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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Há 130 anos J. Verne voltou a Portugal

No dia 22 de Maio de 1884, há precisamente 130 anos, Verne volta a Portugal, depois de nos ter visitado em 1878, num cruzeiro que o levaria a Roma onde foi recebido pelo papa Leão XIII. Desta vez, em resultado de uma avaria no motor, o Saint-Michel III demora-se em Vigo e chega a Lisboa às 15h depois de ter passado pelo Cabo da Roca e pelo forte São Julião da Barra, onde registou no diário as suas observações.


Saint-Michel III

Já em terra, alugando um veículo e pago 1000 reis, deslocou-se ao consulado, onde tratou com Sr. Salva (cônsul), de assuntos referentes à sua viagem. Voltou ao seu iate, por voltas das 18.30 horas, onde jantou. Após, aproveitou para visitar a Corveta-Couraçada “Vasco da Gama” (antes da reconversão para cruzador em 1900) e o Transportador “África” lá atracados. Voltou ao seu iate para pernoitar.

No dia seguinte, levantou-se às 5.30 devido à grande agitação no porto. Partiam, para navegar a montante, pequenos barcos com grandes e inclinados mastros e altas velas.
Aproveitou a manhã para percorrer as largas ruas de Lisboa e visitar a praça Dom Pedro IV (Rossio), como também David Corazzi no seu escritório. Agora na companhia de Corazzi, foi à “Loja do Pinto” e comprou 4 toneladas de carvão e 50 litros de óleo para o seu Saint Michel.

Em seguida, dirigiram-se aos correios onde se encontrava uma carta de Honorine, sua mulher.
Voltaram a bordo do iate às 13h para almoçar lagosta e às 14h decidiram ir visitar o amigo e banqueiro Jorge O’Neill a sua casa. Conversaram e contaram histórias durante algumas horas.
Ao final da tarde, e por convite de David Corazzi, aproveitou para se encontrar de novo com Manuel Pinheiro Chagas (na altura Ministro e Secretário de Estado da Marinha) e com os escritores Salomão Saragga e Ramalho Ortigão. Este encontro foi no Hotel Braganza, no nº45 da Rua Vítor Cordon (antiga Rua do Ferragial de Cima), em Lisboa, célebre por ser também um ponto de encontro do grupo "Os Vencidos da Vida".

Hotel Braganza, no nº45 da Rua Vítor Cordon, que tive o prazer de visitar

Ramalho Ortigão fez saber a Verne que Eça de Queiroz (1845-1900), uma figura do maior prestígio nas letras portuguesas, no seu célebre romance "O Mandarim" teria feito a descrição da cidade de Pequim, e da China, baseando-se em elementos colhidos da leitura de “As Atribulações de um chinês na China". Outro conviva foi o célebre pintor Columbano Bordalo Pinheiro, que lhe ofereceu, um esplêndido prato de louça das Caldas da Rainha, representando um lagarto e outros animais. Esta curta estadia inspirou Rafael Bordalo Pinheiro que, no seu famoso e mordaz jornal "António Maria" do dia 29 de Maio, apresentou a caricatura de Júlio Verne ao tamanho da página, acompanhada do seguinte texto:

Página do "António Maria" de 29 de Maio de 1884. (clique para ver o original)

"Júlio Verne o ilustre escriptor francêz, chegou a Lisboa, jantou com David Corazzi e com outros convidados d'aquelle editor, entre elles este seu creado e foi-se. Só andando com esta pressa, póde fazer viagens à Lua no tempo que qualquer gasta em ir à Porcalhota (antigo nome da Amadora) comer coelho guisado. Que tanto elle como seu irmão Paul, façam boa viagem aos antípodas em 1 hora e ¾ e que se voltarem a Lisboa se demorem mais um bocadinho para lhe mostrarmos o jardim da Europa à beira mar plantado."

Após o jantar foram todos ao teatro e por volta das 23.30h Verne despediu-se e voltou ao seu iate onde pernoitou pela segunda vez. Como curiosidade, precisamente um anos depois do seu regresso a Portugal, o seu amigo Victor Hugo viria a falecer.

Às 6h da manhã de sábado, dia 24 de Maio, o céu estava muito nublado e o Tejo lotado de embarcações. Porém, o mar estava maravilhoso tendo sido possível atingir os 9,5 nós no seu Saint-Michel III rumo a Gibraltar.

Infelizmente Verne não tornou a voltar ao nosso país por motivos de saúde.
Para além do já citado "António Maria", outros jornais, como o "Diário de Notícias" e "Diário da Manhã" (dirigido por Pinheiro Chagas) apresentaram, no dia 24 de Maio, notícias acerca desta segunda visita de Verne ao nosso país:

"Está novamente em Lisboa este célebre romancista. Chegou ante-hontem ao Tejo no seu bello yacht a vapor, St Michel, vindo de Nantes em oito dias, tendo arribado em Vigo por ter a machina do navio soffrido uma pequena avaria."
"Passou hontem o dia em Lisboa este illustre escriptor. Chegou ante-hontem no seu yacht Saint-Michel. Às 9 horas desembarcou e foi ter com David Corazzi. Às 6 horas foram jantar cremos ao hotel Braganza, assistindo á refeição o sr. ministro da marinha (Salomão Saragga). Verne esteve fallando muito tempo com o sr. Jorge O'Neill (amigo e anfitrião de Hans Christian Andersen) e ficou tão encantado com esse cavalheiro que tenciona descrevel-o n'um dos romances que vai escrever. Julio Verne parte esta madrugada para Oran."
Informação cedida por Pedro O'Neill.

No dia seguinte, 25 de Maio, o "Diário de Notícias" e "O Século" apresentaram as notícias a seguir citadas:

"Partiu hontem de madrugada, no seu yacht St. Michel para Oran, o romancista Julio Verne. Foi-lhe offerecido na vespera um jantar no Hotel Braganza, e um dos convivas, o sr. Rafael Bordalo Pinheiro, deu-lhe um esplêndido prato de louça das Caldas, representando um lagarto e outros animaes."

"Chegou a Lisboa na quarta-feira às 9 horas da noite, arribado, por causa do mau tempo, o notavel romancista Julio Verne. Hontem foi-lhe offerecido pelo sympathico editor David Corazzi um jantar a que assistiram muitos homens de letras. Às 9 horas devia ter partido o notavel escriptor. Saudamos o illustre escriptor."

Apesar das duas visitas, as duas únicas referências a Portugal nas dezenas de livros de Verne são lugares-comuns.

Primeiro, o escritor criou uma personagem portuguesa, "pouco simpática" segundo Margot: um marinheiro, como seria de esperar. E deixou que uma outra personagem falasse d'Os Lusíadas como uma obra da literatura espanhola, jogando com o lugar-comum da rivalidade cultural luso-castelhana. Estes episódios foram contados pelo verniano suíço Jean-Michel Margot, presidente da "North American Jules Verne Society", numa conferência no Instituto Franco-Português, em Lisboa.

Em época de datas redondas, Margot aproveitou para contar um episódio original do comemorativismo português, ocorrido em 1923. Nesse ano, antecipando-se cinco anos à data correcta, a Sociedade de Geografia comemorou em Lisboa os 100 anos do nascimento de Júlio Verne. Entre os oradores, contou, terá estado o aviador português Gago Coutinho.
Hoje, o orador Margot assume uma mensagem contracorrente:

"Dizer que (Verne) previu, que foi um visionário... deixem-no ser um escritor: foi um dos melhores do século XIX."

Notas:
-nas notícias de jornal foi mantida a grafia original.
-este mesmo texto encontra-se também no site JVernePt.
-para a elaboração deste texto foi fundamental a visita a várias bibliotecas nacionais, a visita ao
Hotel Braganza (Lisboa), a compra de livros franceses aquando da minha visita à Maison Jules Verne (Amiens) e a cedência de informações do diário de J. Verne (este encontra-se na Biblioteca de Amiens numa zona com acesso restrito) por vernianos de grande renome que pediram o anonimato. Por estes motivos, é expressamente proibido a cópia parcial ou integral deste artigo sem se citar o autor do texto, Frederico Jácome, e o Blog JVernePt (www.jvernept.blogspot.com).
-o meu obrigado a Pedro O'Neill pela cedência de algumas cópias dos jornais da época obtidas pelas suas constantes visitas a bibliotecas da sua cidade.

domingo, 22 de julho de 2012

O Nautilus de Júlio Verne e as terras da lusofonia

Viagem do Nautilus
O submarino Nautilus das Vinte Mil Léguas Submarinas de Júlio Verne, percorre os oceanos e as costas dos continentes, numa longa viagem que muitos de nós já tivemos oportunidade de acompanhar, pela leitura do famoso livro.
Para mim, com doze anos, foi a descoberta daquilo a que se chama de ficção científica. O pensamento ficcional de antecipação de Júlio Verne, lançar-me-ia depois em viagens ainda mais fantásticas, com Heinlein, Asimov e companhia. Toda a minha vida tenho sido um apaixonado pela ficção científica, e por esse fato muito responsabilizo Júlio Verne.

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É pois com agrado, que revisito a sua leitura fácil e as aventuras dos seus personagens. No caso das Vinte Mil Léguas Submarinas, os personagens principais são quatro: O enigmático capitão Nemo, que comanda o formidável Nautilus; o professor Aronnax, francês e professor no Museu de História Natural de Paris; o jovem Conseil, criado do professor e Ned Land, canadiano e exímio arpoador de baleias.
Aronnax, Conseil e Ned Land encontravam-se no navio Abraham Lincoln, um veleiro a motor, incumbido de perseguir a terrível ameaça dos mares, que todos julgavam ser uma criatura gigante e feroz. Por infelicidade, num despique entre o Nautilus e o Abraham Lincoln, estes três passageiros caem ao mar, ficando perdidos no oceno Pacífico, próximo do Japão, sendo recolhidos a bordo do submarino.
No mapa acima, construído pelo próprio Verne, sublinhei o percurso do Nautilus e enumerei os pontos que queria salientar da viagem.

① CAÍDO AO MAR


A fragata aproximou-se sem ruído, parou a duzentas e quarenta braças do animal e pôs-se à capa. A bordo ninguém respirava. Silêncio profundo reinava no convés. Estávamos a menos de cem passos do foco ardente, cujo brilho ia crescendo e nos deslumbrava os olhos.
Nessa ocasião, encostado ao paiol do castelo da proa, via por baixo de mim Ned Land, agarrado com uma das mãos à gamarra e brandindo com a outra o seu terrível arpão. Vinte pés apenas o separavam do animal imóvel.
De repente, estendeu com força o braço e arremessou o arpão. Ouvi perfeitamente a pancada sonora do ferro que parecia ter batido em corpo duro. A luz elétrica apagou-se de súbito e duas enormes trombas de água caíram sobre a fragata, correndo como uma torrente da proa à ré, derrubando a gente e partindo as amarrações dos mastros.
Houve um abalo medonho e, atirado por cima da amurada, sem tempo para me segurar, caí ao mar.

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No Nautilus, o capitão Nemo obriga os passageiros por ele salvos a prometerem não fugir, mas dá-lhes total liberdade a bordo. Mercê de uma sala do submarino com ampla biblioteca e larga janela vidrada para o fundo do mar, o professor Aronnax fica deslumbrado pela possibilidade de muito aprender viajando dentro do submarino, observando a fauna e a flora marítima. A primeira passagem em terras de fala portuguesa, surge quando a norte da Oceânia, passam pela ilha de Timor.

② TIMOR


(...) o capitão Nemo, tendo chegado ao Mar de Timor, avistara a ilha deste nome aos 122° de longitude. Esta ilha, cuja superfície tem mil seiscentas e vinte e cinco léguas quadradas, é governada por alguns rajás, príncipes que se dizem filhos dos crocodilos, isto é, descendentes da origem mais elevada a que a criatura humana pode aspirar. É por isso que os tais antepassados escamosos enxameiam em todos os rios da ilha e são objeto de particular veneração. Protegem-nos, animam-nos, adulam-nos, sustentam-nos, oferecem--lhes raparigas para pasto, e ai do estrangeiro que ergue mão contra aqueles sacrossantos lagartos!
O Nautilus, porém, nada teve que ver com tão horríveis animais. Timor foi visível apenas um momento, ao meio-dia, enquanto o imediato fazia o ponto, e do mesmo modo vi de relance também essa pequena ilha de Rote, que faz parte do grupo, e cujas mulheres gozam de uma reputação de beleza muito apreciada nos mercados malaios.

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Como se pode ver pelo percurso marcado no mapa, o Nautilus contorna a Índia e dirige-se ao Golfo Pérsico. Os involutários passageiros Ned Land, professor Aronnax e Conseil, não sabiam para onde o Nautilus os levava. Durante a conversa mencionam Moçambique.

③ MOÇAMBIQUE


No dia seguinte, 30 de Janeiro, quando o Nautilus voltou à superfície do oceano, não se avistava terra. Navegava para nor-noroeste e dirigia-se para o mar de Oman, que corre entre a Arábia e a península indiana, onde desemboca o golfo Pérsico.
Evidentemente, não havia saída possível. Para onde nos levava, pois, o capitão Nemo? Não sabia, e o caso também não agradou muito ao canadiano, que naquele dia me perguntou para onde íamos.
— Vamos, mestre Ned, para onde nos levar a fantasia do capitão.


Submarino Nautilus [versão Disney]
— Não pode levar-nos para longe — replicou o canadiano. O golfo Pérsico não tem saída, e se lá entrarmos não tardaremos em retroceder.
— Nesse caso retrocederemos, e se, depois do golfo Pérsico, o Nautilus quiser visitar o mar Vermelho, lá está o estreito de Babel-Mândebe para passarmos.
— Não lhe dou novidade nenhuma, senhor — respondeu Ned Land, dizendo que o mar Vermelho é igualmente fechado como o golfo, visto que ainda não se rompeu o istmo de Suez, e ainda que essa obra estivesse concluída, um barco misterioso como o nosso não se arriscaria aos azares daqueles canais, onde abundam as represas. Por conseguinte, ainda não é pelo mar Vermelho que havemos de voltar à Europa.
— Eu não disse que voltaríamos à Europa.
— Que supõe então o senhor?
— Suponho que, depois de ter percorrido as curiosas paragens da Arábia e do Egito, o Nautilus percorrerá outra vez o oceano Indico, talvez pelo canal de Moçambique, ao largo das Mascarenhas, de modo que ganhemos o cabo da Boa Esperança.
— E uma vez no cabo da Boa Esperança? Perguntou o canadiano, com insistência muito pronunciada.
— Penetraremos nesse Atlântico que ainda não conhecemos. O amigo Ned parece aborrecer-se desta viagem submarina e ligar pouca ou nenhuma importância ao espetáculo incessantemente variado das maravilhas que por aqui se observam, quando eu sentiria muito que se terminasse esta viagem que bem poucos homens têm feito.

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As costas portuguesas são visitadas pelo Nautilus. Ned Land queria aproveitar para fugir.

④ PORTUGAL


Uma vez fora do estreito de Gibraltar, o Nautilus fizera-se ao largo. Voltou à superfície das ondas, e assim nos foram restituídos os passeios quotidianos na plataforma.
Subi imediatamente, acompanhado de Conseil. À distancia de doze milhas avistava-se vagamente o cabo de S. Vicente, que forma a parte sudoeste da península ibérica. Soprava sul forte. O mar estava grosso e de vagas, imprimindo balanços violentos ao Nautilus. Era quase impossível estar na plataforma, batida de contínuo por vagalhões enormes. Descemos, pois, aspirando antes algumas baforadas.
Dirigi-me ao meu quarto e Conseil recolheu-se ao seu camarim; mas o canadiano, muito preocupado, seguiu-me. A nossa rápida viagem pelo Mediterrâneo não lhe permitira pôr em execução o seu plano. e ele não era homem que dissimulasse o descontentamento.
Fechada a porta do meu quarto, sentou-se e olhou-me em silêncio.
— Amigo Ned — disse-lhe eu —, compreendo, mas o senhor não tem coisa alguma a propôr-me. Nas condições em que o Nautilus navegava, pensar em fugir seria loucura!
Ned Land não respondeu. Os lábios cerrados, as sobrancelhas encrespadas, indicavam nele a violenta obsessão de uma ideia fixa.
— Vamos — continuei eu — não há ainda motivo para desesperar. Seguimos pela costa de Portugal; não longe ficam a França, a Inglaterra, onde facilmente encontraríamos refúgio. Se o Nautilus ao sair do estreito de Gibraltar, fizesse caminho para o sul, se nos arrastasse para essas regiões onde não há países, também eu me inquietaria. Como, se vê porém, o capitão Nemo não evita os mares civilizados, e creio que dentro em poucos dias poderá o senhor proceder com alguma segurança.
Ned Land olhou-me ainda mais fixamente e, descerrando os lábios, disse:
— É para esta noite.
Ergui-me subitamente. Confesso que estava pouco preparado para aquela comunicação; queria responder, mas faltavam-me as palavras.
Neste momento um silvo bastante forte deu-me a conhecer que os reservatórios se enchiam, e o Nautilus mergulhou nas ondas do Atlântico.
Fiquei no meu quarto. Não me queria encontrar com o capitão para lhe ocultar a emoção que me dominava. Triste dia o que eu passei entre o desejo de recuperar o meu livre arbítrio e o pesar de abandonar aquele maravilhoso Nautilus deixando incompletos os meus estudos submarinos! Apartar-me assim daquele oceano, o «meu Atlântico», como eu lhe chamava, sem lhe ter observado as últimas camadas, sem ter perscrutado os segredos que os mares das Índias e o Pacífico me tinham revelado! Caía-me o romance das mãos desde o primeiro volume, interrompia-se-me o conto na parte mais interessante! Que tristes horas decorreram assim, ora vendo-me em segurança em terra com os meus companheiros, ora suspirando, a despeito da minha razão, por que qualquer circunstância imprevista obstasse à realização dos projetos de Ned Land.
Duas vezes cheguei até à sala. Queria consultar a agulha, queria ver se a direção do Nautilus nos aproximava efetivamente ou nos afastava da costa. Mas não, o Nautilus continuava nas águas portuguesas. Tinha a proa ao norte, seguindo ao longo das praias do oceano.
Tornava-se, pois, preciso tomar uma resolução e tratar de fugir. A minha bagagem não era pesada; consistia nos meus apontamentos e nada mais.

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Conjuntamente com as Canárias, Cabo Verde, Madeira e Açores são mencionados a propósito da Atlântida.

⑤ CABO VERDE, MADEIRA E AÇORES


O historiador que consignou nos seus escritos os altos feitos daqueles tempos heroicos foi o próprio Platão. O seu diálogo de Timeu e de Crítias foi, por assim dizer, traçado sob a inspiração de Sólon, poeta e legislador.
Um dia, Sólon conversava com alguns sábios velhos de Sais, cidade que já contava oitocentos anos, como o atestavam os anais gravados no muro sagrado dos templos. Um daqueles anciãos contou a história de uma outra cidade mil anos mais antiga. Esta primeira cidade ateniense, com mais de novecentos séculos, tinha sido invadida e em parte destruída pelos Atlantes. Estes povos, dizia ele, ocupavam um continente imenso, maior que a África e a Ásia juntas, que cobria uma superfície compreendida do duodécimo grau de latitude até ao quadragésimo grau norte. O seu domínio estendia-se até ao Egito. Quiseram impor-se à Grécia, mas tiveram de retirar-se ante a indomável resistência dos Helenos. Passaram-se séculos. Houve um cataclismo, inundações, terramotos. Uma noite e um dia bastaram para o aniquilamento daquela Atlântida, cujos vértices mais altos, a Madeira, os Açores, as Canárias e as ilhas de Cabo Verde, estão ainda a descoberto.

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A passagem pelo grande país que é o Brasil, não poderia deixar de ser referenciada no livro, bem como o gigante rio Amazonas.

⑥ BRASIL


Esta rapidez durou alguns dias, e a 9 de Abril, à noite, avistávamos a ponta mais oriental da América do Sul, que forma o cabo de S. Roque. O Nautilus afastou-se então de novo e foi procurar a maiores profundidades um vale submarino, que se abre entre este cabo e a Serra Leoa, na costa africana. O vale bifurca-se à altura das Antilhas e termina ao norte por uma enorme depressão de nove mil metros. Neste sítio o cone geológico do oceano figura até às Pequenas Antilhas uma penedia de seis quilómetros, talhada a pique, e nas alturas das ilhas de Cabo Verde uma outra muralha não menos considerável, que assim fecham todo o continente imerso da Atlântida. O fundo deste vale imenso é acidentado por algumas montanhas, que produzem panoramas muito pitorescos. Falo delas em virtude dos mapas manuscritos que havia na biblioteca do Nautilus, mapas devidos por certo ao punho do capitão Nemo e levantados à custa de observações pessoais.
Durante dois dias, aquelas águas desertas e profundas foram visitadas por meio dos planos inclinados. O Nautilus dava compridas guinadas diagonais, que o levavam a todas as alturas. Mas a 11 de Abril subiu subitamente e apareceu-nos terra à frente do rio Amazonas, vasto estuário, cuja corrente é tão considerável que tira o sal à água no espaço de algumas léguas.
Estava passado o equador. A vinte milhas a oeste ficavam as Guianas, terra francesa onde teríamos encontrado refúgio fácil; mas o vento soprava com bastante força e as ondas furiosas não consentiriam que uma simples canoa as afrontasse. Ned Land compreendeu-o sem dúvida, porque não me falou de coisa alguma. Pela minha parte, também não aludi aos seus projetos de fuga, por não querer levá-lo a qualquer tentativa que abortaria infalivelmente.
Assim se passaram dez dias. Só no 1º de Maio é que o Nautilus retomou com decisão a sua rota para norte, depois de ter avistado as Lucaias na confluência do canal de Bahama.
Seguíamos então a corrente do maior rio do mundo, que tem margens, temperatura e peixes especiais. Dei-lhe o nome de Gulf Stream.
É de facto um rio, que corre no meio do Atlântico, e cujas águas se não confundem com as águas oceânicas. É um rio salgado, mais salgado que o mar ambiente. A sua profundidade média é de três mil pés, e a largura média de sessenta milhas. Em certos sinos, a sua corrente caminha com uma velocidade de quatro quilómetros por hora. O volume invariável das suas águas é mais considerável que o de todos os rios do mundo.
A verdadeira origem da Gulf Stream, reconhecida pelo comandante Maury, o seu ponto de partida, se assim querem, fica no golfo da Gasconha. Ali se começam a formar as suas águas, ainda fracas em temperatura e em cor. Desce para o sul, costeia a África equatorial, aquece as ondas sob os raios da zona tórrida, atravessa o Atlântico; toca no cabo de S. Roque, na costa do Brasil, e bifurca--se em dois ramos, um dos quais vai saturar-se ainda com as cálidas moléculas do mar das Antilhas. Então, o Gulf Stream, encarregado de restabelecer o equilíbrio entre as temperaturas e de misturar as águas dos trópicos com as águas boreais, começa o seu papel de ponderador. Aquecido até ao branco no golfo do México, sobe para norte pelas costas americanas, avança até à Terra Nova, deriva sob o impulso da corrente fria do estreito de Davis, retoma o caminho do oceano, seguindo por uns dos círculos máximos do globo da linha loxodrómica [ver Pedro Nunes], divide-se em dois braços pelo quadragésimo terceiro grau, um dos quais, ajudado pela monção do nordeste, volta ao golfo da Gasconha e aos Açores, enquanto o outro, depois de ter tornado tépidas as praias da Irlanda e da Noruega, vai até além de Spitzberg, onde a sua temperatura desce a quatro graus, formando o mar livre do pólo.
Era neste rio do oceano que o Nautilus navegava então. A sua saída do canal de Bahama, sobre catorze léguas de largo e trezentos e cinquenta metros de profundidade, o Gulf Stream corre na razão de oito quilómetros por hora. Aquela rapidez decresce regularmente à medida que se adianta para o norte, e bom é que esta regularidade persista, porque, como se há notado, a velocidade e a direção vierem a modificar-se, os climas europeus ficarão sujeitos a perturbações cujas consequências não se poderiam calcular.
Pelo meio-dia, estava eu na plataforma com Conseil. Ensinava--lhe as particularidades relativas ao Gulf Stream; quando concluí a minha explicação, convidei-o a meter a mão na corrente.
Conseil obedeceu e ficou muito admirado de não experimentar sensação alguma, nem de calor nem de frio.
— Isto procede — disse-lhe eu — de que a temperatura das águas do Gulf Stream, ao saírem do golfo do México, pouco difere da do sangue. O Gulf Stream é um vasto calorífero, que permite às costas da Europa adornarem-se com verdura constante; e a acreditar em Maury, o calor desta corrente, totalmente utilizado, forneceria calor bastante para conservar em fusão um rio de ferro fundido tão grande como o Amazonas ou o Missuri.
Nesta ocasião a velocidade de Gulf Stream era de duzentos metros e vinte e cinco por segundo. A sua corrente é de tal maneira distinta do mar circunjacente, que as águas comprimidas irrompem sobre o oceano e opera-se um desnivelamento entre elas e as águas frias. Escuras, além disso, e muito abundantes em matérias salinas, sobressaem, pelo seu índigo puro, das águas verdes que as rodeiam. Tal é a nitidez da sua demarcação, que o Nautilus na altura das Carolinas, rasgava com o esporão as ondas do Gulf Stream, enquanto a hélice batia ainda as do oceano.
Esta corrente arrastava consigo um mundo inteiro de seres vivos. Os argonautas, tão comuns no Mediterrâneo, viajavam em cardumes numerosos. Entre os cartilaginosos, os mais notáveis eram as raias, cuja cauda muito delicada formava cerca de um terço do corpo, e que figuram vastos losangos de vinte e cinco pés de comprimento.

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É dramática a saída dos passageiros do Nautilus, apanhados por um grande redemoinho, o Maelstrom. Felizmente, um pouco depois, no fim do livro, tudo acaba bem. Verne apreciava, como todos nós, finais felizes.

