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2011-03-04

Memórias de uma Instruenda


«Contacto-vos a partir da esplanada do John David's de Cascais (virou um verdadeiro Peter's). É Domingo, dia 14 de Agosto de 2005, estão 40º, estou a beber uma Coca-Cola e a ouvir reggae muçulmano (?!), e escrevo-vos para vos contar o meu dia de hoje.

Desembarcámos na Terça-feira, não foi? Pois bem, só anteontem deixei de ouvir o gerador e de sentir a terra a abanar. Do aeroporto fui a correr a uma tasca com o Henrique (que vos manda saudades). No dia seguinte fartei-me de "trabalhar": fiz a Lista provisória, enviarei brevemente a definitiva. Na Quinta-feira pintei um quadro (ou seja, estraguei uma tela), uma praia e uns peixes, no meio do céu e do mar Azul (a minha máquina fotográfica acaba de ficar sem bateria, enviarei noutro dia), mas já me aconselharam a fazer um curso de pintura. Na Sexta-feira bati umas bolas e fui para a piscina. No Sábado tive uma almoçarada. Todas as noites tenho ido jantar às Festas do Mar de Cascais (sardinhadas, shots de ginginha em «chocolate cup», churritos e concertos a toda a hora), porque fundeados apenas não chega e já bastou estar na Horta a ver navios.

E hoje... embarquei numa canoa do Tejo genuína (chamada «Canastrinha», de 1887), oriunda da Moita, e participei numa regata simpática de canoas do Tejo genuínas que largou da Marina (algo penosa, pelo calor e pela falta de vento). Acabámos por ter de ser rebocados no final (pela «Lili Caneças» da Moita e pela «Boneca» de Cascais), porque o motor de 8 cavalos falhou!!! (onde é que já vi este filme?...) Mas vimos golfinhos, centenas de peixes, gaivotas, alforrecas e... MERGULHADORES! Imensos!!! Em frente à Boca do Inferno e no Cabo Raso! AMIGOS, venham mergulhar em Cascais! Ofereço-vos um serviço de proeira completo, com direito a cafézinho e a travesseiros e tudo!

As Festas terminam amanhã... com um fantástico concerto da Vanda Stuart e do Sérgio da Operação Triunfo e, à meia noite, haverá FOGO DE ARTIFÍCIO!!!

Agora está a haver uma largada de toiros na Praia dos Pescadores. Na Terça-feira, iniciarei as minhas deslocações diárias a Lisboa... a ver o Mar... O registo está bem assim?

Guardamos tantas recordações desta «Expedição», como as deveremos registar no Diário, Chefa? Por dia? Por quarto? Por mastro? Por pessoa? Por zona do navio?

Por dia: Segunda-feira, dia 8 de Agosto de 2005: estamos fundeados em frente à Horta, vê-se ao longe as barraquinhas das Festas do Mar, iluminadas pelo Sol, cheira a maresia, cheira a Verão, está-se tão bem no Mastro da Bujarrona (ninguém ainda reparou que estou na rede), mas obrigam-nos a ir a terra. Que maçada. Temos duas horas, duas horas apenas para mostrarmos o que valemos. Saltamos para as semi-rígidas, entediados. Por favor, despachem lá isso mas é, que temos uma festa Mémé a bordo às 18h00. Desembarcamos no pontão da Marina, subimos a correr as escadinhas que dão para a marginal, atravessamos e entramos no Peter's... que sensação. Sete gins depois, é hora de regressar, para nos arranjarmos para a festa. Foi um pouco estranho o regresso, porque as escadinhas de portaló não paravam quietas, aliás tinham-nos posto DUAS escadas... Às 04h43 da manhã do dia seguinte alguém continuava com sede.

