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sábado, 1 de novembro de 2008

Duty free shop na Unesco

Estou eu na minha sala na sede da Unesco em Paris quando escuto a menina que trabalhava comigo comentar que o duty free shop estava com algumas promoções. Eu, ingenuamente, fiquei pensando: será que ela está falando do duty free do aeroporto? Mas daí ela continua: "dei um pulo lá na hora do almoço". Ué, pensei eu, fingindo que não estava escutando a conversa alheia.

Alguns dias depois, há cerca de um ano, minha chefe comenta comigo que eu deveria comprar o vinho da Unesco para levar para a minha família. "Mirella, aqui é o único lugar do mundo onde você pode comprar esse vinho. Ele é ótimo e é bem barato." E um balãozinho saía da minha cabeça: "vinho da Unesco? Será que dão para os funcionários no Natal?". Eu conhecia a lojinha da Unesco, onde é possível comprar as publicações da organização, canetas, selos e lembrancinhas. Com certeza a lojinha não é administrada por nenhum brasileiro, já que não vi nada com os dizeres "estive na Unesco e lembrei de você".

Mas, voltando ao assunto, tive que perguntar a Anna Maria, a chefe: "Mas onde eu encontro esse vinho da Unesco?." A resposta me pegou de surpresa: "No duty free da Miollins". Miollins é o endereço de outro prédio da sede da Unesco, em Paris. Sim, isso mesmo, dentro da Unesco há um duty free shop onde os funcionários podem comprar coisas que se vendem em um duty free de aeroporto: cremes, bebidas, eletrônicos e outros trecos, além de garrafas de vinho com o rótulo da Unesco. Será que você, leitor, está pensando o mesmo que pensei naquele momento? Não acredita?

Eu tive que ir ao duty free para ver com meus próprios olhos. Eu não acreditava - ou não queria acreditar - que havia um duty free em um lugar como a Unesco e muito menos que havia garrafas de vinho produzidas especialmente para a organização. Mas é verdade. Fui ao duty free e estava bombando. Várias carinhas conhecidas dos corredores da Unesco passam por lá diariamente. São os mesmos que tomam decisões que afetam a vida de milhares de pessoas no mundo todo. Não que eu ache que uma pessoa que trabalha com desenvolvimento tenha que se privar de fazer compras, por exemplo. Mas as compras não precisam estar lá escancaradas no ambiente de trabalho, no horário de trabalho, e ainda sem a cobrança de impostos. Vi gente literalmente "limpando" a ala das bebidas. Época de Natal, só mesmo tomando muito vinho da Unesco para comemorar. O pior é que tenho que confessar que comprei uma garrafa de vinho. Tinha que mostrar para minha família que não estava inventando história. Paguei uns 15 euros, se não me engano, o que não é tão barato assim para um vinho na França, como minha chefe me havia dito. Mas deve ser porque ela é chefe na Unesco e, quem conhece os salários da ONU, sabe que 15 euros é dinheiro de pinga!


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Na Unesco

Há um ano eu estava chegando em Paris, França, para fazer um estágio na Seção de Mulher e Eqüidade de Gênero da Unesco. Lembro da dor de barriga que senti no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, antes do avião partir. A escolha não havia sido fácil. Não sabia se tinha tomado a decisão certa ou não.
Depois de passar um bom tempo fora do Brasil, havia voltado há três meses a viver em São Paulo. Trabalhava há 40 dias em uma ONG, com carteira assinada e tudo, como diria minha mãe. Mas quando surgiu a proposta da Unesco balancei. Havia me inscrito para a vaga em abril de 2007 e nem me lembrava mais, para falar a verdade. Foi quando recebi a notícia via email. Depois fui entrevistada e aceita para a vaga.
Para tornar uma longa história curta, em dois dias tive que tomar a decisão. Pedi demissão, comprei minha passagem, liguei para duas amigas que vivem em Paris e fui. Detalhe: a decisão foi difícil porque, dentre outras cositas, o estágio não era remunerado. Enfim, paguei para ver.
Eu queria muito conhecer uma organização da ONU por dentro, saber como as decisões são tomadas, como é a relação dos Estados membros, qual é o perfil do cara que fica lá no escritório. A oportunidade não poderia ter sido melhor: participei da 34a Conferência Geral da Unesco, evento no qual são tomadas as decisões para as ações e para o orçamento da organização nos próximos dois anos da organização. E não poderia ter sido melhor mesmo: as prioridades da Unesco para o biênio 2008-2009 são África e gênero.
Agora não tenho tempo de escrever sobre a experiência aqui. Mas o farei assim que possível. Só tenho uma coisa a dizer: foi uma das decisões mais acertadas da minha vida. Eu me decepcionei, sim - e muito. Mas valeu muito a pena.
Abaixo, algumas fotos: