticam a arbitragem?

Da última vez, foi Paulo Costa. Na altura dei-me ao trabalho de ler os regulamentos e a punição para o árbitro era de alguns jogos. Não só não foi punido como foi premiado, no final da época foi promovido a internacional.

Se uma equipa faltar ao jogo é punida. Falta de comparência e multa. E se os árbitros faltarem? Tem de haver punição!

E querem os senhores a profissionalização? Se um profissional disser ao seu chefe que se recusa cumprir uma tarefa que lhe foi ordenada está a desobedecer, o que configura justa causa de despedimento.

Ou fazendo um paralelismo com a tauromaquia, e um matador de touros se recusar a lidar um touro de uma certa ganadaria (admitindo que algo tenha ocorrido no passado com essa ganadaria), será que alguém o volta a contratar?

Dito isto, João Ferreira devia ser punido “exemplarmente” como tanto gosta o Sr. Vítor Pereira. Se ainda houver uma réstia de vergonha nunca mais arbitrará pelo menos os jogos do Sporting. Do mal o menos, a célebre mão de Ronny custou “apenas” um campeonato ao Sporting…

Uma palavra final para uma Liga que se quer profissional e não é capaz de ter um árbitro de 1ª categoria num jogo oficial. Pela 2ª vez em 12 anos. E passa pela vergonha de um árbitro de 3ª categoria arbitrar melhor do que muitos da dita 1ª. Como é possível?

RM

terça-feira, 21 de junho de 2011

STIJN SCHAARS E RICKY VAN WOLFSWINKEL VS RODRIGUEZ, CARRILLO E ARIAS

Stijn Schaars e Ricky Van Wolfswinkel vs Rodriguez, Carrillo e Arias

Factos: 
Nome: Stefanus Johannes "Stijn" Schaars;
Clube: AZ Alkmaar (Holanda);
Idade: 27 anos;
Altura: 1,77;
Peso 70 Kg;

Jogos em 2010/2011:

Liga Holandesa:
·        29 jogos;
·        29 vezes titular e 28 totalista;
·        1 vez substituído;
·        1 golos/ 6 assistências;

Liga Europa (incluindo fase de qualificação):
·        8 jogos;
·        8 vezes titular e totalista;

Internacional "A" holandês por 15 vezes.

Na sequência do já referido relativamente a Ricky van Wolfwinkel, radicando a formação deste jogador na Holanda, estamos perante um selo inequívoco de qualidade. 

Valor de mercado: +/- 5 milhões €;
  
Análise:
  
Previamente a qualquer consideração acerca do valor do jogador importa salientar o seguinte:

  • Uma vez mais a contratação não foi noticiada/fotonovelada antes de concretizada;
  • Adquiriu-se a totalidade do passe do jogador;
  • Trata-se do 2º jogador europeu contratado pela Direcção de Godinho Lopes.

Para quem não saiba, pelo pedigree, trata-se de um dos 5 melhores jogadores a pisar palcos portugueses em 2011-2012 mas, mais que isso, se não for afectado por lesões, Stijn Schaars demonstrará claramente o que é um verdadeiro jogador de alta competição, pela regularidade e elevado rendimento.

Mas Stijn Schaars representa ainda mais, pela postura fora de campo, pelo exemplo que é em termos de profissionalismo e de devoção à camisola que enverga. Será também um exemplo para os jovens da Formação dentro e fora do relvado, tal qual foi Stan Valckx quando chegou a Portugal  pela mão do saudoso Bobby Robson, na altura com 30 anos e apelidado de "ex-internacional holandês suplente no PSV". Carácter, liderança, espírito de sacrifico, competência, competitividade e capacidade de enfrentar os desafios com um sorriso nos lábios, o sorriso de quem acredita no trabalho diário, confia que é honesto todos os dias, todos os treinos, para com o clube que lhe paga, para com a equipa técnica, para com os colegas, para consigo próprio.

Com um plantel formado de jogadores à imagem de Stijn Schaars o Sporting seria o candidato n.º 1 a vencer o campeonato, todos terão oportunidade de perceber porquê.

Enquanto jogador é um box-to-box esquerdino que também pode ser médio defensivo. Inteligente, evita o drible ou o adorno fúteis e prefere o passe seguro e rápido e movimentação constante, com grande pulmão e excelente capacidade de choque. Tem uma leitura de jogo impar e por isso durante o jogo consegue liderar e encontrar soluções para a equipas. Tem um pontapé forte e é um exímio batedor de bolas paradas. A todos os que vão ter o prazer de o ver jogar, só me resta assegurar que fará jus ao preço de cada bilhete pago.

