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sábado, 8 de novembro de 2008

Em construção...

Não dá para andar em Luanda sem esbarrar em alguma obra:



A grande dúvida, no entanto, é se a maioria da população vai poder usufruir ou como irá usufruir do desenvolvimento econômico do país.
As imagens abaixo são de condomínios recém-inaugurados em Luanda, no estilo Alphaville de ser. Não sei se é verdade, mas ouvi boatos que várias das casas são abastecidas por caminhões que carregam água mineral. Detalhe: essa água não seria apenas para beber e cozinhar. Seria água para tomar banho, regar as plantas... Será que é verdade mesmo?




Sabe que essa forma desordenada e excludente de Luanda crescer me lembra Brasília! Essas casas aí de cima poderiam estar no setor de Mansões Isoladas, por exemplo.


sábado, 1 de novembro de 2008

Duty free shop na Unesco

Estou eu na minha sala na sede da Unesco em Paris quando escuto a menina que trabalhava comigo comentar que o duty free shop estava com algumas promoções. Eu, ingenuamente, fiquei pensando: será que ela está falando do duty free do aeroporto? Mas daí ela continua: "dei um pulo lá na hora do almoço". Ué, pensei eu, fingindo que não estava escutando a conversa alheia.

Alguns dias depois, há cerca de um ano, minha chefe comenta comigo que eu deveria comprar o vinho da Unesco para levar para a minha família. "Mirella, aqui é o único lugar do mundo onde você pode comprar esse vinho. Ele é ótimo e é bem barato." E um balãozinho saía da minha cabeça: "vinho da Unesco? Será que dão para os funcionários no Natal?". Eu conhecia a lojinha da Unesco, onde é possível comprar as publicações da organização, canetas, selos e lembrancinhas. Com certeza a lojinha não é administrada por nenhum brasileiro, já que não vi nada com os dizeres "estive na Unesco e lembrei de você".

Mas, voltando ao assunto, tive que perguntar a Anna Maria, a chefe: "Mas onde eu encontro esse vinho da Unesco?." A resposta me pegou de surpresa: "No duty free da Miollins". Miollins é o endereço de outro prédio da sede da Unesco, em Paris. Sim, isso mesmo, dentro da Unesco há um duty free shop onde os funcionários podem comprar coisas que se vendem em um duty free de aeroporto: cremes, bebidas, eletrônicos e outros trecos, além de garrafas de vinho com o rótulo da Unesco. Será que você, leitor, está pensando o mesmo que pensei naquele momento? Não acredita?

Eu tive que ir ao duty free para ver com meus próprios olhos. Eu não acreditava - ou não queria acreditar - que havia um duty free em um lugar como a Unesco e muito menos que havia garrafas de vinho produzidas especialmente para a organização. Mas é verdade. Fui ao duty free e estava bombando. Várias carinhas conhecidas dos corredores da Unesco passam por lá diariamente. São os mesmos que tomam decisões que afetam a vida de milhares de pessoas no mundo todo. Não que eu ache que uma pessoa que trabalha com desenvolvimento tenha que se privar de fazer compras, por exemplo. Mas as compras não precisam estar lá escancaradas no ambiente de trabalho, no horário de trabalho, e ainda sem a cobrança de impostos. Vi gente literalmente "limpando" a ala das bebidas. Época de Natal, só mesmo tomando muito vinho da Unesco para comemorar. O pior é que tenho que confessar que comprei uma garrafa de vinho. Tinha que mostrar para minha família que não estava inventando história. Paguei uns 15 euros, se não me engano, o que não é tão barato assim para um vinho na França, como minha chefe me havia dito. Mas deve ser porque ela é chefe na Unesco e, quem conhece os salários da ONU, sabe que 15 euros é dinheiro de pinga!


terça-feira, 17 de junho de 2008

O que é pobreza?

Na semana passada participei de um fórum de comunicação e sustentabilidade no qual a palavra pobreza foi repetida inúmeras vezes. Mas o que é pobreza? Será que podemos definir a pobreza somente do ponto de vista econômico como, geralmente, acontece?

