quarta-feira, 1 de junho de 2011

Fazer Filmes



Posso dizer sem grande erro, que provenho de uma família parca em recursos de qualquer espécie, mas pródiga em imaginação...
Mesmo que não seja pelas melhores razões, desde muito pequena que me conheço a "fazer filmes", normalmente filmes de terror, ou pelo menos de cariz sempre um bocadinho duvidoso e/ou assustador.
Nestes lugares recônditos do mundo, para colmatar a falta de acção, a malta conta estórias. De ocorrências que com o passar dos anos ganham novas nuances e contornos cada vez mais macabros.
Espíritos em sofrimento que entram pelas janelas entreabertas ao bater da meia noite em busca de vingança, afogados que regressam a casa só pra recolherem os sapatos e não irem descalços pr
á eternidade, acidentes do "arco-da-velha" com consequências atrozes, hecatombes naturais esmagadoras no seu poder destrutivo, magias negras sussurradas à luz de velas e combatidas com alfinetes de ama abarrotados de medalhinhas de Santinhos protectores nas roupas interiores dos meninos. Enfim, todo um mundo desconhecido e feroz que se agiganta perante a nossa fraqueza e se prepara para nos engolir ao menor descuido.
Agora se pusermos os pezinhos no chão, isto tudo parece mais uma espécie de diagnóstico de um qualquer federado maníaco depressivo, e, sem mais demoras, meus amigos não andarei muito longe disso, e, surpresa das surpresas, os gaiatos começam já a mostrar os seus primeiros sintomas desta imaginação/depressiva/saloia/doentia.
Coisas do tipo,
sai de cima da árvore que ainda cais e partes o pescoço!, não fales enquanto comes que te engasgas e asfixias!, não faças o pino que te sobe o sangue a cabeça!, não te debruces da varanda que cais dai abaixo!, foram expressões que acompanharam a minha meninice, e foram ficando gravadas em mim, de tal forma que hoje as repito quase me dar conta.
Por muito adultos que sejamos, e até enfim, inteligentes, estas tatuagens são difíceis de contornar, e praticamente impossíveis de ignorar.
Nem sequer me vou alongar a desfiar aqui todas as minhas fobias, umas enterradas mais fundo na minha pessoa, outras mesmo
à superfície, sempre em ebulição e prestas a entrar em erupção, porque, e isto é muito serio, seria por demais fastidioso tal a dimensão do rol...
Mas ainda assim não posso deixar de vos dar provas da passagem de testemunho destas relíquias. Um dias destes o rapaz, ao ver a mais nova pegar na caixa dos bichos da seda, levantou-se com estrondo : larga os bichos! não lhes mexas! tu não vês que te podem entrar pelo nariz!
...
...
é conhecida a ligeireza e rapidez dos bichos da seda...

Não há como esconder, estamos todos tramados, se alguém mais conhecedor quiser, estamos a disposição para ser case study, claro desde que seja perfeitamente seguro.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Pindérica