Por quarto: aquele que fiz SOZINHA, das 04h00 às 08h00. Que maravilha, que tranquilidade, que sossego. Os meus chefiados eram altamente especializados e tinham palestras para preparar e fotoplâncton e dinoflagelados para recolher (o Reggae muçulmano acaba de passar a Reggae brasileiro: «Rasta no pé, corpo na canção, toca a Radiola, essa Maguinha é um furacão!» «Rita Ambrozina e Maria das Dores, de São Paulo, de Nova York e ainda dos AÇORES!!!»)

Por mastro: o Grande, como só podia ser! Nada como carregar o pano do alto da casota do Grande!

Por pessoa: preciso de trinta dias, dois deles só para o nosso Director de Treino.

Por zona do navio: o meu esconderijo, nas traseiras da casota da Mezena. A olhar a Bandeira de Portugal, a água num turbilhão, os pés no moitão, sentada na arca de madeira, a alma à deriva.

Um abraço a todos, um beijinho à Chefa,

Raquel I-13

Chefe do Grupo 3»

2010-05-29

CREOULA - A Magia do Navio

Cada embarque no CREOULA é único. Se o primeiro nos marca para o resto da vida, o mais recente cria-nos um desejo inexplicável e irresistível de não mais regressarmos a terra e ficarmos escondidos no paiol do pano até virmos a ser descobertos por algum marinheiro que nos terá de denunciar. Se nunca visitou o CREOULA nem nele embarcou, prepare-se. Este navio tem ALMA, tem VIDA, tem uma MAGIA que é difícil explicar e correrá o risco de nunca mais dele querer desembarcar.
Em 21 de Maio de 1988 embarquei pela primeira vez de muitas mais, num mini-cruzeiro às Berlengas. Em 21 de Maio de 2010 tive o privilégio de o poder celebrar a bordo. E de renovar os meus votos de nunca deixar de o celebrar e de o divulgar e à sua história de Mar e de Heróis Marinheiros que nele se faziam à Faina Maior, obrigação por respeito a quem dele fazia o seu modo de vida e de sustento da Família em seis meses de embarque em situações difíceis e algumas das vezes com consequências trágicas. Por admiração também por esses Heróis do Mar cuja história nos ensina que na Vida temos de aprender a viver em sociedade e a respeitarmo-nos no dia-a-dia, sobretudo em condições precárias. Respeitar o próximo, ajudá-lo, cumprir as nossas obrigações e saber ser humilde e pedir ajuda quando estamos com dificuldades em cumpri-las, para que se leve o navio a bom porto. E perceber que, se não cumprirmos as nossas obrigações, poderemos prejudicar os outros e o sucesso da missão, qualquer que seja. Essa é a verdadeira lição do CREOULA, que a Marinha de Guerra Portuguesa tão bem tem preservado como autêntica ESCOLA DE VIDA.
Vinte e dois anos depois a magia mantém-se. Acrescida do alívio de ver este navio tão bem entregue a um Comando de uma competência, firmeza e honradez raras e a uma Guarnição liderada por um Mestre de Alma Grande e Coração de Oiro. Que Deus os guarde e os acompanhe sempre e lhes dê força e coragem para esta tão importante missão. E que ilumine todos os Portugueses e lhes ensine a importância do Mar e dos Navios Portugueses como fonte de inspiração para se ultrapassar todas as crises se, todos juntos, trabalharmos como um só. VIVA O CREOULA!
Fotografia e texto de Raquel Sabino Pereira - 2010

2008-06-07

CREOULA e SAGRES a navegar


De acordo com a Agência LUSA, o Navio de Treino de Mar CREOULA saiu ontem da base naval do Alfeite e regressa ao mesmo sítio no próximo dia 15 de Junho. Mais informações no Blogue do [Creoula na Imprensa].

Quanto ao Navio-Escola SAGRES, um dos mais belos veleiros do Mundo, vai já a caminho de Viana do Castelo (está neste momento ao largo da Praia de Santa Cruz, Torres Vedras), para participar nas Cerimónias Comemorativas do dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (10 de Junho), seguindo depois para uma grande viagem de cinco meses a África.