Conforme referi nos pontos prévios Schaars, à semelhança de Wolfswinger, chegou a Portugal no mais completo anonimato. Ora, tomando como pressuposto lógico que a actuação dos dirigentes do Sporting se mantém uniforme no que há preservação do sigilo negocial diz respeito, questiono o porquê dos negócios feitos com jogadores oriundos da América do Sul serem amplamente noticiados e conhecidos do público ainda antes da chegada dos atletas ou da formalização dos negócios? Os casos de Rodriguez, Carrillo, do futuro ex-jogador do Sporting Moreno, de Arias (que hoje aterrou em Lisboa), e de Rinaudo (a confirmar), são demonstração evidente que as opções a tomar no sentido de salvaguardar uma postura negocial sigilosa, sem fugas de informação ou dissuasoras da inflação de última hora do valor de passes ou vencimentos dos atletas pretendidos nos conduz indubitavelmente a inverter este ciclo de contratações com os mercados sul-americanos, em benefício do mercado europeu e de outros nos quais o sigilo e a confidencialidade não sejam palavras vãs.

Não obstante esta evidência o Sporting prepara-se para anunciar a contratação de :

Nome: Santiago Arias;
Clube: sem clube após rescisão com o La Equidad (Colômbia);
Idade: 19 anos;
Altura: 1,76;
Peso 68 Kg;

Jogos em 2010/2011:
·        6 jogos;
·        4 vezes titular e 3 totalista;
·        1 vez substituído, 2 vezes suplente utilizado;

Internacional sub-20 colombiano, com perspectiva de ser titular no próximo Mundial sub-20 que se realizará precisamente na Colômbia.
  
Valor de mercado: +/- 500 mil €;

O futebol colombiano, estando competitivamente atrás do Brasil, Argentina e Uruguai, não deixa de ser dos mais assíduos (logo a seguir aos ora referidos)  em presenças nos campeonatos do Mundo de selecções.

Não obstante, trata-se de um país que nunca produziu grandes talentos em termos de rendimento na Europa, sendo os expoentes máximos Faustino Asprilla e Carlos Valderrama. Em ambos os casos falamos de jogadores de rendimento intermitente, com variadíssimos problemas ao nível pessoal, desde logo face à diferença de culturas entre o país de origem e os países onde jogaram (ainda que aqui se incluam países latinos como Itália e Espanha).

Mas há casos de sucesso entre futebolistas colombianos na Europa, sendo disso exemplo Guarin, Falcão e James Rodriguez. Mas todos com uma característica comum: saíram da Colômbia para a Argentina ainda juniores, ou mesmo antes, isto é, em claro processo de formação. Ainda assim, Guarin, depois de passar da Argentina (Boca Juniors)  para França (onde não se impôs no Saint-Étienne) apenas na 2ª temporada no FC Porto começou a apresentar um rendimento justificativo do investimento feito (que foi, por sinal, baixo: cerca de 1 M €).

Ora, Santiago Arias só agora se prepara para sair da Colômbia e viver a 1ª aventura europeia, com todas as cambiantes de adaptação que tal implica em termos de rendimento, para lá do facto de ser um jovem com 19 anos. E o Sporting não propicia a estabilidade de crescimento competitivo a um jovem que propicia, por exemplo, o Porto porque não há uma estrutura base constituída que integre e permita potenciar jovens, sejam da formação, sejam contratados.

Acresce que vem para uma posição onde o Sporting já dispõe de soluções seja como lateral direito ( João Pereira e, até ver, João Gonçalves), seja como médio defensivo (até ver Pedro Mendes, Zapater, André Santos, Rinaudo(???), Maniche). Mas, sobretudo, traz uma mensagem clara para Cedric e outros jogadores da formação: o Sporting tem internacionais nas camadas jovens nestas posições (Cedric vai ao Mundial sub-20) e ainda assim recorre a um mercado internacional secundário para lhes fazer concorrência. Tal já foi observado na contratação de Castillo. Esta postura contraria claramente a pretensa propensão ao aproveitamento da Formação, a rentabilização do trabalho feito na Academia com a agravante de diminuir os índices de competitividade dos jogadores formados em Alvalade porque não têm que concorrer com "produtos" de escolas mais evoluídas, antes pelo contrário.

Santiago Arias é, pelo que vi, um jogador regular, não muito forte a defender pois sobe muitas vezes no flanco e não é célere a recuperar, não é muito rápido e apesar de ter boa propensão ofensiva nunca se constituiu, no recente torneio de Toulon (que a Colômbia venceu) como uma opção privilegiada de saída para o ataque para os seus companheiros. Não tem um jogo aéreo forte devido à estatura média (1,76). Trata-se, em suma, de um jogador que dificilmente se constituirá como uma mais-valia para a época 2011-2012, falando-se inclusive na possibilidade do seu empréstimo. É um negócio de oportunidade porque, alegadamente, vem a custo "0". Aguarde-se o comunicado à CMVM. Mas não deixa, para já, de expressar o reviver de um certo período recente do Sporting sob a égide de Carlos Freitas: um clube que se aproveitou das dificuldades económicas de outros para resgatar jogadores em conflito a baixo (??) custo, vide casos de Rogério, Liedson e Tinga. A fama que o Sporting granjeou na altura no Brasil não enobreceu o nome do Clube por aquelas paragens. E os resultados, com excepção de Liedson, não foram significativos. Na Colômbia, a história repete-se com dirigentes e treinador do La Equidad a criticarem directamente os representantes do jogador e indirectamente o Sporting por se ter "aproveitado" da situação. Mesmo que se tratasse de um predestinado, os fins não justificam os meios, a meu ver. E, como se vê nos exemplos holandeses, é tão fácil ser competente e fazer-se respeitar.

Luís Rasquete   

 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

RICKY VAN WOFLSWINKEL, A MUDANÇA DO RUMO?

Factos:

Nome: Ricky Van Woflswinkel;
Clube: FC Utrecht (Holanda);
Idade: 22 anos;
Altura: 1,85;
Peso 69Kg;

Jogos em 2010/2011:

Liga Holandesa:
·        29 jogos;
·        26 vezes titular e 19 totalista;
·        7 vezes substituído e 3 vezes suplente utilizado;
·        15 golos/ 3 assistências;

Liga Europa (incluindo fase de qualificação):
·        12 jogos;
·        12 vezes titular e 9 totalista;
·        3 vezes substituído;
·        8 golos/0 assistências.

Internacional "A" holandês, tendo feito também todas as categorias de formação nas selecções, com 7 golos em 19 jogos, a partir dos sub-19.
  
A Holanda é indubitavelmente uma das mais fortes escolas de formação táctica da Europa (a escola do Ajax é indirectamente "mãe" do modelo de jogo do Barcelona), com jogadores de grande expressão mundial espalhados pelas melhores equipas da Europa. É a 1ª linha da Europa em termos de formação. As selecções da Holanda são, em todos os escalões, garantia de qualidade, competitividade e espectáculo.

Valor de mercado: +/- 3,5 milhões €;

Comunicado à CMVM:  

Análise:
  
Previamente a qualquer consideração acerca do valor do jogador importa salientar o seguinte:

·  A contratação não foi noticiada/fotonovelada antes de   concretizada;
·  Adquiriu-se a totalidade do passe do jogador;
·  Trata-se do 1º jogador europeu contratado pela Direcção de Godinho Lopes.

Ricky Van Wolfswinkel afirmou, na apresentação, ser uma honra representar um grande clube como o Sporting, estar orgulhoso pelo interesse do Sporting e desejar ganhar títulos em Alvalade.
  
Atenção, estamos a falar de um jogador que é recém-internacional "A" holandês e que vê no Sporting uma porta para ascender na carreira, para progredir em termos de competências competitivas, para enriquecer o palmarés pessoal.

Este facto não se pode dissociar da vinda de Marco Van Basten a Portugal no recente período eleitoral do clube e o bom impacto que tal vinda teve no meio futebolístico holandês. Afinal, Portugal pode ser uma saída profissional interessante para profissionais holandeses, ambiciosos e com curriculum.