Eu.
Não é fácil ter que chegar a esta conclusão sobre mim, mas há que pegar o toiro pelos cornos...
Diz o dicion
ário da língua portuguesa, que pindérica é um termo depreciativo que se prende com a falta de elegância. Portanto, eu.
Ontem num supermercado cá do burgo, uma funcionaria da caixa, depois de ouvir uma conversa entre mim e a minha "comadre", disparou sem do nem piedade: ahh então são comadres? bem bem...tem que se por a pau que ela é toda jeitosa e elegante!
...
...
...
Não que seja grande novidade pra mim. A verdade é que que cada vez me vejo mais parecida com a minha mãe, que nunca na vida perdia tempo a ver-se ao espelho. A vida vai-nos encaminhando, tipo cicerone, e quer seja por escolhas ou dados adquiridos, vai-nos desmoronando castelos e construindo casinhas.
Não me estou propriamente a queixar, mas por outro lado estou exactamente a queixar-me aiii a minha vidinha e assim.
Não digo que tenha abdicado de mim enquanto mulher, mas com certeza que fui arquivando muitos dos meus quereres em detrimento de banhos de realidade contínuos.
As vicissitudes da vida t
êm encontrado uma criatura com pouca atitude em relação à vaidade, física vá lá. Não tenho paciência para horas no cabeleireiros, opto habitualmente por cortar em casa, pintar em casa, esticar em casa e por aí adiante.
Sou roedora de unhas a tempo inteiro desde que me conheço, o que impossibilita de todo manter alguma postura. Nunca fiz uma manicura, ou pedicura, tenho pouquíssimos pares de sapatos, ou carteiras, ou outra coisa qualquer.
Ca
í na asneira de acreditar piamente na falácia de "o que conta é o que esta cá dentro", mentira!
O que esta cá dentro é o quê? O que esta cá dentro só pode ser valorizado no contacto com os outros, e quanto muito resulta num mundo um bocadinho assim a dar pro solitário se o envolvente humano/social não for compatível.
Por isso mesmo, tenho a casa atibada de livros, a cabeça atafulhada de conhecimentos (pronto, não serão assim tantos), e visualmente sou uma nódoa.
Se isso me preocupa? Mas e claro que preocupa! Apetece-me ser gira por fora, e elegante e essas merdas todas!
Enfim, depois desta mini revolta interior, começam a martelar-me na cabeça frases tão sabias como: burro velho não aprende línguas e o habito faz o monge.
Não creio que haja alguma esperança de nascer aqui uma quarentona toda boa de pele hidratada e unhas perfeitas e cabelo sedoso e de fazer parar o trânsito e coise.
Mas tenho pena, a sério que tenho.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nem o pai morre, nem a gente janta


Isto tem andado a remoer aqui dentro. Posso estar a ser leviana, até porque também eu já fui uma adolescente cheia de dores e a carregar o mundo nas costas (fui?).
Tenho reparado, provavelmente porque sou mãe de dois adolescentes, que me vão chamando a atenção para determinadas ocorrências, que existe um crescente sentimento de "desespero" nesta gente so called teenagers. Bem sei que é uma jornada das nossas vidas em que tudo parece muito maior, assim mais ou menos como se estivesse a ser usada um lupa poderosa. Os amores são mais intensos, os ódios mais sangrentos, as opiniões mais vincadas, as certezas mais absolutas, e o mundo obviamente gira em volta do nosso próprio eixo, muito mais nesses anos que antes, ou depois.
Agora expliquem-me se puderem, se já e tão difícil, ultrapassar impune esses verdes anos, sem grandes mazelas que não sejam uma enorme saudade de lá voltar, porque é que os miúdos inventam mais merda pra cima deles? Atentem bem nos textos que escrevem. Nas ladainhas de auto-piedade, onde o ceguinho é sempre na primeira pessoa e nem precisa que ninguém lhe bata, porque eu sou tão feia, gorda, triste, solitária, desgraçada, magra, borbulhenta, coitadinha, não tem pena de mim?? Oh pá tenham lá pena de mim se não enfio os dedos na goela e vomito o pão integral que comi ontem ao jantar e depois choro e borro o rimel todo e aproveito e tiro uma fotografia que estampe essa tristeza tão grande e profunda e sem mais demoras vou logo posta-la no facebook pra que o mundo saiba como eu sofro pá!
E por fotografias, atentem bem na linha condutora das fotografias que polulam por essa web fora de adolescentes em "sofrimento", tristes, landscapes tristes, flores tristes, um desespero é o que é.
E depois ainda há os cultos atarraxados a todo este Carnaval, as bruxas, os demónios, os símbolos pendurados ao pescoço em enormes cruzes invertidas ( que Cristo é um chato e o dark side rula), etc, etc, etc.
Não é cá por coisas, mas a estas meninas e meninos que sofrem, tenho alguma curiosidade de os ver em menos de 10 anos, com um dois filhos pendurados nas mamas, a conta do gás a tinir, a barriga a dar horas, o emprego que nunca mais aparece, a toilette da Pascoa comprada nos chineses, e os tostões bem contadinhos até ao fim do mês. Isso meus filhos é que é sofrer. Até lá, vão cortando os pulsos com uma colher de pau faxavor.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O baile