Texto de Raquel Sabino Pereira e fotografia de Sérgio Ferreira, gentilmente cedida. Direitos reservados (copyright)

2008-01-14

«Postal do Creoula»

(A saudosa «Espuma», a anterior mascote do CREOULA)


Este hino ao Creoula, da autoria do instruendo Bernardo Pinto, ilustra bem a vida a bordo...

«Querida mãe, querido pai, então que tal?
Nós navegamos do jeito que Deus quer
Entre os dias que sopram, menos mal
Lá vem uma faina que nos dá que fazer

Neste barco nunca está tudo feito
A guarnição quer tudo no lugar
Se não há uns quantos cabos para colher
Chamam-se todos ao convés baldear

Quando há faina, isso é uma alegria
Luvas nas mãos para as velinhas içar
Bujarrona, traquete ou mezena
Que ainda por cima depois temos de arrear

O balançar é uma constante da vida
Neste pequeno mundo giratório
Para a alma mais sensível está prevista
Uma revigorante ida ao gregório!

Mas falemos de coisas bem piores,
Logo cedo pela manhã faz-se faxina
Amarelos, sanitas e corredores
Uma vez lá já não há saída

Que me havia de sair esta encomenda,
Não sabia quando dei a inscrição
Esta cena é dura a valer
Com cruzeiro tem pouca comparação

Há marujos na Marinha bem tramados
Inventam mil coisas para fazer
Quando julgávamos estar dispensados
Arranjam serviço para nos entreter

Mas nem tudo é desgraça neste mar
A Madeira foi boa de se ver,
Porto Santo isso foi só bronzear
Lá só nos deram sandezinhas para comer

À noite olhar o céu estrelado e
Esperar para ver o nascer do Sol
No Oceano somos o centro do Mundo
A sensação que dá para enganar o briol

O melhor mesmo foi toda esta gente
Que aqui acabou por se conhecer
Muitos amigos vão ficar desta viagem
Onde os fizemos nunca vamos esquecer

Visitadas as Desertas, Embarcar!
Toca a virar proa a Lisboa
Contamos em poucos dias lá chegar
Se a corrente não nos levar até Goa

Já não tenho mais queixinhas para fazer
Cumprimentos ao nosso pessoal
E no final de contas vamos ver
Se o Creoula não me vem a ser fatal.

E no final de contas vamos ver
Se o Creoula não me vem a ser fatal


Bernardo Pinto
Instruendo nº 24
26 de Julho 2000

In «Diário de Bordo da Viagem do Creoula à Madeira, de 19 a 31 de Julho de 2000», de Raquel Sabino Pereira (por comunicação via rádio a partir do CREOULA).


Texto e fotografias de Raquel Sabino Pereira. Direitos reservados (copyright)

2007-07-17

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS»

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: pfi pfi pfiiiiiiii!!!! Alvorada! Alvorada!!». Sete da manhã, bato com as pernas na antepara e com a cabeça no armário, é sempre assim, não há nada a fazer, salto da boxe n.º 17, quase me estatelo para não pisar a Sofia, corro atrás da Teresa, o Henrique continua na Biblioteca, entro no chuveiro, abro a torneira da água fria no máximo, acordo finalmente, cantamos «The Phantom of the Opera», entra a Regina em estado de choque matinal, corro para a camarata, cruzo-me com o Pedro G. de escova de dentes na boca e com a Rita a bocejar, acordo a Bela, fujo dela, visto-me, calço-me e corro para ver o Sol! «Bom dia Atlântico!!!». São 07h30, desço para o refeitório, «Bom dia Martins!! Podes dar-me os meus iogurtes?...», hoje há fiambre e salsichas e ovos mexidos, que maravilha! Tudo misturado, um expresso bem tirado, os bons dias distribuídos e já são quase 08h30, o tempo foge a correr, mas o Pedro C. ainda está a preparar uma tosta para a Regina, fumo um cigarro com a Bela a meio-navio, desculpa-me por a ter acordado assim tão abruptamente.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: Formatura para limpezas! Formatura para limpezas!» Que imagem belíssima, três grupos perfilados. Chega o Nuno, a serenidade em pessoa, com um sorriso de orelha a orelha, calções azuis, ténis impecavelmente brancos e uma t-shirt exclusiva que nos deixa logo bem dispostos para o resto do dia. Chega o Imediato e a Doutora Mafalda. «Seeeeeentido!» (errrrt) «À vontade!...» O Mestre divide-nos por grupos, uns para as camaratas, outros para baldeações, outros para os amarelos. E lá seguimos… é bom limpar amarelos, temos uns minutos só para nós, para pensar na vida, em como é bom estar ao ar livre, descalços, com as mãos cheias de coração, cabelos ao vento, logo pela manhã, livres, no meio do Atlântico Azul… sem ser fechados numa sala com telefones, computadores e ares-condicionados, no meio dos papéis…