⑦ MAELSTROM


— Maelstrom! Maelstrom! Gritavam.
O Maelstrom! Na nossa situação podia soar-nos aos ouvidos palavra mais terrível? Achávamo-nos nessas paragens perigosas da costa norueguesa?
Era o Nautilus arrastado para aquele sorvedouro na ocasião em que a lancha se desprendia? Sabe-se que ao tempo do fluxo, as águas apertadas entre as ilhas Feroe e Loffoden são precipitadas com violência irresistível, Formam um redemoinho de que nunca pôde sair navio algum. De todos os pontos do horizonte acorrem vagalhões monstruosos. Produzem esse sorvedouro chamado com razão o Umbigo do oceano, cujo poder de atração se estende até a uma distância de quinze quilómetros. Ali são aspirados não só os navios, como também as baleias e os ursos-brancos das regiões boreais.
O Nautilus tinha sido para ali levado pelo seu capitão, involuntária ou voluntariamente talvez. Descrevia uma espiral, cujo raio ia diminuindo pouco a pouco. Como ele, a lancha, ainda presa, era arrastada com uma velocidade vertiginosa. Sentia-o. Experimentava esse estonteamento nada cómodo que sucede a um movimento giratório muito prolongado. Estávamos no espanto, no horror levado ao seu auge, com a circulação suspensa, a influência nervosa aniquilada, repassados de suores frios como os da agonia. E que estrondo em torno da nossa frágil canoa. Que rugidos que o eco repetia a distância de algumas milhas! Que ruído aquele das águas despedaçadas nas rochas agudas do fundo, onde os corpos mais duros se laceram, onde os troncos das árvores se gastam!
Que situação! Éramos sacudidos horrivelmente. O Nautilus defendia-se como um ser humano; estalavam-lhe os membros de aço; algumas vezes endireitava-se repentinamente, e nós com ele.
— É preciso cuidado — disse Ned Land, e tornar a aparafusar as porcas. Continuando presos ao Nautilus, ainda poderemos salvar-nos.
Não tinha acabado de falar quando se ouviu um estalido violento.
As porcas quebravam e a lancha, arrancada do seu alvéolo, era atirada, como a pedra de uma funda, ao meio do turbilhão.
Bati com a cabeça num ferro e com o choque perdi os sentidos.

Artigo escrito e cedido gentilmente por Ricardo Esteves do blogue Crónicas Portuguesas (www.cronicas-portuguesas.blogspot.pt).

domingo, 12 de fevereiro de 2012

'A Ilha Misteriosa', uma aventura construída artesanalmente

O escritor francês Júlio Verne já teve diversas obras contempladas no cinema. Em 1961, a adaptação de “A Ilha Misteriosa” foi dirigida por Cy Endfield e contou a história de pessoas que acidentalmente vão parar em uma ilha com animais e plantas gigantes. Além de se defender do constante perigo ao qual estão submetidos e de providenciar diariamente as necessidades básicas para sua sobrevivência, eles têm que arranjar uma forma de sair do local.

Os efeitos especiais são o ponto forte do longa que, mesmo realizado nos anos 60, preocupou-se em reproduzir o universo criado por Verne de maneira adequada para a época. É possível observar duas diferentes estratégias de interação na filmagem, embora ambas sigam a mesma lógica. A primeira delas é a gravação das atuações em frente a projeção de um filme com um determinado ambiente no qual se intenciona mostrar que os atores estão. Além disso, também são utilizados recursos que remetem ao ambiente de fundo, em uma tentativa de tornar mais real esta interação entre as diferentes camadas. Isso pode ser muito bem observado na cena em que o balão voa em meio a uma tempestade, com a chuva e as ondas do mar produzidas em estúdio.

A outra estratégia é um pouco mais complicada e requer um planejamento bem mais meticuloso, pois envolve o trabalho de stop-motion do experiente Ray Harryhausen que dá vida às criaturas gigantes. Isso se dá por meio da paciente captura de imagens quadro a quadro do boneco em frente à projeção da cena já gravada com atores reais reagindo a um espaço vazio. A cada fotograma da projeção, mexe-se um pouco o boneco, até que toda a sequência seja completada. Assim, a nova gravação é exibida na velocidade padrão (24 quadros por segundo) para produzir a ilusão de movimento e de posição corretas do boneco em relação ao fundo. A técnica requer um nível de precisão absurda para que as transições soem o mais natural possível em cena.

A fotografia equilibra a intensidade e a temperatura das luzes do estúdio com as do fundo projetado. Embora seja nítida a diferença em algumas passagens, provavelmente isto se dá mais devido às limitações qualitativas na técnica de sobreposição de imagens do que a uma iluminação descuidada. Porém, a fotografia não se limita a preocupações meramente técnicas. Em determinadas cenas, percebe-se uma certa ousadia estética, dando-se preferência à construção de um visual imagético do que à reprodução fiel da realidade. Essa tendência pode ser observada nas cenas da caverna, onde a iluminação colorida contrasta com a escuridão esperada para esse tipo de lugar. A proposta casa bem com a atmosfera fantasiosa do filme. É válida a tentativa de manter um estranhamento no público que não é muito trabalhado nos próprios personagens do filme, que parecem se acostumar muito rápido com a ilha inóspita.

Entretanto, esse modo pouco questionador de lidar com algo tão estranho é importante para dar ao longa um tom de humor negro. Exemplos disso são o hábito de comer o animal gigante após derrotá-lo e a trilha sonora aventuresca e ao mesmo tempo pateta de Bernard Herrmann na sequência da ave. A direção de arte acentua este tom com figurinos e cenários tão espalhafatosos e bizarros que chegam a ser risíveis em determinadas ocasiões, como o intrigante equipamento de mergulho feito de conchas gigantes.

Assim como outras obras de Júlio Verne que foram adaptadas para o cinema, “A Ilha Misteriosa” não falha em despertar um constante interesse no público pelos personagens e pelos mistérios que o local esconde. Além disso, o longa também é um excelente registro cinematográfico de uma época onde a criatividade artística falava mais alto do que os avanços tecnológicos. As limitações forçavam um raciocínio para criar algo novo a partir do que se tem, e não esperar a invenção de alguma coisa que torne possível um resultado perfeito.

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Thiago César é formado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC - Brasil), mas aspirante a cineasta. Já fez cursos na área de audiovisual e realiza filmes independentes.

Artigo gentilmente cedido por Thiago César publicado no Cinema com Rapadura.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

'20.000 Léguas Submarinas', o primeiro filme de ficção da Disney


O clássico da Disney, 20.000 Léguas Submarinas, é um filme de aventura de 1954, estrelado por Kirk Douglas como Ned Land, James Mason como Capitão Nemo, Paul Lukas como Professor Pierre Aronnax e Peter Lorre como Conseil. Dirigido por Richard Fleischer, 20.000 foi o primeiro filme de ficção cientifica da Walt Disney Productions, bem como o único filme de ficção do estúdio produzido pelo próprio Walt. Foi também a primeira longa metragem da Disney, a ser distribuído pela Buena Vista Distribution. O filme tornou-se a versão mais conhecida do livro homônimo de Jules Verne, e é citado como um dos primeiros exemplos do gênero steampunk.

A sinopse é  No ano de 1868, rumores de um monstro marinho atacando navios no pacífico causa panico entre os marinheiros, interrompendo as linhas de navegação. O Professor Pierre Aronnax, e seu assistente, Conseil, estão no seu caminho para Saigon, mais ficam presos em São Francisco pela suspensão de navios. O governo dos E.U.A convida Aronnax em uma missão para provar ou refutar a existência do monstro. Os seus colegas de tripulação inclue o Mestre Ned Land e o Capitão Nemo.


As filmagens de 20.000 Léguas Submarinas, começaram na primavera de 1954, com cenas filmadas em vários locais como Bahamas e Jamaica. Algumas das cenas eram tão complexadas que exigiam uma equipe técnica de 400 pessoas. O filme também apresenta outros desafios. A famosa cena do ataque da lula gigante foi filmada duas vezes: Uma no crepúsculo com o mar calmo, e a outra no meio da noite sobe uma tempestade para ''aumentar'' o drama, e poder esconder os cabos e outros funcionamentos mecanicos da lula animatronica. Os custos da produção o tornou no filme mais caro já produzido naquela época, superando ...E tudo O Vento Levou de 1939.
É claro que todo trabalho ardo no fim a recompensa. A equipe técnica levou o Oscar de Melhores Efeitos Visuais e Melhor Direção de Arte, além de terem sido indicados a Melhor Edição.
É claro, que o hoje os efeitos parecem antiquados mais vai por mim, eles eram incríveis para 1954, e destaque também para ótima trilha sonora do já conhecido da Disney, Paul Smith.


20.000 Léguas Submarinas foi o segundo filme mais visto daquele ano, atrás apenas de White Cristmas, e tornou-se um notável clássico da corporação Disney. O cinéfilos carinhosamente lembram da sequencia da lula gigante, além do design do Nautilus e o desempenho de James Mason como Nemo. O filme tem atualmente uma taxa de 88% de aprovação dos críticos no Rotten Tomatoes que diz: ''Um dos melhores filmes da Disney de Aventura, traz o clássico de Julie Verne em um sci-fi na vida real, e apresenta uma lula gigante incrível.''


O desempenho do elenco também foi reconhecido, e está foi a primeira vez que grandes estrelas de Hollywood como Kirk Douglas, trabalhavam em um filme da Disney. Algo que hoje em dia é costumeiro, a exemplo da versão de Tim Burton de Alice no País da Maravilhas.

Em 2010, David Fincher anunciou na San Diego Comic-Con, que tinha planos para dirigir um remake de 20.000 Léguas Submarinas para a Disney, com base em um roteiro de Scott Z. Burns. Nada sobre o remake foi anunciado ainda. Independente disto, eu me conformo com a versão de 1954, que é única, além do mas, clássico é clássico!!

