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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Se tu visses o que eu vi




É sabido que as crianças têm uma espécie de crueldade inata muito pronunciada. Disparam com a maior das facilidades "xii és mesmo feia!", ou " iiii mãe aquele homem é tão gordo" apontado descaradamente para o alvo. Da mesma forma que, é nesta altura que se recebem as alcunhas, quais medalhas de guerras travadas nos recreios e salas de aula. O Vesgo, o Quatro-olhos, a Coxa, o Baboso, a Maria dos Gatos, o Canas, o Cabeça de Alfinete, o Chico dos "Escoalhos", o Manel das Vacas, o Jaquim das Cabras, e...pronto já chega. Estes mimos nascem com a mesma espontaneidade com que ferram um pontapé, uma cabeçada ou um murro num coleguinha de preferência mais fracote. Claro que não digo isto com nenhuma base ciêntifica, quando utilizo a expressão "é sabido" pra começar uma frase, é porque já por lá passei, e uma vivênvia e observação cuidada me permite alarvar e desfraldar esta conclusão: as crianças são uns seres crueis, ponto final. À medida que crescemos, estas, digamos, frontalidades vão-se atenuando, esbatem-se os contornos destes actos bravos, quase sem se dar por nada vamos mitigando esta verborreia e um banho de consciência deixa-nos neste coma permanente do segredinho, dos diz-que-disse, da omissão. Ou seja, recriamos a crueldade e/ou frontalidade numa forma amorfa de polidez. E isto tudo, vem ao caso porque, a mais nova, neste último mês tem andado muito animada com aqueles jogos de mãos que todas nós já fizemos na primária, não sei como se chamam, acho que em inglês, usam a expressão "patty cake" para os definir (se bem me lembro aprendi no "Who framed Roger Rabbit?). E tenho-me deparado com verdadeiras pérolas da sabedoria popular infantil. Estas "canções" têm pulado gerações, e com algumas mutações, chegam até aos nossos dias em versões que são cada vez menos light. Agora vejam bem:

"Se tu visses o que eu vi, Dominó
Prós lados do tribunal, Dominó
As cuecas do Juiz, Dominó
Embrulhadas num jornal, Dominó

(e agora a melhor parte)

Esta rua cheira a sangue, Dominó
foi alguém que se matou, Dominó
foi a mãe do meu amor, Dominó
quantas facas lhe espetou,Dominó"


( e outra ainda)

"Lá no cimo, larimo larimo D'avenida larida larida
Um velhote larote larote escorregoooooou
agarrou-se larou-se larou-se ao meu vestido larido larido
as minhas cuecas larecas larecas me baixooooo0u"

(e la piece de resistance)"

"À uma eu nasci, às duas me baptizei
às três pedi namoro e às quatro me casei
às cinco uma dor, às seis uma aflição
às sete senhor doutor, às oito no caixão
às nove a caminho, às dez no cemitério
às onze no buraco, e às doze no céu béu béu!!"



....isto dá um bocadinho de medo...ai que saudades das Pombinhas da Catrina que andavam de mão em mão.

Pics lá de casa

terça-feira, 16 de março de 2010

Deixem-me falar-vos do silêncio



Prometo não demorar.

Não sou aquilo a que vulgarmente se chama uma pessoa calada (calculo que já deu pra notar....), tampouco sou uma pessoa circunspecta, melancólica, retraída, inibida ou outras coisas que impliquem uma determinada polidez da expressão oral.

Durante toda a minha vida, vivi numa casa onde se falava alto. Para quem chegava de fora, com facilidade podia confundir uma conversa trivial com uma disputa fervorosa, aos berros. Sempre assim foi, um bocadinho como no Roma do Felini, toda a gente a falar muito alto, até porque era mesmo a melhor forma, senão a única de nos ouvirmos e entendermos.
Por outro lado, nunca ouvi da boca do meu pai, ou da minha mãe um palavrão digno dessa nota.
Ou seja a malta grita, fala alto, mas mantém um certo nível de conversação, prás coisas não descambarem.
Cá em casa, as coisas não são muito diferentes, se bem que, isto dos anos a passarem, tem-me trazido aos poucos uma certa sensibilidade abichanada aos meus ouvidos, e começam a incomodar-me os barulhos despropositados, a televisão aos gritos, a música aos ginchos, as galarices dos gaiatos. Ainda assim, claro está, continuamos a cultivar a veia artística existente em cada um de nós, e raramente falamos baixo. A vida é um palco meus amigos, e esse é o lema vigente da porta pra dentro! Todos aqui têm o seu momento, e alguns têm até direito a aplausos de pé! (não é o meu caso...não sou de todo um género muito apreciado).