Já passaram uns dias, mas só agora, me sinto completamente depurada da sensação de enfado e enfarto que o dito cujo me causou.
A miúda mais velha, a um passo de acabar o 12º ano, lá teve direito ao habitual baile de finalistas. E quando digo teve direito, quero mesmo dizer o vestido, o padrinho a colher, as fitas e todos os adereços requeridos para a ocasião, o que muito me espantou, pois que a rapariga é toda armada aos cucos e coise...
Agora meus senhores, aquilo que deveria ser uma coisa leve, enfim, um apontamento da mudança que se aproxima na vida destes gaiatos, transformou-se ali mesmo naquele espaço tipo espartilho, numa autêntica feira de vaidades. A começar pelas mesas recheadas de iguarias, leitões assados...havia leitões assados. Pratos de porcelana, toalhas de linho bordadas, bolos encomendados propositadamente a pastelarias de alto gabarito. Vestidos de pedrarias e lantejoulas e bijuterias de brilhos estonteantes e saltos vertiginosos e arranjos de flores naturais. Quem entrasse desavisado, pensaria tratar-se de um casamento daqueles de aldeia, em que cada convidado tenta ofuscar a noiva a todo o custo.
Aliás a entregar-se um prémio de "modelito mais propenso a provocar o vómito em todo o auditório e arredores", ele iria direitinho para as mãos de um pai, sim de um pai que trajou autenticamente de "luces", com uma fatiota preta de riscas sedosas e brilhantes. Um estrondo.
Não nego. Foi uma noite interessante para o imaginário de qualquer um. Aproveitei bastante.
Nos lá fomos, a famelga em massa. E no meio de toda aquela parafernália, a malta até parecia muito normal! Verdade. Senti mesmo uma pontinha de embaraço pela minha tábua de queijos e tostas e pelo bolinho de chocolate feito a justa mesmo antes de hora do baile.
N
ão consegui deixar de pensar que deviamos estar a ensinar aquela juventude toda a vestir o fato de macaco e pegar na enxada, porque pelo andar da carruagem têm mesmo muito que "dançar" coitados.
Anyways... agora um bocadinho de baba pegajosa, viscosa e gostosa, digam l
á se a magana da gaiata não estava linda de morrer?
Sim eu sei...tal e qual a m
ãe...

Fotografia: Leonor e padrinho primo Pedro

segunda-feira, 14 de março de 2011

Hás-de dizer onde moras...

pra eu te ir largar um "bracito" à porta!





Não me ocorre mais nada depois das excelsas palavras proferidas no passado Sábado pelo Sr. Primeiro Ministro.

Diz o homem, que não se importa mais com o futuro dele, ou com a carreira politica (o gaijo até não é parvinho de todo), mas vai lutar até ao fim para impedir que Portugal tenha que bater à porta do FMI a pedir ajuda.

Sim senhor, digo eu. Atão a malta pode ir bater a porta do vizinho a pedir pão? Atão a malta pode andar com uma mão na frente outra atrás a tapar as partes ditas pudicas, mas claro sempre de cabeça no ar e o orgulho intacto? é isso?

Ao menos hoje pude respirar de alivio. Alguma coisa está efectivamente a ser feita em abono da nação, parece que os campos de golf vão voltar a ser taxados a taxa de IVA reduzida. Aleluia!


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

É por isto que eu não largo os Levitans...