Texto escrito por Beatriz Alencar do blog Cantinho Disney e cedido gentilmente para o Blog JVerne.

domingo, 6 de novembro de 2011

Revelada existência do Cap. Nemo na Galiza (Espanha)

Como já dito em tópicos anteriores, em Espanha, principalmente na Galiza, há bastantes referências/homenagens a Júlio Verne pelo facto de na sua obra, 20000 Léguas Submarinas, o autor ter referido a baía de Vigo (Portugal teve direito a muitas mais referências ao longo das suas obras e até a duas visitas do escritor à capital e nunca nada do género se fez, infelizmente).

São duas as homenagens ao escritor francês já visitadas pelo Blog JVerne. A primeira foi na cidade de Vigo e a segunda em Redondela. Recentemente apareceu uma terceira em La Coruña mas... já lá vamos.

Na costa da cidade podemos encontrar o famoso Aquarium Finisterrae junto ao histórico farol da Torre de Hércules, o mais antigo farol de origem romana ainda em uso, recentemente acrescentado à lista da UNESCO como Património da Humanidade.

Toda a costa galega está no museu/aquário: os pescadores, os mercados da venda de peixe, as canções de marinheiro... Até o espectacular ambiente natural marinho faz parte do museu. Mas como temos acesso ao fundo do mar?
Através do Nautilus, claro está!!

Descendo pelo Nautilus, temos acesso a uma sala submersa onde podemos reviver o sonho de Júlio Verne. Lá encontra-se também o escritório do capitão Nemo com música em fundo composta para este ambiente. O cenário segue à risca a descrição do livro do escritor. Os armários do século XIX guardam louça em porcelana e colecções de conchas, há cartas marítimas espalhadas, velhos mapas emoldurados, cadeirões sobre tapeçarias e uma mesa com entalhes dourados na penumbra. Atrás, rente ao vidro da janela, desfila um tubarão-touro, seguido por um cardume de robalos.


Além de todo este magnífico cenário, e para além de outros objectos, temos acesso a cartas de navegação e documentos pessoais, tudo original da segunda metade do século XIX relacionados com a personagem da obra de Júlio Verne.

Mas, como é isso possível? Através de um texto onde o director nos explica o porquê da construção da secção do Nautilus, é-nos dito que nos finais de 1988 receberam uma chamada telefónica de uma pessoa que dizia ter um posse livros, cartas e fotografías que podiam ser de interesse para a futura instalação municipal. Como resultado desse contacto receberam-se os documentos referidos.

[...]Entre outros, estava uma primeira edição de 20000 Léguas Submarinas. Também vinham algumas fotografias de várias ilustrações e distintas paisagens costeiras galegas em que aparecia um objecto com aspecto de submarino, outras -em cenários irreconhecíveis- do submarino em questão com uma grande semelhança com o descrito por Júlio Verne na obra mencionada mas curiosamente dotado de uma espécie de câmara na sua parte inferior. Segundo a pessoa que enviou os documentos, disponha no total de 46 fotografias. Uma delas correspondia ao retrato de um homem de idade avançada, usando um chapéu, e sentado num escritório cheio de mapas, objectos náuticos e objectos pessoais. De acordo com a informação recebida, atrás da fotografia podia-se ler, em castelhano: "Auto retrato do velho N. no seu escritório". Outra fotografia correspondia, segundo afirmava, ao barco "Saint-Michel III" e tinha atrás a inscrição em francês "Ao meu bom amigo, o Capitão. Lembrança da nossa viagem a Vigo" seguido da assinatura "Jules Verne". Nenhuma das fotografias tinha data.[...]

Continua no original aqui.

Em 2002, o Museu decidiu tornar pública esta informação mas até hoje ainda não conseguiu obter as respostas para as suas perguntas apesar da constante análise dos objectos e fotografias conseguidos. Dessa forma, decidiu colocar algumas fotos do material conseguido online com esperança que alguém os ajude. Veja aqui, entre outras, a fotografia do tal velho N.

Localização:
GPS: 43º22'57.06" N, 8º24'37.44" W
Aberto todos os dias das 10h00 às 19h00; aos fins-de-semana e feriados fecha às 20h00
Bilhetes a 10€, crianças com menos de 14 anos e adultos com mais de 65 anos pagam 4€.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A musicalidade em '20.000 Léguas Submarinas'

Na superfície do oceano uma violenta tempestade agita as águas. A câmera, então, submerge para mostrar o imponente submarino em forma de peixe, Náutilus, navegando silenciosamente pelas calmas profundezas.

Em contraste com o espetáculo de som e fúria que se desenrola na superfície, aqui o silêncio é quebrado apenas pela “Tocata e Fuga em D Menor” de Bach, tocada pelo Capitão Nemo (James Mason) ao órgão. A lembrança desta cena me acompanha desde a infância, e para mim continua sendo um dos mais fortes exemplos da capacidade que o cinema tem de combinar imagem e música para maravilhar o espectador. Estou falando aqui, obviamente, de 20.000 Léguas Submarinas (1954), primeiro longa-metragem da Disney live-action que, até hoje, é a melhor adaptação da obra do escritor francês Júlio Verne para as telas.

Com uma produção esmerada, o filme foi a estreia na direção de Richard Fleischer, trazendo no elenco, além de Mason como Nemo, Kirk Douglas como o arpoador arruaceiro Ned Land, Paul Lukas como o oceanólogo francês Pierre Aronnax e Peter Lorre como seu assistente Conseil. Apesar da cena descrita na introdução destacar uma composição de música clássica, um dos pontos altos da produção é a trilha sonora incidental de Paul J. Smith, principal compositor da Era Dourada da Disney e que musicou centenas de curta animados, além de desenhos em longa-metragem como Branca de Neve e Os Sete Anões e Pinóquio.

Trabalhar para a Disney pode ter sido a melhor coisa para Smith, mas também pode ter sido a pior. Com suas partituras tendo que competir com as célebres canções das produções do estúdio, pouca coisa de seu trabalho foi lançada em disco, e seu nome não é muito conhecido nem pelos fãs de trilhas sonoras. Mesmo o magnífico score de 20.000 Léguas Submarinas, seu melhor trabalho, nunca recebera um lançamento oficial. Essa grave omissão finalmente foi retificada há dois anos, quando esta maravilhosa obra sinfônica foi lançada em um álbum digital exclusivo do iTunes, e agora em CD pelo selo especializado Intrada em parceria com a Disney.

Para o filme de Fleischer, a abordagem musical de Smith não poderia ser cinematograficamente mais tradicional – no melhor sentido da palavra: seu score é grandioso, romântico, aventureiro, trazendo vários leitmotifs. Os principais agentes da trama, humanos ou não, receberam temas próprios e expressivos, como a bela e elaborada melodia dedicada a Nemo; o motivo alegre, baseado na canção “A Whale of A Tale”, cantada por Kirk Douglas, que representa seu personagem Ned Land; e o acompanhamento de metais graves e ameaçadores, nos moldes do tema de King Kong de Max Steiner, para os ataques do imponente Náutilus.

O Capitão Nemo é o personagem mais fascinante e complexo do filme, e Smith criou um tema que traduz toda a sua melancolia, tristeza, rancor e mesmo a esperança em um futuro melhor para a humanidade. Este tema é ouvido com força épica em “Main Title”, que abre o filme, e pungentemente fechará a trilha sonora em “Finale / Deep Is the Mighty Ocean”. Além dessas faixas, outras passagens musicais se beneficiam com variações dessa excelente melodia. Por exempo, as visões submarinas do Náutilus são acompanhadas por acordes lentos e sombrios do tema. O próprio motivo que acompanha os ataques do submarino aos navios de guerra (“The Monster Attacks”) é uma espécie de espelho do tema de Nemo, onde os metais ameaçadores não deixam dúvidas de que o submarino, confundido com um monstro marinho desconhecido, é o instrumento de vingança do Capitão.

A canção “A Whale of A Tale”, composta por Al Hoffman e Norman Gimbel para a interpretação do astro Kirk Douglas, foi instrumentamente integrada por Smith ao score, tornando-se o tema do arpoador Ned Land. Lançada em compacto 45rpm pelo selo Decca em 1954, a canção foi um sucesso e por décadas foi o único material da trilha sonora do filme disponível em disco. Mas além desses temas, a partitura está repleta de grandes momentos cuidadosamente orquestrados e regidos por Smith, que emprega uma combinação de harpas e cordas graves para ambientar as sequências submarinas. Acostumado a compor para desenhos animados, Smith não deixa de empregar o recurso do “mickeymousing” nas cenas humorísticas entre Ned e Conseil, e sua música para os nativos da Nova Guiné que perseguem Ned e abordam o Náutilus segue o clichê da “música de índios” que à época era muito comum no cinema. Se esses momentos podem soar ingênuos aos ouvidos contemporâneos, eles são plenamente compensados por momentos belíssimos e evocativos como os que escutamos em “Deserted Sub/Burial”, “Nemo Wounded” e “Finale”. Sem falar na feroz música de batalha que pontua o confronto entre a tripulação de Nemo e a lula gigante (“The Giant Squid”), naquela que talvez seja a cena mais lembrada da produção.