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: Volta às limpezas!». As mãos negras, mas a cabeça limpa, pensamentos arrumados, etiquetados, uns para arquivo, outros para destruir. Uma pausa para fixar o Mar. Entrar pelo mar dentro. Dar um mergulho em pensamento, olhar para o céu, regressar à Infância, onde há tempo para brincar e espaço para existir, espaço infinito, onde cheira a flores e a Primavera, onde podemos coexistir, sentir e rir à vontade, sem nos etiquetarem. Uma cagarra perdida no meio deste mar imenso sobrevoa-nos, acompanha-nos durante meia hora, e segue viagem, provavelmente rumo à Madeira. Agradeço a Deus por mais um empréstimo concedido. Passo pela cozinha, sou recebida com um sorriso e ar de missão cumprida pelo Jorge, pelo Romão e pelo Lázaro. Cruzo-me com o Oliveira e com o Santos a caminho da popa, o Orlando fuma tranquilamente a Estibordo. Passo pelo incansável Marco, que me sorri e encolhe os ombros ao soar o PSSSSSSSSCCHHHHHHHHHHHH de mais uma garrafa.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: o almoço vai ser servido!». Uma sopa de grão, um bife carregado de batatas fritas e lá se vai a dieta, uma maçã golden, mais um expresso bem tirado e um refeitório cheio de alegria e de boa disposição. Como se fôssemos uma Família imensa, cheia de irmãos e de irmãs, de primos e de primas, todos à mesa, em alegre repasto. O Miguel seria, sem dúvida, o meu irmão mais novo. O Sérgio, o meu irmão mais velho. A Teresa, a minha irmã do meio. O Eduardo o meu primo direito de Itália. O Ricardo, o meu primo de Cascais. Arrastamo-nos escada acima, o L.A. está à cunha, vem-me à memória a Espuminha deitada ao cimo da escada a pedir-me uma fatia de queijo e todos a darem-lhe festinhas… A digestão faz-se a meio-navio, impensável encostar às boxes, está uma tarde tão serena, todos convivem tranquilamente. O Director de Treino conspira com o Director de Treino Adjunto, não nos devem querer deixar dormir a sesta… «Há que os manter acordados!...» Sentido de humor apurado, deixa escapar meia dúzia de piadas com ar de quem está a comentar os resultados do Dow Jones.

