Falta de eficácia e algumas
exibições individuais pouco conseguidas. Têm sido estas as explicações para o
percurso da seleção no Euro. Um conjunto de justificações conjunturais que servem
para ocultar causas estruturais.
Talvez valha a pena recordar que
Portugal integra um grupo que, numa fase final de um Euro, nem por encomenda.
Islândia, Áustria e Hungria são seleções sofríveis. Acima de tudo, não é
possível anunciar que Portugal é candidato à vitória e justificar empates
contra estas equipas com azar e falta de eficácia. O problema começou mesmo nas
expectativas: nem a seleção nacional é tão má como tem parecido, nem é tão boa
como se quis fazer crer.
A meio caminho entre o que se tem
visto e as expectativas criadas, está uma equipa com qualidade, mas que tem debilidades
e não são de hoje. Com um jogador extraordinário e sem ajudantes à altura, a
seleção portuguesa vive com desequilíbrios e parece jogar melhor contra equipas
mais fortes.
Ronaldo é a mais valia e, paradoxalmente,
um problema para a seleção. Sendo um portento na finalização, está longe de ser
um jogador de topo na percepção coletiva do futebol e na capacidade de envolver
os colegas no seu jogo. Por isso mesmo, rende mais quando não é referência
atacante e tem ao seu lado um “poste” que o liberte. Ronaldo joga sozinho e quando
tem uma equipa que o ajuda, é fantástico. Quando não é assim, sobra um jogador
egocêntrico e preso na sua ambição – o marcador caricato de livres é o
paradigma disto mesmo.
Hoje, como já aconteceu, Ronaldo
pode ganhar o jogo sozinho. A questão é que dificilmente se vence um Euro com
este modelo de jogo.
publicado no Record de 22 de Junho