A chegada deste CD de 20.000 Léguas Submarinas demorou, mas a espera valeu a pena. O som estéreo foi remasterizado a partir de gravações em três pistas que ficaram armazenadas nos cofres da Disney por mais de 50 anos. Apesar de por vezes mostrar sinais da idade, a qualidade do áudio no geral é ótima, o que demonstra o capricho que a equipe supervisionada pelo produtor Randy Thorton dedicou ao projeto. Além do score de Smith, o CD inclui como bônus quatro versões de “A Whale of a Tale” além de “And The Moon Grew Brighter and Brighter”, que foi o lado B do single lançado com a canção cantada por Douglas. Acompanha o disco um bonito encarte colorido de sete páginas com notas do compositor John Debney e de Randy Thornton, ilustradas com fotos e ilustrações.

A Intrada, que há tempos vem agregando ao seu catálogo trilhas sonoras raras de várias épocas, merece os parabéns por ter, finalmente, disponibilizado em CD (edição regular, não limitada) este clássico score de aventura e ficção cientifica, dando ao trabalho de Paul J. Smith todo o valor e o reconhecimento há muito merecido e, assim fazendo, levando-o a toda uma nova geração de aficcionados da música do Cinema.

Música composta e regida por: Paul J. Smith
Faixas:
1. Main Title (Captain Nemo’s Theme) *
2. Street Fight
3. Aboard the Abraham Lincoln/Hunting the Monster
4. A Whale of a Tale
5. The Monster Attacks *
6. Deserted Sub/Burial/Captured *
7. Fifty Fathoms/The Island of Crespo *
8. Storm at Sea/Nemo Plays
9. Strange Man of the Seas
10. Nemo’s Torment
11. Justified Hate
12. Searching Nemo’s Cabin
13. Ned’s Bottles
14. Ashore at New Guinea
15. Native Drums/Back to the Nautilus *
16. Submerge
17. The Giant Squid *
18. Ambush at Vulcania
19. Nemo Wounded *
20. Escape from Vulcania *
21. Finale / Deep Is the Mighty Ocean *

BONUS TRACKS
22. A Whale of a Tale (Single) – Kirk Douglas
23. And the Moon Grew Brighter and Brighter (Single B Side) – Kirk Douglas
24. A Whale of a Tale – Bill Kanady
25. A Whale of a Tale – TheWellingtons
26. A Whale of a Tale (Reprise) – Kirk Douglas
* Clipes de Som
Duração: 78:23
Selo: Disney/Intrada
Catálogo: D001415702

Artigo escrito por Jorge Saldanha do SCI FI do Brasil e cedido gentilmente ao Blog JVerne.

sábado, 9 de julho de 2011

Existe a Lula Gigante?

Sim! Aliás, recentemente uma lula gigante foi pela primeira vez fotografada viva, por cientistas japoneses. Tsunemi Kubodera, do Museu Nacional de Ciência, e Kyoichi Mori, da Associação para a Observação de Baleias das Ilhas Ogasawara, ambos em Tóquio, sendo os responsáveis pelas primeiras imagens da lula gigante em plena actividade de caça, nas águas do oceano Pacífico.

Já ao largo da Madeira (Portugal), em 2003, velejadores franceses que participavam no troféu Júlio Verne depararam-se com uma cena digna das Vinte Mil Léguas Submarinas. Olivier de Kersauson, declarou na altura à BBC online ter encontrado um tentáculo, a espreitar por uma das escotilhas do navio. “Era mais grosso do que a minha perna e estava puxar o navio com força.” Uma lula gigante, com um comprimento estimado de oito metros, estava colada ao casco do navio, a bloquear o leme. Aparentemente, só queria uma boleia, porque, quando os velejadores pararam, o navio o animal foi à sua vida.

As lulas gigantes povoam o imaginário ligado aos monstros marítimos, há centenas de anos. Os poucos relatos de marinheiros e os raros exemplares que deram à costa só serviram, no entanto, para aguçar a curiosidade dos cientistas. As últimas tentativas para conhecer mais de perto a lula gigante, que pode atingir 18 metros, envolveram expedições para capturar uma em estado de larva — o que tornava o transporte bem mais fácil. O problema é que esta lula, do género "Architeuhis", que começa a vida com uns humildes centímetros, é muito parecido com as espécies de lula comum na sua fase larvar. E as condições do fundo do mar não conseguem ser recriadas com facilidade em laboratório.

Para encontrarem a lula gigante, os cientistas nipónicos seguiram o animal que tinha mais interesse em encontrá-la (à excepção dos humanos): os cachalotes. Estes mamíferos reúnem-se nas águas do Pacífico norte para fazerem um banquete de lulas, do fim do Verão até Dezembro. Mas desengane-se quem pensar que a lula gigante é uma presa fácil. Em 1965, um navio baleeiro da União Soviética assistiu a um combate de titãs, digno de um filme de ficção científica de série B, dos anos 50, entre uma lula gigante e um cachalote de 40 toneladas. No caso, nenhum venceu: a lula estrangulou a baleia, mas não antes de esta lhe ter arrancado a cabeça.

Ainda que os cientistas nipónicos não tenham presenciado uma cena de acção comparável, conseguiram algo que até agora parecia impossível. Com isco, atraíram os apetites de um exemplar de oito metros e, com uma câmara remota, documentaram todo o comportamento de caça da lula gigante. Num artigo na revista britânica "Proceedings B", da Royal Society, os cientistas referem o comprimento de dois dos tentáculos da lula, que perfazem dois terços do comprimento das lulas mortas encontradas até agora.

Nas fotografias, a lula gigante mostra que não são só para fazer vista. Graças a eles, enrodilha a presa e a puxa para o alcance dos tentáculos mais curtos.As imagens foram captadas a 900 metros de profundidade e talvez não façam justiça ao tamanho do animal. Mas para pôr o tamanho em perspectiva, recorde-se que cada olho tem cerca de 25 centímetros de diâmetro. São os maiores do reino animal.

Talvez não seja fácil sentir simpatia por uma animal que, se tiver oportunidade, afoga baleias bebé, como disseram ter visto dois faroleiros na África do Sul, em 1966. Mas todos os marinheiros que foram alvo de chacota, ao contarem a sua história, estão agora vingados.

Escrito por Inês Rodrigues


Há dias, três pescadores americanos detectaram ao largo da costa da Florida (EUA) uma lula gigante sem vida na água. Após as medições, concluiu-se tratar-se de um exemplar jovem de 6,5 metros e 90Kg.
Veja a notícia na TV:

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Jogos baseados na obra de J. Verne

Como temos visto nos últimos tempos, e mais se reserva para o futuro como anunciámos no nosso blogue, o escritor francês e as suas obras continuam a servir de inspiração para a produção de filmes em Hollywood, 106 anos depois da sua morte. Esta inspiração tem-se notado não só no cinema como também nos mais variados campos como na moda, no Carnaval, no teatro, ..., e especialmente na tecnologia, principalmente nos jogos de computador.

Tudo começou em 1987 com o lançamento de In 80 Days Around the World (Amiga, Atari ST, Commodore 64) e Journey to the Center of the Earth (Amiga, Atari ST, Commodore 64, DOS). 20,000 Leagues Under the Sea (Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, DOS) em 1988 e, no ano seguinte, Viaje Al Centro De La Tierra (Amiga, Amstrad CPC, Atari ST, DOS, MSX, ZX Spectrum). Caso queira ver as imagens dos vários jogos, clique no link de cada um e aceda a MobyGames.com.

Já no novo milénio, em 2002, a Microïds anunciou, em exclusivo para Windows, uma aventura intemporal onde se explora cada recanto do Nautilus e se vive a fantástica história do Capitão Nemo. O enredo original do jogo The Secret of the Nautilus é baseado na mais famosa obra de J. Verne, 20000 léguas submarinas, e oferece detalhes anteriormente desconhecidos sobre o Capitão Nemo, como, por exemplo, a sua morte, e as origens do Nautilus. Tem uma atmosfera de fantasia potenciada por gráficos inspirados nas gravuras do século XIX e pela presença dos ícones principais do livro: o Nautilus, Nemo, o polvo gigante, etc...

No ano seguinte, é a vez da Frogwares lançar Journey to the Center of the Earth, cujo enredo tem lugar no ano de 2005 onde uma jovem jornalista cai numa enorme fenda no chão depois de um vulcão entrar em erupção na Islândia. Quando acorda, fica surpresa ao verificar que está numa linda praia com apenas um aspecto curioso… está no interior da Terra. Objectos estranhos, pessoas que não se sabe de onde vieram, tudo faz parte de um mundo cujo futuro está em perigo. A excitação toma conta do nosso espírito jornalístico na projecção de um furo fantástico.

Em 2003, a Microïds volta e anuncia, não só para Windows como também para iPad, iPhone, Macintosh, Symbian, e Windows Mobile, aquele que viria a ser, para mim, o melhor jogo baseado numa obra de J. Verne. Em Return to Mysterious Island, a personagem Mina velejava numa expedição, porém, o seu navio naufraga e ela fica presa numa ilha desconhecida e cheia de mistérios. Verifica então que se encontra na Ilha Lincoln que em tempos foi o refúgio do Capitão Nemo e dos náufragos de A Ilha Misteriosa (ver aqui as semelhanças e diferenças visuais entre o jogo e a obra de Verne).