Para os que ainda não sabem (não que isso interesse para alguma coisa), trabalho numa aldeiazinha perdida no Alentejo. Como dizem os velhotes daqui, "olhe menina, isto já nem uma aldeia éi, isto é mazé um monti!". E com razão. Os transportes públicos, ao longo dos anos têm vindo a cortar o número de ligações a estas terras, coisa que friamente até se compreende, se tivermos em conta que cada vez há menos gente. Contam-se pelos dedos os miúdos que vão para a escola fora da aldeia (e dentro também...parece que para o ano que vem, a escola primária vai encerrar de vez), e os velhos quando saem daqui, é na maior parte das vezes por motivos de saúde e então são as ambulâncias ou as carrinhas da Junta de Freguesia que vão dando conta do recado.

Havia aqui na esquina uma mercearia. Um daqueles lugares onde as pessoas iam comprar o pão e ficavam na converseta, a ludibriar a solidão destas paragens. Fechou. Os proprietários estão já nos oitentas bem entrados e cansaram-se do caderno dos calotes "aponte se faz favor que eu pago no fim do mês quando o meu homem receber."

Os velhos estão cada vez mais velhos, as ruas estão cada dia mais desertas e os novos entregam-se a este canto de sereia da pobreza e vão-se deixando enganar pelos trabalhos do campo, também eles cada vez mais escassos, roubados por toda a espécie de máquinas e tecnologias.

Um dia ainda vos falo dos olhos das crianças que ainda por aqui vivem, do vazio que há nos olhos delas, na falta de estimulo que passa de geração em geração sem apelo possivel.

Um rapaz de uma aldeia vizinha, estudante universitário, fez um levantamento da freguesia, e pasme-se, há menos de trinta anos, esta terrinha tinha mais de dez mercearias, outras tantas adegas, curtidores de peles, sapateiros, queijarias e salsicharias (as carnes e enchidos, e os queijos sempre foram a imagem de marca deste lugar, há até uma frase muito batida por aqui : "até do leite se fazem queijos!"), alfaiates, três padarias e muitos outros ofícios. Hoje resta uma padaria, e a sociedade recreativa (que de recreativa não tem nada), onde, valha-nos isso, ainda se pode beber um café, e onde homens e mulheres se reúnem para fazer o que mais de faz aqui: beber, beber e beber.

Agora imaginem vocês, cá o je, todos os dias vai almoçar a casa (9km) e regressa... o que tem isso de especial, perguntarão. Pois bem, o que tem de especial é que raro é o dia em que não acabo por fazer assim uma espécie de serviço público em regime de voluntariado. Diariamente aparece gente aqui no escritório :"posso ir consigo agora à hora de almoço? " e continuam, "tenho que ir à caixa levantar o dinheiro, ou tenho que ir pagar a luz, ou tenho que ir carregar o telemóvel, ou vou dar uma ajudinha à minha filha, ou vou entregar os papeis do desemprego, ou tenho consulta às duas da tarde, ou vou aos chineses comprar um par de cuecas". E depois " se não se importa venho consigo às duas horas, pode ser? espero por si ao pé da escola."

Bem, o bom disto é que sou paga em ovos, limões, laranjas, salsa, coentros, couves, ervilhas e uma vez ou duas, chocolates e até pacotes de amêndoas, e, ao mesmo tempo, vou sabendo a história de vida de metade da aldeia.

Provavelmente não é o sonho de uma vida. Não é. Mas enfim, diz que cada um só tem o que merece.


os desenhos são daqui, um artista local a ver e rever, vão lá sem demora!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nem a dignidade me deixam.

**

- Dás-me a lua?
- Dou. É tua!
- Ajudas-me a agarrar aquele sonho?
- Ajudo! Diz-me só, onde o ponho!
- Ficas comigo até ao fim?
- Não brinques comigo, que ainda te digo que sim!




Estou de volta para mais um desabafo das minhas pequenas misérias.