Todas as manhãs, ainda em vale de lençóis, no doce abraço de um sono redentor, invariavelmente, sou acordada por um "Oh Leonoooooooor! Trás-me o lençooooool!", explicar aqui que o lençol de banho está em cima do aquecedor, a noite toda, pra ficar quentinho. Explicar também que à primeira chamada não há qualquer tipo de reacção, o que leva a uma segunda e eventualmente terceira.
Não é uma maneira agradável de acordar, não é pacifico, e como compreendem, compromete precocemente a disposição para o resto do dia...pelo menos a minha.
Uma pessoa habitua-se a tudo, e o barulho tem sido uma constante durante toda a minha vida, viver sem ele seria sem duvida um buraco negro.
Ainda assim, como diria a minha avozinha, que já lá está no outro lado, o bicho do ouvido não apresenta grandes sequelas, e posso-me até gabar de ter aquilo a que a minha mãe se referia como ouvidos de tuberculoso (deve depreender-se daqui que os tuberculosos têm um ouvido muito apurado), mas também, não vejo um pedo, era muito azar também não ouvir um! (uiiii a conversa está mesmo a descarrilar, estou-me a lembrar que uma amiga minha, já me acusou de ter nariz de perdigueiro, é melhor ficarmos por aqui com os analogismos).
Há quem se questione : "ó Carmo, isto os miúdos ao fim do dia já devem estar todos fartos uns dos outros, não é?"- ao que eu respondo "não senhor! Aqui já acordam fartos uns dos outros que isto Graças a Deus Nosso Senhor é uma casa de fartura!". E é mesmo assim, não estou a embonecar o assunto só porque sim. Só para vos provar que me estou a esticar, um dia destes, uma vizinha minha, que mora no mesmo bairro que eu, o mesmo bairro onde nasci, e que agora está pejado de gente velha e casas vazias, um dia destes, dizia eu, enquanto eu estava a estender roupa na varanda, chamou-me do quintal dela " Carminho! Ai filha se não fossem as tuas crianças a gritarem e mais tu, a gente nem dava por haver aqui vivalma!"... pronto, fiquei a saber que somos o mais perto que a vizinhança tem de real animação....
Posto isto, e porque prometi não me estender, imaginam bem o que é o poder do sossego, a força do silêncio quando já tarde (porque os cabrões dos gaiatos não dormem nem à lei da bala! , vá-lá às 11h da noite e, já não é mau!), aquela gente toda se amaga, e adormece? Podem sequer tentar imaginar?
A haver paraíso, deve ser parecido.
Nesse momento, finalmente com filhos e maridos e gatos, tudo ferrado a dormir, nesse momento repito, finalmente estendo-me no sofá, senhora do comando, zapo pra cima, zapo pra baixo, estico as pernas, apago a luz, depois acendo a luz, sento-me, vou buscar qualquer coisa pra comer, faço um chá, tiro todas as caixas de chá da dispensa, escolho uma, depois outra, não afinal quero esta, aqueço a água, espero que quase ferva, tiro a roupa da máquina de lavar, ponho a roupa na máquina de secar, dou um pontapé no gato, bebo o chá, folheio uma revista velha, volto pró sofá, desligo o ar condicionado, dobro um par de meias que está aqui em cima da mesa, desligo o computador que os sacaninhas deixaram ligado, verifico se a porta da cozinha está bem fechada (duas voltas na chave), sento-me no sofá, entendo as pernas, zapo mais uma vez, vejo o que há nas gravações, levanto-me do sofá e vou deitar-me. O silêncio da sala dá-me medo. Acho que só é bom ali, no impacto do momento, depois passa. E é tudo o que eu tinha pra vos dizer sobre o silêncio.

Ps: Até à semana passada tinha 34 seguidores, agora só já tenho 33, há um desistente. Vocês, estejam à vontade pra sair, tá bem? Mas façam barulho, não saiam com pezinhos de lã!
Pronto, agora é que é mesmo tudo por hoje.
Vá, até logo.



 

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