Alternando com a Microïds, a Frogwares volta dois anos depois com o jogo 80 Days, baseado em A volta ao Mundo em 80 dias. Corre o ano de 1899 e o jovem lorde Oliver Lavisheart aceita ajudar o seu tio a ganhar uma aposta ao percorrer o mundo em 80 dias e recolher provas que o seu tio criou quatro invenções revolucionárias em quatro cidades diferentes. A partir daqui começa uma estranha aventura onde teremos que ajudar um arqueólogo alemão, prestar assistência a uma actriz indiana de Bollywood, ganhar uma corrida de elefantes, pilotar o maior aparelho voador de sempre, enganar um samurai e muitas mais peripécias.

A Microïds regressa dois anos depois do aclamado Return to Mysterious Island com Journey to the Moon, conhecido também por Voyage: Inspired by Jules Verne, uma nova aventura inspirada pelas obras Da Terra à Lua e À Volta da Lua. Assuma o papel do excêntrico Michael Ardan e parta no Columbiad  à conquista do lado mais longínquo da Lua. Neste misterioso planeta, explore as ruínas de um templo abandonado e testemunhe eventos maravilhosos...

Em 2008, aquando do lançamento do filme com Bredan Fraser, sai para a Nintendo DS o seu jogo homónimo, Journey to the center of the Earth. Encurralado numa misteriosa cave, jogue como Trevor, Sean ou Hannah para explorar mundos exóticos, navegar ao longo de encostas rochosas, conduzir um vagão mineiro, navegar num rio tumultuoso e encontrar criaturas aterradoras enquanto tenta encontrar uma passagem para a superfície da terra.

No mesmo ano é lançado o jogo espanhol, La vuelta al mundo en 80 días, o primeiro e único jogo em tabuleiro baseado numa obra de Verne traduzido para português. A distribuidora Devir, que esteve encarregue da tradução, apresenta-nos um jogo onde, tal como na famosa obra homónima, também os jogadores fizeram uma aposta num clube de Londres,no início do século XX: quem seria capaz de dar a volta ao mundo em menos de 80 dias? O sucesso depende de quão bem os jogadores conseguem utilizar os comboios e navios disponíveis para viajarem até outros destinos no momento certo. Ocasionalmente, um balão poderá ser o meio de transporte mais rápido. Infelizmente, um detective ambicioso irá complicar as vidas de todos os viajantes cujos caminhos consiga cruzar. Por vezes, eventos esporádicos darão origem a oportunidades inesperadas. No final da partida, o jogador que tiver regressado a Londres no menor número de dias será o vencedor.

Publicado, em 2009, inicialmente em francês pela editora francesa Anuman, surge em inglês pela Bounty, 20,000 Leagues Under the Sea: Captain Nemo. Lá, Professor Pierre Aronnax, o seu assistente Conseil, e o arpoador Ned Land, foram capturados pelo Captain Nemo que viaja através dos oceanos no seu famoso Nautilus. Apesar de estarem impressionados pela beleza do submarino, os nossos três amigos esperam escapar e regressar às suas vidas. Ajude-os a escapar do Nautilus, num divertido jogo de objectos escondidos!

No mesmo ano, os mesmos distribuidores lançam em francês e inglês Around the World in Eighty Days: The Challenge, um jogo do mesmo tipo do anterior onde a viagem de Phileas Fogg não será fácil. Para ganhar a aposta, terá que ser corajoso, observar calmamente tudo à sua volta e ser bastante esperto! Elude as armadilhas de Fix, salve uma indiana viúva, encontre a sua rota na selva, e durante as longas viagens prove aos seus oponentes que domina o jogo de cartas!

Depois do imenso sucesso do primeiro jogo, e a pedido dos fãs, a Microïds produz a sequela do Return to Mysterious Island 2. A história segue os acontecimentos do primeiro jogo, com uma tentativa falhada de fuga da ilha. Novamente desenrolado na primeira pessoa, o jogador controla Mina mas também Jep, um macaco que no anterior apenas servia como ajuda em algumas situações. Agora teremos não só de tentar sobreviver e escapar da ilha como também de a salvar de um desastre ambiental. Embora seja um jogo em tudo semelhante ao original, este traz duas inovações para a época actual. A primeira é a sincronização com o iPhone, que nos permite resolver um enigma em qualquer lugar e consequentemente passar o save para o PC e continuar assim a aventura. A outra inovação é a conectividade entre jogadores, que podem assim trocar impressões ou ajudas para solucionar os puzzles.

Mais recentemente, os famosos portais Big Fish Games e IWin, têm lançado, desde 2009, uma saga de jogos baseados em diversas obras vernianas.

Disponível para download gratuito (esta versão é free mas tem publicidade que é aberta antes do jogo começar e que sugiro não clicar. Poderão comprar o jogo sem publicidade mas com custo em buy now, também no lado esquerdo da página no IWin), encontra-se o jogo de grande sucesso inspirado na obra homónima de J. Verne, Around the World in 80 days. Junte as peças em grupos de três ou mais numa espectacular aventura em terra, água e ar nos quatro continentes. Ninguém acredita que o inglês Phileas Fogg e o seu leal criado Passepartout conseguem dar a volta ao mundo em 80 dias. Prove que é possível fazê-la nos mais de 80 níveis de um puzzle espectacular! Feito com uma fabulosa storyline, magníficos gráficos full-screen, e com um animado screensaver como bónus, o jogo é uma viagem de primeira classe!

Um outro jogo baseado na obra passada em território brasileiro, La Jangada, está também disponível para download gratuito mas com publicidade, (ver aviso no jogo anterior). Começa com Minha em viagem com a sua família através do rio Amazonas com destino ao Brasil onde se vai casar com Manuel Valdez. O pai de Minha, Joam, ainda é assombrado pelo seu passado negro no Brasil, onde ele foi falsamente acusado de assassinato. Um canalha chamado Torres oferece a Joam uma prova absoluta da sua inocência, mas em troca ele quer casar com Minha! Quando Joam recusa, Torres relata a sua chegada no Brasil à polícia e é preso. Será que Minha vai encontrar provas para salvar o seu pai da forca? Ou será que ela vai desistir perante o plano maligno de Torres? Descubra os objectos escondidos que poderão levar à inocência do pai de Minha.

Este mês, aparece novamente o Capitão Nemo e o seu Nautilus numa aventura de procura de objectos! Siga as pistas e dicas deixadas pelo próprio Capitão Nemo, e descubra o local onde repousa o legendário submarino. Aí, tente entrar no monstro de ferro e procure pelo tão desejado tesouro de Nemo! Explore as magníficas cenas, resolva os mais difíceis puzzles em Nemo's secret: The Nautilus.

Cá ficamos à espera de mais jogos baseados na obra de J. Verne! No entanto, se acha que nos esquecemos de algum, entre em contacto que nós cá o colocaremos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

18 previsões de Júlio Verne que se tornaram reais

De todos os grandes autores de ficção científica, poucos foram mais precisos e acertaram tanto quanto o escritor francês Júlio Verne ou Jules Verne, seu nome original. Nascido em 1828, ele veio a falecer em 1905 com 77 anos.

Em suas obras, ele foi capaz de prever uma série de inventos, descobertas e tecnologias que só apareceriam de verdade até mais de um século depois. Vamos ver algumas delas:


Módulos Lunares

J. Verne foi capaz de prever as viagens à Lua. Na sua obra Da Terra à Lua, os seus módulos de passageiros eram lançados por um canhão que seria capaz de dar uma velocidade suficiente para vencer a gravidade. Uma ideia que inclusive foi tentada pela NASA para lançar satélites em órbita da Terra.
Além disso, Verne descreveu com surpreendente precisão, o que havia de ocorrer em 1969, quando uma nave norte-americana, Apollo 11, partisse da Terra levando três astronautas. “Esse sítio está situado a 300 toesas sobre o nível do mar e 27º27’ de latitude norte e 5º e 7’ de longitude oeste, parece-me que pela sua natureza árida e rochosa apresenta todas as condições que o experimento exige...” Desta forma, Verne localizou o ponto de lançamento na Florida (EUA). Essas medidas convertidas ao sistema métrico revelam com grande precisão uma proximidade ao Cabo Canaveral, a base espacial de onde o astronauta Armstrong e seus companheiros foram lançados em direção à Lua. Na continuação da primeira obra, À Volta da Lua, o escritor antecede aquilo que seria a Apollo 8, uma cápsula à volta da Lua, como também a sua amaragem, que falaremos a seguir.
Muitas outras coincidências existem entre as obras e as viagens Apollo. Para quem tiver curiosidade, algumas foram colocadas por mim, aqui


Noticiários pela TV

Em No Ano 2889, previu os noticiários das TVs oitenta anos antes dos noticiários regulares televisivos: "Em vez de ser impresso, o Earth Chronicle é todas as manhãs falado para quem o subscreve, onde podemos ouvir interessantes conversas com jornalistas, políticos ou cientistas e conhecer as notícias do dia."