Assim de repente, como um chapadão que nos assenta mesmo em cheio, fez-se luz. A minha vida é um sem fim de coisas por cumprir. Eu não sou uma pessoa vertical como tantas vezes me deito a apregoar, e isso é no mínimo desconcertante e desmoralizador ( e ainda há-se ser umas quantas coisas mais começadas por "des", de certezinha). Senão vejamos. A parte do dia que não estou no emprego, estou quase sempre em casa. Estou quase sempre em casa em modo "vinil riscado alienado demente e maníaco do século passado a qual ninguém liga um pedo". Uma coisa do género: "eu disse que queria o fogão lavado, e tu chamas a isto lavado!", "porra! mas o que faz ainda aqui o saco do lixo do jantar de há três dias!!!!", ou ainda "porque é que dizes que a casa de banho foi limpa, e não mudaste o cesto dos papeis!???", sem esquecer o "acabou-se! ou fazes o que te digo ou então não vais ao treino/café/sair com o namorado/cinema/computador/telemóvel/msn/televisão/etc, etc, etc,", obviamente sempre seguidos da expressão " é que não tiras daqui o cu! (ou as nalgas*, vá...)".

Tudo isto, sempre num tom de voz, muito acima daquilo que a minha própria pobre cabeça já vai aguentando. Tenho por isso a nítida sensação, que entre este momento e um outro que será eu sair à rua em pelota, ou mandar-me da varanda abaixo, já não distará muito.

A verdade é que esses castigos, acabam invariavelmente antes de chegarem ao fim. E terminam da forma mais degradante possível.

Sou sempre comprada por uma pontada de pena que me nasce aqui dentro, e depois eu tento enxotar, mas já não é só pena, e depois já é uma mistura de dó e culpa e quando chega a pergunta envolta em falinhas mais ou menos mansas, tipo : "já está tudo arrumado, achas que posso ir ao blá blá blá?" , nessa altura, dizia eu, apanham-me totalmente de portas abertas, desprotegida, indefesa, de calças nas mãos é o que é. E por muito que ponha a minha pior cara ("estás sempre com uma cara!"), é mais que sabido, que a outra parte está confiante na minha resposta falsamente mal humorada "vai lá...mas ficas a saber que é a última vez! entendes! ENTENDES!!!".

Claro que entendem. Entendem até demais.

Uma vez um especialista destas coisas do comportamento, disse-me "minha senhora, os castigos têm que ser levados até ao fim, por isso pense bem antes de os dar."

Acho que o homem estava coberto de razão.
Acontece que razão é coisa que a minha pessoa não conhece, e quando dou um castigo, a raiva é maior que o mundo e sai sempre assim uma coisa brutal, à séria, uma coisa assim mesmo mesmo de má.

Ou seja, eu sou uma troca tintas, uma borra botas e uma fala barato.

Uma tristeza portanto.

*nalgas=nádegas (alguém podia não saber...)
**fui eu que escrevi sim senhora!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

De boa vontade e "á borla"

Para não pensarem que aqui só se fala de vida familiar e outras coisas supérfluas, saibam V. Exas. que este é também um lugar onde a cultura comanda!
Hoje deixo-vos umas quantas recomendações cinematográficas (sim porque eu sou pessoa para me aventurar a fazer recomendações de coisas).
Estes primeiros meses do ano, são sempre férteis no que diz respeito a estreias, ainda pra mais com toda a parafernália de nomeações e etcs para uma quantidade de galardões a jogo, que na maior parte das vezes mais não são do que gatilhos de estúdios com mais ou menos dinheiro.

Mas passemos ao que interessa. Se quiserem tomar nota, aqui vai a primeira recomendação, "The Black Swan", de Darren Aronofsky, o mesmo que já nos tinha brindado com "Requiem for a Dream", ou "Wrestler", só para dar alguns exemplos.





