A esquina da praça em qualquer cidade do planeta é ponto de referência e encontros...Escuto isto do meu colega João Garcia, e tenho pensamentos do meu tempo de guri, lá pelos meados de 78, quando vendia bijuterias na Borges de Medeiros, em frente ao Café Mateus, próximo ao cinema avenida, que naquela época ficava na esquina da Salgado Filho. Nos finais de tarde, sempre aparecia os “capas pretas”, discutiam, faziam gestos e partiam, mas voltavam no dia seguinte sempre nos finais de tarde. Eu nunca entendia sobre o que falavam.
O Garcia discursava sobre as esquinas no mundo, e relatou que em 1982, quando esteve em Moscou, uma senhora gorda e corada, falava ao megafone anunciando as ofertas no Armazém Geral, um modelo superado do shopping comunista russo. Era a esquina da Praça Vermelha. No mesmo ano em Estocolmo, parou na esquina da praça para tomar um táxi, que o levaria da estação de trens ao hotel. Em Lima, quatro edifícios de poucos andares, antigos, no centro da capital peruana, formam esquina com a Praça dos Trabalhadores, a Primeiro de Maio. Ali, aconteciam e acontecem os comícios mais quentes do Peru.
As mais lindas mulheres do mundo passam pela esquina da praça em Copacabana, rumo a praia. É na esquina da praça da Augusta em São Paulo que ficam os rapazes a espera do trotoir das moças. Na esquina do Central Park, na esquina da Praça de São Pedro. Na esquina... Enfim, o Mundo passa na esquina da praça.
Parei para analisar sua tese, e sou obrigado a concordar, que realmente muita coisa acontece nas esquinas, pena que nunca percebemos o que ali acontece, nem o que ali é dito, nem o que ali é feito, e nem quem anda por estas esquinas. Nas esquinas dos grandes centros, sempre ocorrem encontros, discussões políticas, combinações e outras coisas mais. Mas nas esquinas de nossas vilas, os maiores movimentos são de desocupados, desempregados e viciados, e nós continuamos a não prestar atenção ao que ocorre ali.
O João narra um pouco de sua infância, dizendo que não é diferente nas pequenas cidades. Pois, era na esquina da praça do Arroio Grande que ia ver o cartaz do filme que o Marabá iria passar no dia e no final de semana. Era ali, que ouvia o João Baixinho dar discursos contra as autoridades, curtindo uma bebedeira de convescote. Na esquina da praça ficava esperando as gurias passarem para ver se tinha alguma chance. Na esquina da praça combinava a galinhada e as serenatas. Galinhada de galinha roubada, e serenata com os seus colegas.
Escuto esta história, narrada com saudosismo, quando vem o comentário que foi lá no distante 1971, quando disse aos amigos que ia para a Escola Técnica em Pelotas e de onde nunca mais voltaria. Pois foi conhecer outras esquinas do Mundo, mas que nunca esquecera da esquina de sua cidade, e que voltaria para reencontrar com os antigos amigos na Esquina da Praça.
Nas esquinas de hoje, já não existe mais esta inocência, pelo contrário, muitos evitam as esquinas, pois é ali que pode ocorrer o assalto, é ali que os nossos “pequenos” podem ser abordados e apresentados para as drogas.
Sabe, gostaria de poder passar algum tempo, na esquina da praça, gostaria de fazer amizades, discutir pontos de vista a respeito da minha cidade, mas não consigo acreditar que isto seja possível, hoje as discussões sobre pontos de vista e questões políticas, não são mais debatidas nas esquinas e nem nas praças, mas sim na calada da noite e nos gabinetes, os maus políticos venceram e conseguiram fazer com que as pessoas de bem, perdessem o interesse pelas discussões nas esquinas e nas praças.
Espero poder um dia ver que tudo aquilo que faço possa dar um fruto, e espero seja dos bons, porque o trabalho é desgastante, e garanto a quem interessar que não desistirei dos meus ideais, pois espero num futuro bem distante, também relatar para um Kadu da vida as histórias sobre as esquinas do mundo.
Kadú Schwartzhaupt