O pouso na água do módulo lunar

A volta do módulo lunar pousando no oceano foi algo também previsto por J. Verne em À Volta da Lua, tal qual aconteceu com os módulos idealizados pela NASA. Aliás, na obra, o pouso do módulo ficou a apenas 4 quilómetros do local da amaragem do módulo da Apollo 11 em 1969.

Submarinos Elétricos

Na sua obra mais famosa, 20000 Léguas Submarinas, o submarino Nautilus era movido à eletricidade, algo inimaginável na época, já que os veículos mais modernos da época eram movidos a vapor e o submarino não existia. Foi só em 1886, 16 anos depois da obra, que o Eng. Gustave Zéde construído o Gymnote, o primeiro submarino equipado com motor elétrico e não movido a ar comprimido ou vapor.
O Capitão Nemo diz que "a electricidade é um agente poderoso,obediente, rápido, fácil, que está de acordo com cada uso, e reina a bordo do meu submarino." Além do órgão, sala de jantar formal e de outros luxos, o Nautilus não está assim tão longe dos actuais submarinos.


Escafandro autónomo

Nesta mesma obra, 20000 Léguas Submarinas, J. Verne descreve o escafandro autónomo, no qual um reservatório de ar é ficado às costas com correia, como se fosse uma mochila. O ar era respirável a pressões consideráveis e o escafandrista era livre, sem ter de estar ligado a uma bomba que lhe enviava ar por um tubo de borracha.
Em 1943, Jacques Yves-Cousteau inventa o escafandro autónomo com um engenheiro da empresa francesa Air Liquide, Emile Gagnan. Constroem o regulador do escafandro, uma peça que permite debitar o ar à pressão do ambiente; até aí, a regulação das válvulas era manual.



Satélite artificial

Em Os Quinhentos milhões da Begum, o escritor refere um lançamento de satélite artificial.
Mas foi só em 1957, oitenta anos depois da obra, que a União Soviética lança no espaço o primeiro satélite artificial, o Sputnik, que viajou a bordo do foguetão espacial Protão.


Taser

Em 20000 Léguas Submarinas ele também descreve uma arma que lança projéteis carregados com eletricidade estática, que teriam um funcionamento muito parecido com os "tasers" atuais, capazes de paralisar um homem com suas descargas elétricas: "Quem lhe tocasse receberia um choque que seria mortal, se o Capitão Nemo tivesse lançado nele uma corrente de maior potência."


Velas Solares

Quase 150 anos depois de serem descritas por J. Verne em Da Terra à Lua, as velas solares estão sendo projetadas pela NASA como uma forma de captar energia dos ventos solares. Essa tecnologia é vista hoje como uma das alternativas para as viagens interplanetárias.


Escrita no céu com fumo

Lembre-se que o avião só foi inventado por Santos Dumont em 1906! Pois foi em 1889 que ele imaginou que aviões seriam capazes de escrever propagandas nos céus de modo que populações inteiras poderiam ver: "Graças ao engenhoso sistema, uma parte desta publicidade é difundida de forma totalmente inédita [...] Consiste em imensos cartazes, refletidos nas nuvens, e cuja dimensão é tal que podem ser vistos em toda a região. Nessa galeria, mil projetores estão constantemente ocupados em enviar anúncios incomensuráveis às nuvens, que os reproduziam em cores."



Videoconferência

Tal como nessa foto usada para conectar famílias distantes da Coreia, ele imaginou o "fonotelefoto" no No ano de 2889. Ele errou a época e os detalhes de como o aparelho funcionava, mas certamente foi capaz de pensar algo que só surgiria mais de um século depois de sua época com a empresa Stati Union a estrear o seu video-telefone Bell: "Além de seu telefone, cada repórter tem diante de si uma série de comutadores que permitem estabelecer a comunicação com um telefoto particular. Assim os assinantes não só recebem a narração, mas também as imagens dos acontecimentos, obtidas através da fotografia intensiva."


Avião, mais pesado que o ar

Ainda que os balões aerostásticos já existissem quando Júlio Verne publicou Cinco Semanas em Balão, a sua imaginação também alcançou o espaço aéreo; em Robur, o Conquistador, Verne descreveu um protótipo de veículo voador, o Albatroz, quando expôs sua ideia de empregar uma máquina mais pesada que o ar para navegar pelo espaço aéreo, numa antecipação do avião e do helicóptero dos nossos dias.
Em 1903, os irmãos Wright conseguem levantar voo com o seu avião de Kitty Hawk, o primeiro voo com sucesso de uma máquina motorizada mais pesada que o ar. Quatro anos depois, o francês Paul Cornu consegue elevar-se do chão com uma máquina voadora de asa rotativa. Estava inventado o helicóptero.



Adolfo Hitler

No romance Os Quinhentos Milhões da Begum, surge uma profecia polémica. Além de elaborar um panorama do que seria o século XX para as gerações futuras, previu a ascensão do nazismo, na figura de Adolfo Hitler, representado pelo personagem Herr Schultze, um indivíduo que idealizava a destruição da cidade de France-Ville, fundada por um sábio francês em território americano. Dez anos mais tarde, depois da publicação esta novela, nasceu Adolf Hitler (1889-1945). Nesta obra, Verne antecede também aquilo que hoje chamamos de incineração ecológica do lixo.


Bomba nuclear

Não menos polémica foi a tese de que Verne teria descrito a bomba atómica no seu romance: Em Frente da Bandeira, onde descreveu uma terrível arma, criada por sábio enlouquecido Roch, que consistia num dispositivo auto-propulsivo, carregado de substâncias explosivas, que não se inflama ao se chocar com o alvo. Possuía a capacidade de destruir tudo que estivesse a 10 mil metros quadrados do ponto de impacto.


Tanque de guerra

No romance A Casa a Vapor, Júlio Verne descreveu uma enorme fortaleza móvel que alguns autores comparam ao tanque de guerra inventado em 1908: “Era uma espécie de comboio (Br: trem) que subia as margens do rio Hugli, conduzindo um enorme elefante de aço de 20 pés de altura e 30 de largura”, com as pontas meio enroscada e com a sua tromba no ar. Aquele monstro puxava uma espécie de comboio (Br: trem) composto por dois imensos vagões à prova de bala montados, cada um, sob quatro rodas de grande solidez, com lagartas para poder mover-se em qualquer tipo de terreno.


Cerca elétrica

No romance O Castelo dos Carpatos, Verne descreveu algo semelhante a uma cerca elétrica. "Nick se vê diante de uma porteira... agarrou-se a uma corrente da ponte elevadiça, subindo por ela até o alto do muro... Naquele momento, ouviu-se um grito... suas mãos agarradas à corrente, rapidamente se liberam e imediatamente ele cai no fundo do poço como se tivesse sido ferido por uma mão invisível...". Também aqui nesta obra Verne descreve algo como um holograma.



Computador

Na obra Paris no século XX, romance escrito em 1863 e publicado recentemente (1994), Júlio Verne descreveu um computador: “a casa Casmodage possui verdadeiras obras primas; são instrumentos que se assemelham, com efeito, a um grandes piano; pressionando as teclas de um painel, obtinha-se totalmente as somas, as subtrações e as multiplicações...


Internet

No romance A Ilha de Hélice, Verne descreveu-se o que pode ser comparado com as aplicações de multimídias: contém também um certo número de livros iconográficos; para evitar-se o trabalho de ler, ao apertar um botão, sai a voz de um excelente leitor. Na Ilha de hélice, Verne faz alusão ao uso da corrente elétrica para transmissão de dados e informações, vozes e imagens. "A Ilha toma conhecimento das novidades pelas telecomunicações telefónicas com a baía Magdalena, de onde se unem os cabo submarino na profundidade do Pacífico." Vários autores acreditam que essa seja a descrição de uma Internet.


Chegada do homem aos pólos

No romance As Viagens e Aventuras do Capitão Hatteras, Verne se preocupava com a chegada do homem aos pólos. A meta da expedição de Hatteras é chegar ao Pólo Norte, porém o navio Forward, não pôde chegar ultrapassar latitude de 83º35’N. Assim, Verne só difere de alguns quilómetros do lugar onde, 40 anos mais tarde (1909), chegaria o norte-americano Robert Edwin Peary quando atingiu o pólo norte.


Agora, como será que ele conseguiu tanto sucesso nessas previsões? Mágica? Sorte? Longe disso!
Júlio Verne era extremamente estudioso no desenvolvimento da Ciência e estava sempre muito atualizado com tudo o que estava sendo pesquisado, com as tendências da Ciência e com as novas descobertas. Isso, unido à sua incrível imaginação e seu talento como escritor desenvolvidos no contato que teve com o teatro e a literatura, fez com que ele fosse um dos escritores mais populares de sua época e, ao mesmo tempo, uma das pessoas mais talentosas qua o mundo da ficção científica já conheceu!

Mais de 100 anos após sua morte, suas obras continuam a fascinar muitas pessoas, sejam na forma dos seus livros originais, sejam na forma de filmes baseados nessas histórias.

Quem sabe de mais invenções de J. Verne que se tornaram reais? Vamos atualizar o post.

Algumas das provisões enviadas por Fernando Tsukumo, do blog Ciências Online, e outras obtidas por pesquisa de Frederico J.