Este Cisne Negro, é assim um bocado a dar pró psicadélico/neurótico. Visualmente é perfeito (até porque a Natalie Portman é absolutamente completamente linda de morrer), mas (há sempre um mas), confesso que não é propriamente a minha praia. Apesar de todo o ambiente carregado do primeiro ao último minuto, os recalcamentos, o sexo ou a falta dele, a ditadura espartana da disciplina, a figura aglutinadora/castradora da mãe, as tentações viscerais, a densidade dos personagens, apesar de tudo isto, não sei, mas se calhar sou uma rapariga demasiado comum, e prefiro coisas um bocadinho mais lineares. Ainda assim, um bom filme. Digo eu.
Depois, já a dar cartas fora de portas, e com estreia marcada para a próxima semana em Portugal, "True Grit", que parece traduziram para "O indomável". É um western à antiga, aliás é mesmo um remake de um outro filme de 1969, onde brilhava John Wayne. Desta vez não é o Duke que brilha, mas sim um extraordinário Jeff Bridges. Apesar de não ser um argumento original, como por norma acontece com os manos Cohen, a mão destes jovens não deixa de se fazer presente em cada momento do filme. Por mim, desde já afirmo que fiquei literalmente agarrada. Um mimo, este filme de "cóbois", meus amigos, um mimo!



E ainda...uma filme de animação. Sou perdida por filmes de animação, e este "Despicable me", é uma experiência belíssima. Apesar de não fazer sombra ao melhor do ano deste género que, na minha opinião é sem qualquer dúvida "Toy Story 3", soberbo, este Gru, é indispensável, e a prova provada que ser mau compensa ;DD

E agora se quiserem vão a um blocckbuster perto de vós e aceitem as sugestões que faço de tão boa vontade...se não quiserem, paciência, mais perdem!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Eu já fui uma pessoa violenta



Um dia destes, ao ler este post, no blog Pronúncia do Norte, pra quem não conhece está muito a tempo de lá ir, até porque vale bem a pena a visita, como ía dizendo, o relato despoletou em mim uma enxurrada de memórias, mesmo daqueles que já estão dobradas e bem arrecadadas no fundo das gavetas, mas claro sempre com a avisada bolinha de naftalina, não vá a traça atacar.


Pois que também eu me rendi (por mais que uma vez) às encarapinhadas permanentes que nada eram sem uma franja bem levantada à força de muita laca e secador. A moda nos saudosos anos 80, pode agora parecer um atentado aos olhos muito mais críticos e sensatos deste inicio de século, mas convenhamos era pelo menos mais animado.


Se me apetecer revolver bem as gavetas, um dia ainda aqui ponho umas fotografias interessantes, bem representativas da onda so called "neo romântica" da altura.


Adiante. Ao ler a Pronúncia, lembrei-me de um episódio bizarro, que não tendo nada a ver com cabelos, não podia ter acontecido senão por aqueles dias em que me julgava grande, e nem por um minuto me importava por quem dobravam os sinos.


Era Junho, festas de Sto. António, o padroeiro cá da terra, eu e uma amiga tínhamos ido ver um "concerto" dos então quase estreantes Rádio Macau, em plena Praça da Vila (agora cidade). Eu teria aí uns dezassete anos, pelo que feitas as contas, estaríamos em 1984. Lembro-me que vestia uma saia que a custo se poderia chamar de saia. Era mais uma espécie de cinto... Durante o espectáculo, noto que um homenzito, completamente fora do baralho ali no meio da "jubentude" toda, se chegava a nós, mais e mais, e mais. Eu e a minha amiga (ela um pouco mais nova que eu, e incomparavelmente mais tímida, coitada) lá nos íamos chegando mais à frente, na tentativa de fugir da investida da criatura. Naquela altura achei que era um velho, devia andar na casa dos 50, e andava por ali de olhos esbugalhados no meio de tanta fruta, de tal forma que a dada altura o desgraçado me passou a mão pela perna, tipo "ai que belo presunto"! Foi a gota de água. Virei-me pra trás, olhei-o bem nos olhos, fiz o meu sorriso mais doce e terno e tudo e zás levou duas orelhadas que só de me lembrar ainda sinto a mão a arder. Virei-me pra frente, a minha amiga perplexa olhava ora pra mim ora pró pobre do homem que aliás desapareceu num piscar de olhos.


Foi libertador.


terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Andam a enganar as criancinhas!


E depois admiram-se que haja por aí tanta depressão, recalcamentos, e Calimeros a crescer que nem cogumelos depois da chuva!

ahhh poizé!

