Na primeira década de 1900, o nome de Jules Verne continuava a ser um notável fenómeno de popularidade, consolidada por uma longa carreira literária já com mais de quarenta anos. O papel de criador do romance de antecipação científica que a fortuna lhe consagrou tornava-o um dos nomes incontornáveis num início de século perdidamente apaixonado pelo progresso tecnológico, em que, pensava-se então, o futuro seria sempre radioso e brilhante graças à confiança ilimitada nos auspícios prodigiosos da ciência. 1914 colocou um fim definitivo a essa confiança e foi o fim de uma época a que, retrospectivamente, se deu o nome de Belle Époque.
No Portugal de 1900, Verne era, também, um autor extremamente popular, malgrado alguma intermitência na publicação das suas obras por estes anos (algumas delas continuam ainda hoje inéditas entre nós e outras surgiram muitas décadas mais tarde). Contudo, se não se publicava tudo o que Verne escrevia, pelo menos publicava-se o que ele... nunca escreveu.
Em Portugal, pelo menos uma vez, Verne (seguramente sem o saber) teve um escritor fantasma que deu à estampa um texto publicado em seu nome e que inaugurou o primeiro número do Magazine Bertrand, propriedade da casa editorial responsável pela divulgação da sua obra a partir de 1913, a Livraria Bertrand.
Corria o ano de 1905 e a Livraria Bertrand associava ao seu Almanaque (publicado desde 1900) o Magazine na lista das suas publicações periódicas. Ao contrário do primeiro, que só terminou em 1971 e foi retomado já este século, o Magazine Bertrand não conheceu a mesma regularidade temporal. Teve uma edição quinzenal entre 1905 e 1910 (não sendo publicado em 1908 e 1909) e voltou mensalmente às bancas entre 1926 e 1933. Em Dezembro deste ano, no último número vindo a lume, a Bertrand anunciava o fim temporário (mas que seria definitivo) do Magazine porque o tipo de papel utilizado, o papel couché, não era fabricado em Portugal e a sua importação era demasiado cara, tornando inviável a continuação deste projecto editorial.
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