«CREOULA GUARNIÇÃO: Marinheiro M Correia à ponte!». Bom presságio, vão abrir a arca dos gelados. O Chico sossegado, sentado na prancha das malaguetas do Contra-Traquete, com o seu panamá de pano e debruçado sobre a borda, na revisão final para o teste escrito de mergulho, o vento a embalá-lo.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: A arca dos gelados vai abrir!». É a debandada geral!... Não resisto e devoro um corneto de chocolate seguido de um calipso de morango. O José Luís González passa à frente do Steve e do António e explica-lhes a Inutilidade do Sofrimento. O Director de Treino oferece-me mais um gelado. Tenho uma overdose de açúcar. As eco-beas passam a servir de caixote do lixo para os papéis dos gelados. O Engenheiro Afonso, o Tenente Ventura e o Ricardo Granja já vão no terceiro corneto.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS, vai dar-se início dentro de momentos a uma Palestra sobre Modelos da Porsche dos anos 60, pela instruenda Raquel. Todos os interessados deverão comparecer a meio-navio»… Acordo sobressaltada e com suores frios, tinha adormecido, caíram-me mal os gelados, vai iniciar-se, isso sim, uma aula de Kizomba, ministrada pela Maria. A Mavisa salta prontamente para o pé dela, eu acompanho-a, um-dois-três, um, um-dois-três, um, não consigo seguir todos os passos, o navio baloiça imenso, está tudo a gozar.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: baleias a bombordo! Baleias a bombordo!» Mando um berro ao Luís Quinta, o nosso Homem da National Geographic do alto das escadas da casota do Grande: «Acooooordaaa!!! Baleias a Bomboooordo!!!!» e lá vem o Luís, a correr escada acima, quase tropeça, máquinas fotográficas e o-rings gigantescos ao pescoço, seguido pelo Chico Dias, com ar de quem dormia profundamente na biblioteca.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: o lanche vai ser servido.» Mas será possível que não façamos mais nada senão comer?! «Isabel, podias dar-nos uma aula de ginástica… pleeeeeease…», a melhor aula de ginástica que já tive em toda a minha vida e me provocou pela primeira vez à séria dores no que serão os abdominais superiores. E bato o record da desgraça dietética: vinte fatias de pão com manteiga e marmelada e trinta bolachinhas de água e sal com manteiga e doce de tomate, que reparto com o Francisco Bello, empurradas por uma malga de chá com leite.

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS, vai dar-se início dentro de momentos a uma sessão de educação física. Todos os interessados deverão comparecer a meio-navio». Começamos a caminhar lentamente, a mover os braços e a rodar os pulsos, para passarmos a correr, barriga encolhida, joelhos para cima, enquanto a Isabel conta até cem, desaceleramos, deitamo-nos no convés, fazemos duríssimas séries de abdominais e de flexões, dói imenso, há que manter a calma, surgem golfinhos a Estibordo mas é impossível parar, à excepção do Steve, que não resiste e se arrasta até à borda para os cumprimentar, falha uma série de abdominais, mas continua, com ar gazeado, o Nuno e a Regina à minha frente aguentam firme mas riem-se que nem uns perdidos, a Mavisa com ar de quem está a beber um copo de água mantém a calma, o Enfermeiro Luís Pereira com ar de quem lhe está a faltar… o ar, mantém a compostura, a Teresa tira-nos fotografias com um sorriso no olhar, enquanto o Gomes Pedro, encostado aos dóris, se questiona sobre o que nos terá dado, se teremos ensandecido de vez… Fazemos os alongamentos finais e terminamos com ar radiante, até que o José Touraes tem a lucidez de nos dar uma aula de Primeiros Socorros…

«CREOULA GUARNIÇÃO E INSTRUENDOS: o jantar vai ser servido». Há que repor energias, arroz de marisco e sopinha de massa, parece que voltei ao colégio, o Óscar está de faxina, a Paula esteve de rancheira, que bom que é ser Chefe de Grupo, e mais um expresso bem tirado. Momentos depois canta-se os Parabéns a meio navio e o Senhor Comandante presenteia todos com momentos inesquecíveis de Bossa Nova no violão e alegria no coração.
Cai uma chuva de estrelas. Refugio-me no esconderijo, sentada na arca de madeira nas traseiras da casota da Mezena, a água num turbilhão, os pés no moitão, a alma à deriva. Penso como é bom carregar o pano do alto da casota do Grande e agradeço ao David por me ter permitido participar nesta fantástica Aventura!»
Texto de Raquel Sabino Pereira, inicialmente divulgado no blogue [Atlântico Azul]. Direitos reservados (copyright).