Ainda esta manhã, enquanto vestia a mais nova, ainda meio entorpecida de sono, dou por mim a prestar mais atenção do que devia ( e do que o programa merecia realmente...) aos desenhos animados que estavam a passar na 2 àquela hora. Era o Ruca. Um miúdo que deve ter aí uns 4 ou 5 anos, completamente careca (provavelmente fruto de corte radical na sequência de um ataque de piolhos, tão usual nas escolinhas), e a quem ninguém contraria de maneira nenhuma.

A professora JAMAIS levanta a voz, é absolutamente complacente com tudo o que os meninos dentro da sala de aula querem (sim porque os meninos têm querer dentro da sala de aulas do jardim escola), os pais, esses então são um espelho de compreensão e um poço de amor para os seus rebentos (o tal de Ruca tem uma irmã, igualmente insuportável, mais nova que ele), e aquela família não sabe o que é uma nota mais alta na voz de quem quer que seja, sendo que nenhuma das crianças sabe sequer ao de leve o significado da palavra grito.

Todos os ensinamentos são passados de uma forma organizada, segura e calma, sem stresses, gritarias, e de tudo aquilo sai sempre uma aprendizagem muito saudável para pais e filhos...

Pois....temo estar em completo desacordo com aquela coisa toda, até porque é uma babosice do pior, e nem de perto nem de longe é, nem pode ser assim.

As crianças devem aprender desde o berço que há regras, que não são eles que fazem as regras, que a família é uma democracia musculada (sem violências gratuitas, claro), que a máxima Orweliana deve sempre governar uma casa "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros", e acima de tudo, uma "nalgada", um sopapo ou um puxão de orelhas, que eu saiba até hoje não fizeram grande mossa a ninguém!

Ora existe um outro desenho animado pra criancinhas, penso que japonês, o Shin Chan, que é um miúdo mais ou menos da mesma idade, que passa o dia a fazer asneiras (coisa normalíssima) e invariavelmente acaba a ser castigado pela mãe. Correcto.

Por isso creio que há a reter o seguinte:

- Compreensão a mais é parvoíce;

- A moral da história vem sempre no fim, e não no principio.


Não é que a minha politica de gritos e orelhadas dê grandes frutos, mas ao menos os rapazes ficam a saber que se pode sempre reagir, e que a reacção é uma coisa boa. Gosto pouco de gente morna.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Aquilo de o Natal ser quando um homem quiser...

Nunca fui muito chegada a plantas de interior. Ou de exterior. Tenho uma espécie de jeito inato para as deixar a definhar. Aquela particularidade de não abrirem a boca, coloca esses seres, pelo menos aos meus olhos, na categoria de natureza morta logo à partida.


A varanda lá de casa mais parece a da Família Adams, vasos cheios de ramos secos e retorcidos, folhas caídas impregnadas de pó, ervas daninhas também eles próprias já ressequidas e apanhadas na sua própria luxuria, enfim, um espectáculo pouco digno, e do qual desde já digo, não me orgulho nada. Esqueço-me, sei que não é desculpa que se dê, mas é a verdade.


No entanto, nas últimas semanas, tenho mantido uma planta de interior, que teima em não se dar por vencida e continua a encher (literalmente) a minha sala de verde.


Não posso especificar com exactidão que tipo de planta é, mas presumo que seja um tipo de abeto nórdico, que comprei num super mercado, e que foi, digo bem, foi, o meu pinheiro de Natal.


Existe a vontade de o plantar no quintal do meu pai, mas ainda não conseguimos fazer acontecer esse momento, seja porque já é de noite, ou porque agora ainda é cedo, tu já viste bem o nevoeiro? , com este chuva não sou eu que me vou pôr a cavar no meio do quintal!, ou então as preferidas "agora vou comer, depois já vou". Mas não. Ninguém vai. Ninguém foi até agora, e um dia destas acabo por me afeiçoar à porcaria da árvore e daí até à morte é um passinho de pardal (sim porque água, é mentira).


