Posso dizer sem grande erro, que provenho de uma família parca em recursos de qualquer espécie, mas pródiga em imaginação...
Mesmo que não seja pelas melhores razões, desde muito pequena que me conheço a "fazer filmes", normalmente filmes de terror, ou pelo menos de cariz sempre um bocadinho duvidoso e/ou assustador.
Nestes lugares recônditos do mundo, para colmatar a falta de acção, a malta conta estórias. De ocorrências que com o passar dos anos ganham novas nuances e contornos cada vez mais macabros.
Espíritos em sofrimento que entram pelas janelas entreabertas ao bater da meia noite em busca de vingança, afogados que regressam a casa só pra recolherem os sapatos e não irem descalços prá eternidade, acidentes do "arco-da-velha" com consequências atrozes, hecatombes naturais esmagadoras no seu poder destrutivo, magias negras sussurradas à luz de velas e combatidas com alfinetes de ama abarrotados de medalhinhas de Santinhos protectores nas roupas interiores dos meninos. Enfim, todo um mundo desconhecido e feroz que se agiganta perante a nossa fraqueza e se prepara para nos engolir ao menor descuido.
Agora se pusermos os pezinhos no chão, isto tudo parece mais uma espécie de diagnóstico de um qualquer federado maníaco depressivo, e, sem mais demoras, meus amigos não andarei muito longe disso, e, surpresa das surpresas, os gaiatos começam já a mostrar os seus primeiros sintomas desta imaginação/depressiva/saloia/doentia.
Coisas do tipo, sai de cima da árvore que ainda cais e partes o pescoço!, não fales enquanto comes que te engasgas e asfixias!, não faças o pino que te sobe o sangue a cabeça!, não te debruces da varanda que cais dai abaixo!, foram expressões que acompanharam a minha meninice, e foram ficando gravadas em mim, de tal forma que hoje as repito quase me dar conta.
Por muito adultos que sejamos, e até enfim, inteligentes, estas tatuagens são difíceis de contornar, e praticamente impossíveis de ignorar.
Nem sequer me vou alongar a desfiar aqui todas as minhas fobias, umas enterradas mais fundo na minha pessoa, outras mesmo à superfície, sempre em ebulição e prestas a entrar em erupção, porque, e isto é muito serio, seria por demais fastidioso tal a dimensão do rol...
Mas ainda assim não posso deixar de vos dar provas da passagem de testemunho destas relíquias. Um dias destes o rapaz, ao ver a mais nova pegar na caixa dos bichos da seda, levantou-se com estrondo : larga os bichos! não lhes mexas! tu não vês que te podem entrar pelo nariz!
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é conhecida a ligeireza e rapidez dos bichos da seda...
5 comentários:
E a mais vulgar, quando os putos são mesmo putos: "olha o papão!"
À minha irmã diziamos "não faças isso... olha que vem aí um cigano". Era remédio santo. =)
Só mesmo ele para dizer uma coisa dessas!! =D
aahahahah Uma enorme imaginação mas eu adorava era a do Velho do Saco, não chegava ser Homem ainda tinha que ser Velho. Arre que dureza.
Beijinhos
Garota estás bem? Estamos com saudades tuas. BJS
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