Bom, eu sou fã de Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia há alguns anos. Aliás, estou relendo seu livro "Development as freedom" (Liberdade como desenvolvimento). Também sou fã do conceito "capabilities" (capabilidades), desenvolvido por ele e sobre o qual escreverei mais algum dia desses.

Estou mesmo curiosa para saber de você, leitor, qual sua definição sobre pobreza. Acho que a definição de cada um para pobreza é que ajuda a definir as diferentes maneiras de se pensar em desenvolvimento. Por isso, criei a enquete atual deste blog. As respostas são genéricas, mas podem ajudar a traçar uma definição da pobreza.

Vote, discorde, opine!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Boa viagem, gentchi!

A primeira vez que vi Edna já notei sua personalidade forte e seu espírito de liderança. Foi no início das aulas de um curso que dei em vídeo-participativo em Luanda, em março deste ano. Durante o curso, não tive dúvidas de que a primeira impressão foi a que ficou. Afinal, Edna participou de todas as discussões, desde aquelas sobre a definição do roteiro do vídeo que seu grupo produziu até as sobre a cultura e a diversidade de Angola. E ela não é fácil, não. "Para me convencer, a pessoa precisa apresentar argumentos", ela me disse. Edna está certa. Ainda mais em um país como Angola, onde as mulheres são maioria no país, mas suas vozes ainda são minoria na tomada de decisão. E é de mulheres como Edna que nós precisamos, seja em Angola, no Brasil ou em qualquer canto do mundo. Ela é casada com Edgar, Eddy, para os íntimos, como eu (rs) e tem uma filha bem linda. Mora em Luanda.

A mais de 600 quilômetros de lá, vive Jesse, em Benguela. Também me lembro da primeira vez que o vi. Foi em agosto de 2006, no escritório da ONG angolana Omunga, em Lobito, na província de Benguela. Havíamos anunciado em rádios locais o nome das 46 pessoas (foram 301 inscritos) que haviam sido pré-selecionadas para a entrevista de seleção para o curso de jornalismo e vídeo-reportagem que eu e Chris, da Minibus Media, iríamos dar em parceria com o Omunga. Jesse era um deles. Mas naquele sábado, ele foi ao Omunga participar de uma formação que a rede eleitoral estava conduzindo por lá. E, pego de surpresa, falei: você ouviu seu nome na rádio? Ele estava meio confuso, ficou feliz, senti que queria gritar e sair correndo. Mas se controlou e aceitou fazer a entrevista de seleção naquele momento, já que poderia economizar tempo e dinheiro não tendo que voltar outro dia. Jesse foi um dos 11 selecionados para o curso e até hoje é nosso escudeiro fiel. Ele e outros colegas formaram a brigada de jornalistas do Omunga, como resultado do curso, e até hoje produzem vídeos e informação por lá. Ele também tem personalidade forte, adora discutir (comigo, principalmente, né, Jeessseee) e é um gajo bué fixe, cheio de vontade, de opinião. Também não é fácil, não, e nisso temos muito em comum!

Amanhã Jesse e Edna vão para a Suécia. Eles vão participar de um curso de edição por lá. Isso me enche de orgulho e de felicidade. É a primeira vez que eles vão à Europa. Espero que o continente lhes trate tão bem como eles nos tratam em Angola.

Aproveitem bem, aprendam muito e nos ensinem na volta, hein, gentchi!

Estou bem feliz por eles porque, acima de tudo, acredito que o desenvolvimento só é possível com a capacitação das pessoas. Essa é uma grande oportunidade para eles, para as organizações onde eles trabalham e para os suecos, que também têm muito a aprender com os angolanos.

Boa viagem! Não esqueçam de nós aqui do hemisfério sul!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Quando andar descalço vale a pena















O trecho abaixo foi escrito pelo escritor moçambicano Mia Couto, em 2005*. A foto acima foi tirada por H.-Christian Goertz em Lobito, Angola, em 2006, e a abaixo foi tira por mim, em Beira, Moçambique, em 2003. Mas a mensagem vale para todos nós, brasileiros, moçambicanos, angolanos:


"Temos que gostar de nós mesmos, temos que acreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado.

Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor, fomos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.

Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os setes mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros."




*Trecho extraído do Vertical N° 781, 782 e 783, Março 2005