E é neste clima "deixa andar" que lá vamos tentando co-habitar com a "plantinha" que como podem verificar pela imagem terá uns dois metros de altura por 1,5 de diametro. Não é fácil, mas alegra o ambiente e dá assim um ar de open space e coise.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Bolinha Encarnada



Na sexta-feira passada, ao fim da tarde, depois do emprego, como sempre tentei ficar a par das novidades escolares dos miúdos. Chegada a vez da mais nova, então e tu meu amor, correu bem, brincaste muito, o recreio foi bom?"Não fui ao recreio", ah não!? , então? conta lá?"É que a professora todos os dias marca uma bolinha no comportamento, e ao fim de 5 bolinhas encarnadas, ficamos de castigo...Por um nano segundo, sorri e pensei, coitadinha. Mas num repente fez-se luz. Cinco bolinhas! Mas ela só regressou às aulas segunda-feira! Portanto há ... 5 dias. Ou seja, a minha menina "perfeita", mesmo depois de todas admoestações, mesmo depois de tanta conversa deitada fora ao longo das férias, mesmo depois de ameaças severas, chegou à escola e continuou com a sua politica da terra queimada. Benza-a Deus!O pai ainda lhe disse, ó filha mas porque é que não disseste nada?, ao que ela respondeu muito enxuta "podia ter-te dito ontem, mas ainda só tinha 4!"

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Eu sou



O facto de falar em preconceito, por si só estabelece desde logo a existência de um.
Por vezes até o simples facto de uma pessoa passar a vida em bicos de pés e braço no ar, a apregoar a sua abertura a isto àquilo e ainda ao outro é também um traço bem definido de se ser preconceituoso, a ver "tás a ver eu não tenho preconceitos com pretos racista de merda!", ou ainda "eu sou a favor dos paneleiros!".
Eu, sendo Alentejana de gema(e clara e casca já agora)carrego o estigma da sesta desde o dia em que nasci. Mesmo que em qu..coiso anos de vida eu não tenha dormido mais que uma ou duas putas de sestas! Eu e muitos alentejanos. Depois são as anedotas, em que quase sempre o alentejano estúpido vai à cidade e acaba a ser literalmente "enrabado" por um qualquer iluminado alfacinha, e depois há ainda o sotaque arrastado que de lés a lés move multidões na hora de uma imitaçãozinha.
Posto isto, sim senhora eu também sou uma rapariga preconceituosa! Tenho cá as minhas convicções. Quando me sinto enganada não êxito num "cambada de ciganos!", não resisto aos maravilhosos epítetos que a língua portuguesa nos disponibiliza, tipo panelêro (já traduzido pra alentejano), cegueta (este mais vocacionado para a condução), cabrão, ou o redundante puta dum cabrão, etc.
Todas estas pérolas trazem em si a etiqueta de um certo preconceito. Mesmo que ditos da boca pra fora (outra redundância), estes conceitos estão por demais enraizados e são assim uma espécie de pecado original, a malta está sempre a cair.
Se somos todos diferentes? Sim! Se vamos continuar a fazer piadas uns com os outros? Sim, pelo menos até esta bola azul se aguentar à bronca.
A verdade é esta, nunca sejas o primeiro a sair de um almoço de amigos. Nem o segundo, já agora. A misericórdia não diminui até seres o último, e aí sim podes sair descansado que ninguém vai ficar a falar de ti, da saia horrorosa que trazias, do perfume insuportável, de como te estavas a tirar ao marido da amiga do lado, de como as tuas mamas estão subitamente maiores, de como a tua prima anda metida com o preto que joga à bola, de como o teu namorado é tão excessivamente expressivo a falar, de como a tua mãe andou com os tipos todos no tempo dela, e o teu avô que enriqueceu à custa dos espanhóis foragidos, e essa mania de cantarolares à mesa, e...
Alguém disse, não faço ideia quem, "se não os podes vencer, junta-te a eles."



 

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