Passando à descrição do jogador, refira-se que não vale, para já, os 5,4 M€ pagos 100% pelo passe mas, ao contrário de Carrillo, concordo com o valor pago dado que: 

1. É europeu, está familiarizado com o futebol, o clima, o ritmo de jogo e o modelo competitivo;
2. Vem da 1ª linha do futebol de formação europeu, com rótulo de qualidade em termos tácticos, desde logo porque fez todos os escalões de formação nas selecções, tem pedigree, está às portas de uma selecção que joga habitualmente as grandes competições;
3. Não vai sentir significativamente a diferença de ritmo entre a Liga Holandesa e a Liga Portuguesa, jogando já há mais de 4 anos ao mais alto nível no seu país, com mais de 90 jogos disputados e 30 golos marcados, numa média de 1 golo a cada 3 jogos mas com o acréscimo de ter marcado metade dos golos na última época, isto é, em cerca de 30 jogos marcou 15 golos, o que indicia progressão competitiva clara, baixando o ratio para 1 golo em cada 2 jogos;
4. Perante estes números, pode dizer-se que sendo os 5,4 M€ um valor avultado (pode-se mesmo dizer que por esse valor se poderia atacar outros nomes mais conhecidos, mas isso é outra conversa...) eles indiciam uma política de investimento num valor emergente de um mercado sólido  (conhecido pela maioria dos clubes do topo da cadeia alimentar da Europa)  o qual, sendo rentabilizado (isto é, marcando cerca de 20 golos numa época em Portugal) terá um retorno garantido em termos de mercado, senão nos 22 M€ da cláusula de rescisão, pelo menos num valor que compense, sem grande esforço, o investimento feito (massa salarial incluída a qual sendo não poucas vezes subestimada acaba por representar a maior fatia do encargo de uma contratação);
5. Deste ponto de vista concordo totalmente com a contratação do atleta porque alia mais valia em termos competitivos (pela origem), porque não vai certamente exorbitar o tecto salarial previsto (é jovem, está a emergir) e também porque vem fortalecer uma posição na qual o plantel apresenta claras carências, o que em meu entender não invalida a necessária contratação de um jogador mais experiente porque não se pode fazer recair sobre as costas de um jovem de 22 anos na primeira aventura fora do seu país a responsabilidade de comandar, sem oscilações de ritmo, o ataque de um clube que pretende lutar por títulos como a Liga Portuguesa;
6. Não se pode deixar de observar que valores como Baldé deverão continuar a merecer acompanhamento, se possível no mercado nacional e que a contratação do avançado holandês significa presumivelmente o fim da linha para Saleiro no plantel, a que titulo (definitivo ou por empréstimo) em breve se saberá. Mas Saleiro não se poderá queixar de falta de oportunidades e se vingar noutras paragens tal deverá ser sempre motivo de regozijo para a Formação do Sporting, quem sabe até perspectivando um eventual regresso;
7. Mas o que representa a contratação de Ricky Van Wolfswinkel? Representa a necessidade de jogar com extremos, indubitavelmente! O avançado holandês movimenta-se sobretudo dentro da área, jogando a poucos toques, finalizando com ambos os pés, não tendo um rendimento tão elevado no jogo aéreo (o que deverá ser trabalhado) ao que se junta fraca capacidade de choque. Este afigura-se como o grande calcanhar de Aquiles do jovem holandês porque 70 kgs para um corpo com 1,85 m é manifestamente insuficiente para um futebol que se faz em campos difíceis no Inverno (ainda que curto mas é no período de fins de Outubro a Março que se decide o campeonato) e com defesas duros. A mobilidade e poder de antecipação são pontos fortes mas insuficientes para a constância que se pretende quando a equipa tiver que encostar, desgastar fisicamente as equipas adversárias, em suma, ganhar também o jogo no confronto físico, voltando-se aqui à questão da baixa estatura e peso do plantel do Sporting;
8. A forma de jogar leve, a fugir ao choque (a fazer lembrar jogadores como Domingos Paciência, Paulinho Cascavel ou Rui Águas), não me enche as medidas, confesso, mas tal não inibe o mérito da opção por este tipo de jogador pelo que acima escrevi, desde que se lhe dê condições para vingar;
9. Sendo mais objectivo, se houver coerência na construção do plantel tendo por base um sistema de jogo mais europeizado que privilegie as características dos jogadores contratados e sendo estes igualmente europeus ou de matriz futebolística mais adaptada ao futebol europeu, a margem de erro diminui e aumenta a possibilidade de obter sucesso, ganhar competições, rentabilizar activos, atrair investidores para fundos, etc.;
10. Neste contexto, os próximos capítulos em termos de contratações virão ou não confirmar esta mudança de rumo, no sentido de europeizar o futebol do Sporting, dar-lhe outra cultura táctica, competitiva, construir condições para o sucesso desportivo com base num projecto e não em tiros no escuro, oportunisticos, dependentes de outros interesses que não forçosamente os do Sporting;
11. Para já, Ricky Van Wolfswinger, pelo pedigree, pela origem, é uma brisa de esperança.